De Václav a Olga: pacto epistolar e estratégias de escrita nas cartas de um prisioneiro
DOI:
https://doi.org/10.31892/rbpab2525-426X.2020.v5.n15.p1301-1317Resumo
Neste artigo, exploramos a construção do pacto epistolar e o modo como um prisioneiro lidou com a censura às suas cartas. Na correspondência do dramaturgo tcheco Václav Havel (1936-2011) à sua esposa Olga Havlová, escritas entre meados de 1979 e início de 1983, encontramos marcas de um escritor que precisou lidar com diversas restrições ao ato de escrever diante da necessidade de continuar escrevendo. A coletânea de cartas, publicada em livro logo após sua libertação, constrói uma narrativa que vai de alguém que busca se adaptar às novas condições para alguém que reflete sobre as condições da existência humana. Como estratégia para lidar com as regras e o humor dos censores, Havel, obrigado a falar de si próprio, constrói reflexões sobre a culpabilidade e a normalidade do cotidiano, bem como trata de alguns assuntos de forma indireta, margeando-os como se estivesse sempre falando dele mesmo. Nesse exercício, o intelectual escreve sobre si, mas, especialmente sobre o mundo todo que cabe dentro desse “si”, transformando-se pela escrita que, a despeito de tudo, não deixa de ser uma escrita de amor.
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