Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 7, n. 00, e023010, 2023. e-ISSN: 2177-5060
DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.v8i00.17764 1
VIRAGENS INTELECTUAIS E A LUCIDEZ SOCIAL LATINO-AMERICANA
GIROS INTELECTUALES Y LUCIDEZ SOCIAL LATINOAMERICANA
INTELLECTUAL TURNS AND LATIN AMERICAN SOCIAL LUCIDITY
Renata Ovenhausen ALBERNAZ1
e-mail: renata.ovenhausen@ufrgs.br
Como referenciar este artigo:
ALBERNAZ, R. O. Viragens Intelectuais e a Lucidez
Social Latino-Americana. Plurais - Revista
Multidisciplinar, Salvador, v. 7, n. 00, e023010. e-ISSN:
2177-5060. DOI:
https://doi.org/10.29378/plurais.v8i00.17764
| Submetido em: 23/06/2023
| Revisões requeridas em: 10/07/2023
| Aprovado em: 18/10/2023
| Publicado em: 20/12/2023
Editoras:
Profa. Dra. Célia Tanajura Machado
Profa. Dra. Kathia Marise Borges Sales
Profa. Dra. Rosângela da Luz Matos
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre RS Brasil. Professora Associada.
Doutorado em Direito (UFSC).
Viragens Intelectuais e a Lucidez Social Latino-Americana
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RESUMO: Esse artigo objetiva analisar um movimento intelectual que problematiza o
processo, a eficiência” e as externalidades dos resultados das pesquisas em ciências sociais
aplicadas na América Latina. Para isso, realizou-se uma pesquisa bibliográfica em textos de
intelectuais destacados desse movimento, notadamente, pensadores decoloniais latino-
americanos. Analisando esse movimento, suas principais propostas e críticas são: 1)
desconstruir a cilada do saber hegemônico que desequilibra o que visibiliza e invisibiliza,
notadamente em fatos de redistribuição, manobrando o consenso social; 2) inverter a lógica
usual da eficiência das investigações, minimizando o seu estar a serviço da aposta
modernizante e da eficiência econômica capitalista; 3) mudar os padrões estéticos na ciência
brasileira, abandonando qualquer resquício do gosto privilegiado aos métodos e padrões
exóticos (euro-norte-americano-centrados); 4) imunizar os intelectuais contra o derrotismo
de programações frustradas, no continente; 5) buscar as causas mais profundas dos
problemas sociais, não se contentando com as mais próximas e evidentes.
PALAVRAS-CHAVE: Intelectuais. Viragens Epistêmicas. América Latina. Pesquisa
Decolonial. Justiça Social.
RESUMEN: Este artículo pretende analizar un movimiento intelectual que problematiza el
proceso, la "eficiencia" y las externalidades de los resultados de la investigación en ciencias
sociales en América Latina. Se realizó un relevamiento bibliográfico de textos de
intelectuales latinoamericanos de este movimiento y se constató que sus principales
propuestas y críticas son: 1) deconstruir la trampa del conocimiento hegemónico que
desequilibra lo que hace visible e invisible, especialmente en el caso de la redistribución,
maniobrando el consenso social; 2) invertir la lógica habitual de la eficiencia de la
investigación, minimizando su estar al servicio de la apuesta modernizadora capitalista; 3)
cambiar los estándares estéticos de esta ciencia, abandonando el gusto privilegiado por los
métodos y estándares exóticos (euro-norteamericanos); 4) inmunizar a los intelectuales
contra el derrotismo de la programación frustrada en el continente; 5) insistir en las causas
más profundas de los problemas sociales, no contentándose con las evidentes.
PALABRAS CLAVE: Intelectuales. Giros epistémicos. América Latina. Investigación
decolonial. Justicia Social.
ABSTRACT: This article aims to analyze an intellectual movement that problematizes the
process, "efficiency" and externalities of research results in social sciences in Latin
America. A bibliographical survey was carried out of texts by prominent Latin American
intellectuals from this movement. The main proposals and criticisms of this movement are:
1) to deconstruct the trap of hegemonic knowledge that unbalances what makes visible and
invisible, notably in facts of redistribution, maneuvering social consensus; 2) to invert the
usual logic of the efficiency of investigations, minimizing their character of being at the
service of the capitalist modernizing bet; 3) to change the aesthetic standards in Brazilian
science, abandoning the privileged taste for exotic (Euro-North American-centric) methods
and standards; 4) to immunize intellectuals against the defeatism of frustrated programming
on the continent; 5) to insist on the deeper causes of social problems, not content with the
closest and most obvious ones.
KEYWORDS: Intellectuals. Epistemic Turns. Latin America. Decolonial Research. Social
Justice.
Renata Ovenhausen ALBERNAZ
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Introdução
Este artigo foi iniciado a partir de uma demanda para uma palestra em uma mobilização
estudantil na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, quando dos movimentos de ocupação
de prédios públicos, no ano de 2016, em Porto Alegre e no Brasil. Logo, a primeira inspiração
foi no contexto de fala para jovens estudantes mobilizados e no intento de animar suas forças
questionadoras e emancipatórias, apesar dos desalentos daqueles dias de votação da PEC dos
Gastos Públicos. O outro disparo foi a percepção de um certo desencanto que, em tempos de
crise, parece assolar a sociedade acerca do sentido das principais instituições de representação
de vida humana associada Estado, Sindicatos, Movimentos Sociais, Comunidades, e que tem
reforçado defesas e comportamentos cotidianos “intimistas” e de “individualismo possessivo”
2
,
como o de apelar para a privatização de atividades estatais, para a defesa da poupança e do
investimento particulares como meios de proteção social, para a vida solitária, ou, quando
muito, restrita à família nuclear e para a defesa intransigente do padrão de liberdade pela
preferência individual no mercado, com o consequente esmorecimento de uma ética de
compromisso e da solidariedade social.
