Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 9, n. 00, e024020, 2024. e-ISSN: 2177-5060

DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.v9i00.19361 1

SAÚDE MENTAL E ENSINO MÉDIO INTEGRADO À EDUCAÇÃO

PROFISSIONAL NO BRASIL: CONSTRUINDO O ESTADO DA QUESTÃO

SALUD MENTAL Y EDUCACIÓN SECUNDARIA INTEGRADAS CON LA

EDUCACIÓN PROFESIONAL EN BRASIL: CONSTRUYENDO EL ESTADO DE LA

CUESTIÓN

MENTAL HEALTH AND SECONDARY EDUCATION INTEGRATED WITH

PROFESSIONAL EDUCATION IN BRAZIL: CONSTRUCTING THE STATE OF THE

ISSUE

Francisca Rejane Bezerra ANDRADE1

e-mail: rejane.bezerra@uece.br

Grayceane Gomes da SILVA2

e-mail: grayceane.silva@aluno.uece.br

Como referenciar este artigo:

ANDRADE, F. R. B.; SILVA, G. G. da. Saúde Mental e

Ensino Médio Integrado à Educação Profissional no Brasil:

construindo o estado da questão. Plurais - Revista

Multidisciplinar, Salvador, v. 9, n. 01, e024020, 2024. e-

ISSN: 2177-5060. DOI:

https://doi.org/10.29378/plurais.v9i00.19361

| Submetido em: 17/12/2023

| Revisões requeridas em: 20/01/2024

| Aprovado em: 19/03/2024

| Publicado em: 02/12/2024

Editoras:

Profa. Dra. Célia Tanajura Machado

Profa. Dra. Kathia Marise Borges Sales

Profa. Dra. Rosângela da Luz Matos

Editor Adjunto Executivo:

Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz

Doutora em Educação (USP). Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação e do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas

da Universidade Estadual do Ceará.

Mestre em Educação (UFC). Doutoranda em Políticas Públicas na Universidade Estadual do Ceará.

Saúde Mental e Ensino Médio Integrado à Educação Profissional no Brasil: construindo o estado da questão

Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 9, n. 00, e024020, 2024. e-ISSN: 2177-5060

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RESUMO: Este artigo trata da saúde mental dos jovens e sua relação com o ensino médio

integrado à educação profissional no Brasil. Tendo por objetivo conhecer os estudos produzidos

em torno da temática, realizou-se o Estado da Questão através do levantamento bibliográfico

nos bancos de dados Scielo, Google Acadêmico, CAPES periódicos e Biblioteca Digital

Brasileira de Teses e Dissertações, no período de 2010 a 2021, o que permitiu identificar oito

produções que versam sobre o tema. Observou-se que os estudos, em sua maioria, apresentam

uma abordagem quantitativa com análise de testes aplicados aos estudantes, apontando a

mensuração dos níveis de estresse, ansiedade, depressão, bem como promovem relações com o

rendimento escolar dos estudantes. Os resultados convergem para a compreensão de que a

instauração de uma racionalidade de caráter neoliberal na política educacional brasileira

favorece um mal-estar nos estudantes, decorrente da ansiedade e do estresse em que estes são

expostos.

PALAVRAS-CHAVE: Racionalidade Neoliberal. Política Pública. Educação Brasileira.

Avaliação. Desempenho.

RESUMEN: Este artículo aborda la salud mental de los jóvenes y su relación con la educación

secundaria integrada a la educación profesional en Brasil. Con el objetivo de comprender los

estudios producidos en torno al tema, el Estado de la Cuestión se realizó a través de un

levantamiento bibliográfico en las bases de datos Scielo, Google Scholar, periódicos CAPES y

Biblioteca Digital Brasileña de Tesis y Disertaciones, de 2010 a 2021, lo que permitió

identificar ocho producciones que aborden el tema. Se observó que los estudios, en su mayoría,

presentan un enfoque cuantitativo con análisis de pruebas aplicadas a los estudiantes,

destacando la medición de niveles de estrés, ansiedad, depresión, además de promover

relaciones con el rendimiento académico de los estudiantes. Los resultados convergen a la

comprensión de que el establecimiento de una racionalidad neoliberal en la política educativa

brasileña favorece el malestar de los estudiantes, resultante de la ansiedad y el estrés al que

están expuestos.

PALABRAS CLAVE: Racionalidad Neoliberal. Política Pública. Educación Brasileña.

Evaluación. Actuación.

ABSTRACT: This paper deals with the mental health of young people and its relationship with

Secondary Education integrated with professional education in Brazil. Aiming to understand

the studies produced around the topic, the State of the Question was carried out through a

bibliographic survey in the Scielo, Google Scholar, CAPES periodicals, and Brazilian Digital

Library of Theses and Dissertations databases from 2010 to 2021, which allowed the

identification of eight productions that deal with the topic. It was observed that the studies, for

the most part, present a quantitative approach with analysis of tests applied to students,

pointing out the measurement of levels of stress, anxiety, and depression, as well as promoting

relationships with students' academic performance. The results converge to the understanding

that the establishment of neoliberal rationality in Brazilian educational policy favors

discomfort in students, resulting from the anxiety and stress to which they are exposed.

KEYWORDS: Neoliberal Rationality. Public Policy. Brazilian Education. Performance.

Francisca Rejane Bezerra ANDRADE; Grayceane Gomes da SILVA

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Introdução

O cenário global tem contribuído para a instauração de uma racionalidade de caráter

neoliberal (Dardot; Laval, 2016) na política educacional brasileira, a qual envolve a gestão por

resultados e a responsabilização de professores e estudantes para o alcance de índices

satisfatórios nas avaliações externas. Evidencia-se que essas avaliações, por serem mecanismos

de mensuração do nível de conhecimento adquirido pelos estudantes no mundo, demarcam

comparativamente a superioridade de determinadas escolas, estados e nações quanto à

aquisição de conhecimentos pelos estudantes.

