CORPOS TRANSVIADES NA CONTÍSTICA DE JOSUÉ SOUZA

Resumo

 

O presente estudo discute a representação do corpo e da sexualidade nos contos “Terezinha” e “O menino que se via Clarice”, que integram a coletânea Terezinha e outros contos de literatura Queer, do escritor brasileiro Josué Souza, com o propósito de evidenciar duas narrativas específicas, uma em primeira e outra em terceira pessoa, nas quais as personagens em foco são corpos trans ou em trânsito, isto é, alteridades com sexualidades dissidentes. O protagonismo das personagens nos permite refletir acerca dos espaços simbólicos e de circulação destinados a esses corpos que, por não viverem a normatização do gênero, são diariamente cerceados dos direitos humanos e da liberdade de expressão, além de terem seus corpos abjetificados e violentados pelos discursos de ódio. Por isso, este trabalho constitui um espaço de problematização e de revisão do cânone, recorrendo a suportes teóricos relacionados aos estudos da diversidade sexual e de gênero. A pesquisa permite revelar, por meio das narrativas em estudo, os danos à existência dos corpos em trânsito face à dominação masculina e ao binarismo imposto. Ademais, evidencia as produções com temáticas “transviadas”, apresentando a relação corpo-sexualidade-gênero experienciadas para além do determinismo biológico que, por vezes, trata a existência dos corpos em trânsito como patologia/anomalia. Por essa perspectiva, observamos que tais discursos opressivos possuem raízes fundantes em histórias de ódio e aversão, mantidas pelas vias do simbólico e do institucional. Desse modo, o reconhecimento das multiplicidades e das distintas experiências corporais possibilita afirmar que o processo de resistência se dá, também, através da arte literária contemporânea.