Mesmo que o íntimo e o privado sejam espaços de existência defensáveis e necessários
para a proteção da liberdade, maturidade e responsabilidade individual, como apregoavam os
existencialistas, imunizando a pessoa contra certas compulsões de massa e efeitos nocivos da
socialização
3
, uma aposta em sua disseminação deve ser objeto de preocupação.
Vive-se, na atualidade, talvez, o ápice do que Touraine (1998) chamou, nos anos 90, de
“desmodernização”. Por um lado, a percepção da ruptura na capacidade das principais
2 O individualismo possessivo é o ingrediente básico do modelo de sociedade atual, como explicado por
Macpherson (1979) para compreender a constituição da sociedade moderna partir de Thomas Hobbes. Esse
modelo, o autor o denomina por Sociedade de Mercado Possessivo, no qual o trabalho do indivíduo é tido como
uma mercadoria, ou seja, embora “a energia e a destreza” de um indivíduo sejam uma “propriedade” pessoal sua,
elas o são consideradas como integrantes de sua personalidade, mas apenas como “pertences” dela, que o
indivíduo tem liberdade para oferecer suas competências a seus semelhantes por um determinado preço. O autor
utiliza o adjetivo possessivo para caracterizar o estado pleno de desenvolvimento da sociedade de mercado, ou
seja, uma sociedade em que o trabalho se tornou artigo de mercado e onde quase a totalidade das relações sociais
salvo somente alguns poucos enclaves sociais foi convertida em relações de mercado. Neste caso, a designação
economia de mercado o alcança sua essência, de modo que designá-la por sociedade de mercado lhe parece
mais apropriado.
3 Esses efeitos nocivos da socialização não são desconsiderados, seguindo-se, aqui, o alerta feito por Azevedo e
Albernaz (2006) de que, na avaliação de Guerreiro Ramos, o homem normal, o homem saudável defendido por
Durkheim, era considerado, essencialmente, como um homem ajustado”, não confrontador, e cuja característica
seria, constantemente, buscar alcançar a sua perfeita adaptação ao meio social em que vivia; no entanto, adverte o
sociólogo baiano, ele, Durkheim, nunca tentou admitir a especulação sobre o caráter não saudável do meio social,
pois havia o pressuposto de que toda socialização seria um bem. Os autores, então, destacam que Guerreiro Ramos
conclamava que a ciência social não poderia ficar à parte das críticas que vinham sendo feitas à “patologia da
conformidade ou da normalidade social (Guerreiro Ramos, 1971, p. 25-26).
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instituições modernas de manter a coesão coletiva, algo que evoca “uma análise ‘não social’ da
realidade social” (Touraine, 2011), ou seja, a perda da visão da sociedade como um sistema
integrado.
Por outro lado, ressurgem tentativas de revigorar a unidade social estilhaçada por velhas
receitas (nacionalismos e culturalismos primordialistas, algumas vezes exacerbados), o que
também soa anacrônico diante da propulsão de comunicabilidade e transações que a vida virtual
e a globalização engendraram. E nesse estado de “compressão espaço-temporal”
4
, nem o novo
liberalismo, nem o socialismo da velha esquerda, nem o comunitarismo multiculturalista
parecem convencer a ponto de se alcançar seja um consenso, seja um agonismo político
sustentável (Mouffe, 2005). A questão, assim, é se essa diluição do vínculo social é real ou
ilusória e o que os intelectuais podem fazer no esclarecimento, ou no desvelamento dessa
realidade ou ilusão. O convite para essa autorreflexão intelectual é, assim, o objetivo deste
artigo.
Desvelando desequilíbrios entre exibições e invisibilidades
Primeiramente, esse des-lugar do vínculo social pode ser uma falsa impressão, que,
talvez como nunca, há uma intensa socialização de impactos das ações sociais, notadamente de
seus riscos. O que ocorre é que essa socialização é obscurecida por medidas desequilibradas de
visibilização e invisibilização, mesmo na ciência, o que torna difícil a operação real de qualquer
tipo de funcionamento democrático deliberativo sobre ela, seja ele baseado no modelo do
consenso (Habermas, 2009), seja no dissenso (Laclau; Mouffe, 2015), que ambos
pressupõem razões amplamente disponíveis e, assim, engajamento político consciente.
O caso das organizações, sejam elas instrumentais ou substantivas (Guerreiro Ramos,
1981), é claro nesse sentido. Tratando-se de organizações mais substantivas, como são as da
sociedade civil, empreendimentos solidários, entidades sem fins lucrativos e movimentos
sociais, os estudos sobre estas organizações e mobilizações sociais, nos anos 1980 a 2000,
foram-lhes expressivos e apologéticos, na percepção e expectativa de que elas se transbordavam
4 O estado de des-lugar do indivíduo no social, aqui, é evocado como a sensação do sujeito de estar em um estado
de fragilidade associativa, no sentido de que a associação é vista por ele como instável e o confiável para garantir
sua vida e reconhecimento, ou no próprio desprezo que ele sente ao vínculo social, notadamente em seus ônus,
mesmo estando profundamente enredado nele.
