O CONTEXTO PÓS SEGUNDA GUERRA: OS ACONTECIMENTOS QUE IMPULSIONARAM A DESCOLONIZAÇÃO NA GUINÉ DITA PORTUGUESA

Autores

  • Artemisa Odila Monteiro UNILA

Resumo

RESUMO: Este artigo é parte da minha tese de doutorado que busca analisar o processo de construção da identidade nacional na Guiné-Bissau, observando a mediação das diversidades étnicas existentes no país, tendo como referência o período de 1959 a 1994. Constatamos que a construção da nação ou identidade nacional em vários países africanos teve seu início com a ocupação europeia. Na Guiné-Bissau, o marco fundamental na história do movimento de libertação é a década de 1950, que também marca o ressurgimento de Amílcar Cabral no contexto político do país, no âmbito da sua nomeação como engenheiro negro na granja de Pessubé a serviço da administração colonial.Assim como no continente africano, marcado pela expansão do nacionalismo na década de 1940 e 1950, Guiné-Bissau não fugiu à regra, havendo uma proliferação de organizações de diversos segmentos em que gravitavam toda a vida social; algumas eram exclusivamente de cabo-verdianos e portugueses, outras agregavam apenas os bissau-guineenses assimilados. A concepção de nação do líder da libertação nacional Amílcar Cabral postulava a unificação de todas as etnias de Guiné-Bissau, sem distinção cultural, num programa de consciência nacional para a liquidação do colonialismo, criando assim uma contra sociedade em oposição à sociedade colonial. O objetivo deste artigo é analisar a conjuntura pós-Segunda Guerra Mundial, que favoreceu sobremaneira os movimentos de autodeterminação dos países colonizados em África, em particular da Guiné dita portuguesa. Os bastidores da década de 1950 são balizados através das conferências que visavam à criação de fóruns únicos de debates dos países africanos contra a ocupação colonial que contribuíram de forma decisiva na formação dos movimentos locais para a contestação da presença colonial, tendo como base o projeto de unidade africana.

Palavras-chave: Guiné-Bissau; Colonialismo; Movimentos de Libertação; Unidade Africana; Independência.

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ABSTRACT: This article is part of my PhD thesis that seeks to analyze the process of construction of national identity in Guinea-Bissau, regarding the mediation of the ethnic diversity existing in the country, with reference to the period from 1959 to 1994. We note that the construction of the nation or national identity in several African countries began with the European occupation. In Guinea-Bissau, the key milestone in the history of the liberation movement is the 1950s, which also marks the reappearance Amílcar Cabral in the political landscape, as part of his appointment by the colonial administration as a black engineer at the Pessubé farm. Much like the rest of the African continent, Guinea-Bissau was shaken by the expansion of nationalism in the 1940s and 1950s. Organizations reflecting every trend of the colony’s social life thrived. Some were Cape Verdean- or Portuguese-only, whereas others comprised “assimilados”, natives granted political rights for their adoption of European ways. The nation conceived by national liberation leader Amilcar Cabral implied that all ethnic groups in Guinea-Bissau united, regardless of cultural distinctions, into a program of national conscience for the liquidation of colonialism, thus creating a counter-society in opposition to colonial society. This paper seeks to provide an appraising of the post-World War II conjuncture, which greatly favored self-determination movements in African colonized countries, focusing particularly in the so-called Portuguese Guinea. The 1950s backstage featured conferences aimed at creating single all-Africa discussion forums opposing colonial occupation, which contributed decisively to the formation of the local movements challenging colonial presence, based on the project of African unity.

Keywords: Guinea-Bissau; Colonialism; Liberation Movements; African Unity; Independence

 

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Referências

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Publicado

2019-02-24