CAROLINA DE JESUS, INTELECTUAL ORGÂNICA E PRETA
Resumo
No trabalho intelectual de Carolina Maria de Jesus em Quarto de despejo (1960) e em Diário de Bitita (1986) a escritora constrói uma teia discursiva pensando às questões de gênero e raça. Quarto de despejo, obra que registar o cotidiano de uma favela paulista na década de cinquenta, é a obra mais conhecida de Carolina de Jesus. Já Diário de Bitita é uma narrativa póstuma que registra o cotidiano de Carolina de Jesus e de outras mulheres negras no início do século XX. Nas obras, através dos relatos em três momentos distintos da personagem-protagonista, considerei que a autora agencia um espaço de reflexão para que sejam reveladas as opressões de gênero e raça em seus contextos, produzindo um conhecimento a partir de seu lugar de fala. Ao longo desse estudo, observei que foram construídas algumas pistas que indicam para a/o leitora/o como foi construído o percurso intelectual da escritora, rompendo com um modelo hegemônico quanto à definição do que é ser um/uma intelectual em sociedade, sendo a escritora uma mulher negra e com pouca escolaridade. Por meio de um discurso considerado transgressor, defendi que ela constrói conhecimento sobre a realidade das mulheres negras, assim como consegue promover rasuras na história considerada oficial, assumindo uma postura conforme defendem Said (2005) e Hooks (1995) a respeito do trabalho de um intelectual.