Renata Ovenhausen ALBERNAZ
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em “efeitos transruptivos”
5
, programados ou não, e de cunho “contra-sistemáticos”
6
, que se
expandiam em “redes de movimentos sociais”
7
, abrindo clareiras políticas e institucionais na
soma das ações entre elas, e que exigiam uma nova forma de organização e gestão ou a gestão
social
8
.
Defendia-se que essas organizações repercutiam muito além do simples efeito evidente
de seus objetivos mais imediatos, gerando uma transformação política, social e econômica de
amplo espectro (Dagnino, 2004). Hoje, depois de um certo esmorecimento da atenção
acadêmica a esses objetos, ela é reavivada nos estudos das mobilizações em redes, essas com
outros funcionamentos, mas também fecundas em efeitos, como os movimentos de proteção do
meio ambiente, contra o Racismo e a violência policial, pela diversidade, entre outros.
No campo das organizações mais instrumentais, ou a dos agentes econômicos do
capitalismo pela acumulação, também ocorrem inúmeras socializações, principalmente de ônus
e de externalidades negativas de suas atividades e interesses.
São identificadas as situações de distribuição dos custos aos consumidores, na forma de
preço; dos juros mais elevados nas instituições bancárias, visando compensar as perdas
decorrentes da inadimplência; a socialização realizada pelos sistemas complementares de
5 Usa-se essa ideia de efeitos transruptivos, de Stuart Hall, aqui, de forma análoga. Hall (2003) evoca essa ideia,
pois observa que, se a mutação das relações coloniais para pós-coloniais na Inglaterra, inicialmente, não alterou,
por si só, a conotação subalternizante nelas embutidas, a migração oportunizada nessa mutação tem produzido
vários efeitos transruptivos, principalmente na sociedade receptora (Inglaterra). Entre eles, Hall destaca: a
recolocação, sob rasura, da ideia de raça e o seu uso estratégico como denúncia de um sistema de exploração; a
ruptura com a noção essencialista e evolucionista da cultura, em defesa do hibridismo e de culturas mistas e
diaspóricas; o questionamento da neutralidade e universalidade do Estado liberal pelas suas margens. Assim,
efeitos transruptivos seriam os impactos desconstrutivos e revisionistas que a pluralização da vida social gera em
uma sociedade, efeitos, esses, advindos, no caso de Hall, de fora para dentro da sociedade receptora e, no caso do
Brasil, das margens para o centro dessa mesma sociedade.
6 Com essa categoria de ação coletiva contra-sistemática, Melucci (2001) atenta para o campo dos conflitos a nível
de sistema, e para o modo, no caso, de contraposição, em que as mobilizações sociais o afetam, mesmo que de
forma pontual e temporária; ele explica, assim, com essa ideia, a ação coletiva, não na sua forma de um ator
personagem, com uma identidade bem delimitada, mas de uma unidade de fins gerada pela agregação provisória
em um campo de múltiplas forças que atuam na desestabilização do sistema.
7 Scherer-Warren (2005, p. 30) analisa os movimentos sociais em redes de mobilizações sociais, onde considera
os elos e os meios de retribuição que, escapando dos limites das organizações coletivas dadas, expandem-se, de
forma simbólica e solidária, a outros atores coletivos e sujeitos individuais, por meio de: 1) identificações sociais,
éticas, político-ideológicas, culturais; 2) intercâmbios, negociações e definições de campos de conflito e de
adversários comuns; e 3) a realização de projetos, propostas e objetivos que se somem uns aos outros.
8 Trazendo algumas das chaves interpretativas dessa nova concepção de gestão a de gestão social, Cançado
(2014, p. 81-82) as localiza como sendo: a lógica do Interesse Bem Compreendido; o locus da Esfera Pública; o
fim da Emancipação; e uma perspectiva dialógica negativa (Adorno, 2009), sem pretensão de síntese”. Por
Interesse Bem Compreendido, conceito vindo de Tocqueville, quando descreveu a sociedade americana do século
XIX, o autor (2014) explica que tal conceito se funda na premissa de que o bem-estar coletivo é pré-condição
para o bem-estar individual (ao contrário da premissa de Adam Smith) (...). Em outras palavras, a virtude é útil”.
Sobre o locus da esfera pública, este é o do encontro comunicativo e deliberativo de sujeitos individuais e coletivos
em temas de interesse da sociedade e da habilidade em manejar esse espaço. E, a emancipação, como sendo o sair
da tutela e firmar-se em autonomia, enfocando as ações de auto-organização coletiva.
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saúde, em que o pagamento individual é condição para que outros usuários tenham acesso a
tratamento; ocorre a externalização de danos ambientais e comunitários (ruídos, resíduos,
odores, acidentes resultantes de rompimento de barragens de resíduos tóxicos provenientes de
indústrias, entre outros); e a socialização dos riscos das atividades, transferindo a
responsabilidade aos prestadores de serviços em prol da garantia dos lucros para os
proprietários dos sistemas de aplicativos, entre outros aspectos.
Ocorre que essas socializações de ônus e externalidades não são fáceis de se pesquisar,
e acabam sendo pouco publicizadas, já que as empresas são resguardadas por todos os tipos de
direito de sigilo (bancário, financeiro, industrial, intelectual, criminal). É comum, aliás, quando
se autoriza a realização de pesquisas nessas organizações instrumentais, que elas exijam um
termo de confidencialidade, restringindo a publicização de seus dados e informações
produzidos nessas pesquisas e que poderiam ser de interesse coletivo, sob o argumento de que
elas estão expostas a um ambiente de competição.
