A PERCEPÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA POR MULHERES NEGRAS EM UMA USF EM SALVADOR (BA) E OS IMPACTOS OBSERVADOS
Palavras-chave:
Violência contra a mulher, Racismo, Violência Obstétrica, Gravidez, Direitos Sexuais e reprodutivosResumo
Introdução: Diante do racismo obstétrico observado em nossa sociedade, esse trabalho buscou compreender a percepção e os impactos da violência obstétrica em mulheres negras. Metodologia: Trata-se de um estudo exploratório de abordagem quanti-qualitativa com mulheres numa Unidade de Saúde da Família de Salvador-BA. Foram realizadas duas etapas: Aplicação de questionário sociodemográfico, sobre o atendimento recebido no ciclo gravídico-puerperal, em seguida uma entrevista semiestruturada com aquelas autodeclaradas negras. Foram construídas frequências simples correlacionando os dados com o quesito raça/cor na etapa um, enquanto os dados da etapa dois foram analisados pela Teoria da Análise de Discurso de Minayo. Resultados/Discussões: Participaram 20 mulheres, sendo 17(85%) negras e 3(15%) não negras. A idade variou entre 18-25 anos, a renda média ≤ um salário-mínimo, e parto em maternidades públicas. Com a análise de dados foram criadas três categorias de discussão: As faces da violência obstétrica, Reconhecendo o racismo obstétrico e Os impactos da violência. As participantes conseguiram perceber a prática de violência obstétrica nos serviços, correlacionando-a à sua raça/cor e condição social, resultando no desejo de não gestar novamente e expondo à depressão pós-parto. Conclusão: A pesquisa demonstrou a necessidade em aprimorar o atendimento nas maternidades. Os achados sugerem a necessidade de maior capacitação das equipes quanto ao racismo e de intervenção mínima no ciclo gravídico-puerperal, com exercício da equidade e compreensão de como as interseccionalidades atuam no corpo feminino negro, além de maior educação das mulheres sobre seus direitos para que lutem para assegurá-los.
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