Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 9, n. esp. 1, e024017, 2024. e-ISSN: 2177-5060

DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.v9iesp.1.19404 1

A SAÚDE MENTAL DO DOCENTE NA PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU: UMA

REVISÃO DE LITERATURA

LA SALUD MENTAL DEL DOCENTE EN LA POSGRADUACIÓN STRICTO SENSU:

UNA REVISIÓN DE LITERATURA

THE MENTAL HEALTH OF TEACHERS IN STRICTO SENSU POSTGRADUATE

COURSES: A LITERATURE REVIEW

Emanoela Thereza M. de M. GLATZ 1

e-mail: manuglatz@hotmail.com

Solange Franci R. YAEGASHI 2

e-mail: solangefry@gmail.com

Luciana M. CAETANO 3

e-mail: e-mail: lmcaetano@usp.br

Como referenciar este artigo:

GLATZ, E. T. M. de M.; YAEGASCHI, S. F. R.;

CAETANO, L. M. A saúde mental do docente na Pós-

Graduaçao Strictu Sensu: Uma revisão de literatura. Plurais

- Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 9, n. esp. 1,

e024017, 2024. e-ISSN: 2177-5060. DOI:

https://doi.org/10.29378/plurais.v9iesp.1.19404

| Submetido em: 20/12/2023

| Revisões requeridas em: 20/01/2024

| Aprovado em: 25/01/2024

| Publicado em: 12/07/2024

Editoras:

Profa. Dra. Célia Tanajura Machado

Profa. Dra. Kathia Marise Borges Sales

Profa. Dra. Rosângela da Luz Matos

Editor Adjunto Executivo:

Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz

Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá – PR – Brasil. Doutoranda e mestra em Educação pela

Universidade Estadual de Maringá (UEM). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Escola, Família e

Sociedade (GEPEFS).

Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá – PR – Brasil. Docente do Programa de Pós-Graduação em

Educação e do Mestrado Profissional em Educação Inclusiva da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Líder

do Grupo de Estudos e Pesquisa em Escola, Família e Sociedade (GEPEFS).

Universidade de São Paulo (USP), São Paulo – SP – Brasil. Docente do Programa de Pós-Graduação em

Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (USP). Líder do Grupo de

Pesquisa em Desenvolvimento Moral (GPDM).

A saúde mental do docente na Pós-Graduação Strictu Sensu: Uma revisão de literatura

Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 9, n. esp. 1, e024017, 2024. e-ISSN: 2177-5060

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RESUMO: A presente investigação teve como objetivo mapear o atual estado do conhecimento

relacionado à saúde mental e ao sofrimento psíquico dos professores de programas de pós-

graduação stricto sensu no contexto brasileiro. Por meio de uma revisão bibliográfica, analisou-

se artigos científicos publicados entre os anos de 2019 e 2023. O levantamento sistemático foi

realizado nas plataformas Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Portal de Periódicos

da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O corpus desta

revisão constituiu-se de 10 artigos, que foram submetidos a um rigoroso processo de análise.

Os resultados evidenciaram uma degradação e subvalorização da profissão

docente/pesquisador. Os docentes que atuam na pós-graduação enfrentam condições de

trabalho precárias e não recebem o devido reconhecimento pelas atividades desempenhadas.

Entre os desafios identificados estão a intensificação do trabalho docente, a burocratização da

profissão e a pressão por produtividade.

PALAVRAS-CHAVE: Saúde mental. Sofrimento psíquico. Pós-graduação stricto sensu.

Docente. Revisão de literatura.

RESUMEN: El objetivo de esta investigación fue mapear el estado actual del conocimiento

relacionado con la salud mental y el malestar psicológico de los profesores de programas de

posgrado stricto sensu en Brasil. A través de una revisión bibliográfica, se analizaron artículos

científicos publicados entre 2019 y 2023. La encuesta sistemática se realizó en las plataformas

Scientific Electronic Library Online (SciELO) y Portal de Periódicos da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). El corpus de esta revisión consistió

en 10 artículos, que fueron sometidos a un riguroso proceso de análisis. Los resultados

mostraron una degradación e infravaloración de la profesión docente/investigadora. Los

profesores que trabajan en programas de posgrado se enfrentan a condiciones laborales

precarias y no reciben el debido reconocimiento por sus actividades. Entre los retos

identificados están la intensificación del trabajo docente, la burocratización de la profesión y

la presión por la productividad.

PALABRAS CLAVE: Salud mental. Sufrimiento psíquico. Posgrado stricto sensu. Docente.

Revisión de literatura.

ABSTRACT: This research aimed to map the current state of knowledge related to the mental

health and psychological distress of professors in stricto sensu postgraduate programs in the

Brazilian context. Through a bibliographic review, scientific articles published between 2019

and 2023 were analyzed. The systematic survey was carried out on the Scientific Electronic

Library Online (SciELO) and Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior (CAPES) platforms. The corpus of this review consisted of 10

articles, which were subjected to a rigorous analysis process. The results showed a degradation

and undervaluation of the teaching/research profession. Teachers working in postgraduate

programs face precarious working conditions and do not receive due recognition for their

activities. Among the challenges identified are the intensification of teaching work, the

bureaucratization of the profession and the pressure for productivity.

KEYWORDS: Mental health. Psychic suffering. Stricto sensu postgraduate. Teacher.

Literature review.

Emanoela Thereza Marques de M. GLATZ; Solange Franci R. YAEGASHI e Luciana Maria CAETANO

Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 9, n. esp. 1, e024017, 2024. e-ISSN: 2177-5060

DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.v9iesp.1.19404 3

Introdução

A temática da saúde mental na sociedade contemporânea ainda é carregada de estigmas,

principalmente quando relacionada à Educação. Nesse contexto, torna-se imprescindível a

condução de pesquisas que explorem as percepções dos docentes de programas de pós-

graduação stricto sensu acerca da saúde mental do professor, bem como dos fatores estressores

presentes nesse ambiente que prejudicam a adaptabilidade e ocasionam o sofrimento psíquico

dessa população.

Diante disso, revela-se a necessidade de alinhar o campo da Educação – que abraça a

convergência do pleno desenvolvimento humano nas interações de ensino-aprendizagem –, de

maneira coerente com os conhecimentos da Psicologia. Este alinhamento propõe um diálogo

para a construção de uma prática que reconheça o indivíduo como um ser biopsicossocial, o

que requer a compreensão de que o ser humano é influenciado por uma interseção de fatores

biológicos, psicológicos, sociais e históricos (Belloch; González, 1993).

Ao se reconhecer todas as dimensões que compõem a singularidade do ser humano,

torna-se evidente a crucial importância desempenhada pela Educação, pela instituição

universitária e pelos professores no desenvolvimento integral (biopsicossocial) dos estudantes

ali presentes. Nesse contexto, compreende-se que a Educação deve ser fundamentada em uma

prática emancipatória (Adorno, 1970), priorizando o reconhecimento das experiências e o

respeito às origens de cada indivíduo. Isso implica não apenas fornecer conhecimentos técnicos

e acadêmicos, mas também promover um processo de autoconhecimento e uma prática de

escuta ativa.

O sofrimento no contexto universitário evidencia uma variedade de desafios e

obstáculos, originados de uma vida profissional-acadêmica diversificada e de uma sociedade

que promove cada vez mais a individualização, a competitividade entre pares e a produção

vertiginosa, substancialmente influenciados pelo modelo de sociedade pós-moderno, pautado

na indústria cultural. Essa égide social estabelece a produção e o desempenho como princípios

orientadores fundamentais de sua estrutura, conforme destacado por Horkheimer e Adorno

(1985) e Leão et al. (2019).

