O LUGAR DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO

13.10.2023

     Atualmente, sabe-se que a contação de história é vista na sociedade como atividade voltada apenas para as crianças, para passar tempo em sala de aula, colocar a criança para dormir, entre outros. Mas, diante da pesquisa realizada, foi possível constatar que a contação de história vai muito além do que a sociedade, professores, pais, estudantes pensam. Por isso, este artigo tem a finalidade de mostrar a importância dessa atividade na vida de todos, podendo ser pedagógica e em todas as idades. Assim, chegamos à pergunta de pesquisa: Por que a contação de história só tem foco na educação infantil?

            A contação de história é uma prática que nasce com a humanidade, com os seus relatos de vida, para os que estavam ao seu redor (Vieira, 2005). A história, quando contada, acaba, de certo modo, produzindo e transmitindo cultura, a essência de um grupo humano, valores e compartilhando conhecimentos.

            A contação de história vai muito além de chegar na frente das pessoas e contar uma história conhecida, ou uma história nova. O contar requer estudo, seriedade, postura, comprometimento, clareza, afinal, a história adentra no mundo particular de cada ouvinte. Matos (2011) acredita que a contação é um ofício que, como todos os outros, tem seus instrumentos, seus métodos, suas técnicas. Há pessoas que podem desempenhá-lo com maior ou menor facilidade, mas todo mundo pode desempenhar esse ofício.

            Um instrumento importante e que requer bastante atenção à contação, é a voz. A entonação da voz, sua clareza, faz com que o expectador se prenda ao que está ouvindo. Afinal, quem ouve uma história quer sempre ser atingido, de alguma forma, quer ser atingido (Sisto, 2007, p. 40). E cabe ao contador primeiro entender qual a mensagem que ele quer transmitir ao seu público, pois, aqueles que ouvem adentram a sua imaginação, que o faz sair da sua comodidade e então ele adentra no mundo da reflexão, da análise; o que pode acarretar mudanças de comportamento e pensamento também. Nunca podemos duvidar do poder de uma contação de história, quando bem contada.

            Sabe-se que até o Ensino Fundamental I, a criança acaba tendo contato com essa prática. Já no Ensino Fundamental II e o Ensino Médio, eles perdem essa ligação com a contação e todas as leituras que antes envolviam a imaginação se tornam leituras obrigatórias para exames, fazendo com que estudantes, tantas vezes percam o gosto pela leitura.

            A contação de histórias pode ser uma prática pedagógica com objetivo de fazer uma ponte entre a leitura e o leitor. Apresentar os clássicos a estudantes do ensino fundamental é uma forma de fazê-los chegarem ao ensino médio com maior repertório de histórias literárias. Segundo Carmo (2016), apresentar a literatura somente no ensino médio pode gerar uma certa ojeriza pelo consumo desse tipo de leitura.

            Este trabalho tem por objetivo geral investigar o lugar da contação de história na educação. E como objetivos específicos: descrever ações de contação de histórias na educação básica; analisar o motivo da contação de história perder espaço no ensino fundamental II e médio; além de investigar a influência da contação de história na aprendizagem.

A pesquisa tem metodologia bibliográfica, que é aquela realizada a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses, etc (Severino, 2007, p. 122). As fontes primárias para a pesquisa bibliográfica foram pesquisas encontradas nos repositórios acadêmicos da UNEB e UFBA, circunscrevendo a pesquisa à capital baiana. Para amparar esta pesquisa, foram estudados autores como: Coelho (1999), Sisto (2007), Matos (2017) e Carvalho (2017).

 

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS PARA TODAS AS IDADES

 

A contação de História é de grande importância na Educação Infantil, afinal, quando bem contada, a história adentra o particular da criança. E muitas pesquisas no decorrer do tempo, têm mostrado e reforçado dessa importância.

Para Matos (2011), a Contação é muito mais que uma arte, ela é um ofício, que requer seriedade, comprometimento, pesquisa e estudo, é um ofício que todos podem desempenhar, uns com mais facilidades, outros menos. E como ofício, é de fundamental importância que seja apresentado na formação dos professores, o que não acaba acontecendo. Pois, diante das pesquisas, nada se viu registrado acerca do tema ser trabalhado na formação dos docentes, em suas grades curriculares.

