v. 9 n. 2 (2020): Políticas da Vida
Educação pela Vida
São tempos vividos em intensidade. A Educação atravessa o tenebroso momento. E atravessa. Encontra caminhos, tem seus agentes ansiosos e amedrontados, mas realizando suas construções em meio ao caos: pandemia, desgoverno, fake news. Soluções encontradas na arte, na corporeidade, nas redes sociais, nas plataformas digitais. A Educação Pública, esse triunfo histórico da humanidade, produto de lutas políticas de outros tempos, tão agonísticos como esse, encontra novos rumos, “arranja-se com o que tem”. Mãos que digitam frenéticas, interfaces que se desdobram na cultura digital, corpos através de telas, vigorando falas de lucidez e fraternidade. Eis a tônica de edição especial da Revista Comsertões: Políticas da Vida na era da necropolítica. Sonhos de emancipação resistem, e insistem em vicejar, a despeito de todo um cenário de demolição e catástrofe. Impossível não falar da pandemia: enquanto essas linhas são escritas, ecoam as notícias de 190 mil mortes em nosso país. Um número maior que muitas guerras que nos precederam, e, por trás desses números, famílias desconsoladas, entes vitimados, amigos partindo. Um momento de pesar que pede recolhimento,e não apenas o uso de máscaras e álcool em gel. E com quantas máscaras haveremos de lidar em nosso encontro súbito conosco, na solidão do nosso confinamento?A poesia, a música, a artisticidade têm sido alguns de nossos refúgios, conforme alguns dos textos aqui publicados. Do outro lado, convivemos com informações desencontradas, fragmentos de distopias, aposta na ciência/ descrença da ciência, acordos escusos, desvios de verbas, figuras públicas em absoluta confusão mental. A razão cínica imperando entre os dirigentes, um ministro da Saúde sem credenciais, um presidente em surto egóico.
“E no entanto, é preciso cantar/ mais que nunca, é preciso cantar”. Assim diz a música de Vinícius de Moraes. Assim, essa edição assume o seu canto, a sua condição de registrar momentos inspiradores de resiliência: os professores, estudantes, agentes da Educação Pública, enfrentam os desafios e continuam sustentando suas ações em cenários imprevistos, sem saber em que resultarão esses esforços. A edição registra esperança e criatividade social, registra alternativas, tentativas, experiências, e essas não devem ser desperdiçadas.... suas lições são inscritas no fogo desse tempo, de perplexidades, opacidades e transparências. Os textos aqui reunidos cumprem esse propósito: trazer luz para as sombras, enfrentar os medos da caverna. Um olhar para dentro. E as máscaras continuam a cair. O riso cínico de muitos não sufoca o sorriso que se esconde por trás da prudência. Enquanto a ansiada vacina não chega, é preciso nos precaver, vacinar nossas consciências com a Educação: o ritmo acelerado de aprendizagens múltiplas não haverá de ser em vão. E a tessitura de cuidados permanecerá alimentando as esperanças da travessia. Este editor também participa de seu quinhão, através das práticas de yoga ensinadas através das plataformas digitais. Embora o Yogamundi, projeto de extensão financiado pela Pró-Reitoria de Extensão da UNEB, não participe dessa edição enquanto relato, participa ocultamente de sua feitura: convida a ampliar a respiração, segurar o fôlego, expandir as possibilidades de sobrevivência. Sigamos, pois, respirando o suor dessas páginas e encontrando nelas, nossas chances de emancipação renovadas.
João José de Santana Borges (editor)