VIOLÊNCIA DE GÊNERO, CULTURA DO ESTUPRO E SAÚDE PÚBLICA: UMA ANÁLISE SEM RECORTE

Autores

Resumo

Este trabalho teve por tema principal o exame da cultura do estupro, enquanto prática social, à luz das questões de gênero e dos preceitos da Saúde Coletiva, com o entendimento da dimensão de gênero não como recorte, mas como um instrumental de análise dos fenômenos e dos sujeitos em sua complexidade social, decorrente de uma dominação colonial e patriarcal. Nesse sentido, questionamos se a perspectiva de gênero influencia a manutenção e transmissão de práticas culturais violentas e de que forma os programas de saúde existentes no Brasil problematizam essas questões. Objetivou-se, assim: discutir os conceitos de práticas culturais e cultura do estupro, articulando as análises obtidas com os programas de prevenção e promoção da saúde, identificando se estes incluem problematizações de gênero. A partir de revisão de literatura, contextualizou-se historicamente o aprisionamento das mulheres dentro de normas de gênero herdadas como inerentes a uma natureza feminina, verificando-se as contribuições do movimento feminista e a articulação dos seus pressupostos com a Psicologia e com programas de prevenção e promoção de saúde. Alguns autores que já fazem essa articulação foram citados e pesquisas que demonstram a ausência de problematizações de gênero nos programas foram expostas Abordou-se ainda, a relação entre as questões de gênero e as políticas públicas, alertando para as recentes tentativas de sucateamento do SUS e para os retrocessos da condição feminina no governo atual. Essa análise ressalta a importância dos psicólogos, bem como a sociedade em geral, se questionarem em nome de quem estão efetivamente funcionando, quem estão beneficiando, e como os dispositivos de saber/poder (ciências sociais/ Estado) participam da construção e manutenção dessas práticas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALVES, C. O. Psicologia e perspectiva feminista: produção de conhecimento, prática e programas de prevenção em saúde mental. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, Brasília/DF, 2013.

BACKES, J. L. Gênero e educação popular: uma leitura do GT da Anped. In: Anais do 16º Congresso de Leitura do Brasil; Campinas, SP. Campinas: Unicamp; 2007.

BANDEIRA, L. A contribuição da crítica feminista à ciência. Estudos Feministas,

Florianópolis, v. 16, n. 1, 2008.

BANDEIRA, L. M. Violência de gênero: a construção de um campo teórico e de investigação. Revista Sociedade e Estado, v.29, n. 2, Brasília, 2014.

BIROLI, F., MIGUEL, L. F. Gênero, raça, classe: opressões cruzadas e convergências na reprodução das desigualdades. Mediações, vol. 20, nº 2. Londrina, 2015.

BOURDIEU, P. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

BRAZÃO, A., OLIVEIRA, G. C. de. Quem ama não mata - Década de 70 e 80. Em: ______ (org.). Violência contra as mulheres - uma história contada em décadas de luta, Brasília: CFEMEA: MDG3 , 2010.

BRIDGES, A. J., WOSNITZER, R., SCHARER, E., SUN, C., & LIBERMAN, R. Agression and sexual behavior in best-selling pornography vídeos: A contente analysis update. Violence Against Women, 16(10), 1065-1085, 2010.

BUCHWALD, E.; FLETCHER, P. R.; ROTH, M. Transforming a Rape Culture.Minneapolis: Milkwood Editions, 1993.

COSTA, A. A. A. O movimento feminista no Brasil: dinâmicas de uma intervenção política. Gênero, v. 5, n.2, 2006.

DITTRICH, A. Behaviorismo radical, ética e política: Aspectos teóricos do compromisso social. Tese de doutorado, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos /SP, 2004.

ESCORSIM. S. M. Violência de gênero e saúde coletiva: um debate necessário. Revista Katálysis. Florianópolis, v.17, n. 2, 2014.

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. (2019). Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Disponível em: http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/02/Infogra%CC%81fico-vis%C3%ADvel-e-invis%C3%ADvel-2.pdf>. Acesso em: 02 Junho de 2019.

FREITAS, L. G. Argumentação e discurso sobre Lei Maria da Penha em acórdãos do STJ. Bakhtiniana. São Paulo, n. 9 (1): 71-89, 2014

GERGEN, K. J. A crítica feminista da ciência e o desafio da epistemologia social.

In: Mary McCanney Gergen. O pensamento feminista e a estrutura do conhecimento.

Tradução de Ângela Melin, Rio de Janeiro: Rosa dos tempos: Edunb, 1993.

