Investigar com as crianças: das narrativas à construção de conhecimento sobre si e sobre o outro
DOI:
https://doi.org/10.31892/rbpab2525-426X.2020.v5.n15.p1121-1135Resumo
A imagem ocidental da criança contemporânea que subscrevemos – ativa, competente, com agência própria – desafia as concepções e as práticas das educadoras de infância. O propósito que nos move na escrita deste texto reside na análise de modos de participação das crianças em contextos educativos e na relevância das narrativas (auto)biográficas na organização do trabalho pedagógico. Neste artigo, procuraremos desconstruir como atender às narrativas (auto)biográficas que os meninos e as meninas constantemente produzem pode permitir um processo educativo bem sustentado e significativo no desenvolvimento pessoal de cada uma e no desenvolvimento profissional do educador. A base de análise aqui mobilizada foi constituída pela observação de um grupo de crianças entre três e cinco anos de idade que frequentam um jardim de infância de uma localidade da região norte de Portugal. De forma mais específica, procuraremos discutir a relevância das investigações com as crianças em três cenários: 1) partindo das narrativas das crianças como reconhecimento do direito a serem ouvidas e respeitadas em seus interesses, necessidades e modos próprios de participação; 2) como princípio básico na planificação e organização da ação educativa em uma perspectiva de trabalho com projetos; 3) como elemento essencial para (re)pensar a formação de professores partindo da ideia de que a investigação no cotidiano das práticas permite o desenvolvimento da capacidade investigativa e reflexiva de crianças e adultos.
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