Chamada 2023.1

Temática: Narrativas originárias: línguas, artes e cosmologias indígenas.

 

Chamada para contribuições Volume 11, nº. 1 (2023.1) - Narrativas originárias: línguas, artes e cosmologias indígenas.

 

Objetivos: Trata-se de um dossiê que acolherá artigos, ensaios, resenhas, todos inéditos, que versem sobre as línguas e as produções culturais indígenas, nas mais diversas formas de modos de vida e suas expressões como a literatura, a música, o cinema e o audiovisual, o sonoro, as artes plásticas e visuais, os saberes e as memórias, a ciência e a tecnologia, a arquitetura, os deslocamentos e territórios.

 

O processo de autoinclusão dos povos originários na política nacional durante os anos 70 e 80 do século passado possibilitou uma maior circulação das produções culturais dos povos originários, provocando uma ressignificação tanto na compreensão e percepção dos modos de vida e prática culturais dos povos indígenas do Brasil quanto na sua complexa relação com os demais habitantes deste vasto território. Com efeito, o alastramento das mais variadas formas de produção cultural trouxe à baila uma infinidade de debates políticos que demarcaram uma agenda para se repensar acerca do lugar e papel histórico dos povos originários durante a transição entre o fim de duas décadas de ditadura militar e a (re)democratização do país, traduzindo-se em um período marcado por ávidos esforços de conscientização e organização social por meio de enfrentamentos coletivos das lideranças dos povos indígenas com vistas à garantia dos direitos fundamentais à terra, à saúde, à educação e preservação de suas tradições e costumes (Baniwa, 2006; Krenak, 2015). Para Baniwa (2006, p.73) a década de 1980 “foi um período extremamente rico, principalmente no que diz respeito às mobilizações indígenas”, por meio de encontros e assembleias entre os povos, numa luta que culminou em grandes conquistas na Constituição de 1988. Na esteira desse amplo processo, tornam-se de maior alcance e mais efetiva as interações entre as aldeias e os não indígenas, promovendo o acesso de diversos povos às tecnologias de comunicação, as quais permitiram o contato e conhecimento das novas ferramentas tecnológicas, a aprendizagem do manuseio, da manipulação e do uso com vistas à dar formas às suas vivências, seja por meio de textos, de sons, dos grafismos ou filmes. A escuta e leitura do português brasileiro adensou a aproximação dos povos das ferramentas externas, dos processos de produção e da realização indígena nas mais variadas expressões artísticas e culturais como a literatura e o audiovisual, para ficarmos apenas em dois exemplos de produções (Baniwa, 2006). Nesse sentido, a literatura indígena vem se firmando por meio da produção de textos escritos, ilustrados e idealizados pelos próprios indígenas, de dentro de suas vivências, sejam elas nos espaços rurais ou urbanos, e sejam individualmente ou de autoria coletiva, em sua maioria estimulados e iniciados como forma de registro das histórias orais dos avós, avôs, anciões e conhecedores da história local onde vivem os autores dessa literatura (JEKUPÉ, 2009; GRAÚNA, 2013; MUNDURUKU, 2021). Os impressos indígenas começaram a ser publicados no Brasil no final dos anos 1970. Eliane Potiguara, a primeira representante pública feminina, expôs o poema “Identidade indígena” como uma maneira de conferir sua trajetória e de sua família, em 1975. Já o impresso pioneiro desta literatura foi em 1994 com a publicação do Todas as vezes que dissemos adeus de Kaká Werá Jekupé. O livro de Kaká Werá foi uma inspiração para as próximas publicações e traz relatos do autor sobre as suas vivências entre os dois mundos, o mundo da aldeia e o mundo branco. Por sua vez, as ferramentas de registros de audiovisual permitem a captura e registro das memórias, costumes, rituais, mitologias e cosmologia dos povos, possibilitando a produção e circulação de livros, vídeos, documentários, podcasts entre outro[s], com potencial de se tornarem material didático para as escolas. Cada vez mais, entrevistas e registros são realizados pelos professores indígenas em suas comunidades, com as pessoas de referência das histórias e saberes locais, que normalmente envolvem os anciões e anciãs das aldeias: quem conhece as histórias e quem guarda a memória do povo. Diante do potencial oferecido pelas novas tecnologias da comunicação, os povos originários vêm se assumindo à frente nos processos de produção e circulação de suas próprias tradições, pois, como assinala Sarlo (2007), “demandam novas exigências de método e tendem à escuta sistemática dos ‘discursos de memórias’” (2007, p. 17). Os meios de comunicação alternativos em geral comprovam que outras vozes e cosmovisões são ferramentas cruciais na preservação e manutenção das tradições tornando-se, como escreve Pereira (2010), “lugar de posição de sujeitos, de performatização de identidades e de emergência das diferenças”. Para Vincent Carelli, idealizador do Vídeo nas Aldeias, a partir desse contato e uso das novas tecnologias da comunicação os indígenas criaram novas relações com a memória e a cultura, “podendo perceber e conceber o cinema, uma tecnologia não indígena e cada vez mais moderna, dentro de sua aldeia” (ZIRION, 2016, p.10). O crescente uso de tecnologias digitais de som e imagem entre as aldeias, segundo Pereira (2010), é marcado pela vocação oral dos povos que “contribui para o sucesso do audiovisual entre eles, já que entre as tecnologias comunicativas existentes (rádio, literatura e internet) o vídeo é a que os povos indígenas mais absorvem e incorporam como poderosa mediação cultural” (2010, p. 100).

