EVASÃO E RETENÇÃO NOS CURSOS DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE DIREITO DA UNEB
Mots-clés :
Censo Ensino Superior, Indicadores, Evasão, RetençãoRésumé
Introdução: O aumento da demanda por mão de obra especializada no mercado de trabalho e a concepção de programas estudantis fomentados pelo Estado nos anos recentes fez com que crescesse a busca por vagas em instituições de nível superior brasileiras. Assim, a certificação de ensino superior é uma meta almejada por parte significativa da população (POCHMANN, 2014; PEREIRA, 2019; MORAES; PASQUALLI; SPESSATTO, 2021). Os frequentes avanços da tecnologia contribuem para o alcance dessa meta e sua concretização, fato observado por meio da evolução do número de alunos ingressantes em cursos de graduação durante o período de 2011 a 2020, que passa de 2.346.695 para 3.765.475 considerando o limiar do período citado, demonstrado no Resumo Técnico do Censo da Educação Superior 2020 (INEP, 2022). Ambos os fatores relacionam-se com tal evolução à medida em que se democratiza o acesso ao ensino superior através de políticas públicas as quais promovem o aumento de oportunidades de acesso a este nível de ensino para aqueles que, historicamente, têm menos chances de ingressar na educação superior por pertencerem a uma classe social de estrato inferior (DUBET, 2015; HERINGER, 2018). Além disso, o referido censo também apresenta o crescimento geral do número de concluintes durante o período analisado que passa de 1.016.713 para 1.278.622 alunos. Contudo, tal censo também expõe a queda no número de concluintes da modalidade presencial (de 2012 a 2014 e de 2018 até 2020), situação cada vez mais comum no ensino superior. Inúmeras são as causas de desistência/abandono/evasão ou da retenção de estudantes na educação superior, tanto em universidades públicas quanto em universidades privadas. Ainda, a retenção pode ser considerada como uma abertura para a evasão (SILVA; FARIAS, 2017; ARAÚJO; MARIANO; OLIVEIRA, 2021). Entende-se por retenção a situação do aluno que ainda não concluiu o curso em tempo mínimo e mantém-se matriculado na universidade até completar o prazo máximo para sua conclusão (SILVA; FARIAS, 2017; ARAÚJO; MARIANO; OLIVEIRA, 2021). Sendo o atraso na conclusão fator que representa uma perda social, o indivíduo em situação de retenção não se beneficia com os possíveis rendimentos garantidos a um graduado, resultando, desta maneira, na redução de profissionais no mercado de trabalho (ARAÚJO; MARIANO; OLIVEIRA, 2021). Dentre os fatores relacionados à retenção, destacam-se aqueles ligados à realização de atividades acadêmicas, bem como a falta de apoio institucional e financeiro ao estudante. Há também fatores relacionados ao ambiente pessoal e familiar, assim como questões de saúde ou de compromisso com terceiros. Ocorrem ainda problemas quanto à insegurança com o mercado de trabalho e a falta de identidade com o curso, além das dificuldades provenientes das diferentes modalidades e metodologias de ensino e de avaliação. Logo, pode-se considera que estes fatores contribuem com a retenção do discente no curso, não conseguindo, assim, concluí-lo em tempo regular (SILVA; FARIAS, 2017; ARAÚJO; MARIANO; OLIVEIRA, 2021). Em 2015, o Censo do Ensino Superior, realizado também pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2018) destaca a desistência do curso de ingresso. Segundo o então ministro da educação Mendonça Filho e a então presidente do INEP, Maria Inês Fini, tal abandono está associado às fragilidades do Ensino Médio que pouco oportuniza vivências associadas a cursos no ensino superior, desestimulando, desta forma, a permanência do aluno por este não ter tido a experimentação de ações projetadas para o Ensino Superior durante a última etapa da Educação Básica (BRASIL, 2016). Neste sentido, é considerada evasão quando o estudante sai definitivamente da instituição sem a respectiva conclusão (SILVA; FARIAS, 2017). Alguns estudos associam a evasão aos primeiros períodos dos cursos sendo reforçada pela metodologia utilizada pelos professores, a qual, em muitas situações, não se enquadra nas expectativas pessoais e no modelo de vida dos estudantes (SILVA; FARIAS, 2017; INEP, 2022). Objetivo: Calcular os indicadores de evasão e retenção dos cursos de bacharelado em Ciências Contábeis e de Direito da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) no período de 2010 a 2020. Para isso será necessário primeiramente mapear estudos que avaliam a performance dos cursos de graduação de Ciências Contábeis e de Direito e identificar por meio destes estudos quais são os critérios de cálculo dos indicadores que direcionam para estes resultados. Metodologia: O desenvolvimento do projeto ocorre com o trabalho de alunos que compõem uma equipe multidisciplinar, ou seja, alunos de diferentes cursos de graduação, (Licenciatura em Língua Inglesa, Bacharelado em Ciências Contábeis e Direito). Inicialmente, com o objetivo de obter palavras chaves para a busca de dados que correspondam ao lapso temporal de 2010 a 2020 será realizada a revisão sistemática de trabalhos acadêmicos que abordam temas relacionados à retenção, evasão e performance dos cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis, Direito e afins. Dado isso, uma das abordagens adotadas baseia-se na procura de microdados relevantes e no posterior tratamento desses com os softwares livres Python e R, os quais possuem inúmeras ferramentas para análise e tratamento de dados estatísticos. Por meio de tal tratamento será realizada a reunião, síntese e transformação dos dados em formatos que possam