Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 8, n. 00, e023022, 2023. e-ISSN: 2177-5060
DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.v8i00.18680 1
SER MULHER E SURDA EM UM CURSO DE NÍVEL SUPERIOR: AUDISMO E
GÊNERO EM DEBATE
SER MUJER Y SORDA EN UN CURSO DE NIVEL SUPERIOR: AUDISMO Y GÉNERO
EN DEBATE
BEING A WOMAN AND DEAF IN A HIGHER LEVEL COURSE: AUDISM AND
GENDER IN DEBATE
Carlos Roberto de O. LIMA1
e-mail: carlosrobertolima1112@gmail.com
Como referenciar este artigo:
LIMA, C. R. de O. Ser mulher e surda em um curso de nível
superior: Audismo e gênero em debate. Plurais - Revista
Multidisciplinar, Salvador, v. 8, n. 00, e023022, 2023. e-
ISSN: 2177-5060. DOI:
https://doi.org/10.29378/plurais.v8i00.18680
| Submetido em: 23/09/2023
| Revisões requeridas em: 27/10/2023
| Aprovado em: 28/11/2023
| Publicado em: 30/12/2023
Editoras:
Profa. Dra. Célia Tanajura Machado
Profa. Dra. Kathia Marise Borges Sales
Profa. Dra. Rosângela da Luz Matos
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Corum MS Brasil. Doutorando em Educação pela
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (PPGEdu/UFMS). Mestre em Educação (2021) pela Fundação
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, campus do Pantanal (UFMS/CPAN).
Ser mulher e surda em um curso de nível superior: Audismo e gênero em debate
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RESUMO: As manifestações de violência auditiva e de gênero, que se configuram como
formas de opressão contra mulheres surdas, são o foco de análise na presente pesquisa. O estudo
investiga o discurso de uma acadêmica surda matriculada em um curso de graduação em uma
Universidade Pública Federal, visando coletar, por meio de sua comunicação gestual, as
representações dessas violências em sua construção de subjetividade. As análises foram
abordadas por intermédio dos pressupostos foucaultianos. Constatou-se que a intersecção entre
violências de gênero e audismo são algumas das possibilidades de formação de identidade da
acadêmica surda. Sua subjetividade está submersa em ações que colocam a audição como
referencial de sucesso, comportamento padrão e desejo de uma sociedade oralizada, entretanto,
ao dizer sobre si: “o que eu mais uso é a Libras”, encontramos práticas de resistência surda em
meio a este aparato coercitivo.
PALAVRAS-CHAVE: Interseccionalidade. Gênero. Audismo. Surdez. Educação Superior.
RESUMEN: Las huellas de la violencia auditista y de género, configurándose como formas
de opresión contra las mujeres sordas, constituyen la presente investigación como foco de
análisis, centrándose en el discurso de una académica sorda de un curso de pregrado en una
Universidad Pública Federal para recoger en su señalización las representaciones de dicha
violencia en su formación de subjetividad. Los análisis se abordan a través de supuestos
foucaultianos. Se encontró que la intersección entre violencia de género y audismo son algunas
de las posibilidades de formación de identidad de académicos sordos. Su subjetividad queda
sumergida en acciones que sitúan la audición como referente de éxito, como conducta estándar
y deseo de una sociedad oralizada. Sin embargo, al decir de mismo: “lo que más uso es
Libras”, se encuentran prácticas de resistencia sorda en medio de este aparato coercitivo.
PALABRAS CLAVE: Interseccionalidad. Género. Audismo. Sordera. Educación
universitaria.
ABSTRACT: The marks of audism and gender violence, configuring themselves as forms of
oppression against deaf women, are constituted in the present research, as the focus of analysis,
leaning over the speech of a deaf academic from an undergraduate course at a Federal Public
University to collect in its signage the representations of such violence in its formation of
subjectivity. The analyses are approached through Foucauldian assumptions. It was found that
the intersection between gender violence and audism is one of the possibilities for identity
formation of the deaf academic. Her subjectivity is submerged in actions that place hearing as
a reference for success, as a standard behavior and desire of an organized society; however,
when saying about himself: “what I use most is Libras,” there are practices of deaf resistance
in the midst of all these coercive apparatus.
KEYWORDS: Intersectionality. Gender. Audism. Deafness. College education.
Carlos Roberto de Oliveira LIMA
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Introdução
Eu sou dois seres.
O primeiro é fruto do amor de João e Alice.
O segundo é letral [...].
O primeiro está aqui de unha, roupa, chapéu e vaidades
O segundo está aqui em letras, sílabas, vaidades frases.
Manoel de Barros
Manoel de Barros possui um delírio em sua escrita ao lidar com as pequenezas da vida
e com a habilidade de dar significados sublimes para seres reais e imaginários que, em hipótese
alguma, nossa mente poderia alcançar. Manoel ficciona a realidade e constrói sujeitos. Manoel
é dois seres. São tantos e vários outros. Seus delírios são suporte para pensar a construção das
identidades dos sujeitos sociais de nossa época. Por isso, por tresvariar, elegi Manoel para me
acompanhar nas possibilidades de escrita que se seguem, como um intercessor literário.
Desta forma, podemos pensar que a construção das identidades se em relação. O
sujeito se constrói a partir de suas relações sociais e suas possibilidades de identificação estão
sempre multifacetadas. Nestes fragmentos de nosso tempo, as múltiplas identidades estão/são
imbricadas e produzidas pelas relações de saber-poder, portanto, conhecer o sujeito requer
entender que ele não existe enquanto forma acabada.
Guacira Lopes Louro (2019, p. 13) pontua que: “[...] somos sujeitos de identidades
transitórias e contingentes”. Isso requer pensar que todas as identidades sociais possuem um
“[...] caráter fragmentado, instável, histórico e plural” onde, por vezes, o sujeito se constitui,
sendo continuamente alterado pela cultura do local em que habita e também interferindo em
quem está à sua volta.
Partindo deste princípio, da multifacetação que nos constrói, a presente escrita objetiva
analisar no discurso de uma acadêmica surda de um curso de graduação em uma Universidade
Pública Federal, marcas de violência audista e de gênero no decorrer de sua vida e formação
acadêmica. Desta forma, no tópico seguinte, Delimitações da pesquisa: contornos de lata,
apresento as escolhas e justificativas metodológicas para a realização da análise e a condução
estabelecida para a composição do material coletado durante a entrevista.
Em seguida, no tópico Marcas da opressão: as práticas de audismo como violência
contra sujeitos surdos, elaboro uma abordagem acerca do termo invenção, compreendendo-o
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como fruto da necessidade humana de comunicar-se e uma análise sintática da noção e
emergência do conceito audismo.
No tópico Clarice: caracterização e contextualização, apresento a acadêmica
colaboradora com a pesquisa, seu percurso de vida, processos acadêmicos, sua relação com a
Língua Brasileira de Sinais e seus familiares. Clarice é um nome fictício para preservação da
identidade da acadêmica. Posteriormente, no tópico Problematizações possíveis acerca da
violência audista e de gênero, apresento os recortes eleitos no discurso da universitária para
trabalhar com a intersecção audismo e gênero, entendo-as como duas formas de subordinação,
dominação e marginalização de determinadas identidades.
E, por fim, nas considerações finais, entendendo que estou lidando com as experiências
e subjetividades de uma acadêmica surda, portanto, experiência singular e “[...] subjetividades
[que] são construídas a partir de uma dada surdez, em uma dada pessoa, com específicas
condições de possibilidades que a situam e a definem como corpo, família, indivíduo e
território” (Vieira-Machado; Mattos, 2019, p. 30), evidencio como estas intersecções diárias
entre práticas de violência de audismo e de gênero se concatenam para eleger como modelo de
sucesso o padrão ouvinte de experiência, fazendo com que resistir seja uma forma de
manifestar-se em meio a estes aparatos coercitivos de representatividades.