Questões como a desvalorização profissional, a precarização das condições de trabalho,

a perda de autoridade, os baixos salários, o produtivismo, as relações disruptivas entre pares, a

competitividade, o individualismo, o abuso de poder e a ausência de pertencimento são alguns

dos fatores estressores presentes no ambiente laboral universitário que acabam por deteriorar,

A saúde mental do docente na Pós-Graduação Strictu Sensu: Uma revisão de literatura

Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 9, n. esp. 1, e024017, 2024. e-ISSN: 2177-5060

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progressivamente, a saúde mental docente (Antunes, 2019; Santos, 2019; Vivan et al., 2019;

Avila, 2021; Andrade, 2021).

Além desses fatores, um novo elemento inesperado foi adicionado à vida profissional

de professores e pós-graduandos em todo o mundo: a pandemia da covid-19. O ano de 2020

testemunhou o surgimento de uma nova cepa de coronavírus, originada em Wuhan – China,

que rapidamente evoluiu para uma pandemia, declarada pela Organização Mundial de Saúde

(OMS) em março de 2020. As medidas adotadas, como distanciamento social, isolamento,

higienização rigorosa e suspensão de atividades presenciais, buscavam conter a propagação do

vírus. Essas ações afetaram drasticamente a Educação, ao passo em que mais de 156 países

suspenderam as atividades presenciais em instituições de ensino, impactando em torno de 1,5

bilhão de estudantes e professores, representando cerca de 70% da população educacional

mundial (Farias; Silva, 2021).

Estudos indicam uma alta prevalência de ansiedade e estresse entre professores de

instituições de ensino superior no Brasil (Barbosa, 2021; Dextre, 2021), associados a problemas

como depressão, transtornos alimentares, compulsão alimentar e distúrbios do sono (Baldo,

2021). O período de isolamento social acabou por intensificar o trabalho docente, além de

estimular a produtividade e desgastar, gradativamente, a saúde mental do professorado

(Barbosa, 2021).

Ademais, em meio a um contexto pandêmico que estabeleceu o isolamento social como

medida preventiva, reconfigurando nossa forma de interação coletiva, o sofrimento psíquico se

fez presente na vida cotidiana dos professores. Suas pesquisas foram interrompidas, muitos

tiveram seus financiamentos cortados devido a restrições orçamentárias e, de repente,

encontraram-se lecionando remotamente, muitas vezes sem os recursos financeiros adequados

ou familiaridade com ferramentas digitais. As interações com alunos e orientandos passaram a

ocorrer, exclusivamente, por meio de videoconferências, enquanto muitos enfrentavam ainda a

perda de familiares e amigos devido à infecção pela covid-19 (Glatz, 2022).

Outrossim, além dos estressores citados anteriormente, a atividade laboral já vinha

sendo apontada como fator relevante para o sofrimento psíquico dos docentes, pois, de acordo

a Organização Internacional do Trabalho (OIT), mais de 160 milhões de pessoas do mundo

sofrem de males relacionados ao trabalho (Birolim et al., 2019). Reforça-se, ainda, que a

profissão docente vem sendo apontada por diversos estudos (Yaegashi; Benevides-Pereira;

Alves, 2013; Silva et al., 2018; Miguez; Braga, 2018) como uma das profissões mais propensas

à manifestação do sofrimento psíquico, desencadeando sintomas como a depressão e a

Emanoela Thereza Marques de M. GLATZ; Solange Franci R. YAEGASHI e Luciana Maria CAETANO

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Síndrome de Burnout

, provenientes do estresse ocupacional crônico (Benevides-Pereira,

2012).

Santos (2019) revelou que os sintomas ansiosos, depressivos e de humor foram os

maiores responsáveis pelo impacto econômico de uma instituição federal de ensino superior

brasileira, que, em seis anos (2013-2018), apresentou um custo indireto de R$ 13.934.942,16

(com a soma do número de dias trabalhados perdidos decorrentes de absenteísmos e

aposentadorias por invalidez). Já os custos indiretos com licenças médicas por sofrimento

psíquico foram estimados em R$ 11.710.426,29, sendo que 36% deste total foram referentes à

ansiedade

Diante do exposto, esta pesquisa objetivou mapear o atual estado do conhecimento

relacionado à saúde mental e ao sofrimento psíquico dos professores de programas de pós-

graduação stricto sensu no contexto brasileiro, procurando responder à seguinte problemática:

o que tem sido investigado em relação aos fatores que afetam a saúde mental e desencadeiam o

sofrimento psíquico dos docentes dos programas de pós-graduação (PPG) stricto sensu

brasileiros?

Em hipótese, acredita-se que há uma gama de fatores estressores provenientes do

ambiente acadêmico da pós-graduação que podem potencializar o sofrimento psíquico docente.

Portanto, espera-se, com esta revisão de literatura, ponderar sobre as condições organizacionais

de trabalho (fatores psicossociais, estruturais e relacionais) que afligem a saúde mental dos

professores que lecionam em programas de pós-graduação stricto sensu.

O artigo está dividido em 3 seções, com o propósito de facilitar a apresentação dos dados

e a análise dos achados. Na primeira seção, abordam-se os procedimentos metodológicos

empregados para o levantamento das produções científicas nas bases de dados. Na segunda

seção, são apresentados os resultados e as discussões dos dados coletados. Por fim, nas

considerações finais, são ressaltadas as percepções e descobertas acerca das produções

acadêmicas relacionadas à saúde mental e ao sofrimento psíquico de docentes no sistema de

pós-graduação do Brasil.

Caracterizada como uma resposta à tensão emocional crônica, que afeta principalmente profissionais que

desempenham suas funções interagindo diretamente, de forma constante e emocional, com outras pessoas (Dalcin;

Carlotto, 2017).

A saúde mental do docente na Pós-Graduação Strictu Sensu: Uma revisão de literatura

Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 9, n. esp. 1, e024017, 2024. e-ISSN: 2177-5060

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Procedimento metodológicos

Para estruturar este estudo, conduziu-se uma pesquisa bibliográfica do tipo “estado do

conhecimento”. Esse tipo de pesquisa caracteriza-se como um estudo bibliográfico cujo

propósito é mapear e discutir a produção acadêmica em diferentes áreas do conhecimento, em

um período temporal específico (Ferreira, 2002; Romanowski; Ens, 2006).

Com o intuito de identificar o que tem sido produzido nas pesquisas acadêmicas

brasileiras a respeito da saúde mental e do sofrimento psíquico de docentes dos programas de

pós-graduação stricto sensu do país, realizou-se uma busca avançada em duas bases de dados

de difusão científica, sendo elas: Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Portal de

Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Estabeleceu-se como recorte temporal, artigos publicados entre 2019 e 2023. Os

descritores utilizados para a busca foram: “saúde mental”; “docente”; “trabalho docente”;

“sofrimento psíquico”; “sofrimento”; “pós-graduação”; e “stricto sensu”. Nos dois bancos de

dados, a pesquisa foi definida para “todos os campos”, sem especificar a ocorrência dos termos

no título, no assunto ou no resumo. Os descritores foram inseridos na busca de maneira

combinada, a partir da utilização do operador booleano AND – para o Portal de Períodos da

CAPES –, e OR – para consulta no SciELO.

