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Catarina de Almeida Santos, Danielle Xábregas Pamplona Nogueira e Marcello Ferreira
Salvador, v. 5, n. 1, p. 09-16, jan./abr. 2020
A gestão da escola
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, como organização complexa (TRAGTENBERG, 2018), é um dos
mais estatutários dispositivos da garantia do acesso à educação. Segundo Paro (2008, p. 18), “a
administração é a utilização racional de recursos para [a] realização de ns determinados”, o que
implica que ela deva mediar recursos e demandas, em vistas do alcance de sua função social.
Sendo a formação o objetivo central da escola, o projeto pedagógico deve ser a razão da ação
administrativo no interior dessa instituição. Nesse sentido, o autor defende que qualquer diretor
escolar deve, antes de tudo, ser um educador; defende, ainda, que gestão administrativa e pedagógica,
no âmbito escolar, sejam indissociáveis, pois, no campo da gestão escolar, toda prática pedagógica
está impregnada do administrativo, assim como o administrativo é potencialmente pedagógico.
No Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932 (MANIFESTO, 2006), os pioneiros
já defendiam a formação ampla dos educadores e gestores educacionais. Um educador que traba-
lhe cienticamente nesse terreno, defendia o Manifesto, deve estar decisivamente interessado na
determinação dos ns de educação e imbuído dos meios de realizá-los. Nessa perspectiva, o gestor
precisa ser, antes de tudo, um educador e, como tal, alguém capaz de compreender a realidade para
além dos muros da escola. Assim, para os signatários do Manifesto, dentre eles, Anísio Teixeira,
O físico e o químico não terão necessidade de saber o que está e se passa além
da janela de seu laboratório. Mas o educador, não, ele tem necessidade de uma
cultura múltipla e bem diversa; ele deve ter o conhecimento dos homens e da
sociedade em cada uma de suas fases, para perceber, inclusive a posição que
tem a escola, e a função que representa, na diversidade e pluralidade das forças
sociais que cooperam na obra da civilização (MANIFESTO, 2006).
Separar a gestão pedagógica da gestão administrativa – ou o gestor do educador – é incorrer
no amadorismo pedagógico ou no empirismo grosseiro de que os pioneiros falavam, pois isso im-
plicaria considerar que a escola pudesse ser administrada por quem não entende dos princípios e
das especicidades da educação. Essa instituição escolar se assenta em princípios da democracia,
da autonomia e da liberdade e deve ser plural, imiscuída em cultura e com radical envergadura e
1 Neste texto, por conveniência semântica e pela restrição do escopo dos matizes conceituais que pretendemos acessar,
tomamos gestão escolar e administração escolar como sinônimos. Sabe-se, no entanto, que, no campo dos estudos orga-
nizacionais, a perspectiva de administração escolar é eminentemente técnica e operacional, enquanto a ideia de gestão
escolar vincula-se a uma perspectiva diretiva mais sistêmica, atinente às políticas, às diretrizes educacionais, à gestão
de sistemas de ensino e escolas, considerando a autonomia e a necessidade de processos participativos.