Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 8, n. 00, e023012, 2023. e-ISSN: 2177-5060
DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.v8i00.18777 1
BRASIL, UM PAÍS DE TODOS? AS FACES DA HOSTILIDADE EM NARRATIVAS
DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS REFUGIADOS
BRASIL, ¿UN PAÍS PARA TODOS? LAS CARAS DE LA HOSTILIDAD EN LAS
NARRATIVAS DE ESTUDIANTES UNIVERSITARIOS REFUGIADOS
BRAZIL, A COUNTRY FOR ALL? THE FACES OF HOSTILITY IN THE
NARRATIVES OF UNIVERSITY STUDENT REFUGEES
Rosanne Machado ROLLO1
e-mail: rosanerollo@gmail.com
Camilo DARSIE2
e-mail: camilodarsie@unisc.br
Mateus Aparecido de FARIA3
e-mail: mateusfaria18@gmail.com
Cristianne Maria Famer ROCHA4
e-mail: rcristianne@gmail.com
Como referenciar este artigo:
ROLLO, R. M.; DARSIE, C.; FARIA, M. A. de; ROCHA,
C. M. F. Brasil, um país de todos? As faces da hostilidade
em narrativas de estudantes universitários refugiados.
Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 8, n. 00,
e023012, 2023. e-ISSN: 2177-5060. DOI:
https://doi.org/10.29378/plurais.v8i00.18777
| Submetido em: 01/09/2023
| Revisões requeridas em: 15/10/2023
| Aprovado em: 07/11/2023
| Publicado em: 20/12/2023
Editoras:
Profa. Dra. Célia Tanajura Machado
Profa. Dra. Kathia Marise Borges Sales
Profa. Dra. Rosângela da Luz Matos
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre RS Brasil. Mestra em Educação.
Pesquisadora do Grupo de Estudos pela Promoção da Saúde da UFRGS.
2
Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Santa Cruz do Sul RS Brasil. Professor do Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade de Santa Cruz do Sul.
3
Instituto René Rachou Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Belo Horizonte MG Brasil. Técnico da Escola
do Legislativo da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Doutorando em Saúde Coletiva pela Fiocruz (MG).
4
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre RS Brasil. Professora do Programa de
Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Brasil, um país de todos? As faces da hostilidade em narrativas de estudantes universitários refugiados
Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 8, n. 00, e023012, 2023. e-ISSN: 2177-5060
DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.v8i00.18777 2
RESUMO: O presente artigo tem como propósito analisar a formação da vivência das
diferenças culturais e as dificuldades de aceitação enfrentadas pelos estudantes refugiados em
uma universidade pública federal. O estudo adota uma abordagem qualitativa e exploratória,
utilizando entrevistas narrativas individuais com os próprios estudantes refugiados. A partir das
narrativas coletadas, observa-se que a hospitalidade condicionada se revela como um obstáculo
marcante na jornada dos refugiados, entrelaçada com lembranças que destacam a presença
persistente do racismo estrutural e da xenofobia. A presença dos migrantes no território
brasileiro, embora em alguns casos seja facilitada por políticas de acesso à universidade, é
impactada por sentimentos como culpa, vergonha e medo, que afetam diretamente suas
estratégias de adaptação e sobrevivência no país. Tais desafios se estendem às esferas do
trabalho, da educação e da saúde. A constante ameaça de extradição permanece latente, tanto
nos discursos e atitudes racistas que permeiam o cotidiano brasileiro quanto nas práticas
institucionais que segregam os corpos considerados “estranhos”.
PALAVRAS-CHAVE: Refugiados. Narrativas. Intolerância. Hospitalidade. Formação
humana.
RESUMEN: El presente artículo tiene como propósito analizar la formación de la experiencia
de las diferencias culturales y las dificultades de aceptación enfrentadas por los estudiantes
refugiados en una universidad pública federal. El estudio adopta un enfoque cualitativo y
exploratorio, utilizando entrevistas narrativas individuales con los propios estudiantes
refugiados. A partir de las narrativas recopiladas, se observa que la hospitalidad condicionada
se revela como un obstáculo significativo en el camino de los refugiados, entrelazada con
recuerdos que resaltan la persistente presencia del racismo estructural y la xenofobia. La
presencia de los migrantes en el territorio brasileño, aunque en algunos casos sea facilitada
por políticas de acceso a la universidad, se ve afectada por sentimientos como culpa, vergüenza
y miedo, que impactan directamente en sus estrategias de adaptación y supervivencia en el
país. Estos desafíos se extienden a los ámbitos del trabajo, la educación y la salud. La constante
amenaza de extradición permanece latente, tanto en los discursos y actitudes racistas que
impregnan el día a día brasileño, como en las prácticas institucionales que segregan a los
cuerpos considerados “extraños”.
PALABRAS CLAVE: Refugiados. Narrativas. Intolerancia. Hospitalidad. Formación
humana.
Rosanne Machado ROLLO; Mateus Aparecido de FARIA; Camilo DARSIE e Cristianne Maria Famer ROCHA
Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 8, n. 00, e023012, 2023. e-ISSN: 2177-5060
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ABSTRACT: The present article aims to analyze the formation of the experience of cultural
differences and the acceptance difficulties faced by refugee students in a federal public
university. The study adopts a qualitative and exploratory approach, using individual narrative
interviews with the refugee students themselves. From the collected narratives, it is observed
that conditioned hospitality emerges as a significant obstacle in the refugees’ journey,
intertwined with memories that highlight the persistent presence of structural racism and
xenophobia. The presence of migrants in the Brazilian territory, although in some cases
facilitated by university access policies, is affected by feelings such as guilt, shame, and fear,
which directly impact their strategies for adaptation and survival in the country. These
challenges extend to the realms of work, education, and health. The constant threat of
extradition remains latent, both in the racist discourses and attitudes that permeate Brazilian
daily life and in institutional practices that segregate bodies considered “foreign”.
KEYWORDS: Refugees. Narratives. Intolerance. Hospitality. Human formation.
Introdução
As migrações contemporâneas ganharam, nos últimos anos, maior visibilidade em
diferentes contextos nacionais, visto que se intensificaram em diferentes regiões do mundo, por
meio de diferentes rotas. Dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
(ACNUR), revelam que no ano de 2021, 89,3 milhões de pessoas foram forçadas a migrar
devido a guerras, conflitos e perseguições, o que representa um crescimento de 8% em relação
à 2020 e bem mais que o dobro de 10 anos atrás.
Ademais, 4,6 milhões de migrantes solicitaram a oficialização da condição de refúgio,
caracterizada por deslocamentos forçados e impossibilidade de retorno, enquanto 27,1 milhões
estavam reconhecidos como refugiados e deslocados, pessoas que foram obrigadas a
migrarem, mas que podem retornar aos locais de origem. Além disso, destaca-se que desde o
fechamento do relatório global de 2021, a guerra russa-ucraniana e outras emergências
humanitárias elevaram para 100 milhões o número de migrantes, o que significa que 1 em cada
78 pessoas na Terra foi forçada a fugir de seu país de origem (Acnur, 2022).
Quanto ao Brasil, no ano de 2021, foram recebidos 29.107 pedidos de reconhecimento
da condição de refúgio. Estes, quando somados aos 268.605 registrados, desde 2011,
totalizaram 297.712 solicitações de permissão para residirem, definitivamente, no país.
Referente ao número de refugiados reconhecidos no país, mais de 60.000 pessoas
oriundas, principalmente, da Venezuela (48.789), Síria (3.682) e Congo (1.078) (Junger et al.,
2022).
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Diante destes números, torna-se relevante que aspectos diversos sejam tensionados,
entre eles os processos de acolhimento dos migrantes. Segundo Giroto e Paula (2020), as
migrações não afetam apenas aqueles que se deslocam geograficamente, mas, também, seus
descendentes e demais pessoas que passam a compor os seus círculos de convívio. Os migrantes
e os refugiados interconectam diferentes localidades do globo, a partir dos encontros que suas
trajetórias oportunizam, colocando em contato diferentes maneiras de ser e estar no mundo,
transformando modos de vida e dinâmicas espaciais (Rocha et al., 2012; Weber; Darsie, 2020).
Para Truzzi e Monsma (2018, p. 20), os fluxos migratórios “reposicionam
geograficamente indivíduos portadores de elementos de história e cultura singulares através de
sociedades diversas, que acabam elas próprias se ressignificando em um processo complexo de
interação social”. Tal complexidade faz com que migrantes e refugiados, muitas vezes, não
sejam bem recebidos, causando sentimentos de incômodo e ansiedade, pois, frequentemente,
são encarados como ameaças econômicas, políticas e culturais. Outras vezes, são simplesmente
invisibilizados ou reconhecidos como necessários ou convenientes, tendo em vista,
especialmente, as relações de trabalho.
De acordo com Ribeiro (2021), pessoas em deslocamento, ao chegarem em novos
países, enfrentam violências relacionadas a práticas de discriminação e ódio. O autor argumenta
que isso ocorre em decorrência da intolerância, que se apazigua ou se intensifica a partir de
diversos atravessamentos culturais e educacionais. Diante disso, é importante ser frisado que a
tolerância, oposto da intolerância, não deve ser confundida com hospitalidade. A hospitalidade
vai além dos limites do tolerável, marcados pela imposição de restrições que afetem a
privacidade dos anfitriões (Derrida, 2004). Pela tolerância, o acolhedor costuma se colocar num
local acima do acolhido, fazendo emergir uma forma de “hospitalidade condicional,
circunspecta e cautelosa” (Derrida, 2004, p. 138).
Os discursos que resultam em uma espécie de concessão condescendente, portanto,
devem ser ouvidos com reserva, pois expressam tolerância e não hospitalidade ou acolhimento,
uma vez que “aceitamos o estrangeiro, o outro, o corpo estranho até certo ponto, e desse modo
com restrições” (Derrida, 2004, p. 137). Nessa perspectiva, Ribeiro (2021) argumenta que se
essa relação pode funcionar como disparadora de intolerância contra a diversidade dentro de
um mesmo território, entre falantes da mesma língua que compartilham os mesmos costumes e
bens culturais, ela se intensifica diante da presença dos migrantes e refugiados que chegam de
outros países, falando diferentes línguas e praticando costumes e valores distintos das
populações autóctones.
Rosanne Machado ROLLO; Mateus Aparecido de FARIA; Camilo DARSIE e Cristianne Maria Famer ROCHA
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Tal realidade convoca a pensar sobre os modos como os discursos que envolvem
migrantes se constituem e se fortalecem. Nesse contexto, o presente artigo analisa a construção
da experiência sobre as diferenças culturais e hostilidades vivenciadas por estudantes
refugiados em uma universidade pública federal do Brasil.
Da Hospitalidade à Hostilidade: estranhos batem à nossa porta
A palavra hospitalidade representa o ato da boa acolhida, porém, pode ser considerada
“uma palavra de origem conturbada e perturbadora”, que desde sua origem pode ser associada
à hostilidade (Derrida, 2000, p. 3). A compreensão da hospitalidade não se resume a uma
simples explicação, pois pode ser entendida e praticada de duas formas: condicionalmente ou
incondicionalmente. No primeiro caso, a aceitação do outro ocorre por meio das balizas do
direito, da política, da antropologia. No segundo, emerge de forma espontânea e absoluta.
Destaca-se aqui um dos principais desafios dos migrantes e refugiados contemporâneos: serem
acolhidos por meio da hospitalidade incondicional. Segundo Lessa Filho e Vieira
[...] a hospitalidade absoluta exige que nos abramos em nosso próprio lar em
nossos territórios, em nossas fronteiras mais profundas e que nos ofereçamos
não ao estrangeiro, como também ao Outro absoluto (Autre absolu),
desconhecido, anônimo, e que ao nos darmos de tal maneira, que o deixemos
vir, que o deixemos chegar e ter um lugar no lugar, que lhe ofereçamos, sem
lhe exigir reciprocidade, nem mesmo o seu nome (Lessa Filho; Vieira, 2020,
p. 248).