Delimitações da Pesquisa: contornos de lata
Se você jogar na terra uma lata por motivo de traste:
Mendigos, cozinheiras ou poetas podem pegar.
Por isso eu acho as latas mais suficientes,
Por exemplo, do que as ideias.
Manoel de Barros
Os delírios de Manoel aduzem ser mais produtivo o uso de uma lata, do que as ideias.
Suas justificativas e desarrumações linguísticas compõem um arsenal de explicações: as latas
são objetos concretos, portanto, ao enchê-las de areia e sair puxando pelas ruas, por exemplo,
você possui um caminhão; já com as ideias, por ser fruto de um espírito e abstrata, não pra
encher de areia, desta forma, em Manoel, a lata é mais suficiente: as ideias criaram bombas
atômicas e não caminhões de areia (Barros, 2006).
Carlos Roberto de Oliveira LIMA
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A lata de Manoel, a materialidade e a utilidade dada em sua escrita, torna possível
dimensionar alguns apontamentos para nossa discussão: o que é material? Qual a lata de nossa
pesquisa? Qual a ideia que não comporta areia? Que sujeito esperamos encher, ou que
esperamos estar cheios, para sair às ruas performando determinadas condições de existência?
Diante de tais possibilidades e de pequenas questões tão complexas implantadas por
Manoel, neste tópico, me proponho a dimensionar as escolhas da investigação. A lata da
pesquisa que acredito ser possível preencher de areia (leia-se objetivo) é analisar no discurso
de uma acadêmica surda de um curso de graduação em uma Universidade Pública Federal
marcas de violência audista e de gênero no decorrer de sua vida e formação acadêmica.
O recorte apresentado faz parte de uma pesquisa maior aprovada pelo Comitê de Ética
em Pesquisa (CEP) em nível de mestrado. Após aprovação, entrei em contato com a instituição
solicitando informações acerca dos acadêmicos surdos registrados no referido campus. Em
retorno, recebi uma Tabela em Excel contendo os dados e as informações necessárias para uma
primeira aproximação.
Com o contato de e-mail disponibilizado pela instituição, convidei a acadêmica para
colaborar com a pesquisa. A partir do aceite por parte da universitária, foram realizadas
entrevistas semiestruturadas divididas em um roteiro com dois blocos temáticos. O roteiro foi
composto por perguntas abertas, pois, como observou Manzini (2012), tal abordagem assegura
maior abertura para uma possível reconfiguração e/ou adequação das questões para o nível de
linguagem dos participantes.
Os levantamentos de dados supramencionados ocorreram entre os anos de 2020 e 2021,
momento pandêmico e de isolamento social, onde a acadêmica estava recebendo atendimento
por parte de intérpretes de Libras da instituição de forma remota, portanto, as entrevistas
seguiram os mesmos processos, ocorrendo por intermédio do aplicativo Google Meet. Antes da
aplicação das entrevistas, a discente preencheu o Termo de Consentimento Livre Esclarecido
(TCLE) e, em seguida, concedeu suas narrativas.
O material fora analisado por intermédio dos pressupostos das obras foucaultianas. A
escolha por Michel Foucault como referencial teórico da pesquisa se justifica pela possibilidade
de explorar as relações de micropoder presentes nas interações entre surdos e ouvintes no
ambiente de Ensino Superior. A perspectiva foucaultiana também interessa, na medida em que
a acadêmica entrevistada produz subjetividades em um contexto de diversidade linguística e
supera diferentes tipos de adversidades no decorrer da sua formação.
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Desta forma, a partir das edificações de lata propostas por Manoel, no tópico seguinte
abordamos a dimensão das práticas audistas e a importância de reconhecer suas formas de
violência.
Marcas de opressão: as práticas de audismo como violência contra sujeitos surdos
Um homem estava anoitecido.
Se sentia por dentro um trapo social.
Igual se, por fora, usasse um casaco rasgado e sujo.
Tentou sair da angústia. Isto ser:
Ele queria jogar o casaco rasgado e sujo no lixo.
Ele queria amanhecer.
Manoel de Barros
O homem fragmentado de Guacira Lopes Louro que passa a desejar amanhecer, como
aquele de Manoel de Barros. As marcas e desejos que os formam dizem respeito a estruturas
observáveis de nossa sociedade, diz respeito àquelas ideias de Manoel sobre onde se coloca
areia do lado de dentro. É, destarte, sobre estas tentativas de condução de si e do outro, de
governar suas escolhas (que não são apenas suas), que estão imbricadas em um emaranhado de
construções sociais que, neste momento, desejo alocar e demarcar algumas invenções.
O termo invenção adotado nesta pesquisa refere-se ao sentido que lhe foi conferido por
Ludwig Wittgenstein (1979) onde as coisas são todas inventadas a partir do momento que, por
intermédio da linguagem, lhes damos materialidade. Wittgenstein considera que “[...]
denominar algo é semelhante a colocar uma etiqueta numa coisa” (Wittgenstein, 1979, p. 14),
portanto, a necessidade de comunicar algo ainda “indizível” é produto de uma necessidade
comunicacional.
Desta forma, inventamos diversos saberes sobre aqueles considerados os “outros”. Os
conhecimentos gerados nestes campos de saber, produzem possibilidades de exercer o poder,
de conduzir os sujeitos, de direcionar suas ações e escolhas. O saber e o poder são indissociáveis
nessa relação social, por isso, “[...] produz[em] realidade; produz[em] campos de objetos e
rituais da verdade. O indivíduo e o conhecimento que dele se pode ter se originam nessa
produção” (Foucault, 2014, p. 189).
Carlos Roberto de Oliveira LIMA
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É dentro deste campo produtivo e inventivo que surge o termo audismo que, segundo
Humphries (1977), é “[...] a noção de que alguém é superior com base na capacidade de ouvir
ou de comportar-se como quem ouve” (p. 12, tradução minha). A palavra fora inventada por
Tom L. Humphries, um sujeito que cresceu na zona rural da Carolina do Sul, EUA, e que ficou
surdo aos seis anos de idade. Mesmo passando a não ouvir, Humphries cresceu em um ambiente
completamente ouvinte, sem contato com outros pares surdos, ou seja, sua cultura, valores e
comportamentos continuaram a ser de uma pessoa que ouvia, porém, que fisicamente passou a
ser surdo.
Humphries (1977) se comunicava de forma oral, sem intervenção da língua de sinais
americana e se sentia orgulhoso toda vez que se passava por ouvinte nas situações do dia-a-dia,
toda vez que seu inglês e suas capacidades discursivas eram bem sucedidas, considerando-se
como um surdo-ouvinte e, até mesmo, o único de sua espécie, taxando-se de “excepcional” e
de um “sucesso”. Para além de tal orgulho, Humphries fora ativo em desdenhar daqueles que
utilizavam a língua de sinais e não conseguiam alcançar o lugar de prestígio que ele transitava.