Desse modo, a partir das proposições de Dardot e Laval (2016), que remetem a uma

racionalidade neoliberal que estende o modo de organização empresarial aos demais campos da

sociabilidade, como a política, as relações sociais, as políticas públicas e a organização do

Estado, compreende-se que a Educação, enquanto política pública de caráter social, tem sofrido

influência dessa racionalidade. Assim, a Educação se torna um meio de formação para o

trabalho laboral e de internalização do pensamento neoliberal, o qual objetiva a ampliação da

individualidade dos sujeitos em nome da competitividade, em detrimento da solidariedade

coletiva. Ao passo em que essa racionalidade traz o viés de competitividade e produtividade

para a Educação, também favorece um mal-estar nos estudantes, decorrente da ansiedade e do

estresse em que são expostos para a obtenção de resultados de excelência nas avaliações.

Tal conjuntura se faz presente na política educacional brasileira, abrangendo seus níveis

e suas modalidades de ensino. Por exemplo, enquanto modalidade de ensino, a educação

profissional surge da necessidade de garantir uma qualificação aos trabalhadores de forma

instrumental, sendo difundida e expandindo-se por todo o mundo a partir do modelo de

produção taylorista e fordista. Hoje, a educação profissional no Brasil é estruturada através da

oferta de cursos em instituições privadas e no sistema público. A partir do Decreto n.º

5.154/2004 (Brasil, 2004) e dos incentivos financeiros do Programa Brasil Profissionalizado

a oferta do ensino médio integrado à educação profissional ganhou centralidade no sistema

público, tendo como perspectiva o princípio educativo do trabalho e a integração entre os

conhecimentos técnicos e propedêuticos para uma formação integral.

Nestes termos, observa-se que as famílias e os jovens depositam suas expectativas de

melhores condições de vida ao acessarem uma escola que oferece o Ensino Médio integrado à

O Programa Brasil Profissionalizado foi instituído pelo Decreto n. 6.302, de 12 de dezembro de 2007, com o

objetivo de: “[...] estimular o ensino médio integrado à educação profissional, enfatizando a educação científica e

humanística, por meio da articulação entre formação geral e educação profissional no contexto dos arranjos

produtivos e das vocações locais e regionais” (Brasil, 2007).

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educação profissional, empenhando-se, assim, em todos os esforços necessários para alcançar

sucesso nas avaliações e nas experiências de estágio. Diante desses esforços, surge a seguinte

indagação: de que maneira as reformas para o alinhamento da gestão educacional e o

direcionamento pedagógico em escala global influenciam a organização do Ensino Médio

integrado à educação profissional nas escolas brasileiras e induzem a busca por desempenho,

impactando a sociabilidade e a saúde mental dos jovens estudantes?

Para subsidiar a busca por responder à indagação acima, objetiva-se conhecer os estudos

já realizados no Brasil em torno da temática. Para tal fim, pretende-se proceder com a realização

do Estado da Questão, que segundo Nóbrega-Therrien e Therrien (2004, p. 7) tem: “A

finalidade [...] de levar o pesquisador a registrar, a partir de um rigoroso levantamento

bibliográfico, como se encontra o tema ou o objeto de sua investigação no estado atual da

ciência ao seu alcance”. Nestes termos, a elaboração do Estado da Questão proporciona uma

melhor aproximação do pesquisador com o tema em evidência, a fim de que se possa aprofundar

conhecimentos e identificar como o tema tem sido estudado nas pesquisas anteriormente

realizadas.

Por fim, importa evidenciar que, a partir de um sistemático levantamento bibliográfico,

o presente estudo permitiu identificar as pesquisas, tendências e demandas de aprofundamento

sobre a temática da saúde mental dos jovens e o ensino médio integrado à educação profissional

no Brasil. Na sequência, situam-se as circunstâncias em que o tema se constitui na produção

científica brasileira e, no tópico posterior, centra-se na abordagem sobre a situação atual das

pesquisas sobre o assunto.

Reformas educacionais, avaliação em larga escala e a formação social e subjetiva dos

estudantes: apontamentos críticos

As políticas educacionais são perpassadas pelas relações internacionais e, segundo

Amaral (2010), as ações não são impostas de um país para outro, mas os debates convergem de

forma a refletir para um regime internacional de educação, cujos elementos constitutivos

envolvem princípios, normas, regras e procedimentos considerados estratégicos para resolver

determinadas problemáticas. Diante de tal configuração, segundo Amaral (2010), constituíram-

se acordos internacionais entre países a partir de tratados e convenções que ditam as orientações

de como alcançar melhores níveis educacionais e os conhecimentos necessários para o

desenvolvimento pessoal, econômico e social. Desse modo, ao longo das duas últimas décadas,

Francisca Rejane Bezerra ANDRADE; Grayceane Gomes da SILVA

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os países implementaram reformas para o alinhamento da gestão educacional e direcionamento

pedagógico em escala global, como indica Amaral (2010):

[...] os debates atuais sobre a reforma dos sistemas de educação indicam

internacionalmente um nível elevado de similaridade. As linhas ao longo das

quais são discutidas e implementadas as reformas são praticamente as mesmas

em escala global: mudança do foco (antes no input e agora no output das

instituições de ensino e dos docentes), o paradigma da eficiência e eficácia,

descentralização da gestão, a introdução de mecanismos de mercado,

avaliação e benchmarking das instituições são alguns dos elementos das

reformas e políticas educacionais não somente no Brasil, mas também na

maior parte dos países (Amaral, 2010, p. 50).

Esse processo implica também no direcionamento para uma visão utilitarista da

educação voltada para os interesses econômicos, de eficiência e eficácia para o

desenvolvimento nacional dos países. Por conseguinte, as mudanças no modo de produção

exigem novos conhecimentos teóricos e práticos que acompanhem a inovação e as mudanças

tecnológicas, repercutindo em novas demandas de escolarização da população.

Sobre o regime internacional de educação, Amaral (2010, p. 50) pontua que este é

resultado da relação “[...] entre elementos cognitivos (princípios, normas e valores) e novos

agentes (organismos internacionais, ONGs etc.) em novos contextos sociais”. Tais elementos

cognitivos são imbuídos por uma racionalidade que busca imprimir maior eficiência nos

processos educacionais aos moldes do mercado, e ainda uma versão social dessa racionalidade

a partir do debate da democratização do acesso à educação e de sua qualidade e utilidade para

a sociedade e para as pessoas.

