Dona Sol
o entrelugar e o fascínio pela transgressão
DOI:
https://doi.org/10.30620/pdi.v13n1.p143Palabras clave:
Dona Sol, Dama Pé de Cabra, Transgressão, Hélia CorreiaResumen
A novela Fascinação, de Hélia Correia, questiona a permanência da opressão social e religiosa relativa ao comportamento feminino a partir do diálogo com as histórias sobre a Dama Pé de Cabra, personagem singular e fabulosa do relato linhagista medieval acerca de D. Diogo Lopes de Haro, registrado no Livro de Linhagens do Conde D. Pedro (1344), e também do conto homônimo de Alexandre Herculano, publicado na coletânea Lendas e Narrativas em 1851. A sensível história da filha da Dama e de D. Diogo, D. Sol, criatura híbrida fruto de um entrelugar produzido pelo sincretismo religioso, possibilita que a narradora coloque em debate questões instigantes sobre a condição feminina ainda presentes no contexto contemporâneo: a opressão exercida pelas expectativas sociais e interdições morais, o fascínio despertado pelo desejo e pela transgressão, assim como os desafios advindos da condição de diferente. Esta análise alia-se à perspectiva das relações dialógicas entre textos e contextos para delinear preocupações estéticas, simbólicas e socioculturais, apoiando-se em estudos de Praz (1996) sobre o fascínio despertado pela beleza nomeada meduseia em razão do perigo subversivo atribuído a estas figuras femininas, de Bourdieu (2007) acerca da opressão simbólica exercida pela sociedade sobre os indivíduos, de Hutcheon (1991) relativos à atribuição de voz aos excluídos em narrativas contemporâneas e de Reis (2019) a respeito da refiguração de personagens.
[Recebido em: 24 mar. 2023 – Aceito em: 10 jun. 2023]
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