Escrever, ferir, traduzir: o corpo-a-corpo da escrita entre Memórias do cárcere e Memóires de prison

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35499/tl.v14i2.9755

Resumo

Argumentamos que Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, e sua tradução em Mémoires de prison encenam a noção que Jacques Derrida (1986, 1992, 2007) enseja de escrita como a abertura de um ferimento que lamenta e testemunha o instante não mais presente da sua efração. O processo narrativo das Memórias põe em movimento um constante embate para exumar o passado traumático, reabrindo a ferida para o testemunho do leitor. Partindo do contato com as “agruras” do outro, a tradução para o francês se desdobra de modo que as impressões do contato com o relato pungente de Graciliano influenciam nas transformações que os tradutores operam no corpo do texto. Nesse cenário, tem lugar um “corpo-a-corpo” na língua e na escrita, ao qual Derrida (2007) alude. Por meio desse movimento, o original, que já não é pleno e imune a fissuras, é ferido, porém, ao mesmo tempo, sobrevive e continua a testemunhar na escrita tradutória. Discutimos como a escrita do trauma gera em si uma fissura na trama testemunhal de Graciliano Ramos e como Mémoires de prison a revela, ao passo que abre ainda mais a cesura. Nossa análise parte da leitura do primeiro volume da obra – Viagens – e da tradução.

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Biografia do Autor

Aryadne Bezerra de Araújo, Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Letras – Linguagens e Representações da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB). Mestra em Letras – Linguagens e Representações pela UESC.

Élida Paulina Ferreira, UESC - Universidade Estadual de Santa Cruz/ Professora titular

Doutora em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (2003). Mestra em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (1988). Graduada em Letras pela Universidade de Brasília (1985). Professora Titular da Universidade Estadual de Santa Cruz.  Docente do Programa de Pós-Graduação em Letras - Linguagens e Representações. Ilhéus, Bahia, Brasil.

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Publicado

2020-12-14

Como Citar

ARAÚJO, A. B. de; FERREIRA, Élida P. Escrever, ferir, traduzir: o corpo-a-corpo da escrita entre Memórias do cárcere e Memóires de prison. Tabuleiro de Letras, [S. l.], v. 14, n. 2, p. 41–52, 2020. DOI: 10.35499/tl.v14i2.9755. Disponível em: https://revistas.uneb.br/index.php/tabuleirodeletras/article/view/9755. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

DOSSIÊ TEMÁTICO