O QUE É ACOLHER EM TEMPOS DE QUARTO DE DESPEJO?

Autores

Palavras-chave:

Acolhimento, Cuidado, Psicologia, Saúde Mental

Resumo

Objetivo: Este artigo tem como objetivo apresentar uma discussão acerca do tema do acolhimento em saúde mental a partir do diálogo com Carolina Maria de Jesus e seu livro O Quarto de Despejo, pensando na fome como uma importante violência que perpassa a vida de usuárias/os nos serviços em que a psicologia está presente. Métodos: A partir da experiência da primeira autora em uma residência em saúde mental no sul do Brasil dialogamos com autoras do feminismo negro. Resultados: Para acolhermos de forma crítica e em busca de transformação social, precisamos, enquanto categoria profissional, construir uma leitura crítica do mundo e dos sistemas de dominação que sustentam nossas práticas, saberes e por consequência intervenções. Conclusão: Este ensaio teórico foi construído como um recorte do Trabalho de Conclusão de Residência da primeira autora e orientado pela segunda autora, para mostrar o impacto da fome no trabalho psi no Brasil e o quanto esta deve ser pensada como um analisador fundamental quando nos propomos a discutir uma clínica que seja de fato ampliada e engajada com as lutas que as populações subalternizadas travam em busca de uma existência digna e não violentada.

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Biografia do Autor

Letícia Costa Piasenski, Servidora na Prefeitura de Porto Alegre - Brasil

Especialista em Saúde Mental Coletiva pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Bruna Moraes Battistelli, Professora no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná - Brasil

Doutora em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

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Publicado

2023-12-26

Como Citar

Costa Piasenski, L., & Battistelli, B. M. (2023). O QUE É ACOLHER EM TEMPOS DE QUARTO DE DESPEJO? . Práticas E Cuidado: Revista De Saúde Coletiva, 4, e19084. Recuperado de https://revistas.uneb.br/index.php/saudecoletiva/article/view/19084

Edição

Seção

Dossiê Temático PROCESSOS FORMATIVOS EM SAÚDE E EDUCAÇÃO: POSSIBILIDADES PARA CONSTITUIÇÃO DE PRÁTICAS DE CUIDADO CONTRACOLONIAIS