No caso da organização estatal, por sua vez, a exibição tende a ser mais intensa, em
função do próprio princípio legal da transparência pública (art. 216ª, inc. IX, e Lei n.º
12.527/2011), mas também há desequilíbrios entre a publicização de gastos, por exemplo, com
a máquina pública e com Programas de Justiça Social Redistributiva, em relação ao acesso a
informações de gastos com subsídios e com a inadimplência fiscal de organizações econômicas,
protegidas pelos mesmos direitos de sigilo.
Equalizar essa publicização dos vários aspectos socializados da vida contemporânea é
indispensável não só para um avanço democrático deliberativo consciente, como para a própria
condução de um desenvolvimento sustentável. Teorias premiadas sobre o desenvolvimento e
justiça, têm insistido na importância disso, que economistas como Amartya Sen (2011) e
Joseph Stiglitz (2012) propõem análises de bases informacionais ampliadas para incluir esses
dados e para determinar, na medida do desenvolvimento, outros valores humanos (que não
renda e riqueza) em prol da concreta eliminação de privações de liberdade e de desigualdades
severas e injustas. Para que um pacto social nesse sentido opere, uma de suas condições consiste
em equilibrar as medidas de visibilidade social, possibilitando uma construção adequada de um
senso de justiça.
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Opções ao alcance dos intelectuais emancipatórios
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2014, a
participação dos empregados na população ocupada era de 61,0%, sendo que o percentual de
pessoas sem carteira de trabalho assinada era de 42,1%, na população dos empregados, e 72,8%,
nos empregados domésticos. A taxa de desocupação era de quase 12% para as mulheres e 8%
para os homens, sendo a taxa de subutilização do trabalhador em geral de 14,8%, e a renda
média, em 2014, de R$ 1.800,00. Dados preocupantes em termos de formalização e assistência
social dos trabalhadores brasileiros.
Mas, mesmo assim, afrouxaram-se” os direitos na Reforma Trabalhista (Lei n13.467,
de 13 de julho de 2017). Nos resultados dos dados da Pesquisa de Figueiras, Lima e Souza
(2019) indicam que, apesar da mitigação de garantias e seguranças, os prometidos ganhos em
número de empregos e salários não vieram, pois, após a Reforma, os salários de entrada dos
empregados formais permanecem basicamente estagnados”, o desemprego aberto foi de 11,6%
e a subutilização da força de trabalho foi de 25%, no último trimestre 2018. Como essa
aprovação legal foi possível nesse contexto?
Perdas como essa talvez não se expliquem pela apatia política do povo, que é a sua
vítima, que, submetido historicamente a um regime de “subcidadania”
9
, não lhe é fácil a
escuta de seus desesperos, mas elas se retroalimentam da insistência política na velha aposta
modernizante defendida pela elite econômica, agência para a qual o Estado tem sido um
servidor cativo, e que a favor da qual o povo útil tem sido dirigido ou dispensado.
Contra esse percurso, a cargo dos intelectuais, então, estaria o desafio de insistir na
investigação da lógica inversa a essa aposta moderna, algo como nosso saudoso Enrique Dussel
conclamava por “transmodernidade”
10
, ou seja, partir da perspectiva dos negados e
9 Por essa noção de subcidadania, Souza (2009, p. 174) quer explicar a existência de um certo tipo de consenso,
como que corporal, pré-reflexivo e naturalizado, que permite, sem abalar a eficácia e a estrutura jurídica, que
algumas pessoas e classes estejam acima da lei e outras abaixo dela. Ou seja, “redes invisíveis e objetivas que
desqualificam os indivíduos e grupos sociais precarizados como subprodutores e subcidadãos, e isto sob a forma
de uma evidência social insofismável, tanto para os privilegiados como para as próprias vítimas da precariedade”.
Desse modo, a produção social de uma ralé estruturalnas sociedades periféricas” não é uma ocasionalidade ou
uma patologia social no Brasil, mas um fenômeno de massa institucionalizado, política e subpoliticamente.
10 A transmodernidade é uma posição que se assume e um projeto de libertação. Dussel (2005. p. 55-70) a defende
como o compromisso de negar a negação do mito da Modernidade enquanto mito, e para isto, a outra face, a negada
e violada da modernidade, precisa afirmar-se inocente, julgando culpada a modernidade que a violou. A
modernidade, segundo Dussel, é um Mito onde: a civilização moderna autodescreve-se como a civilizada; por
conta disto, obriga-se a desenvolver os primitivos; este desenvolvimento segue o processo determinado pela
Europa; e justifica a violência contra o bárbaro que resiste a este desenvolvimento; o bárbaro é tido como culpado
de sua barbárie e a modernidade é elevada como uma emancipação desta situação; os custos da modernização, em
termos dos que são por ela sacrificados, são tidos como inevitáveis. A forma de legitimar-se desse Mito é esconder-
se/negar-se enquanto Mito e afirmar-se como verdade universal. A Transmodernidade, assim, é “um projeto
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negligenciados por essa modernidade para elaborar novas soluções para velhos problemas
sociais. Aliás, não foi por essa perspectiva de olhar inverso que Paulo Freire (2003) acabou
percebendo que tinha muito mais a aprender do que a ensinar com os oprimidos, e que desta
escuta atenta adveio a fecundidade e a originalidade de sua solução educativa emancipatória
(pedagogias do oprimido, da autonomia etc.)?