ser facilmente utilizados pela Gestão Pública e pela sociedade civil em geral como norteador de políticas públicas de ensino indicador de resultados. Dentre as formas que facilitam a divulgação dos microdados encontram-se de maneira descritiva a utilização de tabelas e gráficos gerados com os pacotes da linguagem R e Python, além da análise destes de forma qualitativa. Resultados: Projeto encontra-se em fase inicial, já foi aprovado no âmbito da Iniciação Científica da UNEB (com duas bolsas de monitoria e uma monitoria voluntária). Espera-se com este trabalho a realização de uma revisão sistemática acerca da retenção, evasão e performance dos cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis e Direito da UNEB entre o período de 2010 a 2020. Também, é esperado que, ao final do projeto, sejam produzidos indicadores sobre a evasão e retenção no ensino dos cursos estudados. Tais indicadores, após calculados e analisados, servirão à gestão dos cursos e departamentos como norteadores na tomada de decisão e também servirão como métrica para os resultados de políticas públicas de ensino no Brasil. Com a criação de parâmetros sobre a situação da evasão nos cursos de graduação e da melhora da gestão ao consumir esses parâmetros, a comunidade em geral irá se beneficiar por meio da orientação ao uso mais eficiente dos recursos destinados. Além disso, espera-se ainda a qualificação dos discentes no âmbito da pesquisa acadêmica e o desenvolvimento de novas pesquisas. Conclusão: Dado o exposto, é notório que a utilização de indicadores tem o potencial de fornecer informações relevantes para a correta gestão das Universidades. A estatística é uma ferramenta baseada em dados que podem ser explorados para criação e desenvolvimento de uma administração moderna e ao considerar os resultados dela provenientes, a universidade poderá estabelecer estratégias para que a retenção de alunos não venha a ocasionar a evasão, uma vez que ambas associam-se. Além do foco na gestão dos cursos de graduação, à medida em que estimula o pensamento científico e a consciência social, o presente estudo contribuirá no desenvolvimento dos bolsistas enquanto cidadãos acerca da situação de retenção e evasão no ensino superior no lócus de estudo enquanto interagem com a comunidade. Ademais, poderá contribuir para a formação do perfil de pesquisador desses estudantes os quais poderão atuar em outras pesquisas.
Téléchargements
Références
ARAÚJO, A. C. P. L.; MARIANO, F. Z.; OLIVEIRA, C. S. Determinantes acadêmicos da retenção no Ensino Superior. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação [online], v. 29, n. 113, p. 1045-1066, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-403620210002902255. Acesso em: 14 out. 2022.
BRASIL. Altos índices de desistência na graduação revelam fragilidade do ensino médio, avalia ministro. Portal MEC. 2016. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/212-educacao-superior-1690610854/40111-altos-indices-de-evasao-na-graduacao-revelam-fragilidade-do-ensino-medio-avalia-ministro. Acesso em: 16 out. 2022.
DUBET, F. QUAL DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR?. Caderno CRH, v. 28, n. 74, p. 255-266, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-49792015000200002. Acesso em: 20 out. 2022.
HERINGER, R. Democratização da educação superior no Brasil: das metas de inclusão ao sucesso acadêmico. Rev. bras. orientac. prof., Florianópolis, v. 19, n. 1, p. 7-17, jun. 2018. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902018000100003&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 20 out. 2022.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Resumo técnico: Censo da Educação Superior 2015. 2. ed. Brasília: INEP, 2018. Disponível em: https://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/resumo_tecnico/resumo_tecnico_censo_da_educacao_superior_2015.pdf. Acesso em: 19 out. 2022.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Resumo técnico do Censo da Educação Superior 2020. Brasília: INEP, 2022. [recurso eletrônico]. Disponível em: https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/estatisticas_e_indicadores/resumo_tecnico_censo_da_educacao_superior_2020.pdf. Acesso em: 19 out. 2022.
MORAES, N. J.; PASQUALLI, R.; SPESSATTO, M. B. Juventudes, educação e mercado de trabalho: um ensaio teórico. Revista Carioca de Ciência, Tecnologia e Educação. Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, 2021. Disponível em: https://recite.unicarioca.edu.br/rccte/index.php/rccte/article/view/189/197. Acesso em: 20 out. 2022.
PEREIRA, R. B. Expansão universitária e mercado de trabalho: consequências no campo do Direito. Cad. Pesqui., São Paulo, v. 49, n. 171, p. 34-58, jan. 2019. Disponível em http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742019000100034&lng=pt&nrm=iso. Acessos em: 20 out. 2022.
POCHMANN, M. Brasil: segunda grande transformação no trabalho?. Estudos Avançados [online], v. 28, n. 81, p. 23-38, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-40142014000200003. Acesso em: 20 out. 2022.
SILVA, G. S.; FARIAS, M. S. B. Retenção e evasão no contexto da expansão do ensino superior: o caso do curso de engenharia de alimentos da URFB. Seminário Nacional Universitas, 25, 2017, Brasília, DF. Anais [...]. Brasília: Rede Universitas, 2017. 13 p. Eixo: Acesso e Permanência na Expansão da Educação Superior. Disponível em: https://www.ufpb.br/nepes/contents/documentos/trabalhos-publicados-em-anais/retencao-e-evasao-no-contexto-da-expansao-do-ensino-superior-o-caso-do-curso-de-engenharia-de-alimentos-da-ufpb.pdf. Acesso em: 18 out. 2022.