A produção de tal comportamento pode ser entendida pelo viés da diferença quando
Humphries aponta em sua tese os motivos que o levaram a exercer esse posicionamento e
performar um orgulho ouvinte que não lhe pertencia. Segundo seus apontamentos:
A maior parte da minha vida, passei andando em lugares públicos fingindo
estar ouvindo, tentando esconder minha diferença. É uma solitária existência
porque você não pode falar com ninguém para que sua diferença não seja
exposta. [...] Eu achava que isso era o que é chamado de "superar sua
deficiência”. Porque eu pensei que escondê-la era "superá-la", [...] este parecia
ser o pensamento de nossa sociedade. E a sociedade reforçou todas essas
minhas ideias e atitudes. A sociedade exigia que eu fosse aprovado ou seria
isolado completamente. A sociedade exigia que eu me conformasse e me
envergonharia se não o fizesse. [...] A sociedade estava perfeitamente disposta
a me banir para aquela zona crepuscular de invisibilidade para os seus
membros secundários, como os negros, mulheres, índios americanos e cegos.
A sociedade estava disposta a me ajudar a esconder minha diferença se eu
quisesse seguir esse caminho, ensinando-me a ignorar e suprimir minha
diferença em vez de reconhecê-la e aceitá-la (Humphries, 1977, p. 8, tradução
minha).
Humphries (1977) estava anoitecido. Se sentia por dentro um “trapo social”. Estava
usando um casaco sujo e rasgado da marca hegemônica da audição. Humphries tentou jogar
fora tal casaco para conseguir amanhecer. Para tanto, se aproximou de dois movimentos sociais:
de mulheres e de pretos americanos. Logo percebeu identificações nas lutas de tais grupos,
despertando a necessidade de compreender que força era essa que o oprimia e que ainda não
possuía materialidade.
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Humphries (1977) conseguiu jogar fora o casaco sujo e rasgado e desistiu de correr atrás
da promessa da sociedade de seu tempo que afirmava que, se ele se esforçasse, conseguiria
“vencer” a surdez. Neste contexto, surge o termo audismo. Segundo o autor, o peso de tal
palavra precisava ser para os surdos o mesmo que o racismo significa para os povos pretos. O
vocábulo audismo vem do latim audire e significa ouvir. A partir da criação da expressão,
Humphries derivou a palavra audista, para caracterizar aquele que pratica o audismo. Assim,
mensura-se e nomeia-se o fenômeno social contra o qual Humphries pretendia lutar.
É importante deixar registrado que as marcas do audismo se configuram em uma prática
social, portanto, o é uma ação inerente de ouvintes. O próprio Humphries reconhece-se como
um sujeito que luta contra suas ações audistas: “Eu participei ativamente em rebaixar aquelas
pessoas que sinalizavam, que não falavam inglês fluentemente, que não falavam e não podiam
passar por um ouvinte” (Humphries, 1977, p. 7, tradução minha).
Agora que o conceito analítico do termo fora apresentado e que sabemos que sua
invenção materializa uma forma de pensar as relações de saber e poder imbricadas entre surdos
e ouvintes e, até mesmo, entre os próprios sujeitos surdos, no tópico seguinte, apresento a
acadêmica surda e os seus caminhos educacionais.
Clarice: caracterização e contextualização
Se a gente jogar uma pedra no vento
Ele nem olha para trás. [...]
Ele não dói nada. [...]
Depois me ensinaram que vento não tem organismo.
Fiquei estudado.
Manoel de Barros
Manoel e Clarice (nome fictício dado à acadêmica surda para a proteção de sua
identidade) possuem semelhanças. Manoel inverte a lógica das palavras e reorganiza as
significações das frases. Clarice segue a mesma esteira de pensamento, porém, delira a palavra-
sinal. Faz das movimentações manuais dicionário visual para os habilitados de poesia. A
palavra escrita por Manoel e a sinalizada por Clarice são latas para se colocar areias e pedras
para se tacar ao vento. Me senti estudado também.
Carlos Roberto de Oliveira LIMA
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A entrevista com a acadêmica compreendeu sua apresentação inicial, questões voltadas
ao seu processo de aquisição linguística (sinalizada), seu histórico escolar, ingresso na
Instituição de Ensino Superior (IES) e permanência durante o período pandêmico. Clarice
ingressou na instituição no ano de 2018, à época com 22 anos de idade. Sua surdez foi
descoberta ainda bebê, tendo sua aquisição linguística iniciada na primeira infância. Frequentou
o antigo Centro Estadual de Atendimento ao Deficiente da Audiocomunicação (CEADA)
2
,
onde estudou até o período de ingressar na Rede Municipal de Educação (REME).
Em seu trajeto de vida, Clarice fora submetida a tratamentos fonoaudiológicos, como
expressa: Fiz o tratamento para aprender a falar, com fones de ouvido, testes de percepção
de som e utilizei aparelhos auditivos”, porém, o que eu mais uso é a Libras, a língua
portuguesa eu uso bem menos”. As táticas de normalização comunicacional podem ser
entendidas ao dimensionar seu âmbito familiar, pois Clarice é a única surda dentro de uma
família ouvinte que não aprendeu a língua sinalizada. De acordo com seu relato, para se
comunicar com sua família existem táticas diferentes: sua mãe domina alguns sinais; com seu
pai, o recurso utilizado é leitura labial e, com seu irmão que aprende os sinais, mas, esquece,
uma mistura das duas formas de comunicação intercaladas ou misturadas.
Durante seu percurso educacional, Clarice sempre contou com intérpretes de Libras. Sua
mãe cobrava pelo direito de acesso linguístico e pela presença deste profissional em sala de
aula. Com estas formas de condução, Clarice chegou ao curso de nível superior. Ingressou na
IES por intermédio do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Seu discurso materializa
essa alegria: “Sempre foi meu sonho. [...] Por ser meu sonho, meu dom, eu fui e passei. Fiquei
muito feliz! Não consigo te explicar a minha emoção”.
O impacto da presença de uma acadêmica surda gerou receios no curso em questão e tal
marca apareceu no discurso sinalizado de Clarice: “[...] a turma [...] levou um susto quando
descobriram que iria entrar a primeira surda do curso. Todos se desesperaram muito
((imitando o desespero)) “Meu Deus! Meu Deus”.
Durante o período pandêmico as atividades educacionais foram administradas de forma
remota, inclusive os atendimentos realizados pelos intérpretes de língua brasileira de sinais.
Para Clarice, suas dificuldades foram acentuadas: Agora com a COVID-19 eu sinto que vou
2
De acordo com Albres (2005, p. 5) o CEADA foi “criado pelo Decreto no 3546, de 17 de abril de 1986”. As
atividades de 1º a 5º ano desenvolvidas neste local, como o ensino de português e matemática eram realizadas em
Libras, proporcionando um ambiente educacional favorável à aquisição linguística de crianças surdas com seus
pares. Tais atendimentos deixaram de ocorrer desde dezembro de 2016 e os alunos passaram a ser matriculados
diretamente no Sistema Regular de Ensino em atenção à Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
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morrer. É uma quantidade muito grande de texto e eu acabo não entendendo nada. Por
exemplo, em sala, com a explicação, eu consigo entender e escrever, pela internet eu tenho a
sensação que a aula se torna um resumo, é bem confuso”.
Além destes problemas, outros foram narrados em sua sinalização: Passei muita raiva,
muito ódio com a internet. Tive problemas no meu computador, problemas no meu celular.
Tudo me atrapalhava e não conseguia abrir, sequer, meu g-mail. Foi muito estressante. Tive
até um começo de depressão”.
A questão tecnológica também se apresenta como um fator determinante para a
permanência da universitária durante esse período. O acesso a materiais de qualidade se
configura em um dos atravessamentos encarados por Clarice, funcionando como um fator de
exclusão em relação a sua permanência no curso neste momento onde a tecnologia se torna vital
no processo educacional.
No tópico seguinte, trago as problematizações possíveis que dimensionam as práticas
audistas e as interlocuções com a questão de gênero que interpelam Clarice nas esferas que mais
participa: educacional e familiar.