A partir da globalização das relações sociais e econômicas no mundo, os países em

desenvolvimento são influenciados a adotar ações neoliberais. Dentre as medidas orientadas,

Lopes e Caprio (2008) destacam a definição de políticas e prioridades com base na análise

econômica, que estabelecem uma correlação de custo-benefício dos investimentos a partir dos

retornos em produtividade dos indivíduos à sociedade. Considerando tal medida, destaca-se que

Alves e Moraes (2006), em análise sobre o toyotismo e a reestruturação produtiva, reiteram a

captura da subjetividade dos trabalhadores e asseveram:

[...] é importante destacar que a nova subjetividade do trabalho é constituída

por um processo complexo que articula instâncias da produção e da

reprodução social e a subjetividade de classe do trabalho articulada pelo

toyotismo é uma subjetividade clivada, dividida entre a dimensão

racionalizante e irracional da vida social. É esta esquizofrenia do capitalismo

global que permite a constituição na instância da produção de uma suposta

nova subjetividade do trabalho, "capturada" pelos valores empresariais

(Alves; Moraes, 2006, p. 112).

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Contribuindo com tais reflexões, Alves, Moreira e Puziol (2009) afirmam que para a

incorporação do ideário neoliberal e maior adaptação ao modelo de produção toyotista, as

reformas na educação brasileira se referenciaram na teoria do capital humano, pois partiram do

discurso no qual a qualificação profissional é responsável pelo desenvolvimento de um país.

Na prática, ocorreu o direcionamento ao desenvolvimento de competências como característica

central das mudanças presentes nas reformas educacionais no país. Essas competências estão

em consonância com o debate internacional e as orientações dos organismos multilaterais para

o desenvolvimento econômico das nações. Nas palavras de Alves, Moreira e Puziol (2009):

As políticas educacionais amparadas pela ideologia das competências, que

atuam no estabelecimento de uma pedagogia para a hegemonia do capital,

reproduzem a nova ordem do capitalismo flexível, eixo da formação

profissional. O poder da ideologia das competências é intenso e por meio dos

conceitos: empregabilidade, flexibilização e desregulamentação, promovem-

se a adequação da educação a essa nova realidade. [...] (p. 51).

Considerando o exposto, a avaliação dos conhecimentos dos estudantes, realizada por

meio de avaliações em larga escala, assume uma posição central enquanto processo de

mensuração quantitativa dos resultados alcançados na educação. A partir desses resultados,

estabelece-se uma competitividade em nível internacional, contabilizando os índices e

conhecimentos considerados relevantes para o desenvolvimento dos países. Dessa forma, a

busca por resultados e bônus para as escolas se assemelha à busca por lucros, em que as boas

notas dos estudantes indicam que o modelo educacional está sendo eficaz, mesmo que o

processo educativo esteja permeado pela responsabilização de professores e estudantes para o

alcance desses resultados. Isso implica que os docentes devem constantemente motivar e

garantir a participação dos alunos nas referidas avaliações, enquanto estes, por sua vez, devem

estudar cada vez mais para alcançar notas satisfatórias, as quais são tomadas como parâmetro

de sucesso escolar.

Essa configuração pedagógica, baseada na busca por maior desempenho dos estudantes

a partir da lógica de mensuração de resultados qualitativos em métricas, que insere as escolas e

seus alunos em uma competitividade local, nacional e global, também gera nos envolvidos a

ideia de uma busca constante por resultados positivos, de acordo com os padrões estabelecidos

pelos modelos atuais de organização do ensino. Diante desse cenário, é imperativo centrarmos

nossa atenção nas consequências desse processo para a formação social e subjetiva dos

estudantes.

Francisca Rejane Bezerra ANDRADE; Grayceane Gomes da SILVA

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O contexto atual leva ao entendimento de que ao indivíduo é exigido um alto

desempenho e produtividade, os quais passam a ser considerados sinônimos de sucesso pessoal

e profissional. Por meio da construção subjetiva de que a meritocracia e a busca por mais

desempenho proporcionam maior possibilidade para o alcance de melhores condições de vida,

os indivíduos são envolvidos em um contexto contínuo de busca e manutenção da

produtividade.

Ao analisar o contexto escolar na forma como tem se constituído, observa-se a

legitimação das avaliações de desempenho dos estudantes como elemento central na gestão por

resultados, em que há uma mobilização voltada para o incentivo à participação dos alunos e ao

alcance de boas notas, visando o reconhecimento tanto dos estudantes quanto das escolas, por

meio do desempenho em avaliações em larga escala.

Esta realidade imprime à educação o papel de formação do sujeito neoliberal. Segundo

Dardot e Laval (2016), os indivíduos são incentivados a associar, na construção da sua

subjetividade, os dispositivos de gozo e desempenho que se constituem em “[...] mecanismos

diversificados de controle, avaliação, incentivo e participação de todas as engrenagens da

produção, de todos os modos de consumo, de todas as formas de relações sociais” (p. 362). À

face do exposto, procede-se com a análise dos estudos catalogados que resultaram na produção

do presente artigo.

Saúde mental dos jovens e o modelo educacional de Ensino Médio integrado à Educação

Profissional no Brasil: o estado das pesquisas sobre o tema

O presente Estado da Questão foi desenvolvido a partir de pesquisas nos bancos de

dados acadêmicos de maior reconhecimento e utilização no Brasil. Especificamente, foram

investigadas as produções disponíveis no SciELO, Google Acadêmico, CAPES Periódicos e

Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD). Ressalta-se que a pesquisa nos

referidos bancos de dados ocorreu no período de 20 de março a 31 de julho de 2021, durante o

qual foram realizadas as buscas e a seleção das produções com base nos descritores definidos

para a pesquisa.