Designaram-se como critérios de inclusão as publicações sob o formato de artigo

científico, publicados entre os anos de 2019 e 2023, no idioma português, Open Access e que

trouxessem elementos sobre a temática saúde mental e sofrimento psíquico de docentes de

programas de pós-graduação stricto sensu, especificamente. Já os critérios de exclusão, por sua

vez, foram delimitados pela repetição dos artigos nas duas bases de dados, pela publicação

fragmentada de uma mesma pesquisa em mais de um periódico científico e a não concordância

dos dados dos estudos com a questão norteadora da pesquisa.

Com a primeira busca nas bases de dados, encontrou-se 13.958 artigos publicados, no

entanto, ao aplicar os critérios de inclusão e exclusão, encontraram-se 21 publicações. Porém,

após uma leitura mais criteriosa dos títulos, resumos e metodologias, descartaram-se 11 delas,

por não atenderem aos critérios de inclusão da pesquisa (abordar a saúde mental e o sofrimento

psíquico de docentes de programas de pós-graduação stricto sensu), resultando em um corpus

de análise composto por 10 artigos. A Figura 1 ilustra, por meio de um fluxograma, as etapas

seguidas pela pesquisa nos bancos de dados.

Emanoela Thereza Marques de M. GLATZ; Solange Franci R. YAEGASHI e Luciana Maria CAETANO

Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 9, n. esp. 1, e024017, 2024. e-ISSN: 2177-5060

DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.v9iesp.1.19404 7

Figura 1 – Fluxograma fundamentado na busca e seleção dos artigos que compuseram

o corpus de análise

Fonte: Elaboração das autoras (2023).

Os artigos selecionados foram classificados quanto à autoria, revista em que foram

publicados, estado brasileiro do periódico, ano de publicação e Estrato Qualis

dos periódicos

de origem. Vale destacar que os 10 artigos foram lidos na íntegra, sendo analisados de maneira

quali-quantitativa. A organização dos dados quantitativos deu-se com a elaboração do Quadro

Já os dados qualitativos obtidos na pesquisa foram categorizados em eixos

temáticos/semânticos, tendo como base a frequência das palavras encontradas em cada estudo.

Realizando uma análise de conteúdo, como a proposta por Bardin (2011), foram identificadas

três categorias, sendo elas: 1) O produtivismo e o sofrimento psíquico docente na pós-graduação

É um sistema brasileiro de avaliação de periódicos, gerido pela CAPES, que categoriza e classifica as publicações

utilizadas para disseminar a produção acadêmica dos programas de pós-graduação stricto sensu brasileiro. Tal

classificação leva em consideração o alcance da circulação do material, bem como a sua qualidade e impacto – A,

B ou C – (Barata, 2016).

A saúde mental do docente na Pós-Graduação Strictu Sensu: Uma revisão de literatura

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DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.v9iesp.1.19404 8

stricto sensu; 2) A relação entre saúde e trabalho na pós-graduação; e 3) Intensificação e

precarização do trabalho docente na pós-graduação stricto sensu.

Resultados e Discussões

Análise quantitativa das produções

Com a finalidade de facilitar a análise quantitativa dos achados, elaborou-se o Quadro

1, que contempla os nomes dos autores de cada produção, a base de dados em que cada estudo

foi encontrado, as revistas nas quais foram publicados, o estado brasileiro do periódico, o ano

de publicação e o Estrato Qualis (2017-2022)

Buscando sintetizar e padronizar a revisão de literatura, concedeu-se a cada artigo

encontrado um código, cuja nomenclatura o referenciará no decorrer do estudo (Art1, Art2,

Art3 e, assim, sucessivamente).

Quadro 1 – Distribuição dos artigos por autor, base de dados, revista publicada, estado

brasileiro do periódico, ano de publicação e Estrato Qualis

CÓDIGO

AUTORES

BASE DE DADOS

REVISTA

ESTADO

ANO

QUALIS

Art1

ROSA;

CECÍLIO

Portal de Periódicos

CAPES

Revista

Educação

2023

Art2

NUNES et al.

SciELO

Revista da

Avaliação da

Educação

Superior

2022

Art3

SOUZA et al.

SciELO

Ciência &

Saúde

Coletiva

2021

Art4

VASCONCELO;

LIMA

SciELO

Katálysis

2021

Art5

MAGNIN et al.

SciELO

REAd -

Revista

Eletrônica de

Administração

2020

Art6

VIEIRA et al.

SciELO

Revista

Educação e

Pesquisa

2020

Art7

ALMEIDA et al.

SciELO

Revista

Latino-

Americana de

Enfermagem

2020

Refere-se a última avaliação de periódicos realizada pela CAPES, relativo ao quadriênio 2017-2022.

Emanoela Thereza Marques de M. GLATZ; Solange Franci R. YAEGASHI e Luciana Maria CAETANO

Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 9, n. esp. 1, e024017, 2024. e-ISSN: 2177-5060

DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.v9iesp.1.19404 9

Art8

BARRETO et al.

Portal de Periódicos

CAPES

Revista da

Anpoll

2019

Art9

VIVIAN et al.

Portal de Periódicos

CAPES

Caderno de

Psicologia

Social e do

Trabalho

2019

Art10

FREITAS;

NAVARRO

Portal de Periódicos

CAPES

Revista

Eletrônica de

Educação

2019

Fonte: Elaboração das autoras (2023).

Analisando o Quadro 1, observa-se que, dos 10 artigos selecionados, 5 foram

encontrados em revistas da área da Educação; 1 foi publicado em período de Letras e

Linguística; 3 foram encontrados em períodos da área da Saúde (Psicologia, Saúde Coletiva e

Enfermagem); e apenas 1 deles foi encontrado em revista da área de Administração.

Quanto aos estados brasileiros nos quais estão os periódicos do corpus de análise desta

revisão, observou-se que apenas 1 é paranaense (PR); 2 são provenientes do estado de Santa

Catarina (SC); 1 do Rio Grande do Sul (RS); e 6 do estado de São Paulo (SP).

Ainda em consonância com o Quadro 1, observa-se que, dentre os 10 artigos analisados,

3 foram publicados no ano de 2019; 3 no ano de 2020; 2 no ano de 2021; 1 no ano de 2022; e

1 no ano de 2023. Percebe-se que, dos 10 estudos em voga, 6 (60%) deles foram publicados

entre os anos de 2019-2020, período em que a pandemia de covid-19 foi decretada, modificando

nossa organização social e, inclusive, nosso fazer ciência e pesquisa no Brasil e no mundo.

Finalmente, com relação ao Estrato Qualis dos artigos que foram analisados nesta

pesquisa, percebe-se que todos eles foram publicados em revistas classificadas no estrato A

pela CAPES, sendo 5 do A1, 3 do estrato A2 e 2 do estrato A3.

Análise qualitativa das produções

Para facilitar a análise dos dados qualitativos e com vistas à sintetização de informações

importantes, organizou-se o Quadro 2, que elenca o título, o objetivo, a amostra e os

instrumentos utilizados em cada uma das pesquisas.