Para que haja incondicionalidade, a hospitalidade “não pode pagar uma dívida, nem ser
exigida por um dever” (Derrida, 2003, p. 73), pois se alguém acolhe o outro por obrigação, os
fundamentos da hospitalidade deixam de existir, uma vez que não é ofertada e pensada além da
dívida com quem chega (Lessa Filho; Vieira, 2020). Dessa forma, os migrantes e refugiados
poderão, ou não, contar com gestos de hospitalidade para reconhecerem-se como parte dos
novos lugares que buscam construir. Todavia, ainda assim, são/serão estranhos, o que pode
justificar a fácil passagem da hospitalidade à hostilidade, por exemplo, quando são noticiados
casos de agressões vivenciadas pelos migrantes no país (Rosa, 2019).
O que torna impiedosa a lógica da acolhida, como adverte Derrida (2000), é que a ideia
de hospitalidade muitas vezes está condicionada a direitos, dívidas, obrigações, fazendo com
que aquele que recebe, hospeda ou dá asilo permaneça na posição de comando, fato que anula
a incondicionalidade. Dessa forma, diante da impossibilidade de alcançar uma versão ideal de
Brasil, um país de todos? As faces da hostilidade em narrativas de estudantes universitários refugiados
Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 8, n. 00, e023012, 2023. e-ISSN: 2177-5060
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acolhimento, a chegada do outro é condicionada à hospitalidade de direito, a qual é regulada
pelas leis do Estado que estabelecem as posições de estrangeiro e anfitrião (Rosa, 2019).
É nessa incapacidade de reconhecimento do estrangeiro como semelhante que a “crise
dos refugiados” se propagou a partir da ruptura de um pacto em defesa do outro e da
incapacidade de hospitalidade (Lessa Filho; Vieira, 2020). A incondicionalidade da
hospitalidade implica aceitar que o refugiado que adentra um espaço pode mudar tudo de lugar
e, até mesmo, destruir algo que está posto (Derrida, 2004). Porém, tal possibilidade pode
acontecer também na condicionalidade, na norma e na lei, pois é preferível acreditar que a
condicionalidade da hospitalidade protege tudo o que pode ser destruído por quem chega.
Ademais, o desconforto diante da chegada inesperada de visitantes em busca de
hospitalidade é agravado pela diversidade linguística presente. Nesse sentido, Bandeira (2018)
ressalta que os refugiados, quando partem na viagem para o desconhecido, sempre são
acompanhados do que é próprio de suas famílias, dos seus amuletos, de sua e do que
aprenderam e do que podem ensinar. Para além da bagagem identitária e cultural, entra junto
com o refugiado sua fome, sua profissão, sua história e sua ineficácia em permanecer em seu
país, já que, desapropriado de quaisquer possibilidades, não pode enfrentar as situações sociais,
políticas e ambientais de seu país. Portanto, é preciso lidar com isso e pensar, a partir da sua
chegada, sobre como as aporias, os paradoxos e as ambiguidades engendrados no confronto das
hospitalidades. condicionadas e incondicionais, também se apresentam como hostilidades.
Neste contexto, as leis da hospitalidade demandam que os refugiados compreendam e
falem a língua do país que tentam adentrar, em todos os sentidos possíveis do termo.
[...] entre os graves problemas de que tratamos aqui, existe aquele do
estrangeiro que, desajeitado ao falar a língua sempre se arrisca a ficar sem
defesa diante do direito do país que o acolhe e o expulsa; o estrangeiro é, antes
de tudo, estranho à língua do direito na qual está formulado o dever de
hospitalidade, o direito ao asilo, seus limites, suas normas, sua polícia, etc. ele
deve pedir a hospitalidade numa língua que, por definição, não é a sua, aquela
imposta pelo dono da casa, o hospedeiro, o rei, o senhor, o poder, a nação, o
Estado, o pai, etc. estes lhe impõem a tradução em sua própria língua, e esta é
a primeira violência (Derrida, 2003. p. 15).
Para Derrida (2003), esse é o paradoxo da hospitalidade, ou seja, do direito à
hospitalidade baseada em um pacto com o Estado que pressupõe condições ou deveres. Nesse
sentido, o próprio direito de migrar se torna impensável na racionalidade do Estado-Nação e do
poder de controle sobre quem entra e quem sai do seu território (Redin, 2013). Na hospitalidade
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absoluta, contudo, é necessário romper com a hospitalidade da lei e da justiça, pois não mais se
exige um pacto que oriente a entrada (Derrida, 2003).
Na mesma direção, Derrida (2004) argumenta que não há como a hospitalidade receber
qualquer status legal ou político. No entanto, a lei incondicional não poderia existir sem as leis
condicionais da hospitalidade. A lei incondicional necessita das leis da hospitalidade
condicional ou, do contrário, permaneceria na utopia e não teria como se tornar efetiva, pois
“para ser o que ela é, a lei tem necessidade das leis que, no entanto, a negam, ameaçam-na, em
todo caso, por vezes a corrompem ou pervertem-na” (Derrida, 2003, p. 71).
Por outro lado, as leis da hospitalidade condicional não poderiam ser leis da
hospitalidade se não estivessem inspiradas/ordenadas pela lei da hospitalidade incondicional.
Nessa esteira, as duas leis, a condicional e a incondicional, são, ao mesmo tempo, opostas,
contraditórias e inseparáveis (Derrida, 2004). Então, para o autor, o desejo de ser bem recebido
incondicionalmente não absolve a responsabilidade para negociar as leis da hospitalidade
condicional, que é necessário cotejar entre o desejo de um incondicional acolhimento e a
necessidade de um acolhimento condicional. Assim emerge uma estreita relação entre a
hospitalidade e a hostilidade, a qual, muitas vezes, pode passar despercebida.
De acordo com Teixeira et al. (2022) e Rocha, Gama e Dias (2012), as narrativas de
migrantes e refugiados, ao serem questionados acerca de questões que envolvem práticas de
hospitalidade em países que os recebem, por vezes denunciam situações de hostilidade, mesmo
que sutis. O conjunto de estudos apresentados pelos autores é marcado por depoimentos
permeados por sentimentos de gratidão, por parte dos migrantes, mas, ao mesmo tempo, por
situações que representam certas hostilidades enfrentadas em seus cotidianos.
Nessa direção, olhares e escutas atentas aos modos como são contadas histórias,
experiências e dinâmicas cotidianas dos migrantes e refugiados podem identificar as faces da
hostilidade em meio a narrativas que, na maioria das vezes, destacam movimentos hospitaleiros.
Além disso, tais situações podem ser expressas, também, por meio dos atravessamentos
culturais que aproximam ou distanciam os sujeitos, de modo que as experiências em relação a
esse aspecto se tornam indicadores de hospitalidade ou hostilidade.
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Estratégias Metodológicas
Essa pesquisa é qualitativa e exploratória, realizada junto a estudantes refugiados que
ingressaram em cursos de graduação de uma universidade pública federal brasileira, por meio
dos Editais para Ingresso de Pessoas em Situação de Refúgio nos Cursos de Graduação, em
2018 e 2019. Inicialmente, foi realizado um levantamento de estudantes com aprovação
homologada nos respectivos Editais, o que totalizou 26 possíveis entrevistados.
Para estabelecer contato com o grupo de interesse, após identificados os possíveis
colaboradores, foi utilizada a técnica Bola de Neve, que se caracteriza pela constituição de uma
amostra não probabilística, baseada na indicação de potenciais participantes por informantes-
chave, documentos, e/ou pelos próprios entrevistados. A partir desse tipo específico de
amostragem, não é possível determinar previamente quem serão os participantes da pesquisa,
contudo a técnica torna-se útil para estudar determinados grupos difíceis de serem acessados
(Vinuto, 2014).
Assim, os informantes-chave foram localizados a partir de contato inicial em grupos
e/ou cursos nos quais a autora principal participava. O primeiro contato aconteceu de forma
individual e pessoal e, com o passar do tempo, foram recebidas indicações de novos
participantes. Dessa forma, o grupo de participantes foi fechado com três pessoas haitianas,
duas venezuelanas e uma congolesa.
Os dados da pesquisa foram produzidos a partir de entrevistas narrativas individuais. A
entrevista se mostra produtiva aqui, especialmente, porque permite focalizar experiências e
histórias narradas pelos entrevistados, nas quais se constituem sentidos de como é ser estudante
refugiado na universidade pública. Segundo a visão de Andrade (2012), as narrativas não se
apresentam de forma neutra, pois estão intrinsecamente impregnadas de elementos históricos,
sociais e culturais.
Nessa perspectiva, o indivíduo não emerge como a origem pura de suas próprias
palavras, mas sim como um componente intrínseco de uma ampla teia discursiva e sociocultural
que determina as possibilidades e limitações de sua expressão. Assume-se, assim, o pressuposto
pós-estruturalista de que a produção do sujeito se no âmbito da linguagem, dos discursos,
dos textos, das representações, das enunciações, dos modos de subjetivação, nas relações de
poder e saber, ou seja, “nas relações de forças discursivas que o nomeiam e governam”
(Andrade, 2012, p. 174).
Rosanne Machado ROLLO; Mateus Aparecido de FARIA; Camilo DARSIE e Cristianne Maria Famer ROCHA
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As seis entrevistas aconteceram entre junho e agosto de 2021. Em virtude do
distanciamento social causado pela pandemia da COVID-19, as entrevistas foram efetuadas on-
line, pela plataforma Google Meet. Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra,
mediante autorização prévia dos participantes. As transcrições foram disponibilizadas aos
participantes para avaliação e reformulação das informações quando necessário. Contudo, todos
os participantes autorizaram a utilização das transcrições nas versões originais.
Durante todo o estudo foram observados os procedimentos éticos, previstos nas
Resoluções n.º 466/12 e 510/2016 que regulamentam a pesquisa com seres humanos no Brasil
(Brasil, 2012; 2016). Foi garantido o sigilo dos dados, e garantido aos participantes a utilização
dos nomes escolhidos, independentemente de serem seus nomes de registro, ou não. Também
foi assegurada a possibilidade de desistência a qualquer momento do estudo. Antes da condução
das entrevistas, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi lido e devidamente
assinado. A realização da pesquisa foi aprovada pelo Comi de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob o número CAAE 45217521.3.0000.5347.
Diferenças Culturais e as Faces da Hostilidade
Dos seis entrevistados, cinco se declararam negros e afirmaram ter uma religião e/ou
uma crença religiosa. Tinham entre 23 e 35 anos, sendo cinco solteiros e um casado. Do ponto
de vista de residência, três moravam em Porto Alegre (RS), sendo dois na Casa do Estudante
Universitário (CEU) e um com a família. Os outros três estudantes residiam na região
metropolitana de Porto Alegre, sendo que dois pagavam aluguel. Todos estavam no Brasil
mais de três anos, em dia 4,5 anos, aproximadamente, e cinco já haviam iniciado um curso
superior no país de origem. É importante ressaltar que todos os estudantes ingressaram pelo
edital de 2019, e por conta da pandemia, começaram seus cursos em 2020, na modalidade
Ensino Remoto Emergencial (ERE).
Partindo disso, destaca-se que as estudantes venezuelanas, ao falarem sobre suas
impressões acerca do Brasil e de seus cotidianos, apontaram a alegria dos povos, a musicalidade
e a dança como algo que aproxima os dois países. A comida, para elas, também foi percebida
como um traço cultural que aproxima os países. Na mesma direção, os haitianos relataram
familiaridade com a culinária brasileira, apesar de entenderem o clima da região como muito
diferente, já que faz muito frio em comparação ao seu país.
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Bom, na relação cultural o que mais se relaciona é a alegria dos povos. Aqui
tem carnaval, e lá também tem carnaval (...). A comida não é muito diferente.
A gente come bastante feijão, então não é muito distante da cultura brasileira
e gaúcha (Dulce, 2021).
O que eu mais sentia falta era de eu poder entrar num lugar e escutar uma
salsa. (...) acho que era mais uma questão da música mesmo. Adoro bossa
nova, tem um monte de música brasileira ou latino-americana que tem versão
brasileira e em espanhol (Alexandra, 2021).