O olhar inverso também pode vir a perceber que o povo, hoje e desde sempre, faz
esquemas próprios de solução para a sua condição, a seus modos (criativo, plástico, relaxado e
rebelde), em uma resistência subterrânea, ramificada, rizomática, com códigos próprios, às
vezes, invisíveis à tradição dos métodos e categorias acadêmicas. Catherine Walsh, em um
estudo muito interessante sobre as pedagogias decoloniais na base da práxis e dos discursos de
resistência latino-americanos, faz menção, por exemplo, à lição da líder do povo Kichwa, no
Equador, a Sra. Dolores Cacuango, conhecida como Mama Dulu, que, nos anos 1930,
alimentava a força e a esperança do seu povo oprimido dizendo: “Somos como la paja del cerro
que se arranca e volve a crescer y del paya del cerro cobriremos el mundo” (Walsh, 2017).
Walsh menciona, ainda, a cosmologia da esperança africana como resistência, na
pedagogia de mães escravas, que, com seus cantos, lendas, danças, tentavam blindar a
dignificação negra em seus filhos, contra os ataques da devassa de sua humanidade pela
escravidão. Ainda cita vários textos de resistência, intencionalmente esquecidos pelo saber
eurocentrado ocidental, como os manuscritos dos indígenas de Huarochiri e de Popul Vuh (hoje,
Peru e Guatemala), no século XVI, e a narrativa de suas estratégias de subversão à lógica
colonial a partir da visão de seus povos.
Nesse sentido, está o texto Nueva Crónica y Buen Gobierno, de autoria do quéchua
Felipe Guamán Poma de Ayla, obra enviada, em 1616, ao rei Felipe III, e que é um exemplo
dessa narrativa que falava sobre os índios a partir da própria cosmologia andina, denunciando
o diálogo conflitivo com a cosmologia cristã e com a mentalidade burocrática dos agentes do
estado espanhol. Walsch, assim, é uma intelectual que faz essa inversão fecunda em suas
pesquisas, e está conseguindo mapear, e assim, visibilizar e fortalecer, as origens e as lutas por
emancipação advindas do próprio seio do povo andino.
Maria Lugones (2014), uma intelectual argentina do feminismo decolonial, também
convida a essa inversão, quando sugere imaginar e pensar as resistências cotidianas à diferença
colonial que envolvem interações de pessoas não representativas, em termos públicos-oficiais.
mundial de libertação em que a Alteridade, que era co-essencial à Modernidade, igualmente se realize” (Dussel,
2005, p. 66) por mútua fecundidade criadora.
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Tratando da resistência para descolonializar o gênero, a autora afirma que a “mulher
colonizada’ é um conceito vazio”, “não há mulher totalmente colonizada; só se pode afirmar a
mulher colonizada negando-a como ser histórico e unilateralizando o olhar sobre ela (Lugones,
2014, p. 939). E isso é um olhar falso”.
A autora sugere, então, o enfoque nos seres e práticas que resistem à Colonialidade,
evidenciando a proliferação relacional subjetiva/intersubjetiva de libertação, tanto adaptativa
como criativamente opositiva” (Lugones, 2014, p. 939). Tal resistência pode ser mínima em
escala, mas é constante e transformadora, pois a subjetividade que resiste, com frequência,
afirma Lugones (2014, p. 942), expressa-se na capacidade que tem as comunidades dos/as
oprimidos/ de, entre si, constituir significados que recusam aqueles que lhes são impostos pelo
poder colonial e de exprimi-los em códigos que não são compreendidos por esse poder. E esta
é uma vitória infrapolítica, mas que, por suas plasticidade e capacidade de disseminação, não é
de impacto social desconsiderável. Lugones (2014, p. 943) enfatiza, assim, “o processo oprimir
← → resistir no lócus fraturado da diferença colonial”.
Assim, o trabalho dessa intelectual coopera tanto para desconstruir a impressão de
imobilismo do oprimido face ao suposto engrandecimento sem freio das forças de dominação,
na atualidade, quanto para mitigar o mito desse engrandecimento, lembrando que não
dominação plenamente exitosa, maciça, ou isenta das fraturas causadas pelo lócus de resistência
infrapolítica e de mobilizações sociais. Ainda, sua teoria coopera para promover e fazer ver a
multiplicação dessas fraturas, empoderando-as no fato de elas causarem uma gradual, mas
constante, “osteoporose” na coluna vertebral das injustas estruturas de poder, distribuição e
socialização modernas capitalistas.
Para essa inversão fecunda das pesquisas, é preciso, também, mudar os padrões estéticos
e de poder na ciência latino-americana, negar a estrutura do campo científico, tal como ela se
arquitetou até hoje (Bourdieu, 2015). Afinal, se a pesquisa, a extensão e a docência lúcidas são
as tarefas que a sociedade afere aos acadêmicos universitários, para que eles lhe revelem as
verdades mais subterrâneas e complexas que os olhos não treinados dos cidadãos comuns não
conseguiriam ver, seria, porém, vantajoso assumir essa inversão fecunda quando esses objetos
invertidos ficam fora do holofote e dos aplausos acadêmicos ditados pelos critérios de êxito
científico norte-americano e Europeu?
