(Des)epistemologizar a clínica: o reconhecimento de uma ciência guiada pelo pensamento cisgênero

Autores

DOI:

https://doi.org/10.31892/rbpab2525-426X.2020.v5.n13.p403-418

Palavras-chave:

clínica, autobiografia, travestis, epistemologia.

Resumo

Este artigo busca refletir acerca da despatologização das identidades trans e travestis, considerando que tais mobilizações têm sido direcionadas a pensar o indivíduo que vai à clínica, mas não as epistemologias que sustentam a psicologia. Por essa via, resgata a parcialidade feminista para apostar nas autobiografias trans como modos de produção de agenciamento. Pretende, portanto, guiar a clínica em direção a éticas outras, capazes de questionar o pensamento nosológico atravessado pela cisgeneridade na condução de uma terapêutica pajubariana.

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Biografia do Autor

Sofia Ricardo Favero, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Doutoranda em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Formada em Psicologia pela Faculdade Pio Décimo (SE). Está vinculada ao Núcleo de Pesquisa em Gênero e Sexualidade (NUPSEX) e é integrante da Associação e Movimento Sergipano de Transexuais e Travestis (AMOSERTRANS).

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Publicado

2020-06-28

Como Citar

FAVERO, S. R. (Des)epistemologizar a clínica: o reconhecimento de uma ciência guiada pelo pensamento cisgênero. Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)biográfica, [S. l.], v. 5, n. 13, p. 403–418, 2020. DOI: 10.31892/rbpab2525-426X.2020.v5.n13.p403-418. Disponível em: https://revistas.uneb.br/index.php/rbpab/article/view/7272. Acesso em: 18 abr. 2024.