A INVENÇÃO DO OUTRO: o “campo” em pesquisas sobre livros didáticos de história
DOI:
https://doi.org/10.29378/plurais.2447-9373.2019.v4.n1.65-91Palavras-chave:
Currículo, Livro Didático de História, Modernidade, ColonialidadeResumo
Este artigo tem por objetivo discutir como pesquisas com/sobre livros didáticos de História participam da disputa por significação de “campo”, cujo processo de fabricação está marcado por elementos da cidadania, do desenvolvimento, do progresso e do binômio inclusão/exclusão. Argumentamos que isto ocorre porque tais pesquisas educacionais, fazendo-se luta política com o fim de assegurar direitos para as “populações do campo”, acabam por acessar mecanismos discursivos de produção do “Outro”, alterizado, a partir do qual funciona a matriz de pensamento constituída nas malhas de poder da modernidade/colonialidade. Assim, ainda que a disputa por ressignificação do “campo” seja o de desmontar o binário campo/cidade e, portanto, escapar daqueles sentidos que o alocaram em condição de subalternidade, paradoxalmente, partilha-se das mesmas estratégias que o produzem como lugar de falta, de passividade, de disputa por terras, de conflitos e mortes. Isto é, parte-se do mesmo recurso de fabulação de categorias que, em posições hierarquicamente distintas, fazem-se contingencialmente dicotômicas, conflitantes, excludentes. De modo ambivalente, desta repetição emerge outro binário – rural/campo –, que caracterizará os argumentos de parte dos trabalhos analisados. Afim de sobrepujarem-se às ideias de urbanização e industrialização que marcariam o “campo” como outro da “cidade”, os textos analisados parecem assentir da lógica em que o “campo” é outro, cuja identidade precisa ser elaborada, reafirmada e defendida, o que tornaria potente a reivindicação por direitos sociais como, por exemplo, acesso à terra e educação, ou mesmo à vida. Acessar o recurso da cidadania, via políticas de identidade, por meio dos discursos educacionais, produziriam como efeito, então, reconhecimento do Estado e, portanto, garantias através dos textos legais. Entretanto, parece-nos que, a despeito de tais projetos emancipatórios para as “populações camponesas”, as possibilidades de sentidos de “campo” permanecem restritas quando os modos de produzir inteligibilidade da luta política da pesquisa em educação ainda constituem-se segundo uma ontologia moderna e colonial, que acabam por simplificar e tornar homogêneas categorias, trajetórias e temporalidades.
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