ELZA SOARES:
DOS ALFINETES À CARNE NEGRA
DOI:
https://doi.org/10.38090/recs.2595-9980.2020.v3.n5.59-79Resumen
Este artigo propõe investigar aspectos da trajetória da cantora Elza Soares a partir das noções de autenticidade e "atrevimento" na tentativa de compreender como se deu o processo recente de consagração da artista perante as audiências brasileiras. Acreditamos haver uma "tensão produtiva" na carreira da artista resultado da disputa em torno dessas noções por parte da crítica especializada, do público e da própria cantora. Essa tensão, além de ser a força social responsável por criar e recriar formas de performatizar a feminilidade, a negritude e o seu pertencimento geracional, expressa-se na maneira como a marginalidade relativa de Elza Soares diante do cânone popular conferiu-lhe uma capacidade renovada de ressignificar sua própria trajetória. Outro efeito dessa tensão produtiva diz respeito ao relativo silenciamento acerca das marcas raciais e de gênero que teria caracterizado a carreira de outros músicos negros no Brasil. Na persona da Elza Soares, geralmente chamada de "rainha" por seus fãs, tais marcas convertem-se em recursos de ação dinamizados sob a forma tanto de escolhas estéticas quanto de convenções narrativas da trajetória da cantora. Ao invés do silêncio, a consagração de Elza Soares perante o público de hoje parece emanar da super-enunciação de sua negritude, de sua feminilidade, de sua experiência com a pobreza articuladas à geração – todas sobremarcadas mediante símbolos materializados em seu corpo e em sua história.
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