 

Assim, a Revista Grau Zero inscreve mais esse espaço de troca de conhecimentos, debates, diálogos e trocas com o objetivo de contribuir com várias formas de leituras e/ou interpretações pertinentes acerca dos modos de produção e circulação das tradições e produções culturais dos povos originários, particularmente em questões sobre ações de fortalecimento da língua indígena; autoria e autonomia de produção literária e demais narrativas, debates epistemológicos, dentre outros temas que irão surgir. Propomos a construção e afirmação de um espaço aberto a acolher e compreender mais sobre as tradições, costumes e as culturas ancestrais que constituem o Brasil com sua natureza multilinguística e riqueza pluricultural dos seus povos. Este é um convite para autoras, autores, pesquisadoras e pesquisadores indígenas e não indígenas, nacionais e (inter)nacionais.

 

Data limite: 30/04/2023

Cronograma

 dezembro/2022: lançamento da chamada

até abril/2023: recebimento de artigos
maio e junho/2023: avaliação dos artigos
julho/2023: revisão e diagramação dos textos
agosto/2023: publicação do dossiê 2023.1

Organizadores: 

Carla Lucilene Uhlmann - Mestranda em Crítica Cultural (PPGCC/UNEB)

Elizabete Costa Suzart - Doutoranda em Crítica Cultural (PPGCC/UNEB)

Juliene Cristian Silva Pinto - Doutoranda em Crítica Cultural (PPGCC/UNEB)

Renata Lourenço dos Santos - Doutoranda em Crítica Cultural (PPGCC/UNEB)

Obs: Os textos devem ser submetidos pelo próprio site, para fazer a submissão, é necessário ser cadastrado, caso não seja, clique no link acima (cadastro) e preencha os dados do formulário, lembrando que deve ser escolhida a opção autor.

 
   
 
   
 

Chamada 2023.2

Temática: Educação Escolar Indígena: interfaces entre saberes, práticas escolares e modos de vida dos povos originários.

 

Chamada para contribuições Volume 11, nº. 2 (2023.2) - Educação Escolar Indígena: interfaces entre saberes, práticas escolares e modos de vida dos povos originários.

 

Objetivos: Trata-se de um dossiê que acolherá artigos, ensaios, resenhas, narrativas, todos inéditos, que versem sobre as línguas, políticas, práticas pedagógicas e projetos educacionais indígenas, nas mais diversas e plurais formas de relatos de experiências interessados em refletir acerca do debate da Educação Escolar Indígena versando sobre questões relacionadas às pedagogias indígenas, aspectos socioeducacionais, culturais, políticos e da própria Educação Escolar Indígena, na interface dos povos e sua cosmovisão de mundo.

