Notas para a crítica da violência

Autores

  • Alan Sampaio Universidade do Estado da Bahia

Resumo

O que define a crítica da violência? O que significa violência? Neste ensaio, faço uma revisão sumária e parcial de ponderações da filosofia crítica desde Marx, Nietzsche e Benjamin. Do debate entre filósofos contemporâneos sobre o tema, retiro formas de inteligibilidade do fenômeno. Primeiro, alguns dados atuais de institutos oficiais dão uma ideia do aumento da violência e da sensação de vulnerabilidade atual. A partir da crítica da violência bejaminiana, trato do vínculo que mantém atada a violência mantenedora do direito e do Estado àquela instauradora deles, e da violência divina como manifestação dos povos capaz de romper a violência mítica do poder. Assinalo, então, com Guyau e Nietzsche, a importância da crítica do punitivismo e reconheço como injusta toda justiça penal, e com Angela Davis e Juliana Borges, apresento a prisão como dispositivo necropolítico. Sob essa ótica, a lei aparece como possibilidade do crime, o Estado é definido pela criminalização da pobreza, a violência, como programa de governabilidade. Depois, revejo o conceito de “violência sistêmica” de Žižek e o aproximo da concepção de ruptura da integridade do vivo de Saffioti. Por fim, pondero sobre o perigo do apelo da não-violência, a condenação prévia da violência divina, e sobre a teoria como resposta que nasce das, com e para as lutas sociais, destacando-as como condição para a liberdade.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Alan Sampaio, Universidade do Estado da Bahia

Bacharel em Filosofia pela Universidade Católica do Salvador, Mestre e Doutor em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia. Professor Adjunto da Universidade do Estado da Bahia. Tem experiência em Filosofia Antiga, Filosofia Contemporânea e Ética.

Referências

ALARCON, Daniela. Os indígenas foram vítimas de genocídio na ditadura militar. São Paulo: Revista Adusp, nov. 2018. Disponível em: <https://www.adusp.org.br/files/ revistas/62/02.pdf >. Acesso em 28 ago. 2020

BENJAMIN, Walter. “Brinquedo e brincadeira”. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução: Sérgio Paulo Rouanet. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994a, p. 249-253. (Obras escolhidas, v. 1).

BENJAMIN, Walter. Crítica da violência – crítica do poder. Tradução: Willi Bolle. In: __________. Documentos de cultura, documentos de barbárie: escritos escolhidos I. Seleção e apresentação Willi Bolle; tradução Celeste H.M. Ribeiro de Sousa et al. São Paulo: Cultrix; Editora da Universidade de São Paulo, 1986, p. 160-175.

BENJAMIN, Walter. Para a crítica da violência. In: BENJAMIN, W. Escritos sobre mito e linguagem (1915-1921). Tradução de Susana Kampff Lages e Ernani Chaves; organização, apresentação e notas de Jeanne Marie Gagnebin. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2011.

BENJAMIN, Walter. “Sobre o conceito de história”. In: ________. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução: Sérgio Paulo Rouanet. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994b, p. 222-232. (Obras escolhidas, v. 1).

BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Trad. de Maria Helena Kühner. 11. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.

BORGES, Hamilton. “Um posfácio sobre a maior entre nós”. In: SHAKUR, Assata. Escritos. Brasília: Reaja, 2016, p. 181-182.

BORGES, Juliana. Encarceramento em massa. São Paulo: Sueli Carneiro; Polén, 2019. (Feminismos plurais).

BRECHT, Bertolt. Poemas 1913-1956. Tradução: Paulo César de Souza. São Paulo: Editora 34, 1986.

BUTLER, Judith. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? Tradução: Sérgio Tadeu de Niemeyer Lamarão; Arnaldo Marques da Cunha. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.

BUTLER, Judith. Vida precária: os poderes do luto e da violência. Tradução Andreas Lieber. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.

CARVALHO, Salo. O “gerencialismo gauche” e a crítica criminológica que não teme dizer seu nome. In: Revista de Direitos e Garantias Fundamentais - Edição Temática “Criminologia Crítica em Debate”. v. 15, n. 1, p. 125-155, jan./jun. 2014. Disponível em <https://sisbib.emnuvens.com.br/direitosegarantias/article/view/648/205> Acesso em: 23 de ago. 2020.

CLASTRES, Pierre. “Do etnocídio”. Arqueologia da violência pesquisas de antropologia política. Tradução: Paulo Neves. São Paulo: Cosac Naify, 2004, p. 77-87.

DAVIS, Angela. A liberdade é uma luta constante. Organização de Frank Barat. Tradução: Heci Regina Candiani. São Paulo: Boitempo, 2018a.

DAVIS, Angela. Estarão as prisões obsoletas?. Tradução de Marina Vargas. 2. ed. Rio de Janeiro: Difel, 2018b.

DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. Tradução Heci Regina Cadiani. São Paulo: Boitempo, 2016.

DRUMMOND, Washington; SAMPAIO, Alan. A cidade e seu duplo: imagem, cidade e cultura. Salvador: EDUNEB, 2013.

