Pode Stella do Patrocínio falar?

Guerrilhas linguísticas no hospital (colônia) Juliano Moreira

Autores

Palavras-chave:

Saúde Mental, Gênero, Raça, Arte, Desobediência

Resumo

Em uma sociedade constituída pelo colonialismo euro-americano, sistemas de opressão heteronormativos e racistas interferem na produção científica e na delimitação de modos de existência que são considerados normais ou desviantes. Por meio dos pressupostos da pesquisa qualitativa e da análise documental, esta investigação problematiza imagens de controle presentes nos poemas presentes na obra “Reino dos bichos e dos animais é o meu nome” da poetiza Stella do Patrocínio, mulher negra e interna do hospital psiquiátrico Colônia Juliano Moreira. O plano de análise está dividido em dois momentos. Inicialmente, são analisadas imagens que se articulam ao dispositivo psiquiátrico da loucura. Em seguida, debate-se sobre perspectivas coloniais de gênero e raça que operam para reprodução de perspectivas estereotipadas e objetificantes de mulheres negras. Conclui-se, provisoriamente, destacando a importância do debate interseccional entre gênero e raça no contexto da saúde mental e sobre a importância da autonomeação no processo de reforma psiquiátrica. Ressalta-se, ainda, a relevância da produção de saberes que se tecem em perspectivas inventivas, poéticas, comunitárias, radicalmente desobedientes.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Natalia Estrope Beleze, Universidade Estadual de Londrina (UEL)

Graduanda em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina. Iniciação científica no projeto de pesquisa “Entretons: gênero e modos de subjetivação”.

Flávia Fernandes de Carvalhaes, Universidade Estadual de Londrina (UEL)

Escritora de cartas. Doutora e mestre em Psicologia. Docente dos programas de graduação e pós-graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Londrina. Coordenadora do Projeto Entretons: gênero e modos de subjetivação. 

Referências

AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro; Editora Jandaíra, 2020.

AMARANTE, Paulo. Loucos pela Vida: A trajetória da Reforma Psiquiátrica no Brasil. 2. Ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1995.

AMARANTE, Paulo. O Homem e a Serpente: Outras histórias para a loucura e a psiquiatria. 1. Ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1996.

AMARANTE, Paulo. Saúde Mental e Atenção Psicossocial. 1. Ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007.

ANZALDÚA, G. Como domar uma língua selvagem. Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Difusão da língua portuguesa, no 39, p. 297-309, 2009.

AQUINO, Ricardo. Estrela. In: PATROCÍNIO, Stela do. Reino dos bichos e dos animais é o meu nome. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2001. p. 13-17.

ARBEX, Daniela. Holocausto Brasileiro: Genocídio: 60 mil mortos no maior hospital psiquiátrico do Brasil. 1. Ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019.

BALLESTRIN, Luciana Maria de Aragão. Feminismos Subalternos. Revista Estudos Feministas [online]. 2017, v. 25, n. 3 [Acessado 18 Julho 2022] , pp. 1035-1054. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1806-9584.2017v25n3p1035>. ISSN 1806-9584. https://doi.org/10.1590/1806-9584.2017v25n3p1035.

BATTISTELLI, Bruna Moraes; OLIVEIRA, Érika Cecília Soares. CARTAS: um exercício de cumplicidade subversiva para a escrita acadêmica. Currículo sem Fronteiras, v. 21, n. 2, p. 679-701, maio/ago 2021.

BRAGÉ, Émilly Giacomelli et al. Perfil de internações psiquiátricas femininas: uma análise crítica. Jornal Brasileiro de Psiquiatria [online]. 2020, v. 69, n. 3 [Acessado 22 Novembro 2021] , pp. 165-170. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/0047-2085000000275>. Epub 24 Jun 2020. ISSN 1982-0208. https://doi.org/10.1590/0047-2085000000275.

COLLINS, Patricia Hill. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. 1 ed. São Paulo: Boitempo, 2019.

COSTA, Juliana Agostinho; PASSOS, Rachel Gouveia; GOMES, Tathiana Meyre da Silva. Além do aparente: problematizações sobre generificação das relações a partir de um grupo de mulheres. In: PEREIRA, Melissa de Oliveira; PASSOS, Rachel Gouveia (Org.). Luta Antimanicomial e Feminismos: discussões de gênero, raça e classe para a reforma psiquiátrica brasileira. 1. Ed. Rio de Janeiro: Autografia, p. 146 – 168, 2017.

FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. 5. Ed. São Paulo: Editora Paz & Terra, 2014.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 1: a vontade de saber. 9.ed. Rio de Janeiro: Paz&Terra, 2019.GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Org. Flavia Rios & Marcia Lima. 1ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.