Problematizações possíveis acerca da violência audista e de gênero
Ninguém de nós, na verdade, tinha força de fonte.
Ninguém era início de nada.
A gente pintava nas pedras a voz.
E o que dava santidade às nossas palavras era a canção de ver!
Manoel de Barros
Concordo com as palavras de Manoel ao aduzir que “ninguém era o início de nada”.
Antes de nosso nascimento, as materialidades e possibilidades de nossa existência estavam
determinadas: nossa classe social, cultura, língua, doutrina, etc. Nesse sentido, pintar voz em
pedras (leia-se contraconduzir-se) é um ato de resistência. Clarice resiste em um misto de
violências diárias que a interpela de diversas formas.
O primeiro reconhecimento de tais práticas aparece em seu discurso ao relatar sua
relação com os profissionais de tradução e interpretação da IES: “[...] minhas maiores
dificuldades foram com intérpretes [...]. Alguns dos intérpretes também dizem as suas opiniões
em relação a mim: “É melhor você ir para outro curso!”. ((pausa)) Eu fico sem reação. Como
assim? [...] “Porque seu curso é muito difícil, não é algo fácil”.
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A materialidade de tal discurso carrega uma marca audista. Considerar que Clarice não
possui condições de formar-se em seu curso, conduz a pensar o audismo como uma ação “[...]
na forma de pessoas que continuamente julgam a inteligência dos surdos e seu sucesso com
base em sua habilidade da língua e da cultura ouvinte” (Humphries, 1997, p. 13, tradução
minha), portanto, neste pensamento, sem a dimensão do uso da língua portuguesa, o sujeito
surdo estaria fadado a um lugar secundário.
Clarice continua seu discurso acerca destes profissionais: Teve intérprete que me disse:
‘Seria incrível, sensacional, você ir para o curso de Letras-Libras ((pausa)). Eu não tenho o
dom. Já tem um ano que eu me sinto magoada com esse tipo de comentários que os intérpretes
fazem pra mim”.
A expectativa de que surdos, unicamente, devem se formar em Letras-Libras por se
tratar de uma área que usa a língua sinalizada como campo de saber, corresponde a uma segunda
prática audista. Considerar o curso de Letras-Libras mais “fácil” encontra resquícios de
condução de corpos surdos, dando a entender que todo surdo, por ser surdo, estaria fadado ao
curso de Letras-Libras.
É importante, neste momento, registrar que, segundo o Código de Conduta Ética e
Profissional apresentado pela Federação Brasileira das Associações dos Profissionais
Tradutores e Intérpretes e Guia intérpretes de Língua de Sinais (Febrapils) é vedado ao TILS:
“dar conselhos ou opiniões pessoais, exceto quando requerido e com anuência do Solicitante
ou Beneficiário” (Febrapils, 2014, p. 5).
Outra prática de violência registrada em sua fala aparece em relação a sua família:
E, também, agora, no mês passado, eu pedi ao meu pai para ele parar de fazer
algo que estava me atrapalhando, e ele me perguntou “por quê?”, eu disse que
iria estudar alguns conceitos para prestar um determinado concurso. E ele me
respondeu “Ué, mas você é surda, não tem capacidade para isso. Seria bem
melhor se você colocasse um Implante Coclear para começar a ouvir. Seria
bem melhor e se tornaria bem mais fácil se você ouvisse”. Eu fiquei chocada.
Isso quadruplicou meu desgaste. Quase chorei, quase desisti do curso. Não
queria mais ir trabalhar, nem queria viver.
Neste recorte familiar, a prática audista aparece como “[...] uma falta de conhecimento
sobre o estado de bem-estar das pessoas surdas que levam as pessoas a acreditar que a felicidade
não é possível, exceto nas modalidades auditivas” (Humphries, 1977, p. 16, tradução minha).
As palavras de seu pai, que também apresenta uma tática de condução para alocar Clarice na
norma da audição, seria bem melhor se você colocasse um Implante Coclear para começar a
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ouvir, revela como sua subjetividade vem sendo moldada, o que gera suas vontades de desistir
do curso, trabalho e da própria vida.
A forma como Clarice lida com tais discursos a coloca em constante conflito. Suas
respostas às questões sempre demarcam este problema relacional, ora com intérpretes, ora com
familiares e, apesar de todos os desejos que lhe passam pela mente, a acadêmica resiste e
permanece seguindo seu sonho: formar-se em seu curso.
Uma nova prática de opressão apareceu no discurso sinalizado de Clarice:
Também aconteceu isso em relação ao meu irmão. [...] Antes do fim do ano
passado, quando eu passei no vestibular e estava toda feliz, meu irmão falou
assim: “Nossa, você vai fazer esse curso? Impossível, você é surda!”. Eu
fiquei muito surpresa. “Você não esfeliz?”, perguntei. “Sim, estou feliz, mas
esse curso é muito difícil para você. Você combina com o curso de Estética”
[...].
Considerar que Clarice deveria vincular-se ao curso de Estética, é uma forma de
associação com temáticas construídas historicamente, destinando às mulheres profissões
definidas e estanques. Estamos, então, diante de uma dupla forma de opressão: de gênero, por
ser Clarice uma mulher e, audista, por ser, também, surda.
Destarte, a intersecção entre tais violências alocam Clarice em um subconjunto, “mulher
surda”, que enfrenta um problema específico que não atinge àquelas mulheres alocadas na
norma da audição. O problema não é do gênero, mas, sim, da forma como a surdez é
compreendida socialmente dentro dos espaços em que a acadêmica transita.
A interseccionalidade
3
, ferramenta que analisa mais de uma forma de opressão
simultânea, abraça uma complexidade de ações discriminatórias e de condições específicas de
um grupo de pessoas. Essa perspectiva é respaldada por Kurashige (2014), que destaca que as
estruturas de classe, gênero, sexualidade, entre outras, não podem ser consideradas de forma
isolada, uma vez que as formas de opressão de uma estão intrinsecamente relacionadas às
outras. Nesse caso específico, a análise engloba as questões de gênero e de audição, que, ao se
intersectarem, operam como sistemas de dominação e opressão, relegando suas identidades a
um status marginalizado e subordinando-as a outras consideradas completas.
Tais conduções de corpos acabam “[...] exigindo deles o mesmo conjunto de padrões,
comportamentos e valores que eles demandam de ouvintes” (Humphries, 1977, p. 13, tradução
minha), ou seja, ao instaurar-se a norma da audição como padrão, desejável e bonito, corpos
3
Segundo Piscitelli (2008, p. 267), as interseccionalidades são formas de capturar as consequências da interação
entre duas ou mais formas de subordinação: sexismo, racismo, patriarcalismo.
Carlos Roberto de Oliveira LIMA
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que estão fora da possibilidade passam a ocupar um lugar secundário no imaginário social e
suas subjetivações podem vir-a-ser formadas de forma mofina e autodepreciativas.
Segundo Neiva Furlin (2013), as questões que envolvem a formação de subjetividade
em Foucault, podem ser entendidas como equivalentes ao termo agenciamento para Butler,
onde as particularidades do sujeito “[...] é constituída por meio dos atos de resistência aos
códigos de conduta” (Furlin, 2013, p. 397).
Pensando neste viés, Clarice, desde criança, fora submetida a formas de fazê-la entrar
no código de conduta da norma da audição: submetida as práticas de reabilitação da fala,
treinamento e percepção de som e táticas de oralidade, além do uso de aparelhos auditivos. Tais
processos ecoam em suas narrativas, portanto, ao sinalizar tais opressões, existe uma tentativa
de contra conduzir-se.
