EDUCAÇÃO SEXUAL DE JOVENS NO CONTEXTO ESCOLAR
Mots-clés :
Educação sexual, Preservativos, Adolescentes, Rede socialRésumé
Introdução: A Sexualidade é um importante aspecto humano e representa a interação de diversos componentes, incluindo o erotismo, identidade, intimidade, orientação sexual, papéis de gênero, prazer, reprodução e sexo. As pessoas experienciam e manifestam a sexualidade por meio de atitudes, comportamentos, pensamentos e relacionamentos. Em decorrência dos diversos componentes e maneiras de expressá-la, a mesma torna-se um assunto complexo e, muitas vezes, alvo de discussão por envolver ações e condutas preconceituosas, no que diz respeito ao interesse sexual das pessoas (AGUIAR, 2020). Os trabalhos relacionados à educação sexual, inicialmente, tinham apenas o objetivo de ensinar aspectos relacionados aos fatores biológicos, mas hoje em dia tem-se o entendimento de que para além do aspecto biológico é importante discutir aspectos emocionais, sócio culturais, histórico, entre outros, por se considerar que a educação sexual exerce um papel importante na construção da sexualidade do indivíduo (RIBEIRO; REIS, 2020). No entanto, é necessário considerar que no cotidiano das escolas, professores e profissionais de saúde têm dificuldade em abordar o conteúdo. Historicamente, foi a partir da necessidade de se discutir a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), que as portas foram entreabertas na sociedade, facultando o debate e a interlocução de questões importantes com diferentes públicos, dentre eles os estudantes, por meio da educação sexual. De início, as questões voltadas a educação sexual eram de cunho biologicista contudo, foi necessário superar os aspectos biológicos e ampliar o olhar sobre o ser humano que, deve ser visto em sua totalidade para a construção das sexualidades, assim, aspectos emocionais, históricos e socioculturais, entre outros, tornaram-se indispensáveis a partir dessa perspectiva (RIBEIRO; REIS, 2020). A educação sexual ainda é considerada um problema a ser trabalhado no campo da saúde pública devido a relação direta com o enfrentamento das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). As ações de prevenção às IST são eficazes e podem desencadear bem-estar, empoderamento e corresponsabilidade entre jovens, em especial, no público feminino que tem esse olhar mais sensível diante da saúde íntima. O perfil epidemiológico das IST no Brasil modificou-se gradativamente durante os últimos anos, com aumento expressivo do número de casos, tendo como consequência a dificuldade no enfrentamento em virtude de preconceitos e tabus ainda enraizados nas pessoas (MOURA et al., 2021). Evidências científicas comprovam o benefício do ensino da educação sexual nas escolas e universidades, ao verificar a necessidade de um maior esclarecimento acerca das IST/HIV/AIDS e maior compreensão no que concerne ao início das atividades sexuais e uso de métodos contraceptivos entre adolescentes e jovens. Mas, lamentavelmente, ainda existem lacunas a respeito dos conteúdos a serem desenvolvidos, pois a abordagem permanece restrita a grade curricular, coexistindo uma dispersão entre o propósito e o modo como realmente são executados (VIEIRA; MATSUKURA, 2017). Objetivo: Relatar as ações desenvolvidas por um projeto de extensão de uma universidade pública, durante e após a pandemia de Covid-19. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência que é uma narrativa moderna, cuja finalidade é descrever uma experiência que contribua de forma significativa para a sua área de formação (GROLLMUS; TARRÉS, 2015). O relato de experiência apresenta as atividades desenvolvidas por monitoras bolsista e voluntárias do projeto de extensão denominado “Sexualidade, Gênero e HIV: desafios da prevenção entre os jovens e uso do preservativo feminino”. O projeto de extensão é vinculado à Universidade do Estado da Bahia (UNEB) no Campus VII através do Colegiado de Enfermagem. A proposta extensionista foi pensada para ser desenvolvida no formato presencial, especificamente junto às escolas de um município, todavia, em 2021 devido a pandemia de COVID-19 sofreu adaptações. Assim, a utilização das redes sociais foi uma das medidas adotadas no intuito de manter a característica de extensão universitária e garantir que a disseminação de informações produzidas chegaria ao público alvo. A escolha do Instagram como um ambiente virtual foi justificado por ser um dos aplicativos mais importantes, na atualidade no âmbito das redes sociais, e muito utilizada por adolescentes e jovens. Em 2022, com o retorno das atividades presenciais no âmbito da UNEB, o projeto iniciou suas atividades de forma presencial na escola, não excluindo as atividades que já estavam sendo desenvolvidas no Instagram. Diante da disponibilidade da escola e das monitoras foi escolhido o Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães, que é uma das escolas estaduais do município de Senhor do Bonfim/BA, que oferta vagas apenas para o ensino médio. A abordagem presencial vem sendo desenvolvida em formato de oficina por compreendermos que as oficinas são espaços de construção coletiva de um saber, de análise da realidade, de confrontação e intercâmbio de experiências (CANDAU, 1999). Resultados: A página do projeto foi criada no Instagram com o perfil @projextsexualidade, no dia 04/05/2021 e teve como objetivo informar a seu