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Quadro 2 – Distribuição dos artigos por título, objetivo, amostra e instrumentos utilizados

para a coleta de dados

CÓDIGO

TÍTULO

OBJETIVO

AMOSTRA/INSTRUMENTOS

Art.1

Condição do

trabalho docente na

Pós-Graduação

Stricto Sensu em

Educação na

Região do

Triângulo Mineiro:

fatores em análise

Compreender de que forma

o capitalismo, em sua fase

de acumulação flexível,

tem influenciado a

condição do trabalho

docente e a vida de

professores que atuam na

Pós-Graduação em

Educação Stricto Sensu na

região do Triângulo

Mineiro (PGERTM).

Docentes permanentes de Programas de Pós-

Graduação stricto sensu em Educação

(PPGE) de 4 universidade distintas:

*Universidade Federal de Uberlândia

(UFU); **Universidade Federal do

Triângulo Mineiro (UFTM);

***Universidade de Uberaba (UNIUBE);

****Instituto Federal do Triângulo Mineiro

(IFTM).

44 docentes responderam ao questionário

aplicado de maneira remota, e 10

participaram de uma entrevista

semiestruturada.

Art.2

Precarização e

Função Social:

análise dos

significados do

trabalho de

docentes da pós-

graduação

Analisar os sentidos e

significados do trabalho

para docentes vinculados à

programas de pós-

graduação stricto sensu de

uma universidade

brasileira.

Servidores docentes vinculados aos

Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu

(PPGs) de uma universidade brasileira.

33 docentes permanentes dos PPGs

responderam a um questionário online

encaminhado via e-mail.

Art.3

Trabalho docente,

desigualdades de

gênero e saúde

em universidade

pública

Problematizar aspectos do

trabalho docente do ensino

superior em relação a

gênero, políticas de

avaliação e saúde.

Como instrumento para coleta de dados

utilizou-se “oficinas em saúde do

trabalhador” e “cadernetas de saúde e

trabalho”. Segundo os autores (p. 5928), as

“[...] oficinas em saúde do trabalhador se

constituem como espaços onde

trabalhadores(as) e pesquisadores(as)

discutem temas de trabalho relacionados à

saúde [...]”. Quanto às cadernetas de saúde e

trabalho, consistem em um instrumento de

investigação inspirado na experiência

sindical italiana”.

Se efetivou em campo a realização de 4

oficinas e a aplicação de 8 cadernetas, que

foram realizadas entre os anos de 2015-2016.

Participaram das oficinas 10 docentes, ao

passo em que 8 docentes preencheram às

cadernetas, totalizando 18 sujeitos na

amostra.

Art.4

Trabalho e saúde-

adoecimento de

docentes em

universidades

públicas

Analisar a relação entre

trabalho e saúde-

adoecimento de docentes

de universidades públicas

do Rio Grande do Norte

(RN).

Realizou-se uma pesquisa de campo – entre

abril e junho do ano de 2019 –, que se

efetivou por meio da aplicação de

questionários e entrevistas semiestruturadas

com assistentes sociais, docentes do quadro

permanente dos programas de pós-graduação

stricto sensu na área do Serviço Social da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte (UFRN) e da Universidade do Estado

do Rio Grande do Norte (UERN).

Emanoela Thereza Marques de M. GLATZ; Solange Franci R. YAEGASHI e Luciana Maria CAETANO

Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 9, n. esp. 1, e024017, 2024. e-ISSN: 2177-5060

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- A amostra do estudo foi constituída por 16

professoras (sete docentes da UFRN e nove

da UERN).

Art.5

Produtivismo na

Pós-Graduação em

Administração:

posicionamentos

dos pesquisadores

brasileiros,

estratégias de

produção e desafios

enfrentados

Analisar os

posicionamentos dos

pesquisadores brasileiros

que mais têm publicado na

área de Administração em

relação às políticas de

avaliação científica

adotadas pela Coordenação

de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior

(CAPES), as estratégias de

produção adotadas e os

principais desafios

enfrentados.

A amostra foi composta por 13

pesquisadores vinculados a Programas de

Pós-Graduação de universidades públicas

que mais publicaram na área da

Administração no período de 2015 a 2017,

vinculados à USP (3), UNB (5), UFRJ (2),

UFPR (2) e UFRGS (1), sendo 6 mulheres e

7 homens.

O instrumento para coleta de dados foi a

entrevista semiestruturada, aplicada

presencialmente e à distância, realizadas

entre março e maio de 2018.

Art.6

Produtivismo na

pós-graduação na

perspectiva da

ergonomia da

atividade

Analisar a atividade de

trabalho docente de nível

superior, identificando os

constrangimentos a que os

profissionais dessa

categoria estão submetidos,

devido, especialmente, ao

sistema de avaliação da

produção intelectual

atrelado aos programas de

pós-graduação.

Realizou-se um estudo de caso em uma

universidade pública federal, no

Departamento de Engenharia de Produção,

considerando as respostas de todos os 21

docentes pertencentes ao quadro, sendo 15

deles dedicados ao Programa de Pós-

Graduação.

A coleta de dados se deu com as seguintes

ferramentas:

- Um questionário aplicado aos 21 docentes

que compõem o objeto de estudo, por meio

do Google Forms – (obteve-se retorno de 17

respondentes); um diário de trabalho para

acompanhar o cotidiano laboral dos

professores, pelo prazo de uma semana

(obteve-se o retorno de 3 diários);

observação participante; e entrevistas com

roteiro semiestruturado.

Art.7

Workaholism entre

docentes de pós-

graduação stricto

sensu em

enfermagem no

Brasil

Identificar a prevalência e

os fatores associados ao

workaholism entre

docentes de pós-graduação

stricto sensu em

enfermagem.

Realizou-se um estudo transversal com 333

docentes enfermeiros de mestrado/doutorado

de 47 universidades públicas brasileiras. Os

participantes responderam a um questionário

de caracterização e a Dutch Work Addiction

Scale, que foram analisados descritivamente

e por regressão logística múltipla.

A pesquisa foi realizada entre os meses de

julho a dezembro do ano de 2018.

Art.8

Condições de

trabalho e saúde de

docentes de pós-

graduação stricto

sensu de letras e

linguística

Investigar as condições de

trabalho e saúde de

docentes de pós-graduação

stricto sensu de Letras e

Linguística do Brasil.

Trata-se de um estudo transversal

desenvolvido com 654 docentes vinculados a

cursos de 155 Programas de Pós-Graduação

de Letras e Linguística do Brasil,

reconhecidos ou recomendados pela

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior (CAPES).

A saúde mental do docente na Pós-Graduação Strictu Sensu: Uma revisão de literatura

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Para a obtenção dos dados, foi desenvolvida

uma plataforma eletrônica denominada

Mubble, que abrigou um questionário

semiestruturado.

A coleta de dados foi realizada entre os

meses de fevereiro e agosto de 2019.

Art.9

Estratégias de

defesa contra o

sofrimento no

trabalho de

docentes da pós-

graduação

stricto sensu

Identificar as estratégias de

defesa contra o sofrimento

no trabalho desenvolvidas

por docentes da pós-

graduação stricto sensu.

Participaram da pesquisa 47 docentes de uma

universidade do Sul do Brasil, que

responderam a um questionário baseado no

Inventário sobre Trabalho e Riscos de

Adoecimento, ao passo em que dois

representantes de cada um dos sete

Programas de Pós-Graduação stricto sensu

da universidade também foram

entrevistados.