Quando cheguei, a cultura estava um pouco difícil para mim, eu não gostava,
eu não me acostumava com o frio. A forma de comer, (...) não é muito
diferente. Lá também é arroz e feijão, e polenta (Baely, 2021).
Eu acho que são culturas meio parecidas, na comida, a proximidade é muito
mais forte, é que a base da comida no Haiti é arroz, feijão e carne também,
(...) a diferença é a linguagem e o clima, que aqui no Rio Grande do Sul faz
um pouco de frio (Rogério, 2021).
Como pode ser verificado através dos excertos, os elementos culturais (a língua, a
comida, o modo de viver), são lembrados como importantes pelos migrantes. Contudo, as
memórias mais profundas, por ocasião das narrativas, dizem respeito à saudade das famílias e
dos amigos deixados no país de origem, ou até em outros lugares. Para eles, essas memórias
dão vazão a diversos sentimentos:
[...] a mais forte [o que mais sinto falta] seria a minha família, porque, hoje
em dia, eu estou aqui com minha irmã [...], meu irmão continua no Chile e
minha mãe no Haiti, estamos um pouco espalhados e isso não me deixa bem.
Queria que que estivéssemos juntos e isso me faz muita falta (Rogério, 2021,
grifo nosso).
Eu sentia falta quando eu estava lá [no Haiti, muita falta da minha mãe e do
meu pai, que estavam no Brasil. Quando eu também vim para cá, eu senti
saudade dos meus amigos (Chidelson, 2021, grifo nosso).
É comum que, em narrativas de migrantes e refugiados localizados em diferentes países,
a saudade de familiares se torna um sentimento frequentemente narrado. Para além dos vínculos
familiares que são mencionados, evidenciam-se sentimentos de pertencimento ou não-
pertencimento aos lugares em que cresceram e em que vivem, mais precisamente, às
experiências que os conectam a parcelas espaciais e grupos sociais. Diante disso, é possível
pensar que as condições para os estudantes refugiados terem contato com seus familiares, seja
por meio de deslocamentos temporários ou por conexões digitais, podem indicar certas
hostilidades vividas no Brasil (Teixeira et al., 2022).
Nesse sentido, o conjunto de políticas públicas de suporte aos refugiados, para além do
ingresso no sistema universitário, deve ser capaz de oportunizar condições para o pleno
aproveitamento da vida e das questões que promovem a qualidade de vida. Certamente, trata-
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se de um argumento presunçoso, mas que se mostra relevante no sentido de se promover aquilo
que é reconhecido como hospitalidade incondicional (Derrida, 2000).
Associada à saudade dos familiares e amigos, a questão linguística se faz presente,
afinal, essa dificuldade é sentida em todos os aspectos da vida de quem migra e precisa ser
independente no dia a dia: no transporte, no sistema de saúde, no mercado, nas lojas, na rua, na
universidade. Nos relatos abaixo, fica perceptível essa questão da língua dificultando a vida no
novo país.
Eu aprendi a língua na rua. Eu aprendi tentando vender cueca, tentando vender
meia. E, depois disso, eu fui trabalhar em um café. Então, sempre tive muito
contato com o pessoal. [...] depois saí do café e fui trabalhar numa loja [...] em
atendimento, tipo callcenter. [...] acho que isso facilitou bastante a
desenvolver certas habilidades. [...] uma vez, estava no café, fazendo um
pedido e eu tinha que falar que era pra ir com duas colheres. E eu escrevi
“culher”, com “C e U”. Era para ser colher, mas eu escrevia como eu ouvia.
[...] Aos poucos, e com os cursos de português, e lendo, melhorou [...]. Ainda
tem muita coisa que escrevo errado, mas o autocorretor do telefone ajuda
(Alexandra, 2021).
Eu falo que o meu objetivo era estudar, e eu sabia que tinha que viver em
português, então eu tinha duas opções: ou era estudar o português mesmo, ou
era estudar o português mesmo. Os dois primeiros meses foram os mais
difíceis, os mais complicados da minha vida. Eu lembro de uma história que
eu ia numa padaria em Curitiba, eu falava assim: “moça, tudo bem? Eu
quero cinco países”. Tipo falava com amor aquilo. Eu queria cinco pães,
que eu falava países (Zuri, 2021).
Como pode ser observado, a língua é um desafio, entretanto, os que não consideravam
a língua um problema maior, no momento da entrevista, a maioria dos estudantes refugiados já
estava há algum tempo no Brasil e boa parte haviam passado por cursos de português,
entendiam que, no convívio e na luta por sobrevivência, a língua se aprende e, para qualquer
eventualidade, existem aplicativos de tradução confiáveis e de fácil acesso (sobretudo nos
celulares).
Também apareceu, ao longo das narrativas e coadunando com Bandeira (2018), que o
não domínio da língua não é um problema significativo. Talvez a maior dificuldade seja a
saudade, ou o desejo de estar no seu país, que se acentua de muitas formas, inclusive a
linguística, já que aqui mais dificuldade para encontrar amigos para contar em suas línguas
nativas - da vida e de suas famílias, como revela Rogério, no relato abaixo:
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Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 8, n. 00, e023012, 2023. e-ISSN: 2177-5060
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Gostaria de estar na minha cultura, no meu país, falando e me expressando
nas minhas línguas, sem temer o que eu vou falar, se vai ser errado ou não
[...] (Rogério, 2021).
O desejo do Rogério demonstra que além da saudade da cultura de seu país de origem,
algumas vezes o migrante teme falar errado em virtude da dificuldade linguística. Assim,
[...] o estrangeiro silencia: não sabe a coisa certa a dizer, como dizer. O
estrangeiro silencia: não sabe a coisa certa a dizer, quando dizer, como dizer.
Teme usar a palavra errada para a situação simples e corriqueira ou usar
palavras de mais ou de menos. Teme que o julguem mal, que avaliem seu
sotaque, que lhe façam perguntas que ele não saberá responder. Sabe começar
uma conversa, mas não sabe dar continuidade a ela, então opta por nem a
começar. Quer dizer alguma coisa interessante sobre um assunto do qual
entende pouco, mas prefere nem tentar, porque pode soar inadequado. Por isso
o estrangeiro escuta (Jaffe, 2015, p. 102).
No entanto, o medo de falar e a bagagem, por vezes, carregada de uma carga traumática
e angustiante, decorrentes das experiências pré-migratórias, não era o maior desafio quanto ao
acolhimento. As narrativas dos estudantes refugiados destacam o impacto de experiências
discriminatórias ao chegarem ao Brasil. Quando perguntados se percebiam o Brasil como um
país acolhedor para os migrantes/refugiados, as discussões ficaram de certa forma polarizadas,
entre achar, ou não, o Brasil como um país hospitaleiro. Alexandra, por exemplo, ressalta a falta
de acolhimento e de informações ao buscar sua documentação junto à Polícia Federal:
Olha, eu acho que não! [...] Por exemplo, quando eu fui à Polícia Federal, eu
meio que manjava um pouquinho de português, mas não tiveram [a boa
vontade] de se comunicarem na minha língua, por exemplo. E eu nunca tive
uma orientação de lá. Eu fui e disse: “é refúgio”. Mas, nunca tive ninguém
me falando, “ah tu podes solicitar residência também, ou tem essas opções
para o teu caso”. Me apresentar um catálogo inteiro [...] do que seria mais
adequado para mim! (Alexandra, 2021).
Rogério, por outro lado, fala de acolhimento, trazendo dois aspectos: a legislação e a
“cultura” do brasileiro, conforme relato abaixo.
Tem dois lados: a legislação brasileira, o que ela diz a respeito dos imigrantes
e tem também como os brasileiros de cultura veem a migração. Mas, de um
modo em geral, a legislação, ou as leis sobre a migração, eu entendo que,
sim, é um país acolhedor, mas a opinião das pessoas às vezes não é tão assim
(Rogério, 2021).
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No excerto acima, Rogério refere-se a acreditar que, a partir da atual legislação, o Brasil
acolhe o migrante. Contudo, para o estudante, quanto ao acolhimento do povo brasileiro, isso
não fica tão evidente. Ressalte-se que, apesar de o Brasil ser um dos protagonistas na América
Latina quanto às leis migratórias, por ter proposto algumas políticas públicas, como o acesso
facilitado ao ingresso nas universidades, e a Lei de Migração de 2017, avançar no
reconhecimento de direitos, dentre os quais, os direitos sociais, ainda existem espaços de
exclusão (Bertoldo, 2020). Ou seja, ainda que do ponto de vista do direito à educação exista o
reconhecimento da igualdade, prevista expressamente no art. 4º, X, daquela lei, e o seu acesso
seja considerado um princípio, conforme seu art. 3º, XI, a condição do imigrante e sua
estrangeiridade são estruturalmente excludentes (Bertoldo, 2020).
Por ser a única narrativa que apresenta a legislação, ainda que de um modo em geral,
como prática de acolhimento, provavelmente ela não está totalmente amparada na
regulamentação legal, pois, conforme Bertoldo (2020), na prática, existe uma desigualdade
material entre migrantes e nacionais. Essa discussão sobre o acolhimento, a partir da legislação,
demonstra, ainda, uma condição de sujeição diante das regras do Estado, quando o status
jurídico é determinante para o acesso aos direitos fundamentais. Deixa-se entrar e acessar,
provisoriamente, com alguns direitos, em uma relação de submissão e sujeição, ou seja, sob
uma condição de hospitalidade condicionada (Derrida, 2003).
Baely e Chidelson percebem, sem ressalvas, o Brasil como um país acolhedor com
os migrantes:
Posso dizer que, sim, o Brasil é um país acolhedor, mas não está preparado
para receber esses imigrantes. Não sei se você entende o que eu quero dizer,
mas é um país acolhedor sim (Baely, 2021).
Muito, muito! Eu acho que sim, inclusive eu faço parte do Bará [...], que faz
apoio aos refugiados e estudantes na universidade. Portanto, no meu livro
[Olhando para outro oceano], eu disse que quando o país estende a mão é
mais fácil de se viver (Chidelson, 2021).
Contudo, ainda que as narrativas de Baely e Chidelson enfatizem que o Brasil é um país
acolhedor, contrariando a essa imagem de país cordial para com as diversidades, todos os
estudantes verbalizaram terem sofrido pessoalmente, ou conhecer algum migrante que sofreu,
atitudes discriminatórias devido à raça, etnia, nacionalidade, classe social.
O fato de o local de destino nem sempre demonstrar acolhimento e respeito às
diversidades, como relatado, faz com que o migrante acabe experimentando uma dupla
violência, ou seja, ele é um indesejável na partida e na chegada. Eco (2020, p. 42) ressalta que
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“não suportamos os que são diferentes de nós, porque têm a pele de cor diferente, porque falam
uma língua que não compreendemos, porque comem rãs, cães, macacos, porcos, alho, porque
são tatuados”. A questão é que ao se sentir invadido, o hospedeiro tende a proteger seu direito
à hospitalidade, numa atitude muitas vezes xenófoba em relação ao estrangeiro: “Começo por
considerar o estrangeiro indesejável, e virtualmente como inimigo, quem quer que pisoteie meu
chez-moi, ipseidade, minha soberania de hospedeiro. O hóspede torna-se um sujeito hostil de
quem me arrisco a ser refém” (Derrida, 2003, p. 49).
Uma das definições do termo xenofobia é descrita por Albuquerque Júnior (2016) no
livro Xenofobia medo e rejeição ao estrangeiro. Para o autor,
A palavra xenofobia vem do grego, da articulação das palavras nos
(estranho, estrangeiro) e phobos (medo), significando, portanto, um medo, a
rejeição, a recusa, a antipatia e profunda aversão ao estrangeiro. Ela implica
uma desconfiança e preconceito em relação às pessoas estranhas ao território,
ao meio, à cultura, a que pertencem àquele que julga, que observa, que se
considera como estando em seu lugar. A xenofobia implica uma delimitação
espacial, uma territorialidade, uma comunidade, em que se estabelece um
dentro e um fora, uma interioridade e uma exterioridade, tanto material quanto
simbólico, tanto territorial quanto cultural, fazendo daquele que vem de fora
desse território ou dessa cultura um estranho ao qual se recusa, se rejeita com
maior ou menor intensidade (Albuquerque Júnior, 2016, p. 9).