público alvo (jovens) sobre temas inerentes à educação sexual e prevenção das IST. Dentre as publicações que obtiveram maior interação o reels “Curiosidades que você precisa saber sobre HIV/AIDS” obteve destaque e alcance de 1.129 pessoas, 06 compartilhamentos, 27 curtidas e 1.208 reproduções. Seu conteúdo aborda as principais dúvidas relacionadas ao HIV/AIDS. Em seguida, o reels “Você sabe a diferença entre sexualidade e identidade de gênero?” com alcance de 1.253 pessoas, 06 compartilhamentos, 25 curtidas, 1.291 reproduções que buscou explicar, em linguagem coloquial, a diferença entre sexualidade e identidade de gênero e chamou atenção dos seguidores. As postagens do perfil também foram repostadas em perfis individuais das/os monitores/as obtendo, assim, maiores repercussões e novos grupos foram alcançados. A utilização dessa estratégia pelo projeto propiciou trocas de opiniões e saberes além de estimular, entre indivíduos não seguidores do perfil, sua adesão ao projeto. Em 2022, no período de 11/05/2022 até 08/06/2022, com a inclusão de novas monitoras as atividades do projeto foram destinadas ao aprofundamento do conteúdo por meio da leitura e discussão de artigos científicos e vídeos explicativos recomendados pela orientadora. No período de 31/08/2022 até 12/09/2022 aconteceram encontros de planejamento das oficinas onde foi definido o público, foram elencados os conteúdos a serem abordados, delimitamos o tempo de apresentação e como cada momento da oficina seria desenvolvido. Após articulações com as escolas do município e disponibilidade dos professores, realizamos no dia 18/10/2022 as primeiras oficinas no Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães. Foram realizadas três oficinas, com duração de 40 minutos cada. O público foi composto por estudantes do 3° ano do ensino médio, cerca de 70 alunos participaram das oficinas. No primeiro momento de cada oficina as monitoras explanam o conteúdo por meio de uma apresentação no aplicativo Canva, abordando sobre as infecções sexualmente transmissíveis HIV/AIDS, Sífilis, HPV, Hepatites e Herpes Simples, testes rápidos, vacinas disponíveis para prevenção de IST e o uso dos preservativos feminino e masculino. No segundo momento, as monitoras realizam a demonstração da utilização correta dos preservativos com o emprego de próteses anatômicas; durante esse momento, ao se aproximar mais dos estudantes e envolve-los na atividade é possível mostrar detalhadamente os preservativos e desconstruir ideias negativas sobre os mesmos, como tamanho, forma e capacidade de adequação aos órgãos genitais feminino e masculino. Durante a ação (oficinas) foi perceptível o interesse dos alunos com a temática pois surgiram perguntas sobre a possibilidade de se contrair uma IST através do beijo, os tamanhos dos preservativos masculinos, utilização do preservativo feminino e o que fazer caso ele ficasse preso dentro do canal vaginal. Na percepção das monitoras, foi possível observar que há um grande desconhecimento sobre o preservativo feminino e sua forma de utilização que se distanciam da proposta do mesmo que é empoderar as mulheres e propiciar uma alternativa de autonomia em suas práticas sexuais. Ao final da oficina são distribuídos preservativos masculinos com a frase “A proteção é a melhor medida de prevenção'', juntamente com um pirulito e orientado quanto a disponibilização de preservativos feminino em unidades de saúde do município. Conclusão: Embora, o público jovem seja um grupo sexualmente ativo, a temática ainda é pouco retratada no ambiente escolar, evidenciando a necessidade e importância da abordagem nos espaços escolares e por meio das mídias sociais. Assim, o desenvolvimento do projeto no Instagram e nas oficinas tem possibilitado a promoção da educação em saúde sexual de jovens escolares e a ampliação do olhar de discentes de enfermagem sobre a temática.
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Références
AGUIAR, R. B; LEAL M. C. C; MARQUES A. P. O. Conhecimento e atitudes sobre sexualidade em pessoas idosas com HIV. Ciênc Saúde Colet. 2020; 25(6):2051-2062. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/KDgJkJrs4FbK4rr4Bn8JGgq/?lang=pt
CANDAU, V. M. Oficinas Aprendendo e Ensinando Direitos Humanos. Educação em Direitos Humanos: uma proposta de trabalho. Novameria/PUC-Rio. 1999.
GROLLMUS, N. S. TARRÈS, J. P. Relatos metodológicos: difractando experiências narrativas de investigación. Forum Qualitative Social Research, v. 16, n. 2, mayo 2015. Disponível em: https://www.qualitative-research.net/index.php/fqs/article/view/2207
MOURA, S.L.O; SILVA, M. A. M; MOREIRA, A. C. A; FREITAS C.A.S.L; PINHEIRO, A.K.B. Percepção de mulheres quanto à sua vulnerabilidade às Infecções Sexualmente Transmissíveis. Esc Anna Nery, 25(1):e20190325. 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ean/a/MPPjTYjH8c6Nb4BwKRMmxdh/?format=pdf&lang=pt
RIBEIRO M; REIS W. Educação sexual: o trabalho com crianças e adolescentes. Revista Brasileira de Sexualidade Humana, [S. l.], v. 18, n. 2, 2020. Disponível em: https://sbrash.emnuvens.com.br/revista_sbrash/article/view/389
VIEIRA P.M; MATSUKURA, T.S. Modelos de educação sexual na escola: concepções e práticas de professores do ensino fundamental da rede pública. Revista Brasileira de Educação v. 22 n. 69. 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/LVjDxGRKtkZTwX4kSNzmQ8v/abstract/?lang=pt