“Peço perdoar os borrões”: marcas da escolarização em cartas de amor

Autores

DOI:

https://doi.org/10.31892/rbpab2525-426X.2022.v7.n22.p738-754

Palavras-chave:

Cartas de amor, Escrita delegada, Escolarização, Pacto epistolar.

Resumo

O presente texto se volta para 47 cartas de amor trocadas entre Cícero e Margarida, no período de namoro e noivado, entre 1945 e 1947, quando residiam em cidades distintas. Por meio delas se conheceram e se deram a conhecer. Para a análise da correspondência, fez-se necessário atentar ao contexto da escrita, aos sujeitos que escreviam e liam, às motivações para escrever, à cerimônia epistolar, aos temas tratados e à materialidade do escrito. Tal procedimento permitiu observar que as cartas enviadas pela correspondente tinham caligrafias distintas, o que provocou um estranhamento. Nele nos detivemos. Estávamos diante daquilo que na literatura acadêmica se convencionou denominar como escrita delegada, quando alguém recorre a mãos alheias para colocar no papel o que deseja comunicar. Compreender por que Margarida pediu a uma intermediária para expor sua intimidade implicou investigar seu processo de escolarização, entrecruzando documentos e depoimentos, supondo que ali residiria a chave de compreensão.

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Biografia do Autor

Aline Pereira Castro de Carvalho, Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro

Pedagoga pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Professora da rede pública de ensino da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro.

Ana Chrystina Mignot, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Doutora em Ciências Humanas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Professora titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Cientista do Nosso Estado (Faperj) e Procientista (UERJ-Faperj).

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Publicado

2022-12-23

Como Citar

CARVALHO, A. P. C. de; MIGNOT, A. C. . “Peço perdoar os borrões”: marcas da escolarização em cartas de amor. Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)biográfica, [S. l.], v. 7, n. 22, p. 738–754, 2022. DOI: 10.31892/rbpab2525-426X.2022.v7.n22.p738-754. Disponível em: https://revistas.uneb.br/index.php/rbpab/article/view/16147. Acesso em: 29 mar. 2024.