Ricardo Ducatti Colpas, Eliane Medeiros Borges e Galdino Rodrigues de Souza
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Salvador, v.5, n.1 p.146-169, jan/abr. 2020
Nesse jogo de disputa empresarial e política pela Educação, devemos ter o máximo de
atenção e criticidade. Os movimentos articulados pelos grandes empresários utilizam de ideias que
muito se assemelham aos argumentos apresentados por Miranda e Fantin (2018), Nóvoa (2020)
e por nós, ao longo deste texto. Essa estratégia discursiva se traveste de progressismo educativo-
-tecnológico para inserir as mais variadas empresas, dentre elas as de telecomunicação, na política
educativa. Aparentam preocupação com os “excluídos digitais”, mas, na verdade, querem fazer
valer seus interesses empresariais, que se referem, fundamentalmente, menos ao direito à educação
que às possibilidades de lucro.
Entretanto, a utilização desses argumentos tecnológicos pelo empresariado em prol da im-
plementação do que denomina de “educação remota” não deve nos fazer negar a importância da
relação tecnologias e educação. Sabemos que diversos pesquisadores nacionais e internacionais
sérios, que não apresentam qualquer tipo de viés empresarial, defendem essa proposta há certo
tempo (BARBERO, 1998; 2014 BAZALGETTE, 1989; 2000; BELLONI, 1984; 1991; 1992; 2001;
2008; BUCKINGHAM; 2005; 2006; FANTIN, 2006; 2008; 2009; 2010 GONNET, 2001; 2004;
MASTERMAN, 1985; 1994; 1997; RIVOLTELLA, 2001; 2005; 2006; 2007; SILVERSTONE,
1999). Seria, no mínimo, inconsistente a negação de tantos anos de pesquisa em nível mundial sob
o argumento de que todas apresentam interesses econômicos.
Em seu estudo, Fantin (2006) pondera que as TIC são apresentadas como possibilidades de
renovação de nossas práticas pedagógicas e da própria escola em relação às exigências do con-
temporâneo. Elas não se colocam em disputa com os professores. Pelo contrário, são elas meios
para que os professores consigam efetivar suas aulas de modo mais proximal e atrativo aos alunos
e, ao mesmo tempo, para que eles possam educar para o uso crítico das tecnologias.
Por mais que sejam tecidas críticas que situam esse diálogo como secundário, as tecnolo-
gias na escola, aliada a professores formados para sua utilização (SILVEIRA, BRUGGEMANN,
BIANCHI, 2019), garantem a inclusão de diversos jovens vulneráveis em um processo que já faz
parte do cotidiano daqueles que pertencem a classe média e classe média alta, por exemplo. Para
os jovens que já convivem com essas tecnologias, essa inclusão pode contribuir com um olhar
mais crítico diante delas (FANTIN, 2006).
Pensando em como o contemporâneo tem se organizado e que a escola não pode se ausen-
tar dessa organização, sob o risco de perder relevância, vemos como oportunidade de busca pela