Chamada para publicação de dossiê 2024.2 – A arte e a escrita tecnológicas: perspectivas do (não) criativo em tempos digitais

2024-06-17

Apresentação:


“Computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro”. Esse trecho da música Computadores fazem arte, da banda recifense Nação Zumbi, em seu álbum Da lama ao caos, de 1994 revelava algo instigante no contexto brasileiro, em relação à produção artística mediada ou protagonizada por tecnologias computacionais e digitais, que iria nos desafiar com uma aporia: se a criatividade é algo inerente ao humano, ou pelo menos algo que revela uma “humanidade” mais resplandecente e distinta, o que poderemos ser ou fazer se máquinas humanizadas estiverem criando intensamente, assim como nós? Pintando, cantando, escrevendo literatura, sonetos, romances e epopeias, ou compondo sinfonias? Viveremos uma era do império da inteligência artificial, era na qual deixaremos de criar, pelo menos diretamente, incumbindo à máquina de fazê-lo, a partir de comandos ou prompts em um aplicativo de Inteligência Artificial? O prompt pode também ser uma espécie de gênero artístico-literário em tempos digitais? Em quê consiste o artístico e o criativo em tempos de escritas não criativas, protagonizadas por mecanismos computacionais, conexões de arquivos com capacidade sofisticada de produzir linguagem, como um cérebro humano.

Walter Benjamin, nos seus escritos do início do século XX, já pressentia, a partir da produção do cinema e da fotografia, uma arte que se constituiria a partir de técnicas mais deliberadas e autônomas, que traria dimensões curiosas da realidade e serviria, inclusive, em uma percepção dialética, para se repensar perspectivas surpreendentes na história das artes plásticas e da pintura. Eram essas suas ideias em Pequena História da Fotografia (1931).

A proposta desse dossiê é abarcar trabalhos e pesquisas recentes sobre o uso de tecnologia para a produção de arte e da produção de arte, a partir de modelos ou procedimentos tecnológicos. Interessa-nos o uso da inteligência artificial na produção de textos escritos e de imagens, a produção de escritas usando motores digitais de busca e de seleção de informações, edições e paráfrases, recriações de textos consagrados usando ferramentas de plataformas ou de aplicativos, testes provocativos dos limites da inteligência artificial etc. O escopo desse dossiê é apresentar nosso presente, ao mesmo tempo, como um museu de grandes novidades e um devir admirável do mundo, exibido nas telas dos nossos dispositivos digitais.

A submissão dos textos no sistema da revista deverá ocorrer de 17 de junho de 2024 a 30 de setembro de 2024, com previsão de publicação em dezembro de 2024.