A coleta de dados ocorreu entre os meses de

outubro de 2018 a março de 2019

Art.10

Intensificação do

trabalho docente e

saúde: estudo com

docentes da

Universidade

Federal de Goiás

vinculados a

programas de pós-

graduação

Discutir a relação entre

intensificação do trabalho

docente e a saúde de

professores.

Utilizou-se como instrumento de coleta de

dados a entrevista semiestruturada.

Foram entrevistados 11 professores

vinculados aos dois programas de pós-

graduação mais bem avaliados da

Universidade Federal de Goiás (UFG), pela

Capes, sendo eles: PPGEO e PPGEcoEvol

(ambos com conceito seis na avaliação

mencionada).

A coleta de dados ocorreu entre os anos de

2010 a 2012

Fonte: Elaboração das autoras (2023).

Analisando Quadro 2, percebe-se que todos os artigos objetivam, em algum grau,

investigar e discutir sobre o sofrimento psíquico de docentes dos programas de pós-graduação

stricto sensu brasileiros, relacionando o fenômeno à mercantilização da educação, à

precarização e intensificação do trabalho, ao produtivismo e aos sentidos e significados

atribuídos à profissão em momento de ostracismo e de desmonte do ensino superior.

Para a análise qualitativa, conforme mencionado anteriormente, os artigos foram

subdivididos em três categorias de análise. Na categoria “O produtivismo e o sofrimento

psíquico docente na pós-graduação stricto sensu” foram inseridos os artigos Art.5 e Art.6. Os

artigos Art.3, Art.4 e Art.8, por sua vez, fizeram parte da categoria “A relação entre saúde e

trabalho na pós-graduação”. Finalmente, a categoria “Intensificação e precarização do trabalho

docente na pós-graduação stricto sensu” considerou para análise os artigos Art1, Art2, Art7,

Art.9 e Art.10. A seguir, serão discutidas as categorias elencadas.

Emanoela Thereza Marques de M. GLATZ; Solange Franci R. YAEGASHI e Luciana Maria CAETANO

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O produtivismo e o sofrimento psíquico docente na pós-graduação stricto sensu

No artigo produzido por Magnin et al. (2020), os autores apontaram que, entre os

pesquisadores vinculados aos PPG’s em Administração de universidades públicas brasileiras

que mais publicaram na área entre os anos de 2015 e 2017, 5 deles fazem parte do corpo docente

da Universidade de São Paulo (USP), outros 5 lecionam na Universidade de Brasília (UNB), 2

estão vinculados à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 2 à Universidade Federal

do Paraná (UFPR) e um é professor/pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(UFRGS).

O estudo revelou que há uma intensa precariedade subjetiva por parte dos professores

que, mesmo possuindo os maiores índices de publicação do país na área, não se consideram

produtivos e negam priorizar a publicação, muitas vezes questionando a sua real importância

para a ciência brasileira. No entanto, esses mesmos docentes revelam o desejo e a meta de

publicarem ainda mais nos próximos 5 anos (Magnin et al., 2023).

Sobre isso, Mendes et al. (2007) denotam que o trabalho docente se encontra associado

intrinsicamente à sensação de mal-estar, fazendo com que os professores compensem o seu

desprazer através da criação intelectual desenfreada, impulsionando a lógica do produtivismo

no ambiente acadêmico. Além disso, o autoisolamento, a negação e o cinismo são empregados

pelos professores para suplantar as situações de sofrimento e permanecerem trabalhando em

um contexto “normalidade” (Avila, 2021; Menezes, 2014).

Para Magnin et al. (2020), a intensificação do trabalho docente é naturalizada no

ambiente da pós-graduação. A lógica do produtivismo, que atribui à ciência e à educação um

valor mercadológico, precariza o trabalho do professor, que adoece para satisfazer a expectativa

de produção tangenciada pelas políticas de avaliação científica da CAPES. Não obstante, a

estratégia de internacionalização dos programas de pós-graduação stricto sensu acaba

contribuindo para a perpetuidade da sujeição e da subordinação do pesquisador brasileiro,

reproduzindo na ciência do país uma certa “idolatria” às pesquisas estrangeiras.

Além disso, Magnin et al. (2020) revelam que, dentre os maiores desafios enfrentados

na pós-graduação em administração, destacam-se: os atritos e problemas políticos gerados

dentro dos programas; o desinteresse e a desmotivação dos alunos que adentram na pesquisa

meramente orientados pela busca por diploma; as tarefas administrativas e burocráticas aludidas

pelos docentes como “ralos absorvedores de tempo” (Magnin et al., 2023, p. 289). Também

mencionam o financiamento – ou a falta dele – e sua execução; os salários estagnados; as

condições de trabalho precárias; o pouco reconhecimento da profissão; a gestão das revistas

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acadêmicas brasileiras, assim como o processo árduo e vagaroso de publicação que ocasiona a

obsolescência e desatualização das publicações e, finalmente, a dificuldade de superação da

lógica do publish or perish

Em paralelo aos achados de Magnin et al. (2020), Sampaio (2016) também revelou, em

sua pesquisa de doutorado, que o novo perfil do alunado da pós-graduação se constituí como

uma das grandes dificuldades dos programas, tendo em vista que não há mais interesse pela

pesquisa, mas somente pela obtenção do título para progressão de carreira e aumento salarial.

De acordo com a autora, os estudantes são “alunos-profissionais”, não se dedicam

exclusivamente à pesquisa, apresentam grandes dificuldades de leitura, escrita e compreensão

de texto e, por vezes, não conseguem acessar um conhecimento científico de qualidade, mesmo

familiarizados às novas tecnologias.

Dialogar sobre o perfil do alunado que constitui os programas de pós-graduação stricto

sensu brasileiros, traz à tona outra questão importante a respeito do fazer ciência no século XXI:

a produção acadêmica com vistas à ascensão financeira. Como já mencionado, a educação

enquanto mercadoria adentra os muros das instituições, tornando-as reprodutoras da lógica

social que as permeia. Se hoje a busca pela inserção em um programa de pós-graduação é feita,

muitas vezes, apenas com vistas à diplomação para o crescimento de carreira e para o

cumprimento de exigências impostas pelo mercado de trabalho, estranho seria se o

produtivismo não estivesse em pauta neste contexto.

Estudar mais para produzir mais, para ser mais competitivo e, consequentemente,

receber mais, essa é a lógica. Os docentes, que já exercem suas funções em um ambiente

profissional competitivo, ainda precisam responsabilizar-se em orientar sujeitos que buscam

apenas a formação, sem a dedicação que ela exige.

O artigo produzido por Vieira et al. (2020) também traz à luz questões importantes sobre

o produtivismo e a extensão da jornada de trabalho de professores/pesquisadores da pós-

graduação. Segundo os autores, 30% dos docentes pesquisados por eles trabalham de 60 a 73

horas semanais, enquanto os 70% restante afirmaram trabalhar, no mínimo, 46 horas por

semana. Isso inclui, além da extensão da jornada em dias semanais, períodos noturnos e finais

de semana, que são utilizados para a correção de provas, escrita de artigos científicos, leituras

de dissertações e teses, além de responder e-mails e preparar atividades para o dia seguinte.

Não obstante, revela-se, também, que mais de 85% dos docentes apresentavam

desgastes e dores físicas, como dores de cabeça e pescoço, além de incômodos e formigamentos

Traduzido: publique ou pereça.

