Mães e filhos na pandemia:
os desafios da maternidade sob o olhar do discurso publicitário
DOI:
https://doi.org/10.35499/tl.v18i1.19779Keywords:
Pandemia, Maternidade, Publicidade, Análise do discursoAbstract
No final de 2019, a Covid-19 emergiu na China rapidamente, desencadeando uma crise sanitária de alcance global. Entre as mudanças que impactaram a vida social, destacou-se a reorganização das dinâmicas familiares, resultando em uma maior quantidade de tempo passado entre mães e filhos. A partir dessas premissas, este artigo buscou examinar, sob a perspectiva da Análise do Discurso de orientação francesa, associada a Michel Pêcheux (1997; 2002), como o Interdiscurso e as Formações Discursivas se entrelaçam para produzir sentidos relacionados à maternidade, no contexto publicitário, durante o período pandêmico. Utilizou-se, também, os pressupostos teóricos de MAINGUENEAU (2008; 2015) para o estudo do discurso e da publicidade, bem como BEAUVOIR (1980); SAFFIOTI (1992; 2004) e TIBURI (2018), para o estudo de gênero. Neste trabalho, o corpus selecionado foi a campanha publicitária chamada Filhos, veiculada na TV e meios digitais, no Dia das Mães de 2020, pela marca de cosméticos e perfumaria O Boticário. Na análise, observou-se que o discurso publicitário aborda a maternidade de maneira conflitante: por um lado, homenageia as mães por desempenharem habilmente múltiplos papéis em tempo integral; por outro, normaliza a sobrecarga e romantiza o esgotamento materno, perpetuando aparente descaso à falta de apoio paterno.
Downloads
References
AlmapBBDO. O Boticário. Filhos. Youtube, 19 de abril de 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=tpcDsot8jQA> Acesso em: 01 out. 2023.
BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo, v. I, II. Tradução Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988.
BRASIL. Lei nº 5.478, de 25 de julho de 1968. Lei de Alimentos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 jul. 1968. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5478.htm> Acesso em: 20 out. 2023.
CARLOTO, C. M. O conceito de gênero e sua importância para a análise das relações sociais. Serviço Social em Revista. Londrina, v. 3, n. 2, p. 201-213, jan./jun. 2001.
FABBRO, Márcia R. C; HELOANI, José R. M. Mulher, maternidade e trabalho acadêmico. Investigación y Educación en Enfermería. 2010, v. 28, n. 2, p. 176-186. Disponível em <http://www.scielo.org.co/pdf/iee/v28n2/v28n2a04.pdf> Acesso em: 20 out. 2023.
FEIJÓ, Janaína. Mães solo no mercado de trabalho crescem 1,7 milhão em dez anos. Portal Fundação Getúlio Vargas (FGV). Rio de Janeiro, 18 mai. 2023. Disponível em <https://portal.fgv.br/artigos/maes-solo-mercado-trabalho-crescem-17-milhao-dez-anos> Acesso em: 20 out. 2023.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
HOMEM, Maria; CALLIGARIS, Contardo. Coisa de menina? Uma conversa sobre gênero, sexualidade, maternidade e feminismo. Campinas, São Paulo: Papirus 7 Mares, 2019.
LISAUSKAS, Rita. Trabalhar como se não tivesse filhos, ser mãe como se não trabalhasse fora. Jornal Estadão, São Paulo, 24 nov. 2015. Disponível em <https://www.estadao.com.br/emais/ser-mae/trabalhar-como-se-nao-tivesse-filhos-ser-mae-como-se-nao-trabalhasse-fora/> Acesso em: 13 set. 2023.
MACÊDO, Shirley. Ser mulher trabalhadora e mãe no contexto da pandemia COVID-19: tecendo sentidos. Rev. NUFEN, Belém, v. 12, n. 2, p. 187-204, ago. 2020. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912020000200012&lng=pt&nrm=iso> Acesso em: 20 out. 2023.
MAINGUENEAU, Dominique. Gênero de discurso e cena de enunciação. In: MAINGUENEAU, Dominique. Discurso e análise do discurso. Tradução de Sírio Possenti. São Paulo: Parábola Editorial, 2015.
MAINGUENEAU, Dominique. Cenas da enunciação. Tradução Nelson Barros da Costa. Maria Cecília Perez de Souza-e-Silva e Sírio Possenti (Org.). São Paulo: Parábola, 2008.
MILLETT, Kate. A Política Sexual. Nova Iorque: Doubleday & Company, 1970. (Trad. Alice Sampaio, Gisela da Conceição e Manuela Torres).
OLIVEIRA, Anita. L. de. A espacialidade aberta e relacional do lar: a arte de conciliar maternidade, trabalho doméstico e remoto na pandemia da covid-19. Revista Tamoios, 16(1), 2020. Disponível em: <https://doi.org/10.12957/tamoios.2020.50448> Acesso: 20 out. 2020.
ORLANDI, Eni Puccinelli. As formas do silêncio. Campinas: Ed. UNICAMP, 1992.
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 8ª ed. Campinas, São Paulo: Pontes, 2009.
PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 3 ed. Tradução Eni Orlandi et alli. Campinas: EDUNICAMP, 1997.
PÊCHEUX, Michel. O Discurso: Estrutura ou acontecimento. 3ª ed. Tradução: Eni Orlandi. Campinas: Pontes, 2002.
PORTO, Dora. Trabalho doméstico e emprego doméstico: atribuições de gênero marcadas pela desigualdade. Revista Bioética, v. 16, n. 6, p. 287-303. Disponível em: <http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/view/74/77> Acesso em: 20 out. 2023.
POSSENTI, Sírio. Questões para analistas do discurso. São Paulo: Parábolas, 2009.
ROSSINI, A. P. P., & MESSIAS, J. C. C. Desafios das Trabalhadoras Mães de Crianças pequenas durante a Pandemia Covid-19. Revista Subjetividades, 22(1), e12327, 2022. Disponível em: <https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v22i1.e12327> Acesso em: 20 out 2023.
SAFFIOTI, Heleieth I. B. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004.
SEABRA, Maria Cândida. Língua, Cultura e Léxico. In: SOBRAL, Gilberto; LOPES, Norma; RAMOS, Jania. Linguagem, Sociedade e Discurso. (Org). São Paulo: Blucher, 2015. p. 65-83.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Autor(es) conservam os direitos de autor e concedem à Revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite a partilha do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta Revista.