 

As lutas políticas, estratégias de resistências e emergências dos movimentos indígenas que ocuparam o cenário nacional no final do século passado caracterizou-se como “o que podemos chamar de movimento indígena brasileiro, ou seja, um esforço conjunto e articulado de lideranças, povos e organizações indígenas objetivando  uma agenda comum de luta, como é a agenda pela terra, pela saúde,  pela educação e por outros direitos” (Baniwa, 2006, p.59). A garantia desses direitos, reconhecidos e assegurados na Constituição de 1988 (Art. 231 e Art. 210), logrou, entre outros direitos reclamados, a contextualização da educação escolar nos territórios indígenas e políticas de formação específica, diferenciada, mais ampla de professores indígenas locais. A educação escolar indígena, pautada em uma perspectiva dos saberes e tradições dos povos originários, despontou como princípio no fortalecimento dos modos de vida, projetos futuros das comunidades e tradições que pautaram os projetos das escolas nas comunidades indígenas com a autoria de lideranças comunitárias, comunidade, anciãos e  professores indígenas, os principais interessados em promover uma mudança efetiva nas práticas e nas tradições de ensinar e aprender na cultura e com a cultura das comunidades, sendo as línguas e as memórias as bases para essa reconfiguração escolar firmada na premissa de que “o que a sociedade nacional chama de educação nós [povos tradicionais] chamamos tradição” (Nhenety KX in Memória. Índios na visão dos índios (GERLIC, 2012)). Com o acesso às tecnologias de informação e comunicação, este recurso aproximou e permitiu que alguns povos pudessem registrar digitalmente suas expressões, conhecimentos e representações de si mesmos e mostrar para indígenas e não indígenas o mundo plural que os abarca, além do acesso a outras formas e métodos de partilhas de saberes e modos de vida definidos pelas comunidades. O xamã e líder político Davi Kopenawa, argumenta ter escrito o livro “A Queda do Céu: palavra de um xamã yanomami” (2015) para que os brancos possam enfim ouvir as vozes da floresta e, quem sabe, pensar “com mais retidão a seu respeito?” De modo análogo, lideranças indígenas, a exemplo de Ailton Krenak, Gersen Baniwa, Sônia Guajajara, cacique Mário Juruna fazem ecoar, em lugares como a Câmara dos Deputados e na Assembleia Constituinte (Brasília, 1987), a voz da ancestralidade como tantas outras vozes que somam e reverberam o pensamento de Valdelice Kaiowá que diz ser preciso “fazer o papel falar” em dias atuais e o ensinamento de Cacique Lázaro Kiriri “Queremos uma escola que não o índio se torne médico sem deixar de ser índio”. Foi a partir desses movimentos que, homens e mulheres indígenas, usando seus “arcos e flechas”, ressignificados em suas tradições e ancestralidades, fizessem destes as suas novas “armas”. Eliane Potiguara foi a primeira mulher indígena a publicar em 1989: A terra é a mãe do índio, preparado e publicado pelo GRUMIN (Grupo Mulher – Educação Indígena), coordenado pela autora. Assim como Kopenawa, Nhenety KX, Potiguara e tantos outros intelectuais indígenas, escrevem na língua portuguesa para chamar a atenção dos juruás ‘homens brancos’ (em Tupi-Guarani), em todos os sentidos possíveis. O escritor Daniel Munduruku lançou em 1996 o livro Histórias de índio, cujo título disparou o boom da literatura indígena voltada para o público infantojuvenil, escrita pelos próprios indígenas. Diante da imensa pluralidade do universo das tradições e modos de vida dos povos originários, reconhecer uma educação específica, intercultural, diferenciada, comunitária, bilíngue e ancorada na inserção dos principais interessados em suas questões é um imperativo para se pensar se “existe ainda a possibilidade da não-escola, como forma de não submissão ao Estado para algum(s) povo(s) indígena(s), ou é uma fatalidade (um mal necessário, para todos) a escola?” (D’Angelis, 2012). Sabemos que o livro [didático] é uma ferramenta do conhecimento [científico ocidental] e como bem destaca Krenak, há séculos que os povos originários vêm articulando suas Ideias para adiar o fim do mundo, nas suas diversas cosmologias e cosmogonias. Ademais, esta é a Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032), a qual marca um período ímpar no movimento de fortalecimento das lutas e resistências das ditas "línguas minoritárias/minorizadas", em detrimento ao português, mantido como língua majoritária pelo colonialismo linguístico no território nacional, que, há séculos, oficializa a língua nacional do Brasil como monolíngue. É preciso reorganizar o direito à políticas linguísticas dos povos originários, fomentando, criando e implementando políticas educacionais e linguísticas nas quais tanto as línguas quanto às práticas educacionais indígenas construídas, definidas e aprimoradas pelos próprios indígenas tomem o seu devido lugar e valor como um patrimônio cultural das populações originárias e instrumento principal de fortalecimento dos projetos comunitários, no território nacional. Lembrar que é a escola que se encontra em território indígena, isto faz toda a diferença para se pensar em tradição oral, sabedorias indígenas, formação continuada de professores, alfabetização em língua indígena materna (L1), material didático através do qual seja incorporado, principalmente, o universo do signo dentro da cosmologia indígena, produzidos por professores indígenas, fazendo uso do livro e toda sorte de material como um canal para restabelecer outras formas de interlocução com os juruás,  reafirmando  o que postula a Declaração Universal dos Direitos Linguísticos (artigo 28º 1996): “Todas as comunidades linguísticas têm direito a um ensino que permita aos seus membros adquirirem um conhecimento profundo do seu patrimônio cultural [...], assim como  melhor conhecimento possível de qualquer outra cultura que desejem conhecer”.