Desta forma, suas idiossincrasias, marcadas por ações audistas institucionais e
familiares, ao serem interseccionadas com as marcas de violência de gênero, podem representar
um (re)encontro com seu passado, suas relações culturais e sociais. As possibilidades de
formação de identidade de Clarice perpassam tais intersecções cotidianas de subordinação e
dominação.
Assim, no tópico seguinte, tento esboçar um fechamento para uma questão que precisa
receber muitas análises e esquadrinhamentos para dimensionar os perigos que tais práticas
audistas e de gênero podem causar na formação de subjetividades de mulheres surdas.
Considerações finais
Todo discurso, segundo as análises foucaultianas, é produto de relações de poder. Estas
relações determinam as formas como os sujeitos se narram, julgam e conduzem-se mediante as
formas de opressão que seus corpos recebem. As práticas audistas e as violências de gênero
detectadas durante a pesquisa apontam as materialidades vividas por uma mulher surda que
cresceu sendo submetida às táticas de restauração da audição.
Mesmo tendo se submetido aos processos de sua história, afirma: o que eu mais uso é
a Libras”. Clarice não esconde o quanto está submersa em ações que colocam a audição como
referencial de sucesso, comportamento padrão e desejo de uma sociedade oralizada, entretanto,
ao dizer sobre si, relata: “o que eu mais uso é a Libras”.
Além do audismo, que representa apenas uma das formas de opressão enfrentadas pela
acadêmica, a permanência de sujeitos surdos na instituição requer apoio em outras áreas. Isso
Ser mulher e surda em um curso de nível superior: Audismo e gênero em debate
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inclui, por exemplo, a necessidade de acolhimento em relação às particularidades da identidade
surda, que vão além da questão da audição e abrangem aspectos como gênero, deficiência e até
mesmo padrões estéticos e tecnológicos.
Compreendo que a experiência apresentada pela acadêmica não pode ser considerada
uma regra padrão para todas as outras experiências. Estou lidando com uma forma de olhar para
o fenômeno interseccional de audismo e gênero, práticas que formam subjetividades surdas. As
tensões apresentadas são passíveis de desvelar as ações institucionais e familiares que
reproduzem comportamentos que elegem o padrão ouvinte como referencial, fabricando
identificações nos sujeitos surdos e/ou formas e alternativas de encaixarem/resistirem nesse
relacional de in(ex)clusão, buscando alterar a realidade em que se encontram.
Admitir que usa mais a Libras do que a língua portuguesa como forma comunicacional
é um brado de resistência às práticas de normalização sofridas ao longo de sua vida. Aceitar a
identificação linguística sinalizada e afirmá-la é mensurar que o desejo de seu pai, seu irmão e
intérpretes de libras institucionais, não poderá fazer com que abandone seus sonhos. Clarice é
apenas uma, entre tantas outras Clarices espalhadas em instituições educacionais dentro e fora
do contexto brasileiro, que insistem em mudar os homens usando borboletas.
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Carlos Roberto de Oliveira LIMA
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CRediT Author Statement
Reconhecimentos: O presente trabalho foi realizado com apoio da Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul UFMS/MEC Brasil.
Financiamento: Não aplicável.
Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.
Aprovação ética: O recorte de dados coletados durante o mestrado e apresentado neste
texto foi aprovada pelo Comitê de Ética sob o CAAE: 30714120.7.0000.0021.
Disponibilidade de dados e material: Não aplicável.
Contribuições dos autores: Autoria única.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
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BEING A WOMAN AND DEAF IN A HIGHER LEVEL COURSE: AUDISM AND
GENDER IN DEBATE
SER MULHER E SURDA EM UM CURSO DE NÍVEL SUPERIOR: AUDISMO E
GÊNERO EM DEBATE
SER MUJER Y SORDA EN UN CURSO DE NIVEL SUPERIOR: AUDISMO Y GÉNERO
EN DEBATE
Carlos Roberto de O. LIMA1
e-mail: carlosrobertolima1112@gmail.com
How to reference this paper:
LIMA, C. R. O. Being a woman and deaf in a higher level
course: Audism and gender in debate. Plurais - Revista
Multidisciplinar, Salvador, v. 8, n. 00, e023022, 2023. e-
ISSN: 2177-5060. DOI:
https://doi.org/10.29378/plurais.v8i00.18680
| Submitted: 23/09/2023
| Revisions required: 27/10/2023
| Approved: 28/11/2023
| Published: 30/12/2023
Editors:
Prof. Dr. Célia Tanajura Machado
Prof. Dr. Kathia Marise Borges Sales
Prof. Dr. Rosângela da Luz Matos
Deputy Executive Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Federal University of Mato Grosso do Sul (UFMS), Corumbá - MS - Brazil. Doctoral degree student in Education
at the Federal University of Mato Grosso do Sul (PPGEdu/UFMS). Master of Education (2021) from the Federal
University of Mato Grosso do Sul, Pantanal campus (UFMS/CPAN).
Being a woman and deaf in a higher level course: Audism and gender in debate
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ABSTRACT: The marks of audism and gender violence, configuring themselves as forms of
oppression against deaf women, are constituted in the present research, as the focus of analysis,
leaning over the speech of a deaf academic from an undergraduate course at a Federal Public
University to collect in its signage the representations of such violence in its formation of
subjectivity. The analyses are approached through Foucauldian assumptions. It was found that
the intersection between gender violence and audism is one of the possibilities for identity
formation of the deaf academic. Her subjectivity is submerged in actions that place hearing as
a reference for success, as a standard behavior and desire of an organized society; however,
when saying about himself: “what I use most is Libras,” there are practices of deaf resistance
in the midst of all these coercive apparatus.
KEYWORDS: Intersectionality. Gender. Audism. Deafness. College education.
RESUMO: As manifestações de violência auditiva e de gênero, que se configuram como formas
de opressão contra mulheres surdas, são o foco de análise na presente pesquisa. O estudo
investiga o discurso de uma acadêmica surda matriculada em um curso de graduação em uma
Universidade Pública Federal, visando coletar, por meio de sua comunicação gestual, as
representações dessas violências em sua construção de subjetividade. As análises foram
abordadas por intermédio dos pressupostos foucaultianos. Constatou-se que a intersecção
entre violências de gênero e audismo são algumas das possibilidades de formação de
identidade da acadêmica surda. Sua subjetividade está submersa em ações que colocam a
audição como referencial de sucesso, comportamento padrão e desejo de uma sociedade
oralizada, entretanto, ao dizer sobre si: “o que eu mais uso é a Libras”, encontramos práticas
de resistência surda em meio a este aparato coercitivo.
PALAVRAS-CHAVE: Interseccionalidade. Gênero. Audismo. Surdez. Educação Superior.
RESUMEN: Las huellas de la violencia auditista y de género, configurándose como formas
de opresión contra las mujeres sordas, constituyen la presente investigación como foco de
análisis, centrándose en el discurso de una académica sorda de un curso de pregrado en una
Universidad Pública Federal para recoger en su señalización las representaciones de dicha
violencia en su formación de subjetividad. Los análisis se abordan a través de supuestos
foucaultianos. Se encontró que la intersección entre violencia de género y audismo son algunas
de las posibilidades de formación de identidad de académicos sordos. Su subjetividad queda
sumergida en acciones que sitúan la audición como referente de éxito, como conducta estándar
y deseo de una sociedad oralizada. Sin embargo, al decir de mismo: “lo que más uso es
Libras”, se encuentran prácticas de resistencia sorda en medio de este aparato coercitivo.
PALABRAS CLAVE: Interseccionalidad. Género. Audismo. Sordera. Educación
universitaria.
