Narrativas e memórias sobre a condição negra em Paris
DOI:
https://doi.org/10.31892/rbpab2525-426X.2020.v5.n14.p627-647Palavras-chave:
Paris, Negros, Memória, Narrativa, IdentidadeResumo
Este artigo é resultado do projeto de pesquisa desenvolvido em um estágio pós-doutoral na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) que propôs uma reflexão sobre a “condição negra” em Paris. Foram registrados 21 depoimentos de negros e negras radicados em Paris. Os depoimentos foram gravados em áudio e conduzidos por um roteiro semiestruturado de perguntas sobre origem e experiências de trânsito espacial, social e cultural, dados pessoais, profissão, relatos sobre experiências de conotação racista, sobre práticas sociais e culturais que determinam uma “condição negra”, sobre estratégias de mobilidade e inserção social mais ampla, recorrentes em contexto brasileiro, tais como a música, o esporte e os relacionamentos sexoafetivos inter-raciais. Apenas as narrativas e trajetórias de três sujeitos serão citadas e discutidas. Antes disso, será qualificada a apropriação das categorias analíticas narrativa, memória e patrimônio. Em seguida, será situado o debate sobre universalismo republicano, “condição negra” e identidade étnico-racial em contexto francês. As narrativas desses sujeitos revelam trajetórias que se cruzam no modo como elaboram memória, identidade racial e patrimônio. Do mesmo modo, contrariam os princípios republicanos de igualdade, fraternidade e liberdade. Suas trajetórias pessoais os colocam em um ponto de tangenciamento com trajetórias e configuração de memória, de identidade racial e patrimônio de sujeitos negros radicados em outros contextos nacionais tal qual o Brasil.
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