Emanoela Thereza Marques de M. GLATZ; Solange Franci R. YAEGASHI e Luciana Maria CAETANO

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nos ombros, braços e punhos (Vieira et al., 2020). Para 65% dos respondentes, a cobrança

agressiva por resultados, os conflitos no ambiente de trabalho e o individualismo são as maiores

dificuldades encontradas no ambiente laboral acadêmico, além do fato de que, para 53% deles,

a comunicação entre pares é considerada insatisfatória.

Vieira et al. (2020) ressaltam que a autogestão do tempo é um gatilho gerador de

angústia e sofrimento psíquico entre os professores da pós-graduação. O problema com as

alterações do sono também é outro achado que requer atenção, já que 60% dos docentes

alegaram ter problemas para dormir, ao passo em que 33,33% deles fazem uso de ansiolíticos

com frequência. Cerca de 29% dos professores/pesquisadores autorrelataram sintomas como

solidão, irritação, perda de autoconfiança e dificuldade de fazer amigos, sendo que mais de 20%

sentiam-se isolados, tristes e enfrentavam alterações de apetite e o hábito de ingerir bebidas

alcoólicas para “relaxarem”.

No tocante às medidas de avaliação empregadas pela CAPES para examinar a

produtividade dos profissionais e dos programas de pós-graduação stricto sensu do país, 41,2%

dos sujeitos pesquisados revelaram que o sistema da CAPES é injusto, “simplista, opressivo e

míope” (Vieira et al., 2020, p. 11), pois valoriza apenas a quantidade em detrimento da

qualidade da produção científica, equiparando-se aos trabalhos de linha de produção industrial,

aumentando a pressão, o constrangimento e a competitividade no ambiente laboral, rompendo

com a tessitura do trabalho coletivo em detrimento da política do “publicômetro” (Vieira et al.,

2020, p. 1).

Ratificando os apontamentos suscitados nesta categoria de análise, Antunes (2019) e

Sampaio (2016) manifestaram que o produtivismo acadêmico, as formas de avaliação

provenientes do modo de organização das instituições de ensino superior, a relação disruptiva

entre pares – permeada pela competitividade, individualismo, comparação, abuso do poder dos

que estão em cargo de direção/coordenação, briga de ego e ausência do senso de pertencimento

a um coletivo –, são as principais causas do sofrimento experienciado por docentes das

universidades brasileiras.

A vinculação direta entre a avaliação da produtividade individual e a avaliação de

desempenho do professor gera uma tensão significativa, pois é facilmente percebida como uma

análise técnica da competência profissional. Esse aspecto parece entrelaçar-se com a identidade

pessoal, resultando em efeitos individuais e coletivos, interferindo nas relações estabelecidas

com o grupo, com os discentes e, até mesmo, com a instituição (Antunes, 2019).

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Sob essa égide, percebe-se que o produtivismo influencia a saúde mental docente, ao

passo em que a produção acadêmica deixa de cumprir seu propósito central de gerar

conhecimento e contribuir para o avanço da ciência brasileira, passando a servir meramente

como critério de classificação e ranqueamento entre indivíduos e universidades.

A relação entre saúde e trabalho na pós-graduação

O artigo escrito por Souza et al. (2021), revelou que hoje há uma naturalização do

trabalho docente “em casa”. As demandas da esfera produtiva estão extrapolando o tempo da

jornada de trabalho e impactando a vida privada do professorado, o que acarreta conflitos

pessoais e familiares e desencadeia um intenso sofrimento psíquico, como já mencionado pelo

estudo de Vieira et al. (2020).

Para Souza et al. (2021), as pessoas do sexo feminino são as mais afetadas pela

precarização das relações e pela divisão sexual do trabalho doméstico, que, ainda hoje,

permanece atarefando e sensibilizando mais o sexo feminino. Destarte, o trabalho docente

associado à maternidade gera grande sobrecarga e culpabilização nas docentes que precisam

lidar com as cobranças do trabalho, da vida familiar e com ideia da sociedade patriarcal de que

a pessoa do sexo feminino precisa ainda – e principalmente –, ser uma boa mãe. Não obstante,

os participantes revelaram que os diversos processos de avaliação do trabalho docente

prescrevem muitas normas discriminatórias que suscitam desigualdades de gênero,

demonstrando que, infelizmente, a “[...] hierarquia do masculino e do feminino ainda continua

viva” (Souza et al., 2021, p. 5930).

De acordo com alguns sujeitos da amostra analisada, os critérios de avaliação do

trabalho docente prescritos pela CAPES e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq) são mais rígidos para docentes do sexo feminino do que para

as pessoas do sexo masculino, constituindo-se como políticas e normalizações desiguais e

discriminatórias (Souza et al., 2021). Sendo assim, as docentes do sexo feminino demonstraram

sentirem-se angustiadas, tristes, sobrecarregadas, depressivas, insatisfeitas e frustradas diante

da invisibilidade do feminino nas ciências e na academia, realidade essa concebida e estruturada

por um padrão social hegemônico e patriarcal que discrimina e oprime o sexo feminino em

detrimento das potencialidades e força de trabalho do sexo masculino.

Conforme aponta Santos (2019), as pessoas do sexo feminino são mais acometidas por

licenças médicas decorrentes de Transtorno Mental e do Comportamento (TMC) dentro do

Emanoela Thereza Marques de M. GLATZ; Solange Franci R. YAEGASHI e Luciana Maria CAETANO

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ambiente acadêmico, quando comparadas às do sexo masculino. Em seu estudo, o autor

observou que, entre os anos de 2013 e 2018, uma média de 3,94% dos servidores

do sexo

feminino da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) foram afastados ao longo de cada

ano por apresentarem adversidades de ordem psiquiátrica, enquanto entre os homens essa média

não passou de 1,85%, deixando evidente que as pessoas do sexo feminino são as mais afetadas

por afastamentos concernentes à saúde mental.

Intersecciona-se aqui os achados provenientes do estudo produzido por Vasconcelos e

Lima (2021), que realizaram uma pesquisa em dois programas de pós-graduação stricto sensu

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade do Estado do Rio

Grande do Norte (UERN). A amostra do estudo foi constituída por 16 docentes do sexo

feminino e desvelou que 62,50% dessas profissionais avaliaram a qualidade do seu sono como

sendo regular e/ou ruim. Não obstante, 68,7% delas possuíam vários problemas de saúde, entre

eles: hipertensão, labirintite, depressão, ansiedade, crises de pânico, artrose, diabetes,

enxaquecas, obesidade, problemas de circulação, doença renal e problemas na coluna.

As docentes afirmaram também que o envolvimento em funções de gestão e a inserção

nos programas de pós-graduação levam a uma maior sobrecarga emocional e física, que gera

angústia, desgaste e sofrimento psíquico intenso. Além disso, elas revelaram também que não

costumam se afastar de suas atribuições acadêmicas quando estão doentes, pois diante da

existência de prazos rígidos e com receio de uma maior sobrecarga posterior, muitas optam por

trabalhar mesmo em posse de atestado médico (Vasconcelos; Lima, 2021).

Finalmente, o artigo escrito por Barreto et al. (2019) revelou que, dos 654 docentes de

programas de pós-graduação stricto sensu em letras e linguística do Brasil participantes da

pesquisa, 31,9% assumiram sentir-se exaustos; 42% deles nunca pensaram em deixar de

lecionar na pós-graduação; 56,6% não se sentem satisfeitos com a qualidade do seu sono, ao

passo que 46,9% dos mesmos já precisaram ingerir algum tipo de medicamento em decorrência

de aflições provenientes do processo de trabalho.