Carlos Roberto de Oliveira LIMA
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Introduction
I am two beings.
The first is the result of the love between João and Alice.
The second is a creature of letters [...].
The first is here with nails, clothes, hats, and vanities.
The second is here in letters, syllables, phrases, and vanities.
Manoel de Barros
Manoel de Barros’ writing possesses a delirium as he deals with the smallness of life
and with the ability to give sublime meanings to real and imaginary beings that our minds could
never possibly reach. Manoel fictionalizes reality and constructs subjects. Manoel is two beings.
He is many and various others. His delirium supports the construction of the identities of social
subjects of our time. Therefore, because of his ramblings, I chose Manoel to accompany me in
the possibilities of writing that follow, as a literary intercessor.
In this way, we can think that the construction of identities occurs in relation. The
subject is constructed from their social relations, and their possibilities for identification are
always multifaceted. In these fragments of our time, multiple identities are intertwined and
produced by relations of knowledge and power. Therefore, understanding the subject requires
recognizing that they do not exist in a finished form.
Guacira Lopes Louro (2019, p. 13, our translation) notes that: “[...] we are subjects of
transitory and contingent identities.” This requires thinking that all social identities possess a
“[...] fragmented, unstable, historical, and plural character” where, at times, the subject is
constituted, continually altered by the culture of the place they inhabit and also influencing
those around them.
Based on this principle of multifaceted construction, the present writing aims to analyze,
within the discourse of a deaf academic from an undergraduate course at a Federal Public
University, the marks of audist and gender violence throughout her life and academic training.
Thus, in the following section, Delimitations of the research: tin contours, I present the
methodological choices and justifications for conducting the analysis and the established
approach for composing the material collected during the interview.
Next, in the section Marks of oppression: audism practices as violence against deaf
individuals, I elaborate on the term invention, understanding it as a result of the human need to
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communicate, and provide a syntactic analysis of the notion and emergence of the concept of
audism.
In the section Clarice: characterization and contextualization, I introduce the academic
collaborator with the research, her life journey, academic processes, her relationship with
Brazilian Sign Language, and her family. Clarice is a fictitious name used to preserve the
academic's identity. Subsequently, in the section Possible problematizations concerning audist
and gender violence, I present selected excerpts from the academic's discourse to explore the
intersection of audism and gender, understanding them as two forms of subordination,
domination, and marginalization of certain identities.
Finally, in the concluding remarks, I understanding that I am dealing with the
experiences and subjectivities of a deaf academic, therefore, a singular experience and “[...]
subjectivities [that] are constructed from a given deafness, in a given person, with specific
conditions of possibilities that situate and define them as body, family, individual, and territory”
(Vieira-Machado; Mattos, 2019, p. 30, our translation), I highlight how these daily intersections
between practices of audist and gender violence converge to elect the hearing standard of
experience as a model of success, making resistance a form of manifestation amidst these
coercive apparatuses of representativity.
Research Delimitations: Tin Contours
If you throw a tin can on the ground as trash.
Beggars, cooks, or poets might pick it up.
Therefore, I find tins more sufficient,
For instance, than ideas.
Manoel de Barros
Manoel’s delusions suggest that using a tin can is more productive than ideas. His
justifications and linguistic disarray form an arsenal of explanations: tins are concrete objects,
so if you fill them with sand and drag them through the streets, for example, you have a truck;
whereas ideas, being a product of the spirit and abstract, cannot be filled with sand. Thus, for
Manoel, the tin is more sufficient: ideas have created atomic bombs, not sand trucks (Barros,
2006).
Carlos Roberto de Oliveira LIMA
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Manoel's tin can, its materiality, and utility given in his writing, allows us to frame some
points for our discussion: what is the material? What is the tin can of our research? What idea
cannot hold sand? Which subject do we expect to fill, or to be filled, to go out into the streets
performing certain conditions of existence?
Given these possibilities and the small yet complex questions posed by Manoel, I aim
to outline the choices of the investigation in this section. The tin can of the research that I
believe can be filled with sand (read: objective) is to analyze the discourse of a deaf academic
in an undergraduate program at a Federal Public University, identifying marks of audist and
gender violence throughout her life and academic formation.
The presented excerpt is part of a larger research approved by the Research Ethics
Committee (CEP) at the master's level. After approval, I contacted the institution to request
information about the registered deaf academics on the campus. In response, I received an Excel
table containing the necessary data and information for an initial approach.
Using the email contact provided by the institution, I invited the academic to collaborate
with the research. Upon her acceptance, semi-structured interviews were conducted, divided
into a script with two thematic blocks. The script consisted of open-ended questions, as noted
by Manzini (2012), this approach ensures greater openness for possible reconfiguration and/or
adaptation of the questions to the participants' level of language.
The aforementioned data collection occurred between 2020 and 2021, during the
pandemic and social isolation period, when the academic received remote assistance from the
institution's Libras interpreters. Therefore, the interviews followed the same processes,
conducted via the Google Meet application. Prior to the interviews, the student completed the
Informed Consent Form (TCLE) and subsequently shared her narratives.
The material was analyzed through the lens of Foucault's theoretical framework. The
choice of Michel Foucault as the research's theoretical reference is justified by the potential to
explore the micropower relations present in the interactions between deaf and hearing
individuals in the Higher Education environment. The Foucauldian perspective is also pertinent
as it allows examination of how the interviewed academic constructs subjectivities within a
context of linguistic diversity and overcomes various adversities throughout her academic
journey.
Thus, inspired by the tin can constructs proposed by Manoel, the following section
addresses the dimension of audist practices and the importance of recognizing their forms of
violence.
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Marks of Oppression: Audist Practices as Violence Against Deaf Individuals
A man was filled with night.
He felt like a social rag inside.
As if, on the outside, he wore a torn and dirty coat.
He tried to escape his anguish. That is:
He wanted to throw the torn and dirty coat into the trash.
He wanted to dawn.
Manoel de Barros
The fragmented man of Guacira Lopes Louro begins to wish for dawn, much like the
one described by Manoel de Barros. The marks and desires that shape them relate to the
observable structures of our society, aligning with Manoel's ideas about where to place sand on
the inside. Thus, it is about these attempts to guide oneself and others, to govern choices (which
are not solely their own), that are intertwined in a complex web of social constructions that, at
this moment, I wish to identify and delineate some inventions.
The term “invention” used in this research refers to the meaning attributed to it by
Ludwig Wittgenstein (1979), where things are all invented from the moment we give them
materiality through language. Wittgenstein considers that “[...] naming something is like
attaching a label to a thing” (Wittgenstein, 1979, p. 14, our translation), thus, the need to
communicate something still “unspeakable” is a product of communicational necessity.
In this way, we invent various knowledge about those considered “others.” The
knowledge generated in these fields of understanding produces possibilities to exercise power,
to guide subjects, to direct their actions and choices. Knowledge and power are inseparable in
this social relationship, therefore, “[...] they produce reality; they produce fields of objects and
rituals of truth. The individual and the knowledge that can be had about him originate in this
production” (Foucault, 2014, p. 189, our translation).
It is within this productive and inventive field that the term “audism” arises. According
to Humphries (1977), audism is “[...] the notion that one is superior based on the ability to hear
or to behave as one who hears” (p. 12, our translation). The word was invented by Tom L.
Humphries, a person who grew up in rural South Carolina, USA, and became deaf at the age of
six. Even after becoming deaf, Humphries grew up in an entirely hearing environment, without
contact with other deaf peers; his culture, values, and behaviors remained those of a hearing
person, although he physically became deaf.
