Folhas “mal-ditas” do tempo: por uma nova leitura do candomblé angola na Bahia
Résumé
Partindo do pressuposto que sem resistência não há identidade subalterna, há apenas subalternidade, intenta-se, aqui, problematizar o local marginal ao qual fora lançado o Candomblé Angola na Bahia ao longo do tempo, tanto pela sociedade de um modo geral, quanto por pesquisadores renomados que se debruçaram sobre esta temática. Objetiva-se refletir sobre a transvaloração em torno do nagôcentrismo (discussão sobre um possível cânone litúrgico candomblecista) e como esta pode ser confrontada em relação ao conceito de “tradição inventada” de Hobsbawn. Neste sentido, procuro mapear os possíveis deslocamentos, reinvenções e cuidados de si evidenciados em discursos êmicos na comunidade narrativa Unzó Kutalamin Nzambi (terreiro de Candomblé Angola situado na cidade de Catu). Destarte, percebe-se que tornar a oralidade um veículo de afirmação e empoderamento é um ato político; e, desta forma, aprofundar as reflexões que emergem dessas narrativas poderá proporcionar formulações de contradiscursos que viabilizem uma reavaliação dos processos de exclusões, propondo assim, talvez, uma crítica da cultura, das práticas religiosas de orientação africana e dos estudos sobre religião no Brasil.