O “drama em gente” de Fernando Pessoa, das cartas de amor às cartas astrais
DOI:
https://doi.org/10.31892/rbpab2525-426X.2022.v7.n22.p719-737Palavras-chave:
Fernando Pessoa. Carta. Autobiografia. Despersonalização. Drama.Resumo
Em tratados clássicos a troca epistolar é definida como o diálogo entre pessoas ausentes que, por meio das cartas, tornam‑se presentes. Nesse sentido, este artigo propõe revisitar a tão explorada noção de heteronímia que se notabiliza na obra de Fernando Pessoa nos debruçando em um ponto bem específico: sua efetiva aparição epistolar e seu desdobramento “cartográfico”. Pois é em cartas (a Casais Monteiro) que Pessoa explica a gênese dos heterônimos como um processo que começou justamente como troca de cartas com personagens inexistentes. Assim, nos interessa cartografar nestas mesmas entrelinhas o jogo próprio do poeta de construir ali também, enquanto quem escreve e explica, as relações ao mesmo tempo entre autobiografia e “história direta” das suas despersonalizações. Para tanto avançamos também em direção a algumas considerações feitas sobre suas cartas de amor (trocadas com Ophelia Queiroz, nas quais chegam a se intrometer concretamente alguns heterônimos) e suas cartas astrais (que envolvem, além de epístolas, as cartas que ele fez para si e para cada um dos seus heterônimos).
Downloads
Referências
GIL, José. Fernando Pessoa, ou a Metafísica das Sensações. São Paulo: N-1 Edições, 2020.
____. “A máquina de amor de Ofélia‑Fernando Pessoa”. In: O Devir-Eu De Fernando Pessoa. Lisboa: Relógio D’Água, 2010, pp. 47-63.
JACKSON, K. David. Adverse Genres in Fernando Pessoa. New York: Oxford Univ. Press, 2010.
KLOBUCKA, Anna M. “Together at last: reading the love letters of Ophelia Queiroz and Fernando Pessoa”. In: SABINE, Mark (ed.). 2007. Embodying Pessoa: corporality, gender, sexuality. Canada: University of Toronto, 2007, p. 224 241.
LEO, Alan (psed). How to judge a nativity. London: Modern Astrology Office 1912.
LOURENÇO, Eduardo. Fernando Pessoa revisitado: leitura estruturante do drama em gente. Lisboa: Moraes, 1981.
____. Reflexões acerca da estética de Fernando Pessoa. In: PESSOA, Fernando. Páginas de estética e de teoria e crítica literárias. Lisboa: Ática, 1965.
LOURENÇO, Mateus. O correspondente extraviado: cartas de amor de Fernando Pessoa. In: Pessoa Plural: 11, Primavera 2017, pp. 255-276.
GANDRA, Manuel J. Drama em Gente - Heterónimos e Personalidades Literárias de Fernando Pessoa. Rio de Janeiro: Instituto Mukharajj, 2015.
MANGABEIRA, Clark. Amor de Pessoa: ficção, escrita antropológica e amor no diálogo epistolar entre Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz. In: Campos - Revista de Antropologia v. 17, n. 1, 2016, pp 31-48.
MORRIS, Adam. Fernando Pessoa's Heteronymic Machine. In: Luso-Brazilian Review Vol. 51, No.2. University of Wisconsin Press, 2014, pp. 126-149.
MOTTA, Marcus Alexandre. Extratos de Ópio I - A Artisticidade da Arte Pessoa. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2009.
____. Talo do Lido; Falo das Falas de Outros. Rio de Janeiro: Editora Multifoco, 2014.
MOURÃO‑FERREIRA, David. “Prefácio”, in Cartas de amor de Fernando Pessoa. Lisboa: Editora Ática, 1994, pp.175‑214.
PARREIRA DA SILVA, Manuela (org.). Cartas de amor de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz. Porto: Assírio & Alvim, 2012.
PAZ, Octávio. O Desconhecido De Si Mesmo – Fernando Pessoa. In: Signos em Rotação. Editora Perspectiva: São Paulo, 1996, pp.201-202.
PERRONE-MOISÉS, Leyla. Sinceridade e ficção nas cartas de amor de Fernando Pessoa. In: GALVÃO, Walnice Nogueira & GOTLIB, Nádia Battella (orgs). Prezado Senhor, prezada senhora: estudos sobre cartas. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, pp.175-184.
PESSOA, Fernando. Arquivo Pessoa. Disponível em: http://arquivopessoa.net.
____. Cartas Astrológicas. Edição de Paulo Cardoso, col. com Jerónimo Pizarro. Lisboa: Bertrand, 2011a.
____ / SOARES, Bernardo. Livro do Desassossego. São Paulo: Companhia das Letras, 2011b.
RIBEIRO, Rogério Mathias. Fernando Pessoa: Relações entre Literatura e Ocultismo. Tese de doutorado em Letras. Niterói: UFF, Inst. de Letras, 2016.
SEABRA, José Augusto. Fernando Pessoa ou o poetodrama. São Paulo: Perspectiva, 1974.
SENA, Jorge de. O homem que nunca foi. In: Persona. Porto: Julho de 1978.
____. Pessoa & Cia Heteronímica. Lisboa: Edições 70, 1982.