Maria Tereza Fernandino Evangelista e Cármen Lúcia Brancáglion Passos
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Salvador, v.5, n.2 p.119-141, mai/ago. 2020
na contramão desse uxo, não é refém da cronologia em que transcorre, mas transpõe esse tempo e
se refaz, desenvolvendo-se com a força das experiências que a movem, transformam e lhe atribuem
sentido e textura. Ela é arte, cujo cerne é contar histórias, que por sua vez, é a arte de contá-las de
novo, sem que haja explicações para isto ou para aquilo, necessariamente. A informação não perde
tempo. A narrativa demanda tempo. A informação se esvai. A narrativa é conservada. A informação
necessita ser vericada e, em seguida, é substituída, quando outra inédita surgir. Ao contrário, “boas
histórias atravessam muitas gerações” (RIBETTO & FILÉ, 2017, p. 84.).
Se essa pesquisa transcorre em interlocução com ex-alunos/alunas narradores de suas expe-
riências com a Matemática, será que a eles algo os afetou, signicativamente? Em caso positivo,
então entendo que tiveram uma experiência. A experiência evidencia o pensar como decurso,
como construção, a partir de nossas vivências afetivas, sociais, políticas, humanas, como uma
consequência de ser e estar no mundo.
“A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o
que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas
coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece. Dir-se-ia que tudo o
que se passa está organizado para que nada nos aconteça” (LARROSA, 2002,
p. 21).
O que acontece ou aconteceu em determinado momento, o que foi dito por ou como agiram
os professores, fatos e mais fatos minuciosamente detalhados e explicados não importam senão o
que eles acionaram nos alunos e alunas, de que maneira isso os tocou. Não os fatos, não “isso que
passa”, mas “isso que me passa” (LARROSA, 2011, p. 5).
A experiência acontece em mim. Eu sou o lugar de minhas experiências, quando permito que
algo passe a meus ideais, sentimentos, representações. Assim, ela é única, singular, de cada um,
em cada um. Não cabem aqui possíveis pretensões de universalidade ou de objetivação, porque
além de ser de alguém a experiência é viva, de carne e osso, nita, sensível, temporal. É caótica
como a própria vida e ainda rearma a minha, a nossa vontade de viver, porque “se a experiência
é o que nos acontece, o que é a vida senão o passar do que nos acontece e nossas torpes, inúteis e
sempre provisórias tentativas de elaborar seu sentido, ou sua falta de sentido? (LARROSA, 2015,
p. 74). Assim, viver é experienciar da vida, em relação com as pessoas, com o mundo, com o que
penso, falo, calo, sinto, com o que sou e com o que deixo de ser.