E na contação pode-se trabalhar, trazer para discussão com os ouvintes temas atuais, abordando temáticas importantes para construção de pessoas críticas como afirma Sisto (2007, p. 39): “[...] duvido que uma história bem contada não produza ecos no ouvinte! Ecos que se prolongam para além do momento do narrado. Essas marcas, visíveis e invisíveis, nem sempre se pode perceber no calor da hora”.

Esses ecos são produzidos a partir do imaginário do ouvinte, sendo futuramente executado no plano real. Para Rodrigues (2005, p. 4),

A contação de histórias é atividade própria de incentivo à imaginação e o trânsito entre o fictício e o real. Ao preparar uma história para ser contada, tomamos a experiência do narrador e de cada personagem como nossa e ampliamos nossa experiência vivencial por meio da narrativa do autor. Os fatos, as cenas e os contextos são do plano do imaginário, mas os sentimentos e as emoções transcendem a ficção e se materializam na vida real.

 

Logo, quando a pessoa materializa tudo que ouviu, percebemos que a história invadiu o “particular” da pessoa, acarretando, assim, mudança de pensamento, comportamento e opinião. Ou seja, além de mudar no pessoal, a contação ajuda na aprendizagem. Segundo Candau (1998, p. 14):

A educação deve ser uma prática que engloba prazer, alegria e emoção. Acolher a vida, comprometendo-se – protegendo-a de ameaças, denunciando suas violações, afirmando-a e multiplicando experiências de promoção de plenitude de vida – provoca felicidade e se torna paixão.

 

Além de pouco influenciar na formação docente, a contação ainda se limita a Educação Infantil. Pouquíssimos são os professores, as professoras que levam esse ofício para o Ensino Médio. Segundo Carvalho (2017, p. 124), “o docente não a considera como um modo de leitura no incentivo à formação de leitores, e respectivamente como fonte de conhecimento da tradição oral”. E este não levar a sério, está muitas vezes ligado à falta de formação docente, que acaba sendo defasada ao longo dos anos e voltada muitas vezes, para um currículo conteudista, devido ao nosso sistema de educação, em que muitos alunos e alunas, até mesmo escolas, estão voltadas para o vestibular, na tão sonhada aprovação, não percebendo muitas vezes o que está acontecendo ao seu redor, e não entendendo que a contação, pode ser um aliado para os estudos, para a compreensão de si no mundo e para a compreensão do mundo em que vivemos.

            Sem contar que muitos jovens acabam não se interessando pela contação, por ter esse olhar equivocado com relação ao ofício, que contribui muito para formação e para leitura. Afinal, estudantes do Ensino Médio, acabam tendo por causa do vestibular uma carga horária de leitura muito extensa. O que muitas vezes acaba desmotivando e tornando a leitura um martírio ao invés de prazerosa. Como disse Cecília Meireles (2016), os livros que têm resistido ao tempo são os que possuem uma verdade capaz de satisfazer a inquietação humana, por mais que os séculos passem. Estão nesse caso os contos de fadas, os clássicos universais. Todos eles, por meio de mil variantes das situações narradas, tramam-se em torno de algumas poucas invariantes, que correspondem às necessidades básicas do ser humano.

Contudo, percebe-se a necessidade de buscar mais informações acerca dessa perda de espaço da contação de história no Ensino fundamental II e no ensino médio, além de pesquisar sobre as opiniões de docentes e como eles poderia trabalhar em sala de aula.

 

            CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Pensar em contação de História, nos remete imediatamente para infância, e no decorrer da pesquisa, foi observado o quanto essa visão, esse remeter-se é limitado. Pois, a contação pode ser trabalhada pedagogicamente em todas as idades e pode acabar sendo trabalhada na educação, de maneira interdisciplinar.

Além de contribuir para a constituição de leitor, a contação contribui para formação de cidadãos críticos e formação de pensamento, podendo acarretar mudança de comportamento. Uma história quando contada, quando se tem a entonação da voz correta, adentra o imaginário da pessoa, fazendo com que futuramente ela possa materializar tudo que ouviu, afinal, um dos instrumentos mais importantes na contação é a voz, pois ela está diretamente ligada àqueles que estão ouvindo a história.

