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Salvador, v.5, n.1 p.171-192, jan/abr. 2020
Leitura e trabalho docente na escola: ontem e hoje
lugar de trocas e o autor e leitor passam a ser interlocutores que se constituem e são constituídos
no ato de ler. Nessa perspectiva, a leitura é uma atividade interativa e de construção de sentidos na
interação texto-sujeitos. Portanto, as orientações para a aula de leitura, atualmente, preconizam o
desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico e, para isso, é necessário que
o leitor interaja com o texto, sendo autônomo, intercrítico e situacionado (OLIVEIRA, 2015).
Esses adjetivos: autônomo, intercrítico e situacionado, sendo ligados à situação de leitura
são, segundo Oliveira (2015), inerentes a uma pedagogia do enleituramento a qual visa a formação
cidadã através de textos que circulam socialmente, ampliando conhecimento de mundo e de gêneros
textuais, colaborando para que o leitor perceba nuances implícitas na tecitura textual que fará com
que se torne cidadão intercrítico, ou seja, o que considera as possibilidades, não anulando o outro,
como nos ensina Macedo (2010), autônomo, o qual, em Freire (2009), é processo de elaboração/
criação constante de práticas e situacionado, no sentido atribuído a essa palavra a Análise de Dis-
curso, entendendo que o contexto interfere na compreensão do sujeito, mas não é determinante,
no sentido do determinismo ideológico do início do século XX. Enm, torne-se leitor autônomo,
intercrítico e situacionado, adjetivos inerentes à ideia de letramento, a qual vamos nominar neste
texto, por falta de vocábulo melhor, leitura pedagógica.
Para um melhor entendimento das considerações feitas doravante, faz-se necessário esta-
belecer denições sobre leitura individual e leitura pedagógica. Por falta de uma designação mais
adequada, tomaremos a denição de leitura pedagógica, aquela que é conduzida pedagogicamente
no ambiente escolar, pois cabe principalmente à escola desenvolver as capacidades e habilidades
concernentes à produção de leitura, à formação do leitor crítico e independente. Já a leitura indi-
vidual é aquela em que o leitor interage com a leitura por razões outras que não as pedagógicas
do ambiente escolar. A leitura pedagógica é tomada, aqui, como produção de leitura, ou seja, ob-
servação, análise, reexão, planicação, tomada de decisão e, nalmente, ação. Ela costuma ser
concebida em dois estágios: leitura decifratória, ou de decodicação, aquela em que a atenção e
o esforço do leitor se dissipam principalmente na decifração, no esforço de decodicar o código
escrito e a leitura crítica, em que se emprega pequeno esforço na decifração e que supõe um leitor
crítico. Ambas as leituras visam – ou deveriam visar – o letramento, que faz do leitor um agente
ativo do que lê.