Carlos Roberto de Oliveira LIMA
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Humphries (1977) communicated orally, without the intervention of American Sign
Language, and felt proud every time he passed as a hearing person in daily situations. He felt
validated whenever his English and discursive abilities were successful, considering himself a
"hearing-deaf" person, even thinking of himself as unique, labeling himself as "exceptional"
and a "success." Beyond this pride, Humphries was active in looking down on those who used
sign language and could not achieve the same prestigious position he occupied.
The production of such behavior can be understood through the lens of difference when
Humphries highlights in his thesis the reasons that led him to adopt this stance and perform a
hearing pride that did not truly belong to him. According to his observations:
Most of my life, I spent walking in public places pretending to be hearing,
trying to hide my difference. It is a lonely existence because you cannot talk
to anyone so that your difference is not exposed. [...] I thought this was what
is called 'overcoming your disability.' Because I thought that hiding it was
'overcoming' it, [...] this seemed to be the thought of our Society. And Society
reinforced all these ideas and attitudes of mine. Society demanded that I
conform, or I would be completely isolated. Society demanded that I conform
and would shame me if I did not. [...] Society was perfectly willing to banish
me to that twilight zone of invisibility for its secondary members, like Blacks,
women, Native Americans, and the blind. Society was willing to help me hide
my difference if I wanted to go that route, teaching me to ignore and suppress
my difference instead of recognizing and accepting it (Humphries, 1977, p. 8,
our translation).
Humphries (1977) was in a state of darkness. He felt like a "social rag" inside, wearing
a dirty and torn coat branded by the hegemony of hearing. Humphries tried to throw away this
coat to see the dawn. To achieve this, he approached two social movements: those of women
and Black Americans. He soon realized connections in the struggles of these groups, awakening
the need to understand what force was oppressing him and still lacked materiality.
Humphries (1977) managed to discard the dirty and torn coat and gave up chasing the
societal promise of his time that claimed if he worked hard enough, he could "overcome" his
deafness. In this context, the term "audism" emerged. According to the author, the weight of
this word needed to be for the deaf what racism signifies for Black people. The term "audism"
comes from the Latin audire, meaning "to hear." From the creation of this term, Humphries
derived the word "audist" to characterize someone who practices audism. Thus, the social
phenomenon against which Humphries intended to fight was measured and named.
It is important to note that the marks of audism manifest as a social practice and are not
inherently actions of hearing individuals. Humphries himself recognizes that he was a
participant in audist actions: "I actively participated in belittling those who used sign language,
Being a woman and deaf in a higher level course: Audism and gender in debate
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who did not speak fluent English, who did not speak, and could not pass as hearing"
(Humphries, 1977, p. 7, our translation).
Now that the analytical concept of the term has been presented and we understand that
its invention materializes a way of thinking about the knowledge and power relations
intertwined between deaf and hearing individuals, and even among deaf individuals themselves,
I will introduce the deaf academic and her educational pathways in the following section.
Clarice: characterization and contextualization
If we throw a stone into the wind
It doesn't even look back. [...]
It doesn't hurt at all. [...]
Later, they taught me that wind has no organism.
I was shocked.
Manoel de Barros
Manoel and Clarice (a fictitious name given to the deaf academic to protect her identity)
share similarities. Manoel reverses the logic of words and reorganizes the meanings of
sentences. Clarice follows the same train of thought, but she deliriously signs the word. She
turns hand movements into a visual dictionary for those skilled in poetry. The words written by
Manoel and the ones signed by Clarice are cans filled with sand and stones to throw into the
wind. I felt I studied too.
The interview with the academic included her initial presentation, questions related to
her linguistic acquisition process (signed), her school history, enrollment in Higher Education
Institution (HEI), and her presence during the pandemic period. Clarice entered the institution
in 2018, at the age of 22 at the time. Her deafness was discovered as a baby, and her linguistic
acquisition began in early childhood. She attended the former State Center for Assistance to the
Audio-Communication Disabled (CEADA)
2
, where she studied until she joined the Municipal
Education Network (REME).
2
According to Albres (2005, p. 5) CEADA was “created by Decree no. 3546, of April 17, 1986”. The 1st to 5th-
year activities developed at this location, such as teaching Portuguese and mathematics, were carried out in Libras,
providing an educational environment favorable to deaf children’s language acquisition with their peers. Such
services have not occurred since December 2016, and students have begun to be enrolled directly in the Regular
Education System in compliance with the Education Guidelines and Bases Law.
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In her life journey, Clarice underwent speech therapy treatments, as she expressed: "I
underwent treatment to learn to speak, with headphones, sound perception tests, and I have
used hearing aids," however, "what I use the most is Libras, I use spoken Portuguese much
less." Communication normalization tactics can be understood by assessing her family
environment because Clarice is the only deaf person in a hearing family who did not learn sign
language. According to her account, different tactics are used to communicate with her family:
her mother knows some signs; with her father, lip reading is used, and with her brother, who
learns the signs but forgets, a mixture of the two forms of communication is used
interchangeably or combined.
Throughout her educational journey, Clarice always had Libras interpreters. Her mother
advocated for the right to linguistic access and for the presence of these professionals in the
classroom. With these forms of support, Clarice reached higher education. She entered the HEI
through the National High School Exam (ENEM). Her speech materializes this joy: "It has
always been my dream. [...] Because it is my dream, my gift, I went and passed. I was very
happy! I can't explain my emotion to you."
The impact of having a deaf academic generated concerns in the course in question, and
this mark appeared in Clarice's signed speech: "[...] the class [...] was shocked when they found
out that the first deaf person was going to enter the course. Everyone panicked a lot ((imitating
panic)) 'My God! My God'."
During the pandemic period, educational activities were conducted remotely, including
the services provided by Brazilian Sign Language interpreters. For Clarice, her difficulties were
exacerbated: "Now with COVID-19, I feel like I'm going to die. There's a huge amount of text,
and I end up not understanding anything. For example, in class, with the explanation, I can
understand and write, but online, I feel like the class becomes a summary, it's very confusing."
In addition to these problems, others were narrated in her signing: "I felt a lot of anger,
a lot of hatred towards the internet. I had problems with my computer, problems with my phone.
Everything bothered me, and I couldn't even open my email. It was very stressful. I even had a
beginning of depression."
The technological issue also emerges as a determining factor for the student's
persistence during this period. Access to quality materials is one of the challenges Clarice faces,
functioning as a factor of exclusion regarding her continuation in the course at a time when
technology becomes vital in the educational process.
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In the next topic, I bring up possible problematizations that dimension the audist
practices and the interlocutions with the gender issue that intersect with Clarice in the spheres
where she participates most: educational and familial.
Possible problematizations regarding audist and gender-based violence
None of us, in fact, had the strength of a source.
None was the beginning of anything.
We painted our voices on stones.
And what gave sanctity to our words was the sight of green!
Manoel de Barros
I agree with Manoel's words when he suggests that "none was the beginning of
anything." Before our birth, the materialities and possibilities of our existence were already
determined: our social class, culture, language, doctrine, etc. In this sense, painting voices on
stones (read as counter-conducting oneself) is an act of resistance. Clarice resists amidst a mix
of daily violence that challenges her in various ways.
The first acknowledgment of such practices appears in her discourse when she describes
her relationship with the translation and interpretation professionals at the institution: "[...] my
greatest difficulties were with interpreters [...]. Some of the interpreters also expressed their
opinions about me: 'It's better for you to go to another course!' ((pause)) I'm speechless. What
do you mean? [...] 'Because your course is very difficult, it's not something easy.'"