A escolha dos descritores teve como objetivo alcançar os fins estabelecidos para este

Estado da Questão. Dessa forma, os descritores selecionados foram: 1- Educação Profissional

and neoliberalismo; 2 – Educação Profissional and saúde mental; 3 - Educação Profissional and

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juventude; 4 – Neoliberalismo and saúde mental; 5 – Educação profissional and saúde mental

and juventude. Destaca-se que, em quase todos os descritores, optou-se por incluir o termo

“educação profissional”, com exceção do descritor 4, que não o contém. Essa decisão foi

tomada para evitar que outras combinações, sem a delimitação explícita do foco em educação

profissional, resultassem em achados dispersos em relação ao tema central.

Ademais, o uso de aspas foi principalmente adotado no Google Acadêmico devido à

limitação de filtros disponíveis e à variedade de tipos de trabalhos acadêmicos (artigos de

revistas, anais de eventos, monografias, dissertações, teses, livros), o que gerou um grande

volume de produções. Também foram utilizadas aspas no Periódico CAPES com o intuito de

refinar a busca nos descritores 3 e 4, visando selecionar publicações mais relevantes ao tema.

O recorte temporal das produções abrangeu o período de 2010 a 2021, escolhido pela

possibilidade de análise mais aprofundada sobre as conformações do Ensino Médio integrado

à Educação Profissional, especialmente após a retomada desse modelo de ensino com o Decreto

n.º 5.154, de 23 de julho de 2004. Considerou-se que, a partir de 2010, as produções

oferecessem uma análise mais detalhada sobre a implementação desse modelo de ensino no

Brasil. Quanto ao idioma, optou-se pelo português, com o intuito de investigar exclusivamente

as experiências brasileiras, já que o foco do estudo era a realidade dos estudantes submetidos

ao modelo brasileiro de Ensino Médio integrado à Educação Profissional.

Com os descritores e filtros definidos, as buscas foram organizadas por descritores e

bancos de dados, destacando as formas de pesquisa e filtros utilizados. Importante frisar que os

links das buscas foram salvos para consultas posteriores. A pesquisa foi delineada com base na

seleção das produções, primeiramente pelos títulos e, em seguida, pela leitura dos resumos. A

leitura dos resumos foi realizada com base na escolha dos títulos mais alinhados à temática,

sendo esse trabalho feito de forma concomitante, já que boa parte dos resultados não se

relacionava diretamente com o tema de interesse. A leitura dos resumos possibilitou uma maior

aproximação com os temas das produções catalogadas, proporcionando uma visão ampliada do

que tem sido pesquisado sobre o tema no contexto nacional.

Durante esse processo, foram selecionadas um total de 38 (trinta e oito) produções. Após

a leitura dos resumos e das considerações finais dessas produções, concluiu-se que apenas 8

(oito) artigos estavam diretamente relacionados à temática da saúde mental de estudantes e à

vivência no Ensino Médio integrado à Educação Profissional. Além disso, observou-se que 7

(sete) desses estudos foram publicados nos anos de 2019 e 2020, indicando que o tema tem

despertado atenção crescente dos pesquisadores. Com isso, procedeu-se à análise qualitativa

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das produções catalogadas sobre a saúde mental de estudantes no contexto do Ensino Médio

integrado à Educação Profissional.

As contribuições das produções científicas sobre o tema da Saúde Mental dos Estudantes

do Ensino Médio Integrado à Educação Profissional no Brasil

Como destacado acima, dentre as produções catalogadas, 8 (oito) indicaram

aproximação com o tema da saúde mental dos estudantes do ensino médio integrado à educação

profissional. Dentre elas, selecionou-se o artigo intitulado Adoecimento Mental na Educação

profissional e Tecnológica: o que pensam os estudantes concluintes de cursos técnicos

integrados, produzido por Pacheco, Nonenmacher e Cambraia (2020). Tal artigo apresenta uma

análise sobre a saúde mental dos jovens estudantes do ensino médio integrado à educação

profissional em um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IF), levantando

aspectos do âmbito acadêmico que repercutem sobre o adoecimento dos estudantes.

O estudo de Pacheco, Nonenmacher e Cambraia (2020) se destaca em relação aos

demais por adotar uma abordagem qualitativa ao tratar das demandas apresentadas pelos

estudantes, uma vez que a maioria dos estudos sobre o tema se concentra, sobretudo, em

análises quantitativas de testes aplicados para mensurar níveis de estresse, ansiedade e

depressão em jovens e adolescentes, sem um aprofundamento subjetivo das problemáticas

vivenciadas pelos sujeitos pesquisados.

Segundo os referidos autores, o objetivo do estudo foi “[...] investigar possíveis fatores

de sofrimento/adoecimento mental relacionados ao contexto escolar de estudantes concluintes

de três cursos de ensino médio integrado à educação profissional e tecnológica de um Campus

do Instituto Federal Farroupilha” (Pacheco; Nonenmacher; Cambraia, 2020, p. 2). Os sujeitos

da pesquisa foram estudantes matriculados em um campus do IF de Farroupilha, descritos pelos

autores como:

[...] estudantes do terceiro ano do ensino médio integrado da educação

profissional e tecnológica nos cursos Técnicos em Administração, em

Agropecuária e em Manutenção e Suporte em Informática do Instituto Federal

Farroupilha - Campus São Vicente do Sul (IFFar - Campus São Vicente do

Sul). A população de estudantes do último ano dos três cursos é de 245 alunos,

distribuídos em duas turmas do curso Técnico em Administração (A e B),

quatro turmas do Curso Técnico em Agropecuária (A, B, C e E) e duas turmas

do curso Técnico em Manutenção e Suporte em Informática (A e B),

totalizando oito turmas (Pacheco; Nonenmacher; Cambraia, 2020, p. 3).

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Por sua vez, a metodologia de pesquisa consistiu na utilização de abordagem qualitativa,

a partir da perspectiva de maior aproximação com as vivências subjetivas. O método utilizado

foi o estudo de caso, e para a coleta de dados, os pesquisadores utilizaram o questionário com

questões fechadas e abertas. Ao final da aplicação dos questionários e análises, foram

selecionados 87 questionários, que passaram a ser analisados através do método de Análise de

Conteúdo.

