Professora, engenheira e mulher: o sujeito da experiência no processo autoformativo de professores
DOI :
https://doi.org/10.31892/rbpab2525-426X.2020.v5.n15.p1370-1386Résumé
Este artigo apresenta a narrativa (auto)biográfica de uma professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas- IFAM, e acadêmica do Mestrado Profissional em Ensino Tecnológico (MPET), com o objetivo de problematizar as dimensões formativas da autora na mediação entre a estudante dos anos 1970 e a professora de Desenho Técnico. A ideia da pesquisa surge de uma fotografia do museu Moacir Andrade e Sala Memória, em que a pesquisadora/professora aparece em um desfile cívico, como estudante. Baseada na pesquisa narrativa como metodologia, conclui-se que o método (auto)biográfico como procedimento de análise possibilita a autoformação pela análise de narrativas biográficas.
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LISTA FORMATADA DE CITAÇÕES DO ARTIGO SUBMETIDO
Os trabalhos de Delory-Momberger (2011, p. 43) sobre pesquisa biográfica em educação mostram que,
A narrativa biográfica nessas sociedades [sociedades desenvolvidas] só pode ser a narrativa da identificação do indivíduo com as representações e os valores coletivos. E, tratando-se de narrativa de aprendizagem, será a narrativa da reprodução do mesmo e do processo de adequação do indivíduo aos modelos de savoir-faire ou de estado (de estabelecimento) que lhes impõem seus pertencimentos. Nas estruturas relativamente fechadas e rígidas, que constituem as sociedades tradicionais, nas quais as funções sociais são, proporcionalmente, ainda pouco diferenciadas e identicamente transmitidas de geração em geração, os indivíduos não dispõem de um leque de possibilidades e de itinerários e, portanto, da margem de escolhas e de riscos, implicados na narrativa de formação.
Do mais, na interpretação de Souza (2010, p. 17) o método (auto)biográfico, que compõem as dimensões epistêmico-metodológicas da pesquisa narrativa, são prenhes de sentidos constituídos na superação do conceito de ciência em que separa o sujeito cognoscente do objeto pesquisado, senão vejamos:
Já a autobiografia expressa o “escrito da própria vida” [...], porque o sujeito desloca-se entre o papel de ator e de autor de suas próprias experiências, sem que haja uma mediação externa de outros. Dessa forma, entende-se que a abordagem biográfica e a autobiografia das trajetórias de escolarização e de formação, tomadas como narrativas de formação, inscrevem-se nesta abordagem epistemológica e metodológica por serem compreendidas como processo formativo e autoformativo por meio das experiências dos sujeitos em formação. Inserem-se também nessa abordagem porque ela constitui estratégia adequada e fértil para ampliar a compreensão do mundo escolar e de práticas culturais do cotidiano dos sujeitos em processo de formação.
Nessa inferição epistemológica compactua-se o conceito de educação como uma prática social que dialoga com o eu singular e o eu social, se constituindo na “narratividade intersubjetiva”. (SOUZA, 2010, p.15).
Logo, este trabalho sustenta-se em Chartier (1991, p. 178), para quem percebe o texto como revelador de práticas sociais e posiciona-se “Contra uma definição puramente semântica do texto, é preciso considerar que as formas produzem sentidos, e que um texto estável na sua literalidade se investe de uma significação e de um estatuto inéditos…”.
Souza e Meireles (2018, p. 19), ao refletir sobre os possíveis diálogos em pesquisa narrativa, faz uma colocação pertinente quanto ao olhar do pesquisador que pretende recorrer a esta metodologia,
Na pesquisa narrativa, cada sujeito, entendido como narrador, valendo-se dos próprios recursos biográficos, possui um motivo que organiza, integra, direciona e elege os elementos e acontecimentos que dão forma a sua narrativa, tornando-a subjetivamente única, original e irrepetível por conta dos significados pessoais contidos em cada uma das histórias narradas.
Estas reflexões remetem aos escritos de Delory-Momberger (2015, p.36), pois a pesquisadora apresenta, em um de seus escritos, um modelo de narrativa que recorre às origens históricas e antropológicas para pensarmos as nossas representações e práticas biográficas, argumentando que, “fazer a narrativa de vida consiste em retraçar as etapas de uma gênese, o movimento de uma formação em ação, em outras palavras, contar como um ser se tornou o que ele é. (Grifo meu).
Segundo a pesquisadora, esse movimento não se separa do valor de totalidade, posto que é um movimento de formação de si que considera a reflexão sobre as experiências de vida “[...] como aperfeiçoamento de uma completude do ser pessoal. ” (idem, p.37).