Para Carvalho (2017, p. 127), só ensinamos o que sabemos, porque com as crianças e adolescentes a política do “faça o que eu digo não o que eu faço” não emplaca. Portanto, docente precisa estar estudando, lendo, pois, muitas vezes o aluno, a aluna se espelham na mediação docente realizada. E para que a contação seja vista como um ofício, sendo nesse caso, um ofício pedagógico, estudante precisa ver no professor, na professora a seriedade desse ofício.

            Além disso, é preciso ter um olhar atento à formação docente, que muitas vezes acaba sendo defasada devido à falta de informações importantes, como é o caso da contação de história, e de instrumento que facilitem a aprendizagem dos alunos. Foi possível ver ao longo da formação o quanto a contação ainda é pouco discutida na sala de aula, principalmente, quando se trata do Ensino Fundamental II e Ensino Médio. A escola e os professores estão voltados aos conteúdos que precisam ser abordados em sala de aula, e muitas vezes, acabam não auxiliando a abordagem da contação.

            Assim, conclui-se que a contação é um ofício que, como todos os outros, tem seus instrumentos, seus métodos, suas técnicas. Há pessoas que podem desempenhá-lo com maior ou menor facilidade, mas todo mundo pode desempenhar esse ofício. Além disso, docentes podem utilizar como uma prática pedagógica com objetivo de fazer uma ponte entre a leitura e o leitor. Apresentar os clássicos, mesmo que somente os europeus, no ensino fundamental é uma forma de fazer chegar ao ensino médio com maior repertório de histórias literárias.

 

REFERÊNCIAS

 

CANDAU, Vera Maria. et al. Sou criança, tenho direitos: Oficinas pedagógicas de direitos humanos. 2ª. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.

CARMO, Dalva Rejane do. A Contação de História no Processo de Aprendizagem da Leitura. Tese (Mestrado em Letras) – Pró-Reitoria de Pós Graduação e Pesquisa, Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão – Sergipe, p. 72, 2016.

CARVALHO, Markley Florentino. Formação Continuada de Contação de História: o ensino médio e as vivências para além das séries iniciais. Perspectivas em Diálogo: Revista de Educação e Sociedade, Naviraí, v. 4, n. 7, p. 112-129, jan. - jun. 2017.

COELHO, Maria Betty. Contar Histórias: Uma arte sem idade. 9. ed. São Paulo: Ática, 1999.

MATOS, Gislayne Avelar.Entrevista com Gislayne Matos Avelar[13 de Maio ,2011]. Disponível em: http://valteraguiar.blogspot.com/2011/05/entrevista-com- gislayne-matos-avelar.html.Acesso em: 09/01/2019.

MATOS, Josicleide da Silva. A cultura de contação de História: Ressignificado Saberes na Formação de Leitores. 2017. 47f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia) - Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2017.

MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil. Coord. André Seffrin. 4 ed. São Paulo: Global, 2016

RODRIGUES, Edvânia Braz Teixeira. Cultura, arte e contação de histórias. Goiânia, 2005.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 23º Edição Revista e Atualizada, 5º Impressão. São Paulo: Cortez, 2007.

SISTO, Celso. Contar histórias, uma arte maior.In: MEDEIROS, Fábio Henrique Nunes & MORAES, Taiza Mara Rauen (orgs.). Memorial do Proler: Joinville e resumos do Seminário de Estudos da Linguagem. Joinville, UNIVILLE, 2007. pp. 39-41.

VIEIRA, Isabel Maria de Carvalho. O papel dos contos de fadas na construção do imaginário infantil. In: Revista criança - do professor de educação infantil, v. 38, p. 10,2005.

 

Como citar este artigo: 

SANTOS, Luana Palma; OLIVEIRA, Rosemary Lapa de. O Lugar da Contação de Histórias na Educação. Notícias, Revista Contação de Histórias e Oralidades, outubro de 2023, online. Disponível em: < >. Acesso em: DD mês. AAAA.