GROSFOGUEL, Ramón. A Estrutura do Conhecimento nas Universidades Ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Revista Sociedade e Estado. V. 31, N. 1, Jan/abr, 2016.

HIANY, N.; VIEIRA, M. A.; GUSMÃO, R. O.; BARBOSA, S. Perfil Epidemiológico dos Transtornos Mentais na População Adulta no Brasil: uma revisão integrativa. Revista Enfermagem Atual In Derme, v. 86, n. 24, 4 abr. 2020.

KRENAK, Ailton. (2019). Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras.

LUGONES, María. Rumo a um feminismo descolonial. Revista Estudos Feministas [online] 2014. v. 22, n. 3. [Acessado 18 de maio 2022], pp. 935-952. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0104-026X2014000300013>. Epub 28 Nov 2014. ISSN 1806-9584. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2014000300013.

MANIFESTO DE BAURU. II Congresso Nacional de Trabalhadores em Saúde Mental. Bauru, 1987.

MEDEIROS, M. P. A (in)visibilidade da violência contra as mulheres na saúde mental. Tese (Mestrado em Psicologia Clínica e Cultura) - Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília. Brasília, p. 92. 2016.

MOSÉ, Viviane. Apresentação. In: PATROCÍNIO, Stela do. Reino dos bichos e dos animais é o meu nome. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2001. p. 19-43.

OXFAM. Mulheres negras e pandemia: reflexões sobre raça e gênero. In: OXFAM Brasil. 08/10/2020. Disponível em: https://www.oxfam.org.br/blog/mulheres-negras-e-pandemia/

OYĚWÙMÍ, Oyèrónké. Conceptualizing Gender: The Eurocentric Foundations of Feminist Concepts and the challenge of African Epistemologies. African Gender Scholarship: Concepts, Methodologies and Paradigms. CODESRIA Gender Series. Volume 1, Dakar, CODESRIA, 2004, p. 1-8.

PASSOS, Rachel Gouveia; PEREIRA, Melissa de Oliveira. Luta Antimanicomial, Feminismos e Interseccionaliades: notas para o debate. In: PEREIRA, Melissa de Oliveira; PASSOS, Rachel Gouveia (Org.). Luta Antimanicomial e Feminismos: discussões de gênero, raça e classe para a reforma psiquiátrica brasileira. 1. Ed. Rio de Janeiro: Autografia, p. 25 – 51, 2017.

PATROCÍNIO, Stela do. Reino dos bichos e dos animais é o meu nome. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2001

PRADO, Marcos (Director); PADILHA, José (Producer). (2004). Estamira. [Retrived from: https://globoplay.globo.com/estamira/t/P8Lx68tx65/ ]

VERGUEIRO, V. Pensando a cisgeneridade como crítica decolonial. In: MESSEDER, S., CASTRO, M.G., and MOUTINHO, L., orgs. Enlaçando sexualidades: uma tessitura interdisciplinar no reino das sexualidades e das relações de gênero [online]. Salvador: EDUFBA, 2016, pp. 249-270. ISBN: 978-85-232-1866-9. https://doi.org/10.7476/9788523218669.0014.

WADI, Yonissa Marmitt. Experiências de vida, experiências de loucura: algumas histórias sobre mulheres internas no Hospício São Pedro (Porto Alegre, RS, 1884-1923). In: Revista História Unisinos. V.10 n.1, 2006: Janeiro/Abril. Disponível em: <http://revistas.unisinos.br/index.php/historia/article/view/6171>.

ZANELLO, Valeska. Saúde Mental, Gênero e Interseccionalidade. In: PEREIRA, Melissa de Oliveira; PASSOS, Rachel Gouveia (Org.). Luta Antimanicomial e Feminismos: discussões de gênero, raça e classe para a reforma psiquiátrica brasileira. 1. Ed. Rio de Janeiro: Autografia, p. 52 – 69, 2017.

ZACARIAS, Anna Carolina. Stella do Patrocínio, ou o retorno de quem sempre esteve aqui. Revista Cult, 2020. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/stella-do-patrocinio-retorno-sempre-esteve-aqui/. Acesso em: 23 junho de 2022.

Downloads

Publicado

2023-08-06

Como Citar

Beleze, N. E., & Carvalhaes, F. F. de. (2023). Pode Stella do Patrocínio falar? Guerrilhas linguísticas no hospital (colônia) Juliano Moreira. Abatirá - Revista De Ciências Humanas E Linguagens, 4(7), 107–129. Recuperado de https://revistas.uneb.br/index.php/abatira/article/view/14983