Segundo o autor, o estrangeiro é visto por muitos com suspeita, com estranhamento,
pois sua cultura, atitudes e valores não estão alinhados a dos povos que o recebem. Para Corsi
(2020), o estrangeiro é visto com um certo déficit de humanidade, por não possuir carne, corpo,
estatura, proporções, traços, cor, gestos, movimentos, performances semelhantes daqueles/as
que o recebem/percebem. Alguns e algumas consideraram que aquele ser diferente é inferior e,
por isso, o sentimento despertado por ele é, muitas vezes, o de rejeição.
Chade (2022) menciona uma carta de dezesseis páginas enviada por dez relatores
especiais da Organização das Nações Unidas (ONU) e mecanismos da Organização sobre o
desmantelamento do mito de um Brasil acolhedor aos estrangeiros. Essa carta, entregue ao
governo de Jair Bolsonaro em abril de 2022, denuncia uma série de violações de direitos
humanos contra imigrantes e refugiados, sobretudo africanos, haitianos e venezuelanos.
Ademais, entre outras coisas, a matéria ressalta que, nos últimos 20 anos, houve
múltiplas manifestações de racismo e xenofobia, incluindo assassinatos e prisões arbitrárias de
africanos e haitianos, o incêndio de residências universitárias que apoiam os migrantes
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africanos e expressões públicas de sentimentos racistas e xenófobos, incluindo discursos de
ódio e grafites contra a presença de migrantes africanos em cidades brasileiras.
Como visto, não são raras as aparições dos imigrantes nos meios de comunicação,
relatando a violência sofrida, os maus tratos, o descaso e o preconceito de toda ordem (Corsi,
2020). O que se notícia não dá conta de retratar todas as mazelas sofridas por esses grupos, no
Brasil, ultimamente. Ou, pior, apenas ficamos sabendo de mais fatos que passaram a ser
relatados, embora a existência do racismo estrutural no país exista desde os tempos de sua
colonização (Almeida, 2018).
Nesse contexto, Ribeiro (2020) ressalta que a xenofobia, o racismo e a discriminação de
origem são problemas sociais e políticos quase sempre vinculados ao tema das migrações no
Brasil. Para o autor, em maior ou menor grau de emergência e vínculo entre estas violências,
em um dado tempo e lugar, sua vinculação nem sempre se de forma evidente, tampouco se
manifesta da mesma maneira, o que depende das condições sociopolíticas, culturais,
geopolíticas ou históricas. Contudo, a manifestação destes fenômenos no Brasil:
[...] tem uma base etnológico-racial, muitas vezes religiosa, e se estrutura em
torno das dicotomias branco e não branco, cristão e não cristão (muçulmano,
umbandista etc.), pobres e não pobres. Isso equivale a dizer que, ainda que se
revele ante a figura de um estrangeiro, a aversão ao estrangeiro negro não está
no mesmo nível da aversão ao estrangeiro branco de procedência europeia ou
norte-americana, concebido no imaginário coletivo brasileiro como gringo
conforme venho apontando em recentes pesquisas (Ribeiro, 2021, p. 345).
Os casos de violência contra a população migrante negra no Brasil poderiam ser
considerados somente expressões de xenofobia, baseadas nas incertezas e inseguranças da
sociedade em relação ao estrangeiro (Appadurai, 2009), não fossem os relatos frequentes de
migrantes negros sobre xingamentos de cunho racista em local de trabalho, instituições
governamentais, e mesmo na rua, como temos assistido reiteradamente na mídia.
Para Anunciação (2017), os recorrentes casos de violência contra migrantes negros no
Brasil, ao mesmo tempo, em que desconstroem o mito da democracia racial, chamam a atenção
para a questão da violência estrutural latente da sociedade brasileira. Para a autora, disfarçadas
sob o discurso xenofóbico, essas agressões revelam muito sobre a nossa história enquanto
nação, uma vez que são direcionadas a migrantes negros. Nos relatos abaixo, os estudantes
narram o desconforto da experiência racista, a partir da comparação entre ser negro aqui no
Brasil e negro no país de origem.
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Outra coisa também que a gente também não acostumava é a questão de
racismo. É que lá, no meu país, a maioria são negros. Eu sofri no meu país
por causa do dinheiro. Tem pessoas que são mais ricas (...), pessoas que são
mais pobres, como tem aqui no Brasil. Mas, por causa da pele, nunca sofri no
meu país. Infelizmente tive alguns contatos, momentos ruins, a pessoa me
agrediu (...), a gente sofre, mas vi que aqui é comum, faz parte da cultura das
pessoas (Baely, 2021).
Uma outra coisa é o fato de você ser negro aqui. A gente sai de um lugar
onde todo mundo era da mesma cor: o presidente é negro, o ministro é negro,
a professora é negra, a médica que te atende é negra, todo mundo tem
quase a mesma cor que tu, um pouco mais clara talvez, mas, vocês são
negros, e sabem que todo mundo é igual. E você chega e a sua cor se
destaca (...). A sua cor incomoda (...), entras numa loja e te olham mal, vai
num local onde você encontra mais pessoas brancas, e você se sente às vezes
mal, pela tua cor de pele. No início, eu não entendia. Agora, depois que entrei
no curso da área da saúde, começo a aprender muito sobre racismo. Acendeu
uma luz eu mim: “Meu Deus, eu passei por tantos atos racistas e eu não sabia
que era racismo”, porque eu não cresci com isso. Eu nunca fui vítima de
racismo até chegar aqui! E como eu ia saber que a moça estava sendo racista
comigo, porque ela me seguia na loja, me mostrando as coisas mais baratas,
“aqui estão as coisas mais baratas, aqui é para ti”. Ela foi racista comigo,
ela foi! Dá vontade de xingar a pessoa (Zuri, 2021, grifos nossos).
O racismo, como abordado anteriormente, assume diferentes formas de manifestação,
de acordo com o histórico político e social. No Brasil, devido ao histórico de escravidão e
extermínio de negros e indígenas, para além da definição de estereótipos e preconceitos com a
cor da pele, a naturalização das diferenças raciais se encontra na estrutura das relações sociais
que determina a superioridade de sujeitos lidos como brancos em detrimento de sujeitos lidos
como negros. O racismo, tal como apresentado nos excertos supra, denotam sua expressão em
forma de aversão e ódio a pessoas com características físicas (cor da pele e tipo de cabelo). Isso
se manifesta por meio de discriminação racial direta, como o desprezo a certos sujeitos
determinados pela condição racial, e indireta, como um processo que pode ser marcado por uma
suposta neutralidade, que culmina em desvantagem para as pessoas racializadas.
Almeida indica (2018), ainda, que as manifestações de racismo podem chegar a
diferentes níveis de inferiorização, exclusão e negação da identidade do sujeito negro, até
atingir a violência física, indicando que, no círculo hegemônico da sociedade brasileira,
permanece o racismo estrutural sem precedentes. Nas narrativas acima, a discursivização do
corpo negro se constitui pela diferença em ser negro em seu país de origem, e aqui no Brasil.
Narrativas como a de Baely, que trazem a discriminação associada ao trabalho e/ou
emprego, carregam consigo não apenas o fato de o migrante pedir, mas “roubar” o emprego dos
brasileiros, como fica explícito nos seguintes excertos:
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Tem gente que pensa que os imigrantes vêm para roubar emprego e não para
criar, sobretudo pessoas que vêm de países pobres, como africanos e
haitianos, que sofrem mais esses bullying (Rogério, 2021, grifos nossos).
Normalmente, o imigrante é visto como uma pessoa que vai roubar o trabalho
de um nativo (...), mas a gente tem as nossas competências e capacidades,
então uma integração seria o melhor para um avanço comum, um avanço
coletivo, e não um avanço individual (Chidelson, 2021, grifos nossos).
Quando tu vais pedir um emprego, tu falas que é imigrante, eles ficam meio
assim (...) porque é imigrante, será que ele não veio para roubar ou para fazer
outra coisa? (...) estou falando porque eu passei por isso (Baely, 2021).
Eduardo Galeano, em 2015, expôs a figura do imigrante a partir de uma sociedade
que possui grandes dificuldades em aceitar o diferente. O estrangeiro, análogo à figura do
Diabo, que representa o mal, expressa manifestamente as separações e segregações impostas
pelos detentores do poder a minorias por eles indesejadas por dificultarem seus projetos de
poder. Diz ele:
O culpômetro indica que o imigrante vem roubar nosso emprego, e o medidor
de perigo o indica com uma luz vermelha. É pobre, jovem e não branco, o
intruso, o que veio de longe, está condenado à primeira vista por indigência,
inclinação ao caos ou porte da pele. E em qualquer caso, se ele não é pobre,
nem jovem, nem escuro, ainda assim é mal-vindo, porque chega disposto a
trabalhar o dobro em troca da metade (...) (Galeano, 2015, p. 116).
Nesse sentido, o medo do imigrante justifica, o estranhamento e a culpabilização, sendo
ele o principal responsável, segundo os sentimentos xenofóbicos, pelo aumento do desemprego,
violência, entre outros males afetos à contemporaneidade. As falas abaixo, apareceram
associadas a outros tipos discriminação, que, usualmente, remontam a violências e exploração
no trabalho, como o recebimento de salários menores em relação a outros funcionários que
desempenham a mesma função ou, ainda, que trabalham mais horas do que deveriam, sem
nenhum tipo de pagamento extra:
Eles querem que você trabalhe muito mais que as pessoas, que tu faças o
dobro, ou três vezes a mais, e pagam bem baixo, quase metade do que os
outros funcionários que são brasileiros. E quando eles demitem, eles não
pagam muito. É que eles sabem que tu não sabes as leis trabalhistas daqui, e
eles aproveitam por ser imigrantes. Parece que eles oferecem os empregos
piores para os negros. Aqui em [cidade], eu vi os próprios brasileiros, que
também são negros, fazendo os empregos piores, mesmo se tem capacidade,
mesmo se tem conhecimento. Eles não respeitam, infelizmente, aqui nessa
região. (...) agora eles tão adaptando, porque tem muitos imigrantes aqui
(Baely, 2021).
Os trabalhos de baixa renda são oferecidos para os haitianos e senegaleses.
Botam a pessoa porque o haitiano vai lavar a louça. (...) ainda por cima,
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nem ganham o salário que ganharia o atendente normal. (...)acontece muito
com estrangeiros e imigrantes que estão aqui, e que faz um trabalho que às
vezes é R$ 1.500,00 e às vezes acaba ganhando R$ 1.000,00 ou R$ 800,00,
porque ele é estrangeiro, e ainda por cima é negro (Zuri, 2021).
Nesse sentido, a percepção dos entrevistados sobre a oferta de empregos e salários
piores, para refugiados, por vezes, se associa aos brasileiros, negros, que buscam trabalho. Para
Soares e Ybarra (2020), com o aumento progressivo do desemprego e das reformas trabalhista
e da previdência, a efetiva informalização do emprego, direitos trabalhistas e carteira
profissional assinada, a precarização do trabalho, tornam-se dados históricos que serão
permutados pelo trabalho intermitente e o teletrabalho.
Os autores, a partir de dados da ONU, ressaltam que nesses novos desafios para o
trabalhador assalariado, os índices de discriminação são relevantes, por exemplo: “negros e
negras ganham 41% menos que pessoas brancas”; as “mulheres recebem 74,2% menos que os
homens” e, ainda, se evidencia o “aumento de 9,3% de crianças entre 5 a 13 anos no trabalho”
infantil, todo esse contexto se culmina com “o aumento da migração que submete algumas
pessoas à situações humanas inaceitáveis; e a persistência do trabalho escravo rural e urbano”
(ONU, 2016, p. 33).