Ao suscitarem a discussão sobre os fatores que proporcionam estresse e ansiedade nos

estudantes no processo de adaptação e vivência do percurso escolar no ensino médio integrado

à Educação Profissional, os autores destacam que os estudantes pesquisados apresentam uma

visão clara de que o contexto escolar, de certa forma, também tem proporcionado situações que

comprometem a sua saúde mental. Sobre o tema, os resultados da pesquisa revelaram que 83%

dos estudantes responderam que as experiências da vida escolar podem causar sofrimento ou

prejuízos ao bem-estar físico e emocional. Assim, os pesquisadores concluem que:

Conforme a percepção dos estudantes, foram identificados como possíveis

fatores causadores de sofrimento ou prejuízos ao bem-estar: dificuldades de

adaptação à instituição, dificuldades de relacionamento, bullying e pressão por

bom desempenho escolar. Considera-se que os fatores citados se constituem

como grupos de fatores, que se desdobram em outros, como será possível

verificar ao longo do texto (Pacheco; Nonenmacher; Cambraia, 2020, p. 8).

Destarte, os autores trazem o tema sobre a sobrecarga de trabalho para os estudantes,

ressaltando o volume de conteúdos presentes nos componentes curriculares, atrelados às

situações de convivência familiar e escolar. Além disso, ressaltam a exigência por bom

desempenho que vem de si, dos pais e da própria organização escolar. Nesse ínterim, os autores

evidenciam que a estrutura curricular dos cursos apresenta disciplinas dos componentes básico,

politécnico e tecnológico, com horas de estágio e de atividades complementares, cujas cargas

horárias dos cursos frequentados pelos sujeitos pesquisados variam entre 3.100 e 3.400 horas

distribuídas nos três anos de Ensino Médio. Diante desse contexto, os autores ressaltam que:

O elevado número de componentes curriculares resulta em carga horária

elevada e grande número de trabalhos extraclasse. Condição que pode ser

agravada se não houver, de fato, integração curricular e trabalho articulado

entre os componentes curriculares (Pacheco; Nonenmacher; Cambraia, 2020,

p. 10).

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Na sequência, os autores mencionados refletem sobre o fato de os estudantes relatarem

que dedicam muitas horas aos estudos, queixando-se do excesso de atividades, da ansiedade em

relação ao desempenho em provas e tarefas, da redução das horas de sono e do tempo dedicado

ao convívio social. Diante desse contexto, os entrevistados mencionam uma vivência de

sofrimento na busca por um desempenho satisfatório, o que indica a necessidade de maior

atenção e suporte para esses jovens, considerando as possíveis consequências do agravamento

dessa situação.

Os autores ressaltam ainda que o apoio familiar, de colegas, professores e psicólogos

exerce um papel protetor sobre os estudantes, proporcionando-lhes bem-estar. Assim,

reafirmam que o tempo destinado ao convívio social é fundamental para a saúde mental e o

desenvolvimento saudável dos estudantes, sendo a garantia desse convívio social um

componente essencial do processo formativo. De acordo com os relatos dos entrevistados, em

diversos momentos, o tempo destinado ao convívio social tem sido utilizado para os estudos,

visando à melhoria do desempenho. Nas palavras de Pacheco, Nonemmacher e Cambraia

(2020):

A dificuldade de adaptação à Instituição, neste estudo, motivada pela distância

da família e excessiva carga horária e de trabalhos, aponta a relação de

características e atividades dos cursos técnicos integrados da EPT com

situações de sofrimento ou adoecimento dos estudantes, o que exige da

Instituição ações efetivas de enfrentamento. No entanto, não é possível afirmar

que os possíveis fatores são exclusivamente escolares, mas interdependentes

e interligados a fatores de outras naturezas, pessoal, familiar,

socioeconômicos, entre outros. Por isso, incentivamos a ampliação das

pesquisas em vários aspectos relacionados ao tema, para que, a partir de novos

conhecimentos seja possível desenvolver formas de enfrentamento das

problemáticas relacionadas à saúde mental dos estudantes de forma mais

efetiva (p. 22-23).

Como refletido pelos autores, o processo de sofrimento mental é multifatorial, sendo

necessário que os profissionais, que atuam nos ambientes nos quais os estudantes frequentam

cotidianamente, estejam atentos às relações entre as pessoas e a oferta de condições de bem-

estar físico e mental aos jovens.

Em suma, o artigo de Pacheco, Nonenmacher e Cambraia (2020) apresenta elementos

que sinalizam para a sobrecarga de horas de estudos como fator de risco para o adoecimento

mental de jovens estudantes. Para conseguir conciliar o aprendizado de disciplinas da base

comum do Ensino Médio com os conteúdos da área técnica, os jovens necessitam dedicar

bastante tempo para os estudos, além do período integral de aulas na escola durante a semana.

Essa realidade aponta para uma centralidade no trabalho, que tem exigido dedicação e tempo

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dos indivíduos já no período escolar, o que pode estar causando precocemente estresse e

esgotamento físico e mental nos estudantes.

Dando sequência às análises das produções sobre a temática, inferimos que o Estudo da

condição de Saúde Mental do Estudante do IFS, de autoria de Gomes et al. (2019), foi realizado

com estudantes matriculados no ensino médio integrado e com estudantes do ensino técnico

subsequente do Instituto Federal de Sergipe (IFS). Para tanto, segundo os pesquisadores, foram

aplicados questionários através do Google Forms. Ressalta-se que os resultados do referido

estudo contribuíram para:

[...] mapear e elencar as demandas de saúde mental de estudantes da educação

profissional e tecnológica, especificamente do Instituto Federal de Sergipe,

permitindo assim constatar questões já identificadas pelos profissionais da

psicologia nos acompanhamentos dos estudantes, como também, identificar

novas demandas. Diante disso, vê-se como necessário pensar estratégias para

novas intervenções em busca da prevenção e promoção relativas à saúde

mental dos estudantes do IFS [...] (Gomes et al., 2019, p. 511).

Ainda segundo os pesquisadores, dentre os sentimentos identificados nos estudantes do

ensino médio do IFS, destacaram-se: nervosismo, preocupação, tristeza, alterações no sono,

dores de cabeça frequentes, sensação de cansaço frequente, dificuldades para tomada de

decisão, os quais interferem no desempenho escolar dos envolvidos. Além de que, os

respondentes apontaram questões de ordem emocional, financeira e de relações interpessoais.

