DEFICIÊNCIA, SÍNDROME CONGÊNITA DO ZIKA E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO PELA ANTROPOLOGIA

Autores

Palavras-chave:

análise do discurso, microcefalia, síndrome congênita do zika, deficiência, antropologia

Resumo

Tratou-se de estudo analítico que avaliou a tônica discursiva das reflexões antropológicas por sobre a Síndrome Congênita do Zika - SCZV. Foi recortada uma amostra de 25 trabalhos: artigos de periódicos nacionais, capítulos de livros e comunicações em eventos, sob autoria de antropólogos ou cientistas sociais. Observou-se uma primazia da abordagem etnográfica por sobre a maternidade das mães „de micro‟, cuja execução se deu em detrimento de uma caracterização mais substancial dos bebês e crianças „da zika‟. Estas descrições, um tanto „maternocêntricas‟, ocuparam-se mais dos espaços da rua do que da casa. Este achado se relacionou à constatação de que os antropólogos desconsideraram a bibliografia já produzida pela Saúde Coletiva acerca da experiência parental com a deficiência múltipla grave, em especial a Paralisia Cerebral, assim como secundarizaram referências clássicas da própria Antropologia, que os teriam ajudado a acessar teoricamente crianças sob condições de severa morbidade.

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Biografia do Autor

Alessandra Santana Soares Barros, Universidade Federal da Bahia

Sou professora no Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História da Ciência e no Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal da Bahia.

Sou Bióloga e Sanitarista de formação,com Doutorado em Antropologia. Meus últimos vinte e cinco anos de trajetória profissional giraram em torno da assistência, da reflexão teórica e da investigação empírica voltada a pessoas com deficiência, com particular acento às Deficiências Múltiplas e às Doenças Crônicas Complexas, em ambos os casos,  especialmente na infância e na adolescência.

Trabalhei por seis anos anos no Hospital Sarah de Reabilitação onde dedicava-me à inclusão educacional das crianças e jovens com Paralisia Cerebral, em suas formas de grave comprometimento motor. Ali, em nível ambulatorial, investíamos tanto na instrumentalização de seus potenciais para o aprendizado intelectual,  para a autonomia e funcionalidade, quanto atuávamos junto à redes de convivência social que os cercavam, com ênfase na escola e na família.

Em seguida trabalhei por nove anos no Hospital das Clínicas da Universidade Federal da Bahia, coordenando o Setor de Escolarização da Enfermaria Pediátrica. Lá atuávamos no sentido de favorecer às crianças internadas – bem como aos cuidadores que os acompanhavam - melhores condições de enfrentamento do stress da hospitalização. Para tanto, a oferta de atividades escolares e de estímulo ao aprendizado eram a ferramenta por excelência.

Uma vez que as enfermidades atendidas – mucopolissacaridose, osteogênese imperfeita, acidentes vasculares secundários à anemia falciforme, dentre outras, -  implicavam em longos períodos de permanência dos jovens pacientes no Hospital, as referidas atividades de escolarização contribuiam, igualmente, para minorar as perdas resultantes do seus afastamentos da escola de origem.

Durante esse segundo momento profissional mantive-me como professora e pesquisadora na Universidade Federal da Bahia, onde colaborei na produção de dezenas de estudos e trabalhos relacionados ao campo das Deficiências, em sua interface com as Ciências Humanas e Sociais.

Assim o fiz tanto como docente, via oferta de várias disciplinas de formação graduada e pós-graduada, quanto dedicando-me à orientação de numerosas pesquisas de iniciação científica, de mestrado e de doutorado.

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Publicado

2021-01-03

Como Citar

Barros, A. S. S. (2021). DEFICIÊNCIA, SÍNDROME CONGÊNITA DO ZIKA E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO PELA ANTROPOLOGIA. Scientia: Revista Científica Multidisciplinar, 6(1), 142–163. Recuperado de https://revistas.uneb.br/index.php/scientia/article/view/9292