Chamada Dossiê - Literatura/Autobiografia: entre objetos, pessoas, acontecimentos e conhecimentos - v. 8/3, n. 23 – 2023

2022-12-30

Literatura/Autobiografia, palavras unidas pelo sinal gráfico de barra oblíqua, é um indicativo do desejo nesse dossiê de incentivar a mobilização na escrita e na configuração dos temas dos artigos de certo tipo de entendimento dos espaços literário e autobiográfico, mostrando a transitividade e intercambio de sentidos. Nessa medida, espera-se tratar de forma teórica e em estudos específicos, fundamentados em autores dos campos literário, artístico, humanístico, educacional e dos estudos sócio-históricos, de temas pertinentes às especificidades e possibilidades de se constituir compreensão, comentários, contrapontos, invenções acerca da experiência vivida acionando a expressão ficcional.

Naipaul (2018) por meio da escrita e da leitura construiu lentamente o seu projeto literário, no qual importava dar ver a sua Índia pessoal e aproximar os leitores a formas de compreensão singulares da Índia existente, aquela que não encontrava em textos de escritores consagrados indianos e ingleses. Os caminhos ao se tornar escritor são tortuosos. Um dos exemplos é a forma como compreendeu o mundo rural e de cidade pequena da infância e adolescência indo à busca de informações para a escrita de um livro de encomenda, parte de uma coleção de viajantes. O esquecimento era uma presença nos arquivos do Museu Britânico, na literatura consagrada e na forma como os habitantes da aldeia contavam para si mesmos a história do lugar.  Aprendeu ao escrever e refletir com suas próprias memórias e em histórias que encobriam experiências provavelmente não registradas, esquecidas.

Entre pesquisas, estudos, escritas e leituras o escritor compreendeu a dimensão autobiográfica da literatura - de alguém que compreende a si mesmo, sua posição e interesses, as experiências de outras pessoas e as representações dos acontecimentos, e com isso voltar-se para entendimentos sociais mais amplos. A compreensão do que é ser escritor foi se moldando nesse processo de relacionar fontes e informações, problematizar a literatura a qual teve acesso, encontrar outros escritores e livros, praticar e criar argumentos para escrever novos livros. Perguntava-se como era inexplicavelmente ausente na literatura que conhecia até aquele momento o abandono, a mágoa, o país inacreditavelmente populoso, a calamidade misteriosa da história indiana. Algum indício de como deveria ser sua obra literária foi percebido com a leitura da autobiografia de Gandhi, Minha vida e minhas experiências com a verdade. Ali no espaço da leitura, de modo oblíquo, algo próximo da dor crua como a que ele próprio sentia na Índia, sua literatura floresceu [1]. A possibilidade de ser escritor derivou de auto-conhecimento e um interesse sobre os modos de conhecer em circulação[2].

Inspirado nas memórias de leitura e de escrita de Naipaul, o dossiê irá acolhera artigos com temas concernentes às relações entre literatura, autobiografia e história.  Objetiva-se explorar as proximidades entre os escritos autobiográficos e literários de modo a fazer valer essa potência para pensar sobre narrativas, memórias, objetos, pessoas e acontecimentos associados às marcas sociais de gênero e sexualidade, situações geracionais e histórico-culturais, vivências de classificação e desclassificação social, as quais nos levam a experiências de desamparo, sofrimento, resistência e ao contrário permitem construir novos saberes por meio do diálogo com os entendimentos e conhecimentos já constituídos.

 

Coordenação:

Dislane Zerbinatti Moraes (FE/USP)

Maria Rosa Rodrigues Martins de Camargo (UNESP)

 

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[1] NAIPAUL, V.S.. Ler e escrever. Belo Horizonte: Veneza: Editora Âyiné, 2018, p. 62-64.

[2] CATANI, Denice Barbara. A autobiografia como saber e a educação como invenção de si. In. SOUZA, Elizeu Clementino de; ABRAHÃO, Maria Helena Menna Barreto (orgs.). Tempos, narrativa e ficções: a invenção de si. Porto Alegre/Salvador: EdiPUCRS: UNEB, 2006).