O Carbono e as memórias dos outros
DOI:
https://doi.org/10.30620/pdi.v11n2.p189Palavras-chave:
Memória coletiva, Alteridade, RevoltaResumo
O livro Carbono foi feito a partir de caminhadas, observações nas ruas, álbuns de família e conversas com moradores do São Benedito. Ele é uma das resultantes do projeto Espaço da Memória, que atua desde 2017, produzindo narrativas dos moradores do São Benedito, com ênfase nas constituições desse território do município de Santa Luzia na divisa com Belo Horizonte. Frequentando os arquivos digitais do Espaço da Memória é fácil perceber que muitas narrativas se cruzam, evidenciando pontos em comum. Tão comuns que poderiam ser sintetizados nas dificuldades de implantação das periferias metropolitanas brasileiras, com as questões de carências de infraestrutura e de acesso precário à moradia. Associando os “documentos” dispersos pelo São Benedito com os sistematizados nos arquivos do Espaço da Memória, a questão inicial, posta para a escrita do Carbono, foi a de como realizar uma narrativa coletiva a partir de fragmentos de memórias dos outros, de si mesmo e de “documentos” como achados imagéticos, conversas soltas, impressões dos espaços e referências dispersas no tempo. E o que resultaria dessas associações, com certeza seria uma memória dessusbtancializada, mas sem a mesma certeza, ela tenderia para algum sentido coletivo. Talvez, esse sentido coletivo saia da transmigração do trauma para figurar uma pós-memória num tempo-espaço mítico, como o entende Furio Jessi, enquanto locus da revolta. Carbono traz sete narrativas tangenciando o São Benedito. Esse artigo é um esboço reflexivo do próprio autor, desdobrando a trama da realização do livro. E, fundamentalmente, trata-se de uma digressão sobre o processo da escrita sobre as memórias dos outros.
[Recebido em: 29 jul. 2021 – Aceito em: 30 out. 2021]
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