Educação, exílio e revolução: o camarada Paulo Freire
DOI:
https://doi.org/10.31892/rbpab2525-426X.2018.v3.n7.p203-220Palavras-chave:
AutobiografiaResumo
O artigo apresenta o percurso político-pedagógico de Paulo Freire, no exílio brasileiro (1964-1980), a partir de (auto)biografias. Autores sugerem que o exílio político promove diásporas, reconversões identitárias, militâncias e processos de mudança, nos percursos individuais e coletivos, que aqui analisamos. Ancoradas em narrativas (auto)biográficas, incluindo uma entrevista jornalística concedida e coletada em África; as autoras do artigo esquadrinham tempos e espaços nos quais o então educador do governo do presidente João Goulart, em decorrência do golpe de 1964 e na condição de exilado político, aliou sua experiência de Educação com Revolução, impulsionado pelos desafios da Alfabetização de Adultos. Paulo Freire e família residiram e trabalharam nas Américas e na Europa e estenderam suas intervenções em África – nos países recém-independentes da colonização portuguesa. Em época de desmonte do Estado de direito e de inflexão social conversadora, recobrar o percurso de Paulo Freire no exílio e compreender os processos que transformaram o educador popular - então parte dos quadros do governo federal-, em camarada revolucionário, é uma forma de se indignar contra as muitas formas de opressão e resistir dentro dos limites da ordem democrática.
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