Vol. 9 Núm. 10 (2023): Ecologias Humanas
Neste número da Revista Ecologias Humanas da SABEH, abraçamos artigos e resultados de pesquisas acadêmicas sobre o grande tema: Ecologia Humana: teoria e prática. A ideia de aglutinar concepções em torno dessa grande vertente de conhecimentos não tem a pretensão de reunir todo estado da arte dessa vertente. O que intentamos foi iniciar esforços (grifo nosso) para trazer conhecimentos epistemológicos e de natureza prática sobre a Ecologia Humana, no intuito de contribuir com nossos leitores para um melhor entendimento sobre esse campo de conhecimento, de pesquisa e de trabalho que ainda é pouco difundido.
Ao nos voltarmos para a diversidade e coexistência de diferentes concepções da Ecologia Humana, adentramos em um terreno em que se prestigia a pluralidade na unidade do saber, tendo como elemento de centralidade o reconhecimento de que tal unidade prescinde de diálogo, cooperação e motricidade solidária dos diversos sujeitos sociais que atuam e interatuam para compreender a diversidade da vida, como um todo, no seu movimento de ser e estar no mundo cujas contradições e desigualdades se tornam cada vez mais agonizantes, ao contrário do que se deveria buscar, que é o direito à vida e a humanidade numa cultura de respeito aos direitos de todos, a democracia, a tolerância e a paz.
Nesse sentido, o primeiro artigo contempla a condição plural da Ecologia Humana, como diriam os próprios autores: “a ecologia humana seja adisciplinar, científica, disciplinar ou como constructo teórico-epistemológico, possibilita processos de produção científica que contribuem para a consolidação desse campo de conhecimento que parece estar em um contínuo processo de construção”.
No segundo artigo, trata-se do Povo Pankararu Opará em suas lutas para assegurar caminhos para sua existência com dignidade, com respeito à pluralidade, e reconhecimento da diversidade de ser-partícipe da construção de sua própria história e das relações por eles estabelecidas com a Natureza, em particular com sua relação multidimensional, no qual compreendem o Rio Opará ou Rio São Francisco como sujeito de Direito. No terceiro artigo, busca-se evidenciar o papel que as escolas desempenham na educação ambiental na localidade de Lagoa de Dentro no município de Ibipitanga-BA.
No quarto artigo, como bem acentua o autor, as preocupações se voltam para a abordagem geosistêmica quanto à região semiárida, evidenciando-se as características das “unidades de paisagens, quanto às suas potencialidades e limitações ao uso pelas atividades humanas”.
No quinto artigo, discute-se primeiramente, a agricultura dinamizada com uso de capital e tecnologias intensivas para depois refletir sobre os processos socioespaciais de organização da agricultura familiar, tendo como objetivo compreender suas características e principais formas de atuação.
No sexto artigo, o estudo apresenta um olhar panorâmico sobre alguns aspectos do Nordeste brasileiro no intuito de evidenciar perspectivas da Ecologia humana de modo que se emerjam fatores essenciais dos subespaços nordestinos sob o prisma da relação humano-natureza.
No sétimo e último artigo, o texto é revelador de algumas observações sobre as perspectivas ambientais nas obras Bichos, de Miguel Torga, e Vidas Secas, de Graciliano Ramos. A autora tem como objetivo revelar as concepções de sagrado nessas obras, especialmente através do conto Jesus, da obra torguiana, e do episódio Inverno de Vidas Secas.
O oitavo artigo traz uma contação autobiográfica de visões de ancestralidade e identidade indígena Guerém e da comunidade Tukum Mirim no processo de reconhecimento e pertencimento étnico-territorial em Valença – BA.
Fica, portanto, o nosso convite ao regozijo de se conectar pela leitura com o conhecimento, saberes e fazeres estruturais do mundo, sejam eles sociais-metabólicos ou das concepções simbólicas diligentemente tratadas pela Ecologia Humana.
Dra. Maria do Socorro Pereira de Almeida
Dr. Sérgio Luiz Malta de Azevedo
Chefes de Editoração da Revista Ecologias Humanas
Dezembro/2023