Não, ou talvez, sim. Alberto Guerreiro Ramos (1995) conclamava, lá nos anos de 1950,
a um trabalho intelectual brasileiro verdadeiramente criador, nesse sentido de inversão
epistêmica. Que trabalho intelectual criador seria esse? Aquele que, seguindo o autor baiano
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(1995), seria comprometido em auxiliar na personificação nacional do Brasil e na revisão
macro-estrutural contra o que aprisionava o país num círculo de atraso e dependência; o que
promovesse a visibilidade das efervescências sociais únicas do Brasil; um saber cujos métodos,
sem deixar de ser científicos e rigorosos (empíricos, mas não positivistas!)
11
, permitissem captar
essas efervescências sociais de modo pedestre”, que os métodos convencionais e abstratos
poderiam deixá-las desapercebidas.
Por fim, o saber de iniciativa de um intelectual capaz de olhar o Brasil com ternura e
proximidade, excretando as pechas dos preconceitos autodegradantes que o saber hegemônico
colonial sempre lhe impôs. Somente esse tipo de saber permitiria ao Brasil, não ingressar,
com originalidade e notoriedade, na composição da tradição universal do saber, como também
ajudar na construção de um país capaz de compreender-se e de construir-se de forma cada vez
mais autodeterminada e justa.
Afinal, se Arendt (2012) foi tão perspicaz ao explicar o totalitarismo, pois este lhe foi
próximo, tocou-lhe a experiência pessoal, e se Bhabha (2018) foi tão explícito em desvelar o
hibridismo, como indiano bilíngue, diante da proximidade com uma das realidades mais iníquas
do mundo, em termos de desigualdade entre a concentração de riqueza e as disfunções de sua
distribuição, e tão criativo, tanto em suas técnicas de opressão quanto de resistência,
proporciona aos acadêmicos brasileiros uma posição única de fala e de desvelamento
fenomênico, que intelectuais de países desenvolvidos seriam incapazes de alcançar. Contudo,
essa oportunidade de autoria intelectual autêntica muitas vezes se perde em favor do sucesso
burocrático do acadêmico ligado às “sociologias enlatadas”
12
estrangeiras.
Além desse olhar inverso e autoria autêntica, outro desafio intelectual do tempo presente
é imunizar-se, neste mundo de solicitudes impacientes, contra o derrotismo de programações
intelectuais frustradas, ou seja, daquelas que, apesar de todo o esforço intelectual de
esclarecimento e direcionamento social, envolvem ações e fatos que escapam à programação e
11 Guerreiro Ramos (1995) faz uma crítica severa ao positivismo enquanto método instituído por Comte e
Durkheim. Afirma que, diferentemente da sociologia de antes do século XIX, que estava atenta às transformações
sociais, aos problemas e questões colocados por essa transformação, e que, assim, era uma sociologia dinâmica. A
sociologia institucionalizada por Comte e Durkheim é uma sociologia conservadora, cujo intento é congelar e
controlar as forças sociais no impulso de freá-las para a estabilização da ordem imposta pela classe burguesa, tida
como o padrão de normalidade. A sociologia positivista, assim, é ideológica, diz Guerreiro Ramos, apesar de dizer-
se neutra, que comprometida em fixar a normalidade da ordem imposta pela sociedade burguesa contra toda a
resistência a ela. Daí o autor negar essa sociologia para sociedades em estados de latência, como era a sociedade
Brasileira de sua época.
12 A sociologia tem um propósito salvador e de reconstrução social, disse Guerreiro Ramos (1995). Mas a formação
do sociólogo tem sido para o adestramento e conformismo, ele é um répetituer, e é enlatada porque é consumida
quase como uma conserva cultural”, formando uma doença infantil, mais de índole gesticulante que ativa, e que
projeta uma patologia da normalidade do externo a que se apologiza.
Renata Ovenhausen ALBERNAZ
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à prescrição por qualquer intelectual. Em uma sociedade democrática, a construção social é
obra da própria sociedade, não de uma elite intelectual, por mais urgentes que sejam os dados
que os intelectuais revelam.
As mobilizações coletivas, por exemplo, mesmo que cooperem, de forma extensiva, na
composição de resistências criativas pelo povo, têm o seu próprio tempo de disparo e de agito,
e não são e não podem ser programáveis pelos intelectuais. Aliás, como dizia Alberoni (1991),
os movimentos sociais têm sua gênese em uma determinada confluência de acontecimentos e
consciências que traz a alguns sujeitos um “estado nascente”, não apenas de clareza sobre a
essência das coisas e de um futuro alternativo possível, mas também de uma potência energética
propulsora significativa.
o estado nascente é uma descontinuidade social provocada por uma
experiência de morte e renascimento em nível individual. Os indivíduos olham
para si mesmos, para as pessoas que o cercam, a sociedade, o mundo, com um
olhar pasmado. Como se estivessem vendo essas coisas todas pela primeira
vez e se perguntassem por que cargas d’água elas o assim. Por que eles
mesmos são o que são? Por que vivem daquela forma, por que aceitaram viver
daquele jeito, quando eram possíveis infinitas formas diferentes de vida?
Todas as formas de vida experimentadas pelos homens das mais variadas
sociedades ao longo dos milênios e mais ainda? No estado nascente, o ser
humano descobre sua plasticidade, experimenta sua incrível maleabilidade,
sente-se, por um instante, milagroso, livre do modo de ser no qual foi
moldado, aprisionado. Sente-se livre para realizar todas as suas
potencialidades. Trata-se de uma experiência absolutamente extraordinária.