GOMES, R., MINAYO, M. C. S. & SILVA, C. F. R. Violência contra a mulher: Uma questão transnacional e transcultural das relações de gênero. Em Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Impacto da violência na saúde dos brasileiros, Brasília, 2005.

MACHADO, L.Z., Feminismos brasileiros nas relações com o Estado. Contextos e incertezas. Cadernos Pagu. Núcleo de Estudos de Gênero, Campinas, Unicamp - (47), 2016:e16471, 2016.

MBEMBE, A. Necropolítica, unarevisión crítica. Em: GREGOR, H. C. M. (Org.). Estética y violencia: Necropolítica, militarización y vidas lloradas. México: UNAMMUAC, 2012.

MIGUEL, L. F., BIROLI, F. Feminismo e política: uma introdução. Boitempo Editorial. São Paulo, 2014.

MINAYO, M. C. S. A difícil e lenta entrada da violência na agenda do setor saúde. Caderno de Saúde Pública [on line], Rio de Janeiro 2004. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2004000300001. Acesso em: 01 de Maio de 2019.

MINAYO, M. C. S. Conceitos, teorias e tipologias de violência: a violência faz mal à saúde individual e coletiva. Em: Sousa ER, organizadores. Curso impactos da violência na saúde. Rio de Janeiro: EAD/ENSP; 2007.

MURTA, S. G., DEL PRETTE, A. & DEL PRETTE, Z. A. P., Prevenção ao sexismo e ao heterossexismo entre adolescentes: contribuições do treinamento em habilidades de vida e habilidades sociais. Revista de Psicologia da Criança e do Adolescente (Lisboa), 2, 73-86, 2010.

PASINATO, W. “Femicídios” e as mortes de mulheres no Brasil. Cadernos Pagu. Núcleo de Estudos de Gênero, Campinas, Unicamp, n. 37, 2011.

RIBEIRO, D. O que é lugar de fala? Coleção Feminismos Plurais, Belo Horizonte: Editora Letramento, 2017.

ROST, M. VIEIRA, M. S. Convenções de Gênero e Violência Sexual: A cultura de estupro no ciberespaço. Contemporânea: Revista de Comunicação e Cultura, Bahia, v. 13, n. 2, p. 261-276, maio./ago. 2015. Disponível em: <http://www.portalseer.ufba.br/index.php/contemporaneaposcom/article/view/13881/9878>. Acesso em: 02 jun. 2019.

RUIZ, MARIA R. Personal agency in feminism theory: evicting the illusive dweller. The Behavior Analyst, n. 21, 1998.

SAFFIOTI, H. J. B.O poder do macho. São Paulo: Moderna, 1987.

SAFFIOTI, H. J. B.Violência de gênero: o lugar da práxis na construção da subjetividade. Lutas Sociais, PUC-SP, n.2, 1997.

SAFFIOTI, H. J. B.Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2011.

SEGATO, R.L. Lasnuevas formas de la guerra y elcuerpo de lasmujeres 1a. ed. Puebla: Pez enelárbol, 2014.

SCHRAIBER, L. B., D’OLIVEIRA, A.F.P.L., FALCÃO, M.T.C., FIGUEIREDO, W.S. Violência dói e não é direito: A violência contra a mulher, a saúde e os direitos humanos. São Paulo: Editora UNESP, 2005.

VIGARELLO, G. História do estupro: violência sexual nos século XVI-XX. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 1998.

ZANELLO, V., Mulheres e loucura: questões de gênero para a psicologia clínica.

Em: Stevens, C.; Brasil, K. C. T.; Almeida, T. M. C. de; Zanello, V. (orgs) Gênero e

feminismos: convergências (in) disciplinares. Brasília-DF, 2010.

ZANELLO, V., BUKOWITZ, B., Loucura e cultura: uma escuta das relações de gênero nas falas de pacientes psiquiatrizados. Revista Labrys, v. 20-21, 2011. Disponívelem: http://www.tanianavarroswain.com.br/labrys/labrys20/bresil/valeska.htm. Acesso em:

/05/2019.

Downloads

Publicado

2020-05-08

Como Citar

MAZAGÃO, B.; CARVALHO, L. de S. VIOLÊNCIA DE GÊNERO, CULTURA DO ESTUPRO E SAÚDE PÚBLICA: UMA ANÁLISE SEM RECORTE. Revista Encantar, [S. l.], v. 2, p. 01–18, 2020. Disponível em: https://revistas.uneb.br/index.php/encantar/article/view/8453. Acesso em: 19 abr. 2024.