Para os autores:

Todo esse quadro também corrobora com Carlotto e Camara (2008), o qual

aponta que quanto mais jovens os estudantes, maior é a exaustão emocional,

lembrando que em nosso estudo a maior parte da amostra é de jovens.

Destacamos ainda como fatores que contribuem com o estresse, o peso da

carga horária e o número de disciplinas, diante da elevação do volume de

trabalhos, leituras e avaliações, corroborando com os resultados das pesquisas

desses autores (Gomes et al., 2019, p. 51).

Coadunando com o contexto descrito no estudo de Gomes et al., a tese de doutorado de

Nascimento (2016) intitulada Fatores emocionais e de saúde mental: avaliação de alunos de

uma escola pública federal visando ações de promoção e prevenção no ambiente escolar,

objetivou: “Investigar a presença de alterações emocionais e de saúde mental em adolescentes

do Ensino Médio de uma escola pública federal que possam indicar algum nível de desconforto

emocional ou sofrimento psíquico capaz de interferir no processo de aprendizagem”

(Nascimento, 2016, p. 20). Para tanto, Nascimento realizou um estudo com 94 alunos

voluntários, que estavam matriculados nas três séries do ensino médio do Colégio Politécnico

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da Universidade Federal de Santa Maria (RS). Sobre a realização da pesquisa com os

estudantes, Nascimento (2016) aponta que:

[...] 94 aceitaram participar da pesquisa e responderam ao instrumento SRQ-

20 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE - OMS, 1994). Após a

tabulação dos dados identificamos 42 do sexo feminino e 52 do sexo

masculino com idades variando entre 12 e 19 anos e todos os solteiros. Sendo

que num total de 30 alunos do 1º ano 7 alunos pontuaram um escore acima de

7; no 2º ano de um total de 30 que responderam ao instrumento 14 pontuaram

um escore acima de 7; e do 3º ano de um total de 34 alunos que responderam

ao instrumento 10 pontuaram um escore acima de 7, totalizando um número

de 31 alunos do total de 94 da amostra com escore acima do Ponto de Corte

estabelecido para o SRQ-20 (Gráfico 1). Considerando-se o Ponto de Corte

estipulado como parâmetro para aplicação do SRQ-20, podemos deduzir que

aproximadamente 23,33% dos alunos do 1º ano, 46,66% dos alunos do 2º ano

e 29,41% dos alunos do 3º ano, o que equivale a um percentual médio de

32,98% da amostra total de 94 alunos. Sendo assim, observa-se que 32,98%

apresentam algum nível de sofrimento psíquico e emocional que podem ser

considerados como portadores de um tipo de Transtornos Psíquicos Menores

ou Transtornos Mentais Menores (TPM/TMM) (p. 72 – Grifos nossos).

Em dado momento de seu estudo, Nascimento (2016) aborda o desempenho dos alunos

da escola pesquisada, informando que essa escola liderava, pelo terceiro ano consecutivo, o

ranking entre todas as escolas do estado do Rio Grande do Sul, do Exame Nacional do Ensino

Médio (ENEM). Em sua conclusão, o pesquisador ressalta a necessidade de promover ações

voltadas à saúde dos estudantes a partir da escola, por esta ser um espaço privilegiado para

sociabilidade de adolescentes.

Identificamos outro estudo que disserta sobre a promoção de ações em torno da saúde

mental de estudantes da educação profissional e tecnológica. O referido estudo é resultante da

conclusão de mestrado de Prado (2019), o qual tem como título: É possível falar sobre suicídio

na escola? A construção de um material educativo a partir do contexto da educação

profissional e tecnológica. O trabalho é uma cartilha que, segundo a autora, “[...] visa contribuir

com informações sobre o comportamento suicida, especialmente para profissionais que atuam

no ambiente escolar, no intuito de diminuir o estigma sobre o assunto e contribuir na prevenção

do suicídio de estudantes” (p. 3).

Supracitada autora, ao abordar os fatores de risco para o suicídio, ressalta que:

Não existe uma causa “única” para o comportamento suicida! Na verdade,

diversos fatores interagem para o seu desenvolvimento, entre os quais se

destacam: as características da história de vida pessoal e familiar, a influência

genética, as questões culturais e socioeconômicas, as situações estressantes

para a pessoa, alguns traços de personalidade e a presença de transtornos

mentais, entre outros (Prado, 2019, p. 9).

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Por conseguinte, ao elaborar sua dissertação de mestrado intitulada Formação de

professores para identificação de fatores de risco associados ao suicídio na adolescência, Silva

(2020) busca analisar as possibilidades e limitações de realizar um trabalho com um grupo de

professores do ensino médio de uma escola no interior do estado de São Paulo, com o objetivo

de capacitá-los a identificar adolescentes em risco de cometer suicídio. Para tanto, o autor

apresenta os fundamentos conceituais sobre adolescência e sobre suicídio,

[...] onde são mostrados os aspectos conceituais sobre a adolescência e sobre

o suicídio na perspectiva Bioecológica, destacando-se as contribuições

teóricas de Urie Bronfenbrenner sobre o desenvolvimento humano. Os

resultados indicaram que essa teoria possibilita uma compreensão

contextualizada em relação ao suicídio na adolescência, tendo em vista o

estudo das inter-relações dos fatores pessoais, interpessoais e socioculturais

que influenciam o comportamento suicida na adolescência (Silva, 2020, p. 7).

Na sequência, Silva (2020) realiza uma pesquisa através da aplicação de um

questionário, para verificar os conhecimentos e as perspectivas de 18 (dezoito) professores do

ensino médio de uma escola do interior do estado de São Paulo sobre o processo de identificação

de fatores de risco do suicídio na adolescência. Segundo o autor:

Os resultados [...], obtidos por meio da aplicação do Questionário de Atitudes

e Conhecimentos em relação à identificação de fatores de risco associados ao

suicídio na adolescência, evidenciam lacunas em termos de conhecimentos do

suicídio na adolescência. As categorias que demonstraram maiores

necessidades de formação foram: conhecimentos epidemiológicos,

transtornos mentais e comportamentos suicidas, substâncias psicoativas, e

avaliação de risco de suicídio (Silva, 2020, p. 62).

