EXERCÍCIO DE INTIMIDADE: UMA APROXIMAÇÃO COM A APRENDIZAGEM DA ESCRITA DE SI
DOI:
https://doi.org/10.21879/faeeba2358-0194.2013.v22.n40.p237-246Palavras-chave:
Escrita infantil, Cartas, Escrita autobiográficaResumo
Diferentemente do que se imagina, as crianças escreveram sobre si mesmas em agendas, diários e cartas que, ainda, não mereceram suficiente atenção para a guarda e investigação, uma vez que não se valorizava o universo não adulto. Publicações, eventos acadêmicos e exposições sobre a escrita infantil expressam uma inflexão na historiografia e historiografia da educação. Entendendo que uma primeira aproximação com o universo infantil, a partir da escrita, remete de imediato à compreensão de que há uma diferença entre escrever sobre a infância e escrever na infância, este artigo volta-se para as cartas escritas por crianças. Para tanto, elege três estudos, no âmbito da historiografia da educação, sobre a aprendizagem e exercício dessa escrita autobiográfica no espaço doméstico, no exílio e no espaço escolar, o que permite interrogar sobre a centralidade que a escrita de cartas teve na aprendizagem dos códigos de civilidade, no autoconhecimento, na formação moral e na internalização de normas gramaticais. Em diálogo com historiadores da educação que têm produzido uma reflexão sobre a escrita infantil, a interpretação aqui tecida indica que, longe de serem escritas livres, as cartas analisadas não estão imunes ao controle dos adultos e trazem, ainda que invisíveis, as marcas dos pais, preceptores e professores que incentivam, aplaudem, corrigem. Defende-se, por fim, ser preciso sensibilizar o poder público sobre a imperiosa necessidade de estabelecer uma política de preservação das escritas infantis, em especial as das escolas.
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Atualizado em 15/07/2017