Do inusitado à subversão: A escrita acadêmica xacriabá como resistência intelectual
Palavras-chave:
Xakriabá, escrita, meio acadêmico, trajetóriaResumo
Esse trabalho objetiva tecer considerações sobre a trajetória acadêmica e produção intelectual de Célia Xakriabá, notória liderança do movimento indígena brasileiro. Célia graduou-se na licenciatura indígena Fiei (Formação Intercultural Para Educadores Indígenas) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tornou-se mestre pelo Mestrado em Sustentabilidade Junto à Povos e Territórios Tradicionais (MESPT) da Universidade de Brasília (UnB) e atualmente cursa o doutorado em Antropologia pela UFMG (PPGAN- Programa de Pós Graduação em Antropologia). Em sua trajetória, a liderança acionou epistemes e recursos linguísticos próprios do regime de conhecimento xakriabá em seus trabalhos acadêmicos. Sua escrita acadêmica, orientada por elementos encontrados majoritariamente na oralidade xakriabá, como o português xakriabá e as Loas, com alguma resistência é entendida como escrita científica. Tal escrita não está prevista na gramática acadêmica ocidental já que recorre a frases longas, a repetição de ideias, a discordâncias verbais e de gênero, ao uso de pronomes que transitam na primeira pessoa do singular (eu) e do plural (nós) e a uma poética para se fazer inteligível. O inusitado da presença indígena traz consigo outras formas de produção de escritas, de conhecimentos, de resistência. Acredito que uma das contribuições intelectuais de Célia está em subverter a ordem hegemônica da escrita entendida como acadêmica.Downloads
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