“Pra gente esse novo caminho é um desafio”: A circulação e interação de jovens universitários indígenas Potiguara na cidade de João Pessoa.

Autores

  • Jamerson Bezerra Lucena Universidade Federal da Paraíba

Palavras-chave:

Potiguara. Pertencimento étnico. Etnicidade. Redes sociais.

Resumo

O objetivo deste artigo é compreender as redes de relações sociais construídas por seis jovens universitários indígenas Potiguara na região metropolitana da cidade de João Pessoa, Paraíba e como se dá essa interação entre a espacialidade urbana e as aldeias situadas nas Terras Indígenas (TI) Potiguara no litoral norte paraibano. A circulação desses jovens por esses espaços heterogêneos ocasiona contatos interétnicos com os mais diversos atores sociais, tais como a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o Ministério Público Federal (MPF), Prefeituras, entidades religiosas etc. Nesses fluxos de estudantes universitários entre a aldeia e a cidade, os Potiguara deslocam-se de um local a outro de forma dinâmica, criando uma rede de solidariedade entre aqueles que residem na capital paraibana e os que permaneceram na aldeia em consonância aos seus sentimentos de pertencimento étnico, do autorrespeito, sendo as fronteiras étnicas acentuadas em situações específicas. A tessitura metodológica foi desenvolvida seguindo uma pesquisa descritiva de enfoque qualitativo com o objetivo de descrever dados etnográficos sobre os jovens indígenas, estudantes da UFPB que vivem nesse fluxo entre as aldeias e a cidade de João Pessoa, além da constituição de rede de solidariedade étnica e a composição de círculos de amizades. Esses jovens estudantes trouxeram suas mochilas carregadas de saberes da natureza, bagagens experienciais da aldeia e algumas vezes quando ocorrem eventos ritualísticos na cidade suas bolsas também carregam maracás, potes de tinta à base de jenipapo, urucum, além dos cocares que são acomodados em tubos/canudos de PVC, por exemplo. Nessa circulação dos Potiguara pela espacialidade urbana, os laços de parentesco e amizade vão se intensificando e formando redes de relações sociais, criando um processo contínuo de produção e reprodução dos materiais culturais que manifestam e reforçam seus sentimentos de pertencimento. Logo, esclareço que esse estudo está focado nas vivências e construção de redes sociais desses seis jovens indígenas que estudam na UFPB, buscando compreender os entrelaçamentos de uma rede de solidariedade étnica que foi sendo produzida nas proximidades da aldeia se espraiando até a capital da Paraíba, avivando, quando necessário, a pertença étnica.

 

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Biografia do Autor

Jamerson Bezerra Lucena, Universidade Federal da Paraíba

Possui mestrado em Antropologia Social pelo PPGA/UFPB na área de etnologia indígena. O foco da pesquisa em Antropologia está voltado aos estudos sobre indígenas Potiguara que vivem em centros urbanos na região metropolitana de João Pessoa/PB e a formação de redes sociais que eles conseguem construir na espacialidade urbana e aldeias, onde mantém um fluxo constante. Tem graduação em Administração pelo Instituto de Educação Superior da Paraíba (IESP). Na área de administração o enfoque dos estudos foram voltados para a área de Mudança Organizacional na FUNAI de João Pessoa, onde foi estagiário no período de 2010 e 2011 nesse órgão indigenista. Na sua pesquisa de graduação atuou principalmente nos seguintes temas: Gestão Pública; Sociologia das organizações, e FUNAI. Atualmente está cursando Ciências Sociais na UFPB. Participa também do Grupo de Estudos Território e Identidade - GETI que pertence ao PPGA/UFPB vinculado a Capes.

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Publicado

2017-09-25

Como Citar

Lucena, J. B. (2017). “Pra gente esse novo caminho é um desafio”: A circulação e interação de jovens universitários indígenas Potiguara na cidade de João Pessoa. Opará: Etnicidades, Movimentos Sociais E Educação, 5(7). Recuperado de https://revistas.uneb.br/index.php/opara/article/view/3822