Transcriação e construção de um papel educativo: a abordagem biográfica na formação de babás
DOI:
https://doi.org/10.31892/rbpab2525-426X.22.v7.n20.p130-144Palavras-chave:
Pesquisa (auto)biográfica, Interculturalidade, Formação de babásResumo
Este artigo tem o objetivo de investigar as potencialidades dos dispositivos biográficos na formação de babás. Para tanto, apoia-se numa pesquisa realizada com babás migrantes, brasileiras que trabalham na França, desenvolvida com base nos fundamentos teórico-metodológicos da pesquisa (auto)biográfica e da história oral. A hermenêutica das narrativas de vida que compõem o corpus de tal estudo traz à luz a centralidade dos processos de biografização, colocados em ação pelas profissionais do cuidado infantil no ato de narrar a experiência vivida. Conclui-se que o papel social de educadoras informais da infância é construído por essas trabalhadoras do care a partir do estabelecimento de relações entre, de um lado, seus percursos vividos e os saberes a partir deles adquiridos e, de outro, as culturas – familiares, linguísticas, nacionais etc. – com as quais se deparam nos lares que constituem seu ambiente de trabalho. Nesse espaço intersticial, a abordagem biográfica se configura como pesquisa-formação, na medida em que convida essas mulheres a assumir o papel de “pesquisadoras de si”, a construir sentidos ao vivido, tomar consciência de suas reservas de saberes biográficos, lidar com as proximidades e distanciamentos presentes no encontro intercultural com as crianças e famílias empregadoras, agenciar temporalidades e projetar-se em direção a um porvir. Reconhecida em sua dimensão transcriativa, a operação de colocar em palavras aquilo que é da ordem do não dito, do experienciado, revela-se como potente ferramenta de formação de babás-educadoras-da-infância e inscreve-se numa perspectiva de valorização de saberes invisibilizados.
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