Mesmo assim, todos nós a experimentamos. As sociedades, os grupos,
periodicamente passam pela mesma experiência. São estes os momentos da
mudança descontínua (Alberoni, 1991, p. 37).
Esse estado nascente, pelo menos, não de forma totalitária, não se cria em laboratório.
Os intelectuais podem, apenas, cooperar na fermentação teórica de variadas alternativas de vida
que possam suscitar o pano de fundo desses disparos. Algo parecido a tal estado nascente
aconteceu, aliás, com os estudantes mobilizados que ocuparam escolas e universidades, em
2016, quando lutavam contra a Projeto de Emenda Constitucional da limitação dos Gastos
Públicos, aprovada como Emenda Constitucional 95 (EC95/16), em 15/12/2016. Apesar dessas
mobilizações, tal emenda foi revogada pela EC 126/22 e regulamentada pela Lei Complementar
200/2023.
O “a despeito dessas mobilizações” e o “graças a elas”, aqui, também enseja reflexões.
É preciso estudar a realidade em movimento, em um ir e vir entre as perspectivas dos sujeitos
em luta, para prover a sociedade de explicações e previsões responsáveis. Acompanhando-se,
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por exemplo, notícias do movimento dos bancários de 2016, notou-se que foram 31 dias de
greve. Há dez anos, teriam sido apenas dois dias para obter conquistas similares.
Por que eles precisaram de mais tempo de mobilização? Porque, apercebendo-se das
perdas que tiveram nas greves passadas, os banqueiros foram se imunizando dos efeitos desse
instrumento de luta? Criaram e expandiram sistemas de Home Banking, cartão de crédito e
bankfone, além de ampliarem as soluções por meio de caixas eletrônicos. Os bancários
tornaram-se um pouco mais dispensáveis, resultando em uma diminuição de seu número e
tornando suas mobilizações menos transgressoras. Quanto às redes sociais, inicialmente eram
um canal alternativo e confrontante à mídia oficial, mas atualmente enfrentam desafios como
indícios de cooptação, disseminação de fake news, manipulação e mercadorização. Portanto,
novos canais e ações precisam e serão inventados. Os estudos devem atentar-se ao fato de que
a criatividade da resistência subversiva gera a criatividade da resistência reacionária,
estabelecendo assim um movimento social criativo e dialético.
Por fim, mais do que apenas um estudo com “qualidade formal”, é preciso ter-se em
conta a “qualidade política” das pesquisas (Demo, 1995)
13
. Destaca-se, nesta última, a
necessária atenção às possíveis externalidades negativas dos resultados das pesquisas em
ciências sociais e humanidades, mesmo das ditas pesquisas críticas. Faz-se, por exemplo, muitas
pesquisas empíricas nos meios institucionais de democracia participativa. O que é
imprescindível, considerando que esses meios foram conquistados com dificuldade no Brasil,
mas estão sujeitos a desrespeito por parte de governos e opinião pública alinhados a uma
ideologia “pós-democrática” (Casara, 2019) ou “liberalismo autoritário” (Chamayo, 2020).
Entretanto, se essas pesquisas se limitarem a reunir evidências que destacam a baixa
participação popular, a apropriação dessas instituições por alguns grupos e partidos, a escassa
instrumentalização e qualificação, entre outros problemas amplamente conhecidos, uma das
externalidades negativas dessas pesquisas, a ser utilizada como munição para seu
descredenciamento, é que, ao invés de ampliar e aprimorar a participação política, elas podem
gerar desânimo e alimentar a crença ideológica, fácil e astuta, de que, pelas evidências
13
Demo (1995) destaca a necessidade de que se somem as qualidades formais e políticas em uma pesquisa. As
qualidades formais envolvem aspectos como a “propriedade lógica, tecnicamente instrumentada, dentro dos ritos
acadêmicos usuais: domínio de técnicas de coleta; manuseio e uso de dados; capacidade de manipular bibliografia;
versatilidade na discussão teórica; conhecimento de teorias e de autores; feitura de passos consagrados, como o
percurso da graduação, mestrado e doutorado” (p. 21). Mas a qualidade política de uma pesquisa coloca a questão
dos seus fins, conteúdos e dela como uma prática histórica, pesando as reflexões nas responsabilidades que a
pesquisa assume diante de seu contexto social. “Preocupa-se, por exemplo, com a persistência com que as ciências
sociais servem de instrumentação para o controle social e pergunta-se porque sabem muito mais como não mudar,
como desmobilizar movimentos sociais, como justificar ricos e poderosos do que comparecer como
instrumentação e atuação em prol de transformações históricas consideradas estratégicas pelos desiguais” (p. 25).
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apresentadas, não vale a pena investir na participação política no Brasil. Contudo, se essas
pesquisas aprofundarem a análise para além dessas evidências, explorando as causas mais
profundas desses achados, poderão chegar aos pontos verdadeiramente cruciais do fracasso
participativo brasileiro, esclarecendo quem são seus verdadeiros responsáveis. Essa é a fase
produtiva desse tipo de pesquisa crítica. Antonio Cattani (s.d.) adotou uma abordagem
semelhante: ao estudar a miséria, ele foi cada vez mais fundo, chegando ao estudo dos muitos
ricos, e talvez, nessa profundidade, esteja “des-cobrindo” muitos culpados e “des-culpando”
muitos inocentes.