Baely, também ressalta a questão dos trabalhos menos qualificados, que ele chama de
“piores trabalhos”. Quanto a isso, Faria, Ragnini e Bruning (2021) afirmam que os empregos
encontrados por migrantes são principalmente informais e precários, desenvolvendo atividades
que exigem baixa qualificação. Mesmo no caso de migrantes com qualificações (treinamento e
experiência), entrar no mundo do trabalho é difícil. Para Medeiros et al. (2020), existe uma
relação decrescente quando comparamos salários a gênero, escolaridade, país de origem e cor.
Os autores sugerem ainda que as difereas de rendimento são sensíveis à variável
nacionalidade; que a origem do imigrante também parece influir no status ocupacional; e que,
o mercado de trabalho demonstra estar mais receptivo aos estrangeiros de determinada origem
e possuindo determinadas características, em detrimento de outros.
Como ficam perceptíveis, as faces da intolerância estão por toda parte. Ainda que o
Brasil seja visto por alguns como festivo e animado, o que pode ser confundido com a prática
de um país acolhedor (que sorri e abraça o migrante/refugiado), a maioria das narrativas aqui
apresentadas reforça, ou não, que o Brasil não é para todos. Na prática, o sorriso não é tão fácil
e o abraço, quando existe, não é tão aconchegante. Isso tudo vem ao encontro do racismo
estrutural, que se apresenta nas falas, na falta de oportunidades, e na questão da cor da pele, que
dificulta a permanência dos migrantes no país.
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Considerações finais
O presente artigo analisou a construção da experiência sobre as diferenças culturais e
hostilidades vivenciadas por estudantes refugiados em uma universidade pública federal, após
a chegada ao Brasil. De acordo com as narrativas apresentadas, é possível identificar que
sentimentos de gratidão por acolhimento se articulam a histórias marcadas por práticas de
hostilidade, muitas vezes associadas a preconceitos, que há anos são discutidos no país.
As semelhanças culturais, alimentos, danças, ritos, aproximam as distâncias geográficas
experienciadas pelos universitários refugiados no Brasil, ao passo que é também pela cultura
que as pessoas participantes da pesquisa percebem o distanciamento afetivo, mais precisamente,
no que se associa à ngua e à ausência de familiares. A hostilidade sentida e verbalizada nos
relatos apresentados materializa a discrepância entre o vivido e o prolatado Brasil hospitaleiro.
Um grande “depende”, aparece como resposta para a pergunta que busca saber se este país
recebe bem quem aqui solicita pouso, segurança e proteção. Além disso, é pungente como o
racismo e a xenofobia estruturam a experiência dos universitários no Brasil. Essas formas de
relação com o estrangeiro, com o estranho, com o migrante (não desejada) atravessam esses
corpos e provocam afetos e forças que são o oposto daquilo que se entende como hospitalidade
incondicional e que ativa a constante ameaça de extradição.
Essa pesquisa buscou avançar na compreensão das experiências sobre diferenças
culturais e hostilidades vivenciadas por estudantes universitários refugiados no Brasil. O
processo de pesquisa apresenta limitações que, de fato, constituem estímulos para futuras
investigações. Algumas dessas áreas para aprofundamento incluem a compreensão da formação
humana de pessoas refugiadas em outros contextos educacionais, como na educação básica e
em movimentos sociais. Além disso, a necessidade de considerar outros perfis de refugiados,
a fim de ampliar a compreensão da experiência. A proposição de pesquisas longitudinais que
possam acompanhar essas vivências ao longo do tempo emerge como um desafio significativo
a ser abordado a partir desta pesquisa.
Espera-se que os tensionamentos apresentados possam auxiliar na proliferação de
discussões que transformam essas realidades, de modo a fortalecer práticas de acolhimento e
respeito às diferenças. Entende-se que, um maior número de pesquisas e publicações sobre o
tema pode potencializar tais transformações, especialmente em ambientes educacionais.
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CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Agradecemos o apoio do Grupo Ampliado de Orientação do Grupo de
Estudos em Promoção da Saúde (GAO/GEPS) e da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS).
Financiamento: Não houve fomento à pesquisa.
Conflitos de interesse: Não há conflito de interesses envolvido na pesquisa.
Aprovação ética: Durante todo o estudo, foram observados os procedimentos éticos,
previstos nas Resoluções n.º 466/12 e 510/2016 que regulamentam a pesquisa com seres
humanos no Brasil (Brasil, 2012; 2016). Foi garantido o sigilo dos dados, e garantido aos
participantes a utilização dos nomes escolhidos, independentemente de serem seus nomes
de registro, ou não. Também foi assegurada a possibilidade de desistência a qualquer
momento do estudo. Antes da realização das entrevistas foi lido o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE), assinado. A realização da pesquisa foi aprovada pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob o número CAAE
45217521.3.0000.5347.
Disponibilidade de dados e material: Não, os dados e materiais estão protegidos pelo
sigilo da pesquisa.
Contribuições dos autores: Rosanne Rollo: participou das etapas de concepção e
planejamento do estudo, produção e análise de dados, e redação e revisão do manuscrito.
Camilo Darsie: participou das etapas de concepção e planejamento do estudo, produção e
análise de dados, e redação e revisão do manuscrito. Mateus Aparecido de Faria:
participou das etapas de produção e análise de dados, e redação e revisão do manuscrito.
Cristianne Maria Famer Rocha: participou das etapas de concepção e planejamento do
estudo, produção e análise de dados, e redação e revisão do manuscrito.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 7, n. 00, e023012, 2023. e-ISSN: 2177-5060
DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.v8i00.18777 1
BRAZIL, A COUNTRY FOR ALL? THE FACES OF HOSTILITY IN THE
NARRATIVES OF UNIVERSITY STUDENT REFUGEES
BRASIL, UM PAÍS DE TODOS? AS FACES DA HOSTILIDADE EM NARRATIVAS DE
ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS REFUGIADOS
BRASIL, ¿UN PAÍS PARA TODOS? LAS CARAS DE LA HOSTILIDAD EN LAS
NARRATIVAS DE ESTUDIANTES UNIVERSITARIOS REFUGIADOS
Rosanne Machado ROLLO1
e-mail: rosanerollo@gmail.com
Camilo DARSIE2
e-mail: camilodarsie@unisc.br
Mateus Aparecido de FARIA3
e-mail: mateusfaria18@gmail.com
Cristianne Maria Famer ROCHA4
e-mail: rcristianne@gmail.com
How to reference this paper:
ROLLO, R. M.; DARSIE, C.; FARIA, M. A. de; ROCHA,
C. M. F. Brazil, a country for all? The faces of hostility in
the narratives of university student refugees. Plurais -
Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 8, n. 00, e023012,
2023. e-ISSN: 2177-5060. DOI:
https://doi.org/10.29378/plurais.v8i00.18777
| Submitted: 01/09/2023
| Revisions required: 15/10/2023
| Approved: 07/11/2023
| Published: 20/12/2023
Editors:
Prof. Dr. Célia Tanajura Machado
Prof. Dr. Kathia Marise Borges Sales
Prof. Dr. Rosângela da Luz Matos
Deputy Executive Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre Rio Grande do Sul RS Brazil. Mestra em
Educação. Pesquisadora do Grupo de Estudos pela Promoção da Saúde da UFRGS.
2
University of Santa Cruz do Sul (UNISC), Santa Cruz do Sul RS Brazil. Professor in the Postgraduate Program in
Education at the University of Santa Cruz do Sul.
3
René Rachou Institute Oswaldo Cruz Foundation (FIOCRUZ), Belo Horizonte MG Brazil. Technician at the
School of the Legislature of the Legislative Assembly of Minas Gerais. Ph.D. candidate in Collective Health at Fiocruz
(MG).
4
Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre Rio Grande do Sul RS Brazil. Professor in the
Postgraduate Program in Education at the Federal University of Rio Grande do Sul.
Brazil, a country for all? The faces of hostility in the narratives of university student refugees
Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 7, n. 00, e023012, 2023. e-ISSN: 2177-5060
DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.v8i00.18777 2
ABSTRACT: The present article aims to analyze the formation of the experience of cultural
differences and the acceptance difficulties faced by refugee students in a federal public
university. The study adopts a qualitative and exploratory approach, using individual narrative
interviews with the refugee students themselves. From the collected narratives, it is observed
that conditioned hospitality emerges as a significant obstacle in the refugees’ journey,
intertwined with memories that highlight the persistent presence of structural racism and
xenophobia. The presence of migrants in the Brazilian territory, although in some cases
facilitated by university access policies, is affected by feelings such as guilt, shame, and fear,
which directly impact their strategies for adaptation and survival in the country. These
challenges extend to the realms of work, education, and health. The constant threat of
extradition remains latent, both in the racist discourses and attitudes that permeate Brazilian
daily life and in institutional practices that segregate bodies considered “foreign”.
KEYWORDS: Refugees. Narratives. Intolerance. Hospitality. Human formation.
RESUMO: O presente artigo tem como propósito analisar a formação da vivência das
diferenças culturais e as dificuldades de aceitação enfrentadas pelos estudantes refugiados em
uma universidade pública federal. O estudo adota uma abordagem qualitativa e exploratória,
utilizando entrevistas narrativas individuais com os próprios estudantes refugiados. A partir
das narrativas coletadas, observa-se que a hospitalidade condicionada se revela como um
obstáculo marcante na jornada dos refugiados, entrelaçada com lembranças que destacam a
presença persistente do racismo estrutural e da xenofobia. A presença dos migrantes no
território brasileiro, embora em alguns casos seja facilitada por políticas de acesso à
universidade, é impactada por sentimentos como culpa, vergonha e medo, que afetam
diretamente suas estratégias de adaptação e sobrevivência no país. Tais desafios se estendem
às esferas do trabalho, da educação e da saúde. A constante ameaça de extradição permanece
latente, tanto nos discursos e atitudes racistas que permeiam o cotidiano brasileiro quanto nas
práticas institucionais que segregam os corpos considerados “estranhos”.
PALAVRAS-CHAVE: Refugiados. Narrativas. Intolerância. Hospitalidade. Formação
humana.
Rosanne Machado ROLLO; Mateus Aparecido de FARIA; Camilo DARSIE and Cristianne Maria Famer ROCHA
Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 7, n. 00, e023012, 2023. e-ISSN: 2177-5060
DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.v8i00.18777 3
RESUMEN: El presente artículo tiene como propósito analizar la formación de la experiencia
de las diferencias culturales y las dificultades de aceptación enfrentadas por los estudiantes
refugiados en una universidad pública federal. El estudio adopta un enfoque cualitativo y
exploratorio, utilizando entrevistas narrativas individuales con los propios estudiantes
refugiados. A partir de las narrativas recopiladas, se observa que la hospitalidad condicionada
se revela como un obstáculo significativo en el camino de los refugiados, entrelazada con
recuerdos que resaltan la persistente presencia del racismo estructural y la xenofobia. La
presencia de los migrantes en el territorio brasileño, aunque en algunos casos sea facilitada
por políticas de acceso a la universidad, se ve afectada por sentimientos como culpa, vergüenza
y miedo, que impactan directamente en sus estrategias de adaptación y supervivencia en el
país. Estos desafíos se extienden a los ámbitos del trabajo, la educación y la salud. La constante
amenaza de extradición permanece latente, tanto en los discursos y actitudes racistas que
impregnan el día a día brasileño, como en las prácticas institucionales que segregan a los
cuerpos considerados “extraños”.
PALABRAS CLAVE: Refugiados. Narrativas. Intolerancia. Hospitalidad. Formación
humana.
Introduction
Contemporary migrations have gained increased visibility in recent years in different
national contexts as they have intensified in various regions of the world through different
routes. Data from the Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (United Nations
High Commissioner for Refugees, ACNUR), reveal that in the year 2021, 89.3 million people
were forced to migrate due to wars, conflicts, and persecution. This represents an 8% growth
compared to 2020, more than double the figure from a decade ago.
Additionally, 4.6 million migrants applied for official refugee status, characterized by
forced displacement and the impossibility of return, while 27.1 million were already recognized
as refugees and displaced persons, individuals who were compelled to migrate but may return
to their places of origin. Furthermore, it is noteworthy that since the closure of the 2021 global
report, the Russo-Ukrainian war and other humanitarian emergencies have increased the
number of migrants to 100 million, meaning that 1 in every 78 people on Earth has been forced
to flee their home country (Acnur, 2022).