Diante dos achados da pesquisa, o referido pesquisador conclui que “[...] os professores

não possuem o conhecimento necessário sobre o suicídio na adolescência” (Silva, 2020, p. 63),

e propõe um modelo de formação de professores “[...] por intermédio de dinâmicas de grupos,

de exposições teóricas e discussões dos sentimentos e de percepções dos participantes, no

tocante à temática do suicídio na adolescência” (p. 62).

Ao abordar as ações de acompanhamento de estudantes com sintomas de ansiedade no

ambiente escolar, Soares e Almeida (2020), no artigo intitulado Intervenção e manejo de

ansiedade em estudantes do ensino médio integrado, relatam a experiência de intervenção

terapêutica em um grupo de 12 estudantes do Ensino Médio Integrado do Instituto Federal do

Norte de Minas Gerais – Campus Januário. A intervenção foi baseada na Terapia Cognitivo-

Comportamental (TCC) e utilizou, segundo as autoras, “[...] da escala de avaliação da ansiedade

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de Hamilton – HAM - A como instrumento de coleta de dados e de avaliação da intervenção

realizada” (Soares; Almeida, 2020, p. 1).

O estudo revelou que os estudantes participantes da intervenção apresentavam diversos

sintomas físicos e emocionais relacionados à ansiedade, destacando-se entre tais sintomas “[...]

o humor ansioso, sintomas autonômicos, tensão e sintomas cardiovasculares” (Soares; Almeida,

2020, p. 1). om base nesses resultados, as pesquisadoras realizaram sessões de manejo da

ansiedade, utilizando técnicas de psicoeducação, reestruturação cognitiva e mudanças

comportamentais com o intuito de reduzir os níveis de ansiedade apresentados pelos

participantes. Após a intervenção, Soares e Almeida (2020) aplicaram novamente a avaliação

de ansiedade de Hamilton, momento em que foi verificada a redução dos níveis de ansiedade e

a melhora em todos os sintomas previamente observados nos estudantes participantes do estudo.

Diante do exposto, as autoras concluem, destacando que:

[...] uma educação que se aproxima de um ideal de Formação Humana Integral

deve trazer em si o desenvolvimento dos estudantes em sua totalidade, visando

à formação de sujeitos críticos e emocionalmente saudáveis. Para isso, é

necessário o desenvolvimento de ações com o objetivo de dar suporte

emocional aos adolescentes/ estudantes durante todo seu processo de

formação educacional e profissional, e assim contribuir com o bem-estar, com

a saúde mental, com a aprendizagem e com a formação humana integral destes

(Soares; Almeida, 2020, p. 19).

Os processos de formação profissional, para além da formação para o trabalho, devem

proporcionar conhecimento de mundo acerca da realidade social que permeia as relações

laborais. Nesta perspectiva, Meireles et al. (2020), através do artigo Trabalho, sofrimento

psíquico e educação profissional: possíveis relações, objetivam analisar “[...] a relação entre o

modo de produção capitalista e o sofrimento psíquico levando em conta a compreensão de como

esta mesma relação está representada em textos de políticas públicas da EPT

acerca da

temática” (Meireles et al., 2020, p. 423).

Para tanto, os autores fomentam o debate sobre o modo de produção capitalista como

gerador de sofrimento psíquico, na medida em que compreendem que a reestruturação

produtiva contribuiu para ampliar a precarização do trabalho e as perdas de direitos trabalhistas,

gerando maior instabilidade financeira e emocional nos trabalhadores.

Desse modo, Meireles et al. (2020) propõem, a partir da função educativa do trabalho,

uma formação escolar no campo profissional e tecnológico baseada na omnilateralidade,

visando proporcionar uma formação humana completa, que inclua o debate sobre as relações

EPT – Educação Profissional e Tecnológica.

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entre o trabalho e a saúde mental, com o objetivo de garantir informações que contribuam para

a prevenção do adoecimento psíquico.

Por fim, mas não menos importante, o estudo de Caponi e Daré (2020) intitulado

Neoliberalismo e Sofrimento Psíquico: A Psiquiatrização dos Padecimentos no Âmbito Escolar

evidencia, a partir dos trabalhos de Dardot e Laval, que os estudantes são incentivados a investir

na obtenção de conhecimentos que os tornem mais competitivos e produtivos. Há, assim, uma

supervalorização daqueles que se adequam ao ritmo considerado padrão para a aquisição de

conhecimentos em cada nível escolar, sendo considerados fracassados aqueles que não

apresentam bom desempenho. Desse modo, é frequentemente atribuído algum diagnóstico

psiquiátrico no campo de déficits cognitivos e de atenção a esses alunos. Diante do exposto, as

problemáticas relacionadas à saúde mental dos estudantes vêm ganhando visibilidade no

contexto educacional, uma vez que interferem diretamente no processo de aprendizagem.

Portanto, a dicotomia entre fracasso e sucesso no ambiente escolar tem se tornado cada

vez mais presente, estando relacionada à adaptação ao novo cenário escolar e à obtenção de

boas notas nos exames, sejam eles de disciplinas comuns ou de avaliações em larga escala. Para

as autoras, esse processo tem gerado inúmeras comparações entre escolas, inclusive entre

estados e países diferentes, sem levar em consideração as diferenças socioeconômicas e

culturais, estabelecendo parâmetros de desempenho a serem alcançados pelos estudantes. Dessa

forma, para Caponi e Daré (2020):

Sob o jugo das imposições do neoliberalismo, os alunos que fracassam são

aqueles que não investiram o suficiente em seu capital humano, que não se

responsabilizaram pelo sucesso de seus projetos individuais, que não

alcançaram os índices estabelecidos fora de suas realidades sociais. Mas

também são aqueles cujas notas nas avaliações fazem os índices educacionais

diminuírem, que desistem de ser competitivos, eficazes e, sobretudo, aqueles

que não alcançam a performance almejada (p. 310).