Dessa forma, de acordo para Barreto et al. (2019), as atuais condições de trabalho e de

saúde de docentes da pós-graduação brasileira oscilam entre sentimentos de prazer e um intenso

sofrimento laboral. Com vistas à transformação desta realidade, os autores defendem que seria

possível aplicar estratégias individuais e organizacionais, como a oferta de apoio psicológico,

a realização de atividade física, a flexibilização dos horários, melhores condições laborais,

Entre eles, docentes.

A saúde mental do docente na Pós-Graduação Strictu Sensu: Uma revisão de literatura

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automonitoramento das habilidades sociais e acordos de convivência entre docentes-

orientandos.

Percebeu-se até aqui que o produtivismo acadêmico potencializa o sofrimento psíquico

no professorado, ao passo em que as condições do trabalho docente na pós-graduação stricto

sensu também sensibiliza a saúde física e mental destes profissionais.

Intensificação e precarização do trabalho docente na pós-graduação stricto sensu

Os resultados apresentados no artigo publicado por Rosa e Cecílio (2023) revelaram que

40,9% dos docentes respondentes alegaram que o ritmo excessivo de trabalho afeta, de maneira

frequente, o seu ofício docente. Não obstante, 61,4% mencionaram que suas tarefas são sempre

cumpridas sob pressão nos prazos de entrega; ao passo em que 70,4% avaliaram que a cobrança

por resultados e/ou as normas rígidas para a execução de tarefas são o que, de fato, prejudica a

condição do trabalho do professor. Finalmente, 36,4% mencionaram que a contínua fiscalização

a respeito do desempenho gera pressão, sobrecarga e desgaste profissional.

Com relação à extensão da jornada de trabalho, 61,4% dos sujeitos alegaram que sua

ocupação funcional é alongada devido às múltiplas tarefas além docência, como a participação

em eventos de divulgação científica; a redação de artigos acadêmicos; a emissão de pareceres

ad hoc; as orientações de dissertações e teses; a organização e participação em projetos de

pesquisa; a atuação em equipe editorial de periódicos; a gestão acadêmica; a realização de

pesquisas; a participação em comitê de éticas etc. (Rosa; Cecílio, 2023). Aqui, podemos

revisitar o estudo de Vieira et al. (2020), em que 70% de sua amostra docente mencionou

trabalhar, no mínimo, 46 horas por semana, ao passo em que 30% deles trabalhavam bem mais

de 60 horas semanais, em feriados, finais de semana ou de madrugada.

Os professores também relataram que o exercício docente na pós-graduação exige que

o profissional seja versátil, polivalente, multifuncional, flexível e engajado, fomentando

incongruências entre tempo hábil versus atribuições funcionais, engendrando um intenso

sentimento de autoculpabilização e fracasso pelo “não dar conta” de suas próprias demandas

laborais (Rosa; Cecílio, 2023).

Os resultados obtidos com a pesquisa demonstraram que o capitalismo – em sua fase de

acumulação flexível –, fez da universidade um campo fértil para o desenvolvimento da

mercantilização do ensino superior, que, juntamente à inserção de metas e parâmetros

quantitativos, intensifica o trabalho docente, reduz a qualidade da produção acadêmica e

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considera o produtivismo como ferramenta necessária no fazer ciência e assim, segundo

constataram Rosa e Cecílio (2023, p. 28), “[...] ao invés de trabalhar para viver, os professores

vivem para trabalhar”.

Rosa e Cecílio (2023) descortinaram o fato de que 35,6% da amostra docente da

pesquisa vislumbra seu trabalho como sendo um aparato importante de função social. Eles

revelaram que a escolha por ser docente/pesquisador, além de ser um grande compromisso

sociopolítico, exterioriza a busca por soluções de problemas que afligem a humanidade,

contribuindo para a formação técnica, política, social, humana e ética do país, como também

mencionaram Nunes et al. (2022).

Os autores destacaram que as atividades laborais dos docentes da pós-graduação

encontram-se inseridas em um contexto social neoliberal, movido e determinado por políticas

do capital (Rosa; Cecílio, 2023), que transformam o processo educacional em mera mercadoria,

intensificando, assim, as demandas docentes, sobrecarregando o profissional e burocratizando

suas atividades. Não obstante, os docentes também são pressionados à produção científica

desenfreada, além da emergente necessidade de serem “polivalentes” e “multitarefas”, o que

nada mais é, de maneira realista e com palavras menos corteses, do que a sua atuação em uma

multiplicidade de cargos e tarefas administrativas infinitas – que apenas refletem a precarização

da instituição de ensino e o sucateamento profissional –, assim como a falta de prestígio, de

reconhecimento e de valorização da atividade docente.

Por conseguinte, Almeida et al. (2020) revelaram em seu estudo que, do total de

docentes da sua amostra (333 docentes de pós-graduação stricto sensu em enfermagem), 29,7%

trabalhavam em 2 ou mais PPG’s; 39,9% referiram sentir-se ansiosos durante suas atividades

laborais; e 69,7% assumiram que sofriam pressão para publicarem. Apesar disso, 71,2%

sentiam-se satisfeitos com o trabalho na pós-graduação. Esse antagonismo presente entre os

professores já foi anteriormente apontado nos resultados do estudo de Barretos et al. (2019), ao

revelarem que os docentes – ao mesmo tempo em que se sentiam exaustos e oprimidos –, não

pensavam em desistir de seu ofício na academia.

Também averiguou-se que 20,1% dos docentes da amostra se enquadraram como

trabalhadores compulsivos, 19,5% trabalhadores excessivos e 10,5% foram considerados

workaholics

. A excessiva sobrecarga e o acúmulo de funções e papéis fazem com que os

Caracterizado como o vício no labor, é o trabalho compulsivo e excessivo que é sempre executado de forma

exagerada e irracional, pois ao mesmo tempo em que reconhece sua excessividade pelo trabalho, não é capaz de

assumir o controle da intensa sobrecarga (Barretos et al., 2019).

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docentes se acostumem com o ritmo cada vez mais intenso e acelerado de trabalho, sintam-se

sempre culpados por não conseguirem desligar-se de suas funções laborais, sentindo-se útil

apenas quando produzem de maneira árdua, abandonando sua vida pessoal e social, além de

negar-se a participar de atividades de lazer e/ou de dormir (Almeida et al., 2020).

Corroborando com os dados anteriormente apresentados Vivian et al. (2019) revelam

que, em seu estudo, 29,5% de professores tomavam medicamentos para superar as condições

adversas do trabalho, assim como já apontado a priori nos estudos de Vieira et al. (2020) e

Barreto et al. (2019).

De acordo com Vivian et al. (2019), os docentes da pós-graduação buscam estratégias

de defesa para se protegerem do sofrimento psíquico experienciado cotidianamente em sua

atividade laboral, sendo as principais delas: a terapia/análise; o distanciamento do trabalho

permitindo-se experienciar momentos de solidão e de recolhimento; o resgate da religiosidade

e da espiritualidade, o apego à família e aos amigos e até mesmo a adesão à Práticas Integrativas

Complementares (PIC), como o Reiki.