Regarding Brazil, in the year 2021, 29,107 requests for recognition of refugee status
were received. When added to the 268,605 already registered since 2011, these requests totaled
297,712 applications for permission to reside permanently in the country. Concerning the
Brazil, a country for all? The faces of hostility in the narratives of university student refugees
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number of recognized refugees in the country, there are over 60,000 people, primarily from
Venezuela (48,789), Syria (3,682), and the Congo (1,078) (Junger et al., 2022).
Given these numbers, it becomes relevant to address various aspects, including the
processes of welcoming migrants. According to Giroto and Paula (2020), migration affects not
only those who move geographically but also their descendants and other individuals who come
to form their social circles. Migrants and refugees interconnect different locations globally
through the encounters their trajectories afford, bringing into contact different ways of being
and existing in the world, transforming lifestyles and spatial dynamics (Rocha et al., 2012;
Weber; Darsie, 2020).
According to Truzzi and Monsma (2018, p. 20, our translation), migratory flows
"geographically reposition individuals carrying unique elements of history and culture through
diverse societies, which end up re-signifying themselves in a complex process of social
interaction." Such complexity often results in migrants and refugees not being well-received,
causing feelings of discomfort and anxiety, as they are frequently perceived as economic,
political, and cultural threats. At other times, they are rendered invisible or acknowledged as
necessary or convenient, particularly in the context of labor relations.
According to Ribeiro (2021), individuals in displacement, upon arriving in new
countries, face violence related to discriminatory practices and hatred. The author argues that
this occurs due to intolerance, which either subsides or intensifies based on various cultural and
educational intersections. In light of this, it is essential to emphasize that tolerance, the opposite
of intolerance, should not be confused with hospitality. Hospitality goes beyond the bounds of
what is tolerable, marked by the imposition of restrictions that affect the privacy of hosts
(Derrida, 2004). Through tolerance, the host tends to position themselves above the guest,
giving rise to "conditional, circumspect, and cautious hospitality" (Derrida, 2004, p. 138, our
translation).
Discourses resulting in a kind of condescending concession, therefore, should be heard
with caution, as they express tolerance and not hospitality or welcoming, since "we accept the
foreigner, the other, the strange body up to a certain point, and thus with restrictions" (Derrida,
2004, p. 137, our translation). In this perspective, Ribeiro (2021) argues that if this relationship
can function as a trigger for intolerance within the same territory, among speakers of the same
language who share the same customs and cultural goods, it intensifies in the presence of
migrants and refugees arriving from other countries, speaking different languages and
practicing customs and values distinct from the indigenous populations.
Rosanne Machado ROLLO; Mateus Aparecido de FARIA; Camilo DARSIE and Cristianne Maria Famer ROCHA
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This reality calls for reflection on the ways in which discourses involving migrants are
constituted and strengthened. In this context, this article analyzes the construction of the
experience of cultural differences and hostilities faced by refugee students at a federal public
university in Brazil.
From Hospitality to Hostility: Strangers Knocking at Our Door
The word "hospitality" represents the act of a warm welcome, but it can be considered
"a word of troubled and disturbing origin," as it can be associated with hostility since its
inception (Derrida, 2000, p. 3, our translation). The understanding of hospitality is not limited
to a simple explanation, as it can be understood and practiced in two ways: conditionally or
unconditionally. In the first case, acceptance of the other occurs within the boundaries of law,
politics, and anthropology. In the second, it emerges spontaneously and absolutely. One of the
main challenges faced by contemporary migrants and refugees is being welcomed through
unconditional hospitality. According to Lessa Filho and Vieira
[...] absolute hospitality requires that we open ourselves in our own home in
our territories, in our deepest frontiers and that we offer ourselves not only
to the foreigner but also to the absolute Other (Autre absolu), unknown,
anonymous, and that by giving ourselves in such a way, we let them come, we
let them arrive and have a place in the place, that we offer to them, without
demanding reciprocity, not even their name (Lessa Filho; Vieira, 2020, p. 248,
our translation).
For unconditional hospitality to exist, it "cannot pay a debt or be demanded by duty"
(Derrida, 2003, p. 73, our translation), because if someone welcomes the other out of obligation,
the foundations of hospitality cease to exist, as it is not offered and thought beyond the debt to
the newcomer (Lessa Filho; Vieira, 2020). In this way, migrants and refugees may or may not
rely on gestures of hospitality to recognize themselves as part of the new places they seek to
build. However, even so, they remain strangers, which can justify the easy transition from
hospitality to hostility, for example, when cases of aggression against migrants in the country
are reported (Rosa, 2019).
What makes the logic of reception merciless, as Derrida (2000) warns, is that the idea
of hospitality is often conditioned by rights, debts, and obligations, causing the one who
receives, hosts, or grants asylum to remain in a commanding position, a fact that nullifies
unconditionality. Thus, faced with the impossibility of achieving an ideal version of reception,
Brazil, a country for all? The faces of hostility in the narratives of university student refugees
Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 7, n. 00, e023012, 2023. e-ISSN: 2177-5060
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the arrival of the other is conditioned to legal hospitality, which is regulated by the laws of the
State that establish the positions of foreigner and host (Rosa, 2019).
In this incapacity to recognize the foreigner as similar, the "refugee crisis" has spread
from the rupture of a pact in defense of the other and the inability of hospitality (Lessa Filho;
Vieira, 2020). The unconditionality of hospitality implies accepting that the refugee entering a
space can change everything in place and even destroy something that is already established
(Derrida, 2004). However, such a possibility can also occur in conditionality, norms, and laws,
as it is preferable to believe that the conditionality of hospitality protects everything that can be
destroyed by those who arrive.
Furthermore, the discomfort in the face of the unexpected arrival of visitors seeking
hospitality is aggravated by the linguistic diversity present. In this sense, Bandeira (2018)
emphasizes that refugees, when embarking on the journey into the unknown, are always
accompanied by what is characteristic of their families, their talismans, their faith, and what
they have learned and can teach. Beyond the identity and cultural baggage, the refugee brings
along with them their hunger, profession, history, and their inability to remain in their country,
as they, dispossessed of any possibilities, cannot face the social, political, and environmental
situations of their country. Therefore, it is necessary to deal with this and think, from their
arrival, about how the aporias, paradoxes, and ambiguities engendered in the confrontation of
conditional and unconditional hospitalities also present themselves as hostilities.
In this context, the laws of hospitality demand that refugees understand and speak the
language of the country they are trying to enter in every possible sense.
[...] Among the serious problems we address here, there is that of the stranger
who, awkward in speaking the language, always risks being defenseless
against the right of the country that welcomes and expels him; the foreigner
is, above all, strange to the language of the law in which the duty of hospitality,
the right to asylum, its limits, its norms, its police, etc., are formulated. He
must request hospitality in a language that, by definition, is not his own, the
one imposed by the homeowner, the host, the king, the lord, the power, the
nation, the state, the father, etc. They impose the translation into their own
language on him, and this is the first violence (Derrida, 2003. p. 15, our
translation).
For Derrida (2003), this is the paradox of hospitality, that is, the right to hospitality
based on a pact with the State that presupposes conditions or duties. In this sense, the right to
migrate becomes unthinkable in the rationality of the Nation-State and the power to control
who enters and who leaves its territory (Redin, 2013). In absolute hospitality, however, it is
Rosanne Machado ROLLO; Mateus Aparecido de FARIA; Camilo DARSIE and Cristianne Maria Famer ROCHA
Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 7, n. 00, e023012, 2023. e-ISSN: 2177-5060
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necessary to break with the hospitality of law and justice, as it no longer requires a pact to guide
entry (Derrida, 2003).
In the same direction, Derrida (2004) argues that hospitality cannot have any legal or
political status. However, unconditional law could not exist without the conditional laws of
hospitality. Unconditional law needs the conditional laws of hospitality, or else it would remain
in utopia and would have no way of becoming effective because "to be what it is, the law needs
the laws that, however, deny it, threaten it, in any case, sometimes corrupt or pervert it"
(Derrida, 2003, p. 71, our translation).
On the other hand, the laws of conditional hospitality could not be laws of hospitality if
they were not inspired/guided by the law of unconditional hospitality. In this vein, the two laws,
the conditional and the unconditional, are at the same time opposite, contradictory, and
inseparable (Derrida, 2004). Therefore, for the author, the desire to be unconditionally
welcomed does not absolve the responsibility to negotiate the laws of conditional hospitality
since it is necessary to balance the desire for unconditional reception and the need for dependent
reception. Thus, a close relationship between hospitality and hostility emerges, which often can
go unnoticed.
According to Teixeira et al. (2022) and Rocha, Gama, and Dias (2012), narratives of
migrants and refugees, when questioned about issues involving hospitality practices in the
countries that receive them, sometimes reveal situations of hostility, even if subtle. The set of
studies presented by the authors is marked by testimonials permeated by feelings of gratitude
from migrants but, simultaneously, by situations that represent certain hostilities faced in their
daily lives.
In this direction, attentive observation and listening to the ways stories, experiences, and
daily dynamics of migrants and refugees are told can identify the faces of hostility amid
narratives that, most of the time, emphasize hospitable movements. Furthermore, such
situations can also be expressed through cultural intersections that bring subjects closer together
or drive them apart so that experiences related to this aspect become indicators of hospitality or
hostility.
Brazil, a country for all? The faces of hostility in the narratives of university student refugees
Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 7, n. 00, e023012, 2023. e-ISSN: 2177-5060
DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.v8i00.18777 8
Methodological Strategies
This research is qualitative and exploratory, conducted with refugee students who
entered undergraduate courses at a Brazilian federal public university through the Calls for
Admission of People in Refugee Situations in Undergraduate Courses in 2018 and 2019.
Initially, a survey of students with approved applications under the respective Calls was
conducted, totaling 26 potential interviewees.
After identifying potential collaborators, the Snowball technique was used to establish
contact with the group of interest, characterized by the constitution of a non-probabilistic
sample based on the indication of potential participants by critical informants, documents,
and/or the participants themselves. From this specific type of sampling, it is impossible to
determine who the research participants will be in advance; however, the technique proves
useful for studying certain groups that are difficult to access (Vinuto, 2014).
Thus, key informants were identified through initial contact in groups and/or courses
where the lead author participated. The first contact occurred individually and personally, and
new participants were recommended over time. Therefore, the participant group was finalized
with three Haitian individuals, two Venezuelans, and one Congolese.
Research data were produced through individual narrative interviews. The interview
proves to be productive in this context, especially because it allows a focus on experiences and
stories narrated by the interviewees, constituting meanings of what it is like to be a refugee
student in a public university. According to Andrade's perspective (2012), narratives do not
appear neutrally, as they are intrinsically imbued with historical, social, and cultural elements.
From this standpoint, the individual does not emerge as the pure origin of their own
words but rather as an intrinsic component of a broad discursive and sociocultural network that
determines the possibilities and limitations of their expression. Thus, the post-structuralist
assumption is embraced that the production of the subject occurs in the realm of language,
discourses, texts, representations, enunciations, modes of subjectivation, in power and
knowledge relationships, in other words, "in the discursive forces that name and govern it"
(Andrade, 2012, p. 174, our translation).
The six interviews took place between June and August 2021. Due to the social
distancing caused by the COVID-19 pandemic, the interviews were conducted online through
the Google Meet platform. All interviews were recorded and transcribed with prior
authorization from the participants. Transcriptions were provided to the participants for
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evaluation and information reformulation when necessary. However, all participants authorized
the use of transcriptions in their original versions.
Throughout the entire study, ethical procedures outlined in Resolutions No. 466/12 and
510/2016, which regulate research involving human subjects in Brazil (Brasil, 2012; 2016),
were observed. Data confidentiality was ensured, and participants were guaranteed the use of
chosen names, regardless of whether they were their registered names or not. The option to
withdraw from the study at any time was also assured. Before conducting the interviews, the
Free and Informed Consent Form (FICF) was read and duly signed. The Research Ethics
Committee of the Federal University of Rio Grande do Sul approved the research under the
number CAAE 45217521.3.0000.5347.
