Literatura à demanda de Exu ou notas para a desconstrução da literatura
DOI:
https://doi.org/10.35499/tl.v17i1.16242Resumo
Sob a demanda de Exu, a literatura de Jorge Amado rasura a divisão entre alto e baixo, une o sublime e o pop, numa convivência nova que estreita os laços entre dois velhos desafetos, o da casa grande e o do porão, o da lógica do condomínio e o das favelas. As travessuras exurianas, partindo de Jorge Amado, tomando-o como ponto de partida e dele me afastando, buscando dizer o que jamais teria dito, sendo a ele fiel na infidelidade, constrangem a metafísica da presença – uma metafísica greco-europeia de matriz judaico-cristã –, fazendo vir à tona o recalcado pela vilania europeia, qual seja, que toda metafísica é desde sempre, metafisica do signo. Isso significa que todo sentido só se dá em cadeia, num movimento de diferença à diferença, não sendo possível reduzir, sem perdas e prejuízos graves, qualquer texto a uma estrutura fixa. A literatura é lócus de “não verdade”, como aquilo que nos escapa, que não tem identidade fixa ou autoidentidade, não podendo ser apropriada por ninguém nem por qualquer teoria do conhecimento, ainda mais se organizada por hierarquias e exclusões coloniais. As estripulias Exu-amadianas abriram veredas à Literatura e lambuzaram suas encruzilhadas com dendê, marafo e farofa. Aqui, sustento que a presença do orixá nagô Exu, em um batizado católico é metáfora para pensar a desconstrução e a decolonização da literatura. Situado entre a Literatura e a Macumba, encruzilhado pelo Exu de Jorge Amado, o presente escrito produz rotas de desvio das opressões que ainda insistem em obsidiar a literatura.
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