No entanto, nem sempre as estratégias de defesa são saudáveis e favoráveis à saúde do

indivíduo, sendo que muitos docentes acabam por render-se ao uso de medicamentos

psicotrópicos, de álcool e, até mesmo, de drogas, entrando em uma espiral viciante com o

consumo de “[...] ansiolíticos durante o dia, soníferos à noite e psicoestimulantes pela manhã”

(Vivian et al., 2019). Todavia, os autores defendem que é preciso a adoção de atividades de

lazer, o aprimoramento dos laços com companheiros de trabalho, a realização de exercícios

físicos e o compartilhamento de momentos felizes com os familiares, para que os docentes

consigam enfrentar as adversidades inerentes ao fazer ciência e à docência no século XXI.

Finalmente, o último artigo a ser analisado nesta revisão de literatura, escrito por Freitas

e Navarro (2019), revelou que os 11 professores da pós-graduação analisados consideravam

que a atribuição de carga horária em sala de aula, principalmente na graduação,

consubstanciava-se como prejudicial para a execução de suas atividades de pesquisa dentro da

universidade. Destarte, criticaram também os cargos administrativos e de gestão, que

intensificam e precarizam o trabalho acadêmico, apontando que a falta de funcionários dentro

das instituições federais de ensino superior torna o labor caótico e sobre-humano. Vale

relembrar que Magnin et al., (2020) também já haviam apontado que as tarefas administrativas

universitárias e a sua permanente burocracia desgastavam o professor da pós-graduação.

Freitas e Navarro (2019) salientam que o trabalho docente adentrou a vida privada

gerando uma sobre-intensificação, ao passo que o capitalismo acelera a vida e a produção da

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mais valia, os docentes se desdobram para sobreviver em uma pós-graduação “mercantilizada”,

conflituosa, contraditória, empreendedora, competitiva, individualista, repleta de vaidade, ego,

ostentação e jogos de poder; que tira o sono, gera sofrimento e adoece, sem o mínimo pudor e

ressentimento.

Considerações finais

O presente estudo, conforme idealizado, buscou mapear o atual estado do conhecimento

relacionado à saúde mental e ao sofrimento psíquico dos professores de programas de pós-

graduação stricto sensu no contexto brasileiro e, assim, através de uma revisão bibliográfica,

analisou artigos científicos publicados entre os anos de 2019 e 2023.

Em síntese, os estudos encontrados revelaram que há uma desvalorização da categoria

docente universitária, que trabalha de maneira precária e sem o devido reconhecimento,

enfrentando, por vezes, uma alienação das relações de trabalho – sustentadas pelo tripé:

flexibilização, intensificação e precarização, baixos salários e aumento crescente da sobrecarga

de trabalho.

Não obstante, enfrenta-se ainda infortúnios como: intensificação do trabalho;

burocratização do ofício; políticas “escravocratas” das agências de fomento à ciência; exigência

de produtividade; competitividade; individualismo; multiplicidade de papéis e exigências;

dificuldades com o atual perfil discente presente nas universidades e cursos de pós-graduação

do país.

Por meio da realização do presente estudo, constatou-se que a temática da saúde mental

e do sofrimento psíquico no contexto da pós-graduação stricto sensu é frequentemente

negligenciada e escassamente abordada, evidenciando a fragilidade e a falta de exploração

desse campo de estudo. Isso é particularmente notável ao considerarmos a escassez de pesquisas

acadêmicas disponíveis para movimentar a discussão científica sobre a saúde mental do docente

na pós-graduação durante o período analisado na revisão (2019 a 2023). Essa lacuna reforça a

carência de pesquisadores dedicados a investigar esse tópico e que possam contribuir para a

sistematização de estudos com vistas a debater o fenômeno do sofrimento psíquico no ambiente

do ensino superior.

Os limites deste estudo incluem a possibilidade de não terem sido buscados estudos

publicados em outras línguas, uma vez que a revisão de literatura se restringiu a trabalhos em

A saúde mental do docente na Pós-Graduação Strictu Sensu: Uma revisão de literatura

Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 9, n. esp. 1, e024017, 2024. e-ISSN: 2177-5060

DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.v9iesp.1.19404 22

língua portuguesa. Para pesquisas futuras, sugere-se ampliar o período de busca e explorar

outras bases de dados para garantir maior abrangência.

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Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 9, n. esp. 1, e024017, 2024. e-ISSN: 2177-5060

DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.v9iesp.1.19404 26

CRediT Author Statement

 Reconhecimentos: Agradecemos especialmente ao Programa de Pós-Graduação em

Educação da Universidade Estadual de Maringá (UEM), por oferecer um ambiente

acolhedor para a prática da ciência. Agradecimento à CAPES pelo financiamento.

 Financiamento: CAPES.

 Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.

 Aprovação ética: Não aplicável.

 Disponibilidade de dados e material: Os dados e materiais empregados neste trabalho

estão acessíveis para consulta nas páginas eletrônicas mencionadas.

 Contribuições dos autores: A primeira autora foi responsável pela pesquisa nos bancos de

dados, análise dos achados e redação do artigo. A segunda autora foi responsável pela

orientação da pesquisa, análise e redação do artigo. A terceira autora, por sua vez, contribuiu

com a análise e redação do artigo.

Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.

Revisão, formatação, normalização e tradução.

Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 9, n. esp. 1, e024017, 2024. e-ISSN: 2177-5060

DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.v9iesp.1.19404 1

THE MENTAL HEALTH OF TEACHERS IN STRICTO SENSU POSTGRADUATE

COURSES: A LITERATURE REVIEW

A SAÚDE MENTAL DO DOCENTE NA PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU: UMA

REVISÃO DE LITERATURA

LA SALUD MENTAL DEL DOCENTE EN LA POSGRADUACIÓN STRICTO SENSU:

UNA REVISIÓN DE LITERATURA

Emanoela Thereza M. de M. GLATZ 1

e-mail: manuglatz@hotmail.com

Solange Franci R. YAEGASHI 2

e-mail: solangefry@gmail.com

Luciana M. CAETANO 3

e-mail: e-mail: lmcaetano@usp.br

How to reference this paper:

GLATZ, E. T. M. de M.; YAEGASCHI, S. F. R.;

CAETANO, L. M. The mental health of teachers in stricto

sensu postgraduate courses: A literature review. Plurais -

Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 9, n. esp. 1,

e024017, 2024. e-ISSN: 2177-5060. DOI:

https://doi.org/10.29378/plurais.v9iesp.1.19404

| Submitted: 20/12/2023

| Revisions required: 20/01/2024

| Approved: 25/01/2024

| Published: 12/07/2024

Editors:

Prof. Dr. Célia Tanajura Machado

Prof. Dr. Kathia Marise Borges Sales

Prof. Dr. Rosângela da Luz Matos

Deputy Executive Editor:

Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz

University of Maringá (UEM), Maringá – PR – Brazil. PhD candidate and Master's degree holder in Education

from the University of Maringá (UEM). Member of the Study and Research Group on School, Family, and Society

(GEPEFS).

University of Maringá (UEM), Maringá – PR – Brazil. Faculty member of the Graduate Program in Education

and the Professional Master's Program in Inclusive Education at the University of Maringá (UEM). Leader of the

Study and Research Group on School, Family, and Society (GEPEFS).

University of São Paulo (USP), São Paulo – SP – Brazil. Faculty member of the Graduate Program in School

Psychology and Human Development at the University of São Paulo (USP). Leader of the Research Group on

Moral Development (GPDM).

The mental health of teachers in stricto sensu postgraduate courses: A literature review