Cultural Differences and Faces of Hostility
Five of the six interviewees identified themselves as Black and reported having a
religion and/or religious belief. They were between 23 and 35 years old, with five being single
and one married. From a residential perspective, three lived in Porto Alegre (RS), two in the
University Student House (CEU), and one with family. The other three students resided in the
metropolitan region of Porto Alegre, with two paying rent. All had been in Brazil for over three
years, averaging about 4.5 years, and five had already started higher education in their home
country. It is important to note that all students entered through the 2019 call, and due to the
pandemic, they began their courses in 2020, already in the Emergency Remote Teaching (ERE)
mode.
In this context, it is noteworthy that the Venezuelan students, when discussing their
impressions of Brazil and their daily lives, pointed out the joy of the people, the musicality, and
dance as factors that bring the two countries closer. Food, for them, was also perceived as a
cultural trait that connects the countries. Similarly, the Haitians reported familiarity with
Brazilian cuisine, although they understood the region's climate to be very different, as it is
much colder compared to their country.
Well, in the cultural aspect, what relates the most is the people's joy. There's
Carnival, and there's also Carnival there (...). The food isn't very different. We
eat a lot of beans, so it's not very distant from Brazilian and Gaúcho culture
(Dulce, 2021, our translation).
What I missed the most was entering a place and listening to salsa. (...) I think
it was more a matter of music. I love bossa nova; there are a lot of Brazilian
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or Latin American songs that have both Brazilian and Spanish versions
(Alexandra, 2021, our translation).
When I arrived, the culture was a bit challenging for me; I didn't like it, and I
wasn't getting used to the cold. The way of eating (...) is not very different.
There's also rice and beans and polenta (Baely, 2021, our translation).
I think they are somewhat similar cultures; in terms of food, the proximity is
much stronger. The base of food in Haiti is rice, beans, and meat as well (...).
The difference is the language and the weather, which here in Rio Grande do
Sul gets slightly cold (Rogério, 2021, our translation).
As can be seen from the excerpts, cultural elements (language, food, way of life) are
remembered as important by the migrants. However, the deepest memories in the narratives
concern the longing for families and friends left in the home country or even in other places.
For them, these memories evoke various feelings:
[...] the strongest [what I miss the most] would be my family because
nowadays I'm here with my sister [...], my brother is still in Chile, and my
mother is in Haiti; we're a bit scattered, and that doesn't sit well with me. I
wish we were together and miss that a lot (Rogério, 2021, emphasis added,
our translation).
I missed it when I was there [in Haiti], missed my mother and father, who
were already in Brazil. When I also came here, I missed my friends
(Chidelson, 2021, emphasis added, our translation).
It is common that in narratives of migrants and refugees located in different countries,
the longing for family becomes a sentiment frequently recounted. Beyond the family ties that
are mentioned, feelings of belonging or non-belonging to the places they grew up and live in,
more precisely, to the experiences that connect them to spatial segments and social groups, are
evident. Therefore, it is possible to consider that the conditions for refugee students to have
contact with their relatives, whether through temporary displacements or digital connections,
may indicate certain hostilities experienced in Brazil (Teixeira et al., 2022).
In this sense, the set of public policies to support refugees, beyond entering the
university system, should be capable of providing conditions for the full enjoyment of life and
matters that promote the quality of life. Certainly, it is a presumptuous argument, but one that
proves relevant in promoting what is recognized as unconditional hospitality (Derrida, 2000).
Associated with the longing for family and friends, the linguistic question becomes
present; after all, this difficulty is felt in all aspects of life for those who migrate and need to be
independent in their daily lives: in transportation, in the healthcare system, in the market, in
stores, on the street, at the university. This language issue hindering life in the new country is
apparent in the narratives below.
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I learned the language on the street. I learned to sell underwear and socks. And
after that, I went to work in a café. So, I always had a lot of contact with
people. [...] Then I left the café and went to work in a store [...] in customer
service, like a call center. [...] I think this helped a lot in developing certain
skills. [...] Once, I was in the café, placing an order, and I had to say it was for
two spoons. And I wrote 'spuun' with 'U and U.' It was supposed to be 'spoon,'
but I wrote it as I heard. [...] Gradually, and with Portuguese courses and
reading, it improved [...]. There's still many things I write wrong, but the
phone's autocorrect helps (Alexandra, 2021, our translation).
I say that my goal was to study, and I knew I had to live in Portuguese, so I
had two options: either study Portuguese or study Portuguese. The first two
months were the most difficult, the most complicated of my life. I remember
a story where I went to a bakery in Curitiba, and I said, 'Miss, how are you? I
want five countries.' I said it lovingly. I wanted five breads but said countries
(Zuri, 2021, our translation).
As observed, language is a challenge; however, for those who did not consider language
a major problem, at the time of the interview, most refugee students had been in Brazil for some
time, and many had already taken Portuguese courses. They understood that language is learned
in coexistence and the struggle for survival, and for any eventuality, there are reliable and easily
accessible translation apps (especially on mobile phones).
Also, throughout the narratives, in line with Bandeira (2018), it became apparent that a
lack of language proficiency is not a significant problem. The greatest difficulty is
homesickness or the desire to be in one's own country, which is accentuated in many ways,
including linguistically. Here, there is more difficulty in finding friends to share life and family
stories in their native languages, as Rogério reveals in the following account:
I would like to be in my culture, in my country, speaking and expressing myself
in my languages, without fearing what I am going to say if it will be wrong or
not [...] (Rogério, 2021, our translation).
Rogério's desire demonstrates that, in addition to missing the culture of his home
country, migrants sometimes fear speaking incorrectly due to linguistic difficulties. Thus,
[...] the foreigner remains silent: does not know the right thing to say, how to
say it. The foreigner remains silent: does not know the right thing to say, when
to say it, or how to say it. Fears using the wrong word for simple and everyday
situations or using too many or too few words. Fear being judged poorly,
having their accent evaluated, and being asked questions they won't know how
to answer. He knows how to start a conversation but does not know how to
continue it, so he chooses not to start it. They want to say something
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interesting about a subject they know little about but prefer not to try because
it may sound inappropriate. Therefore, the foreigner listens (Jaffe, 2015, p.
102, our translation).
However, the fear of speaking and the baggage, at times laden with traumatic and
distressing experiences from pre-migratory experiences, were not the greatest challenges
regarding acceptance. The narratives of refugee students emphasize the impact of
discriminatory experiences upon arriving in Brazil. When asked if they perceived Brazil as a
welcoming country for migrants/refugees, the discussions were somewhat polarized, with some
finding Brazil hospitable and others not. Alexandra, for example, highlights the lack of support
and information when seeking documentation from the Federal Police:
Well, I don't think so! [...] For example, when I went to the Federal Police, I
kind of knew a little Portuguese, but they didn't [have the goodwill] to
communicate in my language, for instance. And I never had any guidance from
there. I went there and said, 'It's asylum.' But I never had anyone telling me,
'Oh, you can also apply for residency, or there are these options for your case.'
Show me an entire catalog [...] of what would be more suitable for me!
(Alexandra, 2021, our translation).
Rogério, on the other hand, speaks about acceptance, bringing two aspects: Brazilian
legislation and the "culture" of Brazilians, as described in the account below.
There are two sides: Brazilian legislation, what it says about immigrants, and
how Brazilians culturally view migration. But, in general, legislation, or the
laws concerning migration, I understand that it is a welcoming country, but
people's opinions are not always like that (Rogério, 2021, our translation).
In the excerpt above, Rogério refers to believing that, based on current legislation, Brazil
welcomes migrants. However, for the student, the acceptance of the Brazilian people is not as
evident. It should be noted that, despite Brazil being a leading figure in Latin America regarding
migration laws, having proposed some public policies, such as facilitating access to universities
and the 2017 Migration Law, advancing the recognition of rights, including social rights, there
are still spaces of exclusion (Bertoldo, 2020). In other words, even though there is an explicit
recognition of equality in the right to education under Article 4, X, and access is considered a
principle under Article 3, XI, the condition of the immigrant and their foreignness are
structurally exclusionary (Bertoldo, 2020).
As the only narrative that presents legislation, even if "in a general way," as a welcoming
practice, it is likely not fully supported by legal regulations, as Bertoldo (2020) suggests that
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there is a material inequality between migrants and nationals in practice. This discussion about
acceptance, based on legislation, also demonstrates a condition of subjection to the rules of the
state, where legal status is a determinant for access to fundamental rights. It allows entry and
access, temporarily, with some rights, in a relationship of submission and subjection under a
condition of conditioned hospitality (Derrida, 2003).
In contrast, Baely and Chidelson perceive Brazil, without reservations, as a welcoming
country for migrants:
I can say that, yes, Brazil is a welcoming country, but it is not prepared to
receive these immigrants. I don't know if you understand what I mean, but it
is indeed a welcoming country (Baely, 2021, our translation).
Very much! I think so, including, I am part of Bará [...], which supports
refugees and students at the university. Therefore, in my book [Looking at
Another Ocean], I said that it is easier to live when the country reaches out
(Chidelson, 2021, our translation).
However, despite Baely and Chidelson's narratives emphasizing that Brazil is a
welcoming country, contradicting this image of a cordial country towards diversity, all the
students verbalized personally experiencing or knowing a migrant who experienced
discriminatory attitudes due to race, ethnicity, nationality, and social class.
The fact that the destination does not always demonstrate acceptance and respect for
diversities, as reported, causes the migrant to experience double violence he is undesirable at
departure and arrival. Eco (2020, p. 42) emphasizes that "we cannot stand those who are
different from us because they have a different skin color, because they speak a language we
do not understand, because they eat frogs, dogs, monkeys, pigs, garlic, because they are
tattooed." The issue is that feeling invaded, the host tends to protect their right to hospitality,
often exhibiting xenophobic attitudes towards the foreigner: "I begin by considering the
foreigner undesirable and virtually as an enemy, anyone who tramples on my chez-moi, ipseity,
my sovereignty as a host. The guest becomes a hostile subject from whom I risk becoming a
hostage" (Derrida, 2003, p. 49, our translation).
One of the definitions of the term xenophobia is described by Albuquerque Júnior
(2016) in the book Xenofobia medo e rejeição ao estrangeiro (Xenophobia Fear and
Rejection of the Foreigner). According to the author,
The word xenophobia comes from Greek, from the articulation of the words
xénos (strange, foreigner) and phobos (fear), meaning, therefore, a fear,
rejection, refusal, antipathy, and a deep aversion to the foreigner. It implies
Brazil, a country for all? The faces of hostility in the narratives of university student refugees
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mistrust and prejudice towards people strange to the territory, the
environment, and the culture to which those who judge, observe, and consider
themselves as being in their place belong. Xenophobia implies spatial
delimitation, territoriality, a community where an inside and an outside are
established, an interiority and an exteriority, both material and symbolic, both
territorial and cultural, making the one who comes from outside that territory
or culture a stranger who is refused, rejected to a greater or lesser extent
(Albuquerque Júnior, 2016, p. 9, our translation).
According to the author, the foreigner is often viewed with suspicion and strangeness
because their culture, attitudes, and values are not aligned with those of the people receiving
them. Corsi (2020) argues that the foreigner is seen with a certain deficit of humanity, lacking
physical characteristics, gestures, movements, and performances similar to those who perceive
them. Some consider the different beings as inferior, leading to feelings of rejection.
Chade (2022) mentions a sixteen-page letter sent by ten special rapporteurs from the
United Nations (UN) and mechanisms of the Organization on dismantling the myth of Brazil
being welcoming to foreigners. This letter, delivered to the government of Jair Bolsonaro in
April 2022, reports numerous human rights violations against immigrants and refugees,
especially Africans, Haitians, and Venezuelans.
Moreover, among other things, the article highlights that, in the last 20 years, there have
been multiple manifestations of racism and xenophobia, including murders and arbitrary
detentions of Africans and Haitians, the burning of university residences supporting African
migrants, and public expressions of racist and xenophobic sentiments, including hate speech
and graffiti against the presence of African migrants in Brazilian cities.