Assim, a Revista Grau Zero deseja abrir mais esse espaço de troca de conhecimentos e debate para contribuir com várias formas de leituras e/ou interpretações pertinentes a questões das educações indígenas: sobre ações e políticas de fortalecimento da língua indígena; autoria e autonomia de produção literária, formação de professores indígenas na Educação Intercultural, elaboração de currículos educativos próprios, processos próprios de aprendizagem, dentre outros temas que irão surgir. É um espaço proposto para compreender mais sobre tradição, memória, as culturas ancestrais e projetos comunitários de povo que constituem o Brasil com sua característica forte na multiplicidade de línguas e riqueza pluricultural dos seus povos, abordando reflexões que perpassam pelas práticas formativas de professores indígenas e não indígenas, relatos de experiências e de projetos pedagógicos e educacionais voltados para essas questões que envolvam e/ou dialogam com os povos originários, serão todos bem-vindos. Este é um convite para autoras, autores, pesquisadoras e pesquisadores indígenas e não indígenas, nacionais e (inter)nacionais.

  

Data limite: 30/04/2023

 

Cronograma

 dezembro/2022: lançamento da chamada

até abril/2023: recebimento de artigos
maio e junho/2023: avaliação dos artigos
julho/2023: revisão e diagramação dos textos
agosto/2023: publicação do dossiê 2023.2

Organizadores: 

Anny Carneiro Santos - Doutoranda em Crítica Cultural/Turma Multicampi Canudos (PPGCC/UNEB)

Kárpio Márcio de Siqueira - Doutorando em Crítica Cultural/Turma Multicampi Canudos (PPGCC/UNEB)

Telma Cruz Costa - Doutoranda em Crítica Cultural/Turma Multicampi Canudos (PPGCC/UNEB)

 

Obs: Os textos devem ser submetidos pelo próprio site, para fazer a submissão, é necessário ser cadastrado, caso não seja, clique no link acima (cadastro) e preencha os dados do formulário, lembrando que deve ser escolhida a opção autor

 
 

Edição Atual

v. 10 n. 2 (2022): Criação literária, ensino e subjetividade no cotidiano da escola
Publicado: 2022-12-29

Edição completa

Apresentação

  • Eider Ferreira, Nazarete Andrade Mariano, Wellington Neves Vieira
    11-18
    Visualizações do artigo: 7     PDF downloads: 11

Artigos

Resenha

Entrevista

Ver Todas as Edições