DUSSEL, Enrique. Filosofia da libertação na América Latina. Trad. Luiz João Gaio. São Paulo, Piracicaba: Loyola, Unimep, 1982. (Reflexão Latino-Americana).

ERASMO DE ROTTERDAM. De pueris (Dos meninos): A civilidade pueril. 2ª Ed. Tradução: Luiz Feracine. São Paulo: Escala, 2008.

FANON, Frantz. Os condenados da terra. Tradução: Enilce Albergaria Rocha, Lucy Magalhães. Minas Gerais: UFJF, 2015.

FOUCAULT, Michel. A sociedade punitiva: curso no Collège de France (1972- 1973). Tradução: Ivone C. Benedeti. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2015.

FOUCAULT, Michel. Teorias e instituições penais: curso no Collège de France (1972- 1973). Tradução Rosemary Costhek Abilio. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2020.

GALTUNG, Johan. Violence, peace and peace research. Journal of Peace Research. Oslo, v.6, n.3, p.167-191, set. 1969.

GUYAU, Jean-Marie. Crítica da idéia de sanção. Trad. Regina Schöpke; Mario Baladi. São Paulo: Martins Fontes, 2007. (Tópicos Martins).

INSTITUTO de pesquisa catalogada. Atlas da Violência 2019. Brasília: Rio de Janeiro: São Paulo: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2019. Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/ relatorio_institucional/190605_atlas_da_violencia_2019.pdf>. Acesso: 23 jul. 2020.

KAFKA, Joseph. “Sobre a questão das leis”. In: ______. Narrativas do espólio: (1914-1924). Tradução e posfácio Modesto Carone. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

KANT, Immanuel. Metafísica dos Costumes. Tradjção: Clélia Aparecida Martins et al. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2013.

LEVINAS. Emmanuel. Alterity and Transcendence. Translation: Michael B. Smith. New York: Columbia UP, 1999.

MAPA da violência de gênero. Gênero e número. 2017. Disponível em:

MARTINS, José; SAMPAIO, Alan. Caderno de Docência, Filosofia e Cinema. Salvador: Departamento de Educação I – UNEB, 2019. v. 2.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã: crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas (1845 – 1846). Tradução: Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Cavini Martorano. São Paulo: Boitempo, 2007.

NIETZSCHE, Friedrich. A gaia ciência. Tradução, notas e posfácio Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001

NIETZSCHE, Friedrich. Além do bem e do mal: prelúdio a uma filosofia do futuro. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

NIETZSCHE, Friedrich. Aurora: Reflexões sobre os conceitos morais. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

NIETZSCHE, Friedrich. Cinco prefácios: para livros não escritos. Tradução e prefácio: Pedro Süssekind. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1996.

NIETZSCHE, Friedrich. Humano, demasiado humano: um livro para espíritos livres. Tradução, notas e posfácio Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral: uma polêmica. Tradução, notas e posfácio Paulo César de Souza. São Paulo, Companhia das Letras, 1998.

OLIVEIRA, Aline Nóbrega. Civilização ou Bárbarie?: A política estatal de extermínio indígena no Relatório Figueiredo (1967-1968). 2018. 70 f., il. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em História) - Universidade de Brasília, Brasília, 2018. Disponível em: <https://bdm.unb.br/bitstream/10483/22874/1/2019_AlineNobregaDeOliveira_ tcc.pdf>. Acesso em 27 ago. 2020.

SAFFIOTI, Heleieth. Gênero, patriarcado, violência. 2ª Ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2015.

SAMPAIO, Alan; BORGES, Simone. A liberdade da filósofa Angela Davis. Revista Ideação, Universidade Estadual de Feira de Santana, v. 1, n. 42, 2020. (No prelo).

SANTOS, Boaventura de Sousa. A cruel pedagogia do vírus. Coimbra: Almedina, 2020.

SARTRE, Jean-Paul. Prefácio à edição de 1861. In: FANON, Frantz. Os condenados da terra. Tradução Enilce Albergaria Rocha, Lucy Magalhães. Minas Gerais: UFJF, 2015.

SOREL, Georges. Reflexões sobre a violência. Tradução de Orlando dos Reis. Petrópolis: Vozes, 1993.

THOREAU, Henry David. A desobediência civil. Tradução José Geraldo Couto. São Paulo: Peguin Classics Companhia das Letras, 2012.

WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da violência 2016. Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo: Flacso Brasil, 2015. Disponível em: . Acesso em: 23 jul. 2020.

ŽIŽEK, Slavoj. Violência: seis reflexões laterais. Tradução:Miguel Serras Pereira. São Paulo: Boitempo, 2014.

Downloads

Publicado

2020-09-13

Como Citar

SAMPAIO, A. Notas para a crítica da violência. Anãnsi: Revista de Filosofia, [S. l.], v. 1, n. 1, p. 115–142, 2020. Disponível em: https://revistas.uneb.br/index.php/anansi/article/view/9597. Acesso em: 21 dez. 2024.