The materiality of such discourse carries an audist mark. Considering that Clarice is not
capable of graduating from her course leads to thinking of audism as an action "[...] in the form
of people who continually judge the intelligence of the deaf and their success based on their
ability in the language and culture of the hearing" (Humphries, 1997, p. 13, our translation),
therefore, in this thought, without the dimension of the use of the Portuguese language, the deaf
individual would be destined to a secondary place.
Clarice continues her discourse about these professionals: "There was an interpreter
who told me: 'It would be amazing, sensational, for you to go to the Letras-Libras course'
((pause)). I don't have the gift. It's been a year since I've been hurt by these kinds of comments
that interpreters make to me."
The expectation that deaf individuals must exclusively graduate in Letras-Libras
because it is an area that uses sign language as a field of knowledge corresponds to a second
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audist practice. Considering the Letras-Libras course as "easier" finds traces of guiding deaf
bodies, implying that every deaf person, by virtue of being deaf, would be destined for the
Letras-Libras course.
It is important, at this moment, to note that, according to the Code of Ethical and
Professional Conduct presented by the Brazilian Federation of Associations of Professional
Translators and Interpreters and Guide Interpreters of Sign Language (Febrapils), it is forbidden
for TILS: "to give advice or personal opinions, except when required and with the consent of
the Requester or Beneficiary" (Febrapils, 2014, p. 5, our translation).
Another form of violence recorded in her speech appears in relation to her family:
And also, now, last month, I asked my father to stop doing something that was
bothering me, and he asked me 'why?,' I said I was going to study some
concepts to take a certain exam. And he replied, 'Well, but you're deaf, you're
not capable of that. It would be much better if you got a Cochlear Implant to
start hearing. It would be much better, and it would become much easier if
you could hear.' I was shocked. This quadrupled my exhaustion. I almost cried,
almost gave up the course. I didn't want to go to work anymore and didn't want
to live anymore.
In this family excerpt, the audist practice appears as "[...] a lack of knowledge about the
well-being of deaf people that leads people to believe that happiness is not possible except in
auditory modalities" (Humphries, 1977, p. 16, our translation). The words of her father, who
also presents a tactic of guiding to place Clarice within the norm of hearing, "it would be much
better if you got a Cochlear Implant to start hearing," reveal how her subjectivity has been
shaped, leading to her desires to give up the course, work, and life itself.
The way Clarice deals with such discourses puts her in constant conflict. Her responses
to questions always mark this relational problem, sometimes with interpreters, sometimes with
family members, and despite all the desires that pass through her mind, the academic resists
and continues to pursue her dream: to graduate from her course.
A new form of oppression appeared in Clarice's signed speech:
The same thing happened with my brother. [...] Before the end of last year,
when I passed the entrance exam and was all happy, my brother said, "Wow,
are you going to do this course? Impossible, you're deaf!" I was very surprised.
"Aren't you happy?" I asked. "Yes, I'm happy, but this course is too difficult
for you. You'd be better suited for the Esthetics course [...]."
Considering that Clarice should align herself with the Esthetics course is a form of
association with historically constructed themes, assigning defined and rigid professions to
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women. We are then faced with a double form of oppression: gender, because Clarice is a
woman, and audist, because she is also deaf.
Thus, the intersection of these oppressions places Clarice in a subset, "deaf woman,"
which faces a specific issue that does not affect those women placed within the norm of hearing.
The problem is not of gender, but rather how deafness is socially understood within the spaces
where the academic moves.
Intersectionality
3
, a tool that analyzes more than one form of oppression simultaneously,
embraces the complexity of discriminatory actions and specific conditions of a group of people.
This perspective is supported by Kurashige (2014), who emphasizes that class, gender, and
sexuality, among others, cannot be considered in isolation, as the forms of oppression of one
are intrinsically related to the others. In this specific case, the analysis encompasses gender and
hearing issues, which, when intersected, operate as systems of domination and oppression,
relegating their identities to a marginalized status and subordinating them to others considered
complete.
Such body conduct "[...] demands from them the same set of standards, behaviors, and
values that they demand from hearing people" (Humphries, 1977, p. 13, our translation),
meaning that by establishing the norm of hearing as a standard, desirable, and beautiful, bodies
that are outside of this possibility come to occupy a secondary place in the social imaginary,
and their subjectivities may become molded in a self-deprecating manner.
According to Neiva Furlin (2013), the issues involving the formation of subjectivity in
Foucault can be understood as equivalent to the term agency for Butler, where the particularities
of the subject "[...] are constituted through acts of resistance to codes of conduct" (Furlin, 2013,
p. 397, our translation).
Thinking along these lines, Clarice, since childhood, has been subjected to ways of
fitting her into the code of conduct of the norm of hearing: subjected to speech rehabilitation
practices, sound perception training, and orality tactics, in addition to the use of hearing aids.
Such processes resonate in her narratives; therefore, by signaling such oppressions, there is an
attempt to resist.
Thus, her idiosyncrasies, marked by institutional and familial audist actions, when
intersected with the marks of gender violence, may represent a (re)encounter with her past, her
3
According to Piscitelli (2008, p. 267), intersectionalities are ways of capturing the consequences of the interaction
between two or more forms of subordination: sexism, racism, and patriarchalism.
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cultural and social relationships. Clarice's possibilities for identity formation intersect with
these daily intersections of subordination and domination.
Therefore, in the following section, I attempt to outline a conclusion for an issue that
requires much analysis and scrutiny to assess the dangers that such audist and gender practices
can pose in shaping the subjectivities of deaf women.
Final considerations
According to Foucauldian analyses, every discourse is a product of power relations.
These relations determine how subjects narrate, judge, and conduct themselves in the face of
the oppressions their bodies endure. The audist practices and gender violence detected during
the research point to the lived materialities of a deaf woman who grew up being subjected to
tactics aimed at restoring her hearing.
Even after undergoing the processes of her history, she asserts: "what I use the most is
Libras." Clarice does not hide how deeply she is immersed in actions that place hearing as a
benchmark for success, standard behavior, and the desire of an oralized society; however, in
describing herself, she reports: "what I use the most is Libras."
In addition to audism, which represents just one of the forms of oppression faced by the
academic, the presence of deaf individuals in the institution requires support in other areas. This
includes, for example, the need for accommodation regarding the particularities of deaf identity,
which go beyond the issue of hearing and encompass aspects such as gender, disability, and
even aesthetic and technological standards.
I understand that the experience presented by the academic cannot be considered a
standard rule for all other experiences. I am dealing with a way of looking at the intersectional
phenomenon of audism and gender, practices that shape deaf subjectivities. The tensions
presented are capable of unveiling the institutional and familial actions that reproduce behaviors
that elect the hearing standard as a reference, fabricating identifications in deaf individuals
and/or ways and alternatives to fit/resist in this relational (in)exclusion, seeking to alter the
reality in which they find themselves.
Admitting to using Libras more than the Portuguese language as a means of
communication is a cry of resistance to the normalization practices endured throughout her life.
Accepting the signed linguistic identification and affirming it is to measure that the desire of
her father, her brother, and institutional sign language interpreters cannot make her abandon
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her dreams. Clarice is just one, among many other Clarices, spread across educational
institutions inside and outside the Brazilian context, who insist on changing the world using
butterflies.
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Acknowledgements: This work was carried out with the support of the Federal University
of Mato Grosso do Sul - UFMS/MEC - Brazil.
Funding: Not applicable.
Conflicts of interest: There are no conflicts of interest.
Ethical approval: The data excerpted from the Master's thesis and presented in this text
was approved by the Ethics Committee under CAAE: 30714120.7.0000.0021.
Data and material availability: Not applicable.
Author’s contributions: Sole authorship.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.