Educação escolar quilombola
desafios para o ensino de Física e Astronomia
DOI:
https://doi.org/10.29378/plurais.2447-9373.2021.v6.n1.12204Palavras-chave:
Educação Escolar Quilombola, Ensino de Física e de Astronomia, Interculturalidade, Descolonização, InterdisciplinaridadeResumo
A Educação Escolar Quilombola, como projeto político-pedagógico oriundo de lutas organizadas do Movimento Social Negro e de uma das mais cruciais políticas públicas do início do século XXI, é um processo em construção no Brasil que demanda esforços orquestrados de pesquisadores, educadores, gestores, movimentos sociais e da sociedade, em todas as áreas do conhecimento. Em estilo ensaístico, o objetivo do presente trabalho é problematizar os desafios e as potencialidades dos ensinos de Física e de Astronomia na Educação Escolar Quilombola, tensionando o Projeto de Modernidade materializado na Quarta Revolução Industrial por meio dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas, em que a Física e a Astronomia jogam papel fundamental. Em diálogo permanente com referenciais teóricos, metodológicos e epistemológicos da educação, apontamos fundamentos, pesquisas e novas tendências para que os ensinos de Física e de Astronomia dialoguem com as experiências quilombolas, fomentando perspectivas interculturais e descolonizadoras da educação em ciências. As reflexões, questionamentos e apontamentos apresentados são gestados a partir de resultados parciais de projeto de pesquisa realizado no âmbito dos Programas de Pós-Graduação em Física e Ensino de Física e do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, Indígenas e Africanos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Com foco na promoção da equidade racial na educação básica, argumentamos que os Ensinos de Física e Astronomia — tecno-ciências na base do Projeto Científico e de Poder Moderno e Contemporâneo — podem ajudar a ressignificar, ressemantizar e fortalecer o sujeito quilombola diferenciado do século XXI, sufocado pela realidade da Quarta Revolução Industrial. É por meio do diálogo intercultural e interdisciplinar com as comunidades quilombolas que as ciências físicas também poderão se humanizar, contribuindo fortemente para a democratização do País, reconhecendo Saberes-Fazeres que definem identidades potentes, ligadas à ideia de corpo-território e marcos civilizatórios afrodiaspóricos.
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