Isto significa dizer que aqueles que não corresponderem ao que é estabelecido estarão

expostos a rotulações de sucesso e fracasso a partir do desempenho escolar. Nesse caminho,

estabelece-se o processo de incentivo constante à produtividade e competitividade na busca por

excelente desempenho nas avaliações educacionais. Consequentemente, os jovens passam a ser

ainda mais cobrados por estarem se aproximando da idade permitida para o ingresso no mercado

de trabalho.

Destarte, percebe-se que os estudos resultantes do Estado da Questão agora discorrido

buscam, em geral, identificar os níveis de sofrimento psíquico e de transtornos mentais

apresentados pelos jovens. Nesse caminho, indica-se a necessidade de a escola promover ações

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em torno da prevenção do adoecimento mental dos estudantes. No entanto, essa demanda

coexiste com a manutenção de um modelo educacional voltado para as exigências por uma

maior produtividade e competitividade, que também são elementos que contribuem para

ampliar a ansiedade e ocasionar a exaustão física e mental dos jovens.

Considerações finais

Compreende-se que o Estado da Questão favoreceu a identificação das produções

científicas brasileiras que contribuem para ampliar o debate sobre a saúde mental dos jovens e

o ensino médio integrado à educação profissional no Brasil, além de proporcionar um

entendimento sobre como essa temática tem sido abordada pelos pesquisadores no país.

Destaca-se que, durante a busca e catalogação dos trabalhos científicos, foi identificada

uma expressiva produção sobre o ensino médio integrado à educação profissional após a

publicação do Decreto n.º 5.154/2004. Todavia, como previsto, a produção científica sobre a

saúde mental de jovens e sua relação com a vivência escolar foi reduzida, embora seja

perceptível o crescente interesse pelo tema a partir de 2015.

Por fim, observa-se que a maioria dos estudos que investigam a saúde mental dos

estudantes adota uma abordagem quantitativa, com a análise de testes aplicados aos

adolescentes e jovens, com o objetivo de mensurar os níveis de estresse, ansiedade e depressão,

e de correlacionar esses aspectos com o rendimento escolar.

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CRediT Author Statement

 Reconhecimentos: Não aplicável.

 Financiamento: Não aplicável.

 Conflitos de interesse: Não há conflito de interesse.

 Aprovação ética: Não aplicável.

 Disponibilidade de dados e material: Não aplicável.

 Contribuições dos autores: As autoras são responsáveis pela pesquisa, análise e escrita do

artigo.

Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.

Revisão, formatação, normalização e tradução.

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MENTAL HEALTH AND SECONDARY EDUCATION INTEGRATED WITH

PROFESSIONAL EDUCATION IN BRAZIL: CONSTRUCTING THE STATE OF

THE ISSUE

SAÚDE MENTAL E ENSINO MÉDIO INTEGRADO À EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

NO BRASIL: CONSTRUINDO O ESTADO DA QUESTÃO

SALUD MENTAL Y EDUCACIÓN SECUNDARIA INTEGRADAS CON LA

EDUCACIÓN PROFESIONAL EN BRASIL: CONSTRUYENDO EL ESTADO DE LA

CUESTIÓN

Francisca Rejane Bezerra ANDRADE1

e-mail: rejane.bezerra@uece.br

Grayceane Gomes da SILVA2

e-mail: grayceane.silva@aluno.uece.br

How to reference this paper:

ANDRADE, F. R. B.; SILVA, G. G. da. Mental health and

secondary education integrated with professional education

in Brazil: constructing the state of the issue. Plurais -

Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 9, n. 01, e024020,

2024. e-ISSN: 2177-5060. DOI:

https://doi.org/10.29378/plurais.v9i00.19361

| Submitted: 17/12/2023

| Revisions required: 20/01/2024

| Approved: 19/03/2024

| Published: 02/12/2024

Editors:

Prof. Dr. Célia Tanajura Machado

Prof. Dr. Kathia Marise Borges Sales

Prof. Dr. Rosângela da Luz Matos

Deputy Executive Editor:

Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz

Doctoral degree in Education (USP). Professor in the Graduate Program in Education and the Graduate Program in Public Policy at the State

University of Ceará.

Master in Education (UFC). PhD student in Public Policy at the State University of Ceará.

Mental health and secondary education integrated with professional education in Brazil: constructing the state of the issue

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ABSTRACT: This paper deals with the mental health of young people and its relationship with

Secondary Education integrated with professional education in Brazil. Aiming to understand

the studies produced around the topic, the State of the Question was carried out through a

bibliographic survey in the Scielo, Google Scholar, CAPES periodicals, and Brazilian Digital

Library of Theses and Dissertations databases from 2010 to 2021, which allowed the

identification of eight productions that deal with the topic. It was observed that the studies, for

the most part, present a quantitative approach with analysis of tests applied to students, pointing

out the measurement of levels of stress, anxiety, and depression, as well as promoting

relationships with students' academic performance. The results converge to the understanding

that the establishment of neoliberal rationality in Brazilian educational policy favors discomfort

in students, resulting from the anxiety and stress to which they are exposed.

KEYWORDS: Neoliberal Rationality. Public Policy. Brazilian Education. Performance.

RESUMO: Este artigo trata da saúde mental dos jovens e sua relação com o ensino médio

integrado à educação profissional no Brasil. Tendo por objetivo conhecer os estudos

produzidos em torno da temática, realizou-se o Estado da Questão através do levantamento

bibliográfico nos bancos de dados Scielo, Google Acadêmico, CAPES periódicos e Biblioteca

Digital Brasileira de Teses e Dissertações, no período de 2010 a 2021, o que permitiu

identificar oito produções que versam sobre o tema. Observou-se que os estudos, em sua

maioria, apresentam uma abordagem quantitativa com análise de testes aplicados aos

estudantes, apontando a mensuração dos níveis de estresse, ansiedade, depressão, bem como

promovem relações com o rendimento escolar dos estudantes. Os resultados convergem para

a compreensão de que a instauração de uma racionalidade de caráter neoliberal na política

educacional brasileira favorece um mal-estar nos estudantes, decorrente da ansiedade e do

estresse em que estes são expostos.