As seen, immigrants frequently appear in the media, reporting the violence,
mistreatment, neglect, and all forms of prejudice they endure (Corsi, 2020). What is reported
fails to fully capture all the hardships faced by these groups in Brazil lately. Worse yet, we only
become aware of more incidents being reported, although structural racism has existed in the
country since its colonization (Almeida, 2018).
In this context, Ribeiro (2020) emphasizes that xenophobia, racism, and discrimination
based on origin are social and political problems almost always linked to the theme of
migrations in Brazil. According to the author, the degree of urgency and connection between
these forms of violence varies in different times and places, and their linkage is not always
evident, depending on sociopolitical, cultural, geopolitical, or historical conditions. However,
the manifestation of these phenomena in Brazil:
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[...] as an ethnological-racial, often religious, basis and revolves around
dichotomies of white and non-white, Christian and non-Christian (Muslim,
Umbandist, etc.), poor and non-poor. This means that even when directed
towards a foreigner, aversion to a black foreigner is not at the same level as
an aversion to a white foreigner of European or North American origin,
conceived in the Brazilian collective imagination as a 'gringo,' as I have been
pointing out in recent research (Ribeiro, 2021, p. 345, our translation).
Cases of violence against the black migrant population in Brazil could be considered
mere expressions of xenophobia, based on society's uncertainties and insecurities regarding
foreigners (Appadurai, 2009), were it not for the frequent reports from black migrants about
racist insults in the workplace, government institutions, and even on the streets, as repeatedly
witnessed in the media.
For Anunciação (2017), the recurring cases of violence against black migrants in Brazil,
while deconstructing the myth of racial democracy, draw attention to the issue of latent
structural violence in Brazilian society. According to the author, disguised under xenophobic
discourse, these aggressions reveal much about our history as a nation, as they are directed at
black migrants. In the narratives below, the students describe the discomfort of racist
experiences, drawing comparisons between being black in Brazil and being black in their
country of origin.
Another thing that we also weren't accustomed to is the issue of racism. In my
country, the majority are black. I suffered in my country because of money.
There are people who are richer (...) and people who are poorer, just like here
in Brazil. But because of my skin color, I never suffered in my country.
Unfortunately, I had some contacts and bad moments; someone assaulted me
(...), and we suffered, but I saw that here it's common, it's part of people's
culture (Baely, 2021, our translation).
Another thing is the fact that you are black here. We come from a place
where everyone is the same color: the president is black, the minister is black,
the teacher is black, the doctor who attends to you is black, and everyone
there has almost the same color as you, maybe a little lighter, but you are all
black, and you know that everyone is equal. And you arrive, and your color
already stands out (...). Your color bothers you (...), you enter a store, and
they look at you badly, go to a place where you find more white people, and
sometimes you feel bad because of your skin color. At first, I didn't understand.
Now, after entering the health field course, I have learned much about racism.
A light came on in me: "My God, I went through so many racist acts, and I
didn't know it was racism" because I didn't grow up with it. I've never been a
victim of racism until I got here! And how would I know that the lady was
racist to me because she followed me in the store, showing me the cheaper
things, "Here are the cheapest things; this is for you." She was racist to me,
she was! It makes you want to curse the person (Zuri, 2021, emphasis added,
our translation).
Brazil, a country for all? The faces of hostility in the narratives of university student refugees
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As previously discussed, racism takes different forms of manifestation, depending on
the political and social history. In Brazil, due to a history of slavery and the extermination of
blacks and indigenous people, beyond defining skin color stereotypes and prejudices, the
naturalization of racial differences is embedded in the structure of social relations that
determine the superiority of individuals perceived as white over those perceived as black.
Racism, as presented in the excerpts above, denotes its expression in the form of aversion and
hatred towards individuals with certain physical characteristics (skin color and hair type). This
manifests through direct racial discrimination, such as the disdain for certain individuals
determined by racial condition, and indirect discrimination, as a process marked by supposed
neutrality that culminates in disadvantages for racialized individuals.
Almeida (2018) also indicates that manifestations of racism can reach different levels
of underestimation, exclusion, and denial of the identity of the black individual, even reaching
physical violence, indicating that in the hegemonic circle of Brazilian society, structural racism
remains unprecedented. In the narratives above, the discursiveness of the black body is
constituted by the difference in being black in their country of origin and here in Brazil.
Narratives like Baely's, which bring discrimination associated with work and/or
employment, carry not only the fact that migrants ask but "steal" jobs from Brazilians, as is
evident in the following excerpts:
Some people think that immigrants come to steal jobs and not to create,
especially people from poor countries, like Africans and Haitians, who suffer
more from this bullying (Rogério, 2021, emphasis added, our translation).
Normally, the immigrant is seen as a person who will steal the job of a native
(...), but we have our skills and abilities, so integration would be best for
common advancement, collective progress, and not individual progress
(Chidelson, 2021, emphasis added, our translation).
When you go to ask for a job, you say you are an immigrant, they get a little
like (...) because he is an immigrant, did he come to steal or to do something
else? (...) I'm saying this because I went through it (Baely, 2021, our
translation).
Eduardo Galeano, back in 2015, exposed the figure of the immigrant from a society that
has great difficulty accepting the difference. The foreigner, analogous to the figure of the Devil,
representing evil, manifestly expresses the separations and segregations imposed by those in
power on minorities they find undesirable as they hinder their power projects. He says:
The blame-o-meter indicates that the immigrant comes to steal our job, and
the danger meter indicates it with a red light. He is poor, young, and not white;
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the intruder, the one who came from afar, is doomed at first sight due to
indigence, inclination to chaos, or skin color. And in any case, if he is not
poor, not young, not dark, he is still unwelcome because he arrives willing to
work twice as much for half the pay (...) (Galeano, 2015, p. 116, our
translation).
In this sense, the fear of the immigrant justifies the alienation and blame, making him
the main culprit, according to xenophobic sentiments, for the increase in unemployment,
violence, and other contemporary ills. The statements below appeared associated with other
types of discrimination, which usually hark back to violence and exploitation in the workplace,
such as receiving lower wages compared to other employees performing the same function or
working more hours than they should, with no extra payment whatsoever:
They want you to work much more than others, to do double or triple the work,
and they pay very low, almost half of what other Brazilian employees receive.
And when they fire you, they don't pay much. They know you don't know the
labor laws here, and they take advantage of being immigrants. It seems like
they offer the worst jobs to black people. Here in [city], I saw Brazilians, who
are also black, doing the worst jobs, even if they have the skills and
knowledge. Unfortunately, they don't respect it in this region. (...) Now, they
are adapting because there are many immigrants here (Baely, 2021, our
translation).
Low-paying jobs are offered to Haitians and Senegalese. They put the person
there because the Haitian will wash dishes. (...) Moreover, they don't even
earn the salary that a regular attendant would earn. (...) It happens a lot with
foreigners and immigrants who are here, doing a job that sometimes pays R$
1,500.00, and sometimes they end up earning R$ 1,000.00 or R$ 800.00 just
because they are foreigners, and on top of that, they are black (Zuri, 2021,
our translation).
In this sense, the interviewees' perception of the offer of worse jobs and salaries for
refugees is sometimes associated with black Brazilians seeking work. According to Soares and
Ybarra (2020), with the progressive increase in unemployment and labor and pension reforms,
the effective informalization of employment, labor rights, and signed professional cards, work
precarization becomes historical data that will be exchanged for intermittent work and
telecommuting.
The authors, based on UN data, emphasize that in these new challenges for wage
workers, discrimination indices are relevant, for example: "Blacks earn 41% less than white
people"; "women receive 74.2% less than men," and there is also evidence of a "9.3% increase
in children aged 5 to 13 in child labor." All this context culminates with "the increase in
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migration that subjects some people to unacceptable human situations and the persistence of
rural and urban slave labor" (ONU, 2016, p. 33, our translation).
Baely also emphasizes the issue of less qualified jobs, which he calls "worse jobs." In
this regard, Faria, Ragnini, and Bruning (2021) state that the jobs found by migrants are mainly
informal and precarious, involving activities that require low qualifications. Even in the case of
migrants with qualifications (training and experience), entering the labor market is difficult.
According to Medeiros et al. (2020), a decreasing relationship exists when comparing salaries
by gender, education, country of origin, and color. The authors also suggest that income
differences are sensitive to the nationality variable, that the immigrant's origin also seems to
influence occupational status, and that the labor market seems more receptive to foreigners of
a certain origin and with specific characteristics, to the detriment of others.
The faces of intolerance are evident everywhere, as shown by the narratives presented.
Even though Brazil is seen by some as festive and lively, which might be confused with the
practice of a welcoming country (smiling and embracing migrants/refugees), most of the
narratives presented here reinforce that Brazil is not for everyone. In practice, the smile is not
as easy, and the embrace, when it exists, is not as comforting. All of this aligns with structural
racism, evident in speech, lack of opportunities, and the issue of skin color, which complicates
the stay of migrants in the country.
Final considerations
The present article analyzed the construction of the experience regarding cultural
differences and hostilities faced by refugee students at a federal public university after their
arrival in Brazil. According to the presented narratives, it is possible to identify that feelings of
gratitude for hospitality are intertwined with stories marked by practices of hostility, often
associated with prejudices that have been discussed in the country for years.
Cultural similarities, such as food, dances, and rituals, bridge the geographical distances
experienced by refugee students in Brazil. Simultaneously, through culture, the research
participants perceive emotional distance, particularly in relation to language and the absence of
family. The hostility felt and verbalized in the presented accounts materializes the discrepancy
between the lived and proclaimed hospitable Brazil. A significant "it depends" emerges as a
response to the question of whether this country welcomes well those who seek shelter, security,
and protection. Furthermore, it is poignant how racism and xenophobia structure the experience
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of university students in Brazil. These forms of relation with the foreigner, the stranger, and the
migrant (unwanted) permeate these bodies and provoke effects and forces that are the opposite
of what is understood as unconditional hospitality, activating the constant threat of extradition.
This research aimed to advance the understanding of experiences related to cultural
differences and hostilities faced by refugee university students in Brazil. The research process
has limitations that indeed serve as stimuli for future investigations. Some areas for further
exploration include understanding the human development of refugees in other educational
contexts, such as basic education and social movements. Additionally, there is a need to
consider other profiles of refugees to broaden the understanding of the overall experience. The
proposition of longitudinal research that can track these experiences over time emerges as a
significant challenge to be addressed based on this research.
The tensions presented can contribute to the proliferation of discussions that transform
these realities, strengthening hospitality practices and respect for differences. It is understood
that a more significant number of research studies and publications on the topic can enhance
such transformations, especially within educational environments.
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CRediT Author Statement
Acknowledgements: We would like to express our gratitude for the support received from
the Extended Guidance Group of the Study Group on Health Promotion (GAO/GEPS) and
the Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS).
Funding: No research funding was received for this study.
Conflicts of interest: There are no conflicts of interest associated with this research.
Ethical approval: Throughout the study, ethical procedures outlined in Resolutions No.
466/12 and 510/2016, which regulate research involving human subjects in Brazil (Brasil,
2012; 2016), were observed. Data confidentiality was ensured, and participants were given
the option to use chosen names, regardless of their official records. The right to withdraw
from the study at any time was also guaranteed. Before interviews were conducted, the
Informed Consent Form (ICF) was read and signed. The research was approved by the
Research Ethics Committee of the Federal University of Rio Grande do Sul under protocol
number CAAE 45217521.3.0000.5347.
Data and material availability: No, the data and materials are protected by the
confidentiality of the research.
Authors' contributions: Rosanne Rollo: Contributed to the conception and planning
stages of the study, production, and analysis of data, as well as writing and revision of the
manuscript. Camilo Darsie: Contributed to the conception and planning stages of the study,
production, and analysis of data, as well as writing and revision of the manuscript. Mateus
Aparecido de Faria: Contributed to the production and analysis of data, as well as the
writing and revision of the manuscript. Cristianne Maria Famer Rocha: Contributed to
the conception and planning stages of the study, production and analysis of data, and writing
and revision of the manuscript.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.