Considerações finais
Esses compromissos intelectuais refletidos esbarram, é claro, em uma série de
obstáculos que o deixam de ser angústias compartilhadas por muitos intelectuais hoje.
Sacrificados por um produtivismo quantitativo que pouca qualidade pode produzir,
assombrados pelo descrédito de negacionistas e por um movimento de proliferação atordoante
de informações (que inclui desde a positiva multiplicação de vozes nas redes sociais até as fakes
news deliberadamente disseminadas), encontramo-nos em um estado de perplexidade sobre o
que fazer”. E foi esse estado que mobilizou a escrita deste artigo.
As viragens intelectuais nas estratégias, aqui, mencionadas 1) o desvelar as ciladas
dos desequilíbrios entre medidas de visibilização e invisibilização das redistribuições sociais
entre diferentes atores; 2) inverter a lógica usual da eficiência das investigações, retirando-as
do estar a serviço da aposta modernizante capitalista, para pô-las a serviço do combate ao estado
de sub cidadania de nosso povo; 3) o condicionar o surgimento e o valorizar intelectuais que
militam por uma autoria autêntica e original latino-americana; 4) o imunizar-se contra o
derrotismo de programações intelectuais frustradas pelo tempo próprio das movimentações
sociais; e 5) o cuidado com as externalidades negativas dos resultados das pesquisas, mesmo
que ainda sejam reflexões e possibilidades, já está em curso e indica um movimento intelectual
significativo de autorreflexão sobre os propósitos das pesquisas e seu papel nessas mudanças
emancipatórias.
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CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Gostaria de agradecer ao Movimento dos Estudantes Ocupa UFRGS,
de 2016, pelo convite em iniciar essa reflexão, e às contribuições do intelectual Ariston
Azevedo sobre o pensamento de Guerreiro Ramos.
Financiamento: Parte desses estudos foram realizados sob o financiamento da pesquisa
intitulada “Pluralismo Jurídico, Multiculturalismo e Democracia Latino-Americanos: seus
reflexos na legalidade, nas políticas públicas federais e na jurisprudência superior do Estado
Brasileiro atual (2005-2015)”, contemplada no Edital 001/2013 Edital Pesquisador
Gaúcho (PG), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul
(FAPERGS), pesquisa realizada entre 2013 e 2016, sob Termo de Outorga n. 002068-
2551/13-3.
Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.
Aprovação ética: Não aplicável.
Disponibilidade de dados e material: Todos os textos consultados estão disponíveis na
internet e/ou em bibliotecas e livrarias.
Contribuições dos autores: Autoria única.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
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INTELLECTUAL TURNS AND LATIN AMERICAN SOCIAL LUCIDITY
VIRAGENS INTELECTUAIS E A LUCIDEZ SOCIAL LATINO-AMERICANA
GIROS INTELECTUALES Y LUCIDEZ SOCIAL LATINOAMERICANA
Renata Ovenhausen ALBERNAZ1
e-mail: renata.ovenhausen@ufrgs.br
How to reference this paper:
ALBERNAZ, R. O. Intellectual Turns and Latin American
Social Lucidity. Plurais - Revista Multidisciplinar,
Salvador, v. 7, n. 00, e023010. e-ISSN: 2177-5060. DOI:
https://doi.org/10.29378/plurais.v8i00.17764
| Submitted: 23/06/2023
| Revisions required: 10/07/2023
| Approved: 18/10/2023
| Published: 20/12/2023
Editors:
Prof. Dr. Célia Tanajura Machado
Prof. Dr. Kathia Marise Borges Sales
Prof. Dr. Rosângela da Luz Matos
Deputy Executive Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre RS Brazil. Associate Professor. Doctoral
degree in Law (UFSC).
Intellectual Turns and Latin American Social Lucidity
Plurais - Revista Multidisciplinar, Salvador, v. 7, n. 00, e023010, 2023. e-ISSN: 2177-5060
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ABSTRACT: This article aims to analyze an intellectual movement that problematizes the
process, "efficiency" and externalities of research results in social sciences in Latin America.
A bibliographical survey was carried out of texts by prominent Latin American intellectuals
from this movement. The main proposals and criticisms of this movement are: 1) to
deconstruct the trap of hegemonic knowledge that unbalances what makes visible and
invisible, notably in facts of redistribution, maneuvering social consensus; 2) to invert the
usual logic of the efficiency of investigations, minimizing their character of being at the
service of the capitalist modernizing bet; 3) to change the aesthetic standards in Brazilian
science, abandoning the privileged taste for exotic (Euro-North American-centric) methods
and standards; 4) to immunize intellectuals against the defeatism of frustrated programming
on the continent; 5) to insist on the deeper causes of social problems, not content with the
closest and most obvious ones.
KEYWORDS: Intellectuals. Epistemic Turns. Latin America. Decolonial Research. Social
Justice.
RESUMO: Esse artigo objetiva analisar um movimento intelectual que problematiza o
processo, a
eficiência” e as externalidades dos resultados das pesquisas em ciências
sociais aplicadas na América Latina. Para isso, realizou-se uma pesquisa bibliográfica em
textos de intelectuais destacados desse movimento, notadamente, pensadores decoloniais
latino-americanos. Analisando esse movimento, suas principais propostas e críticas são: 1)
desconstruir a cilada do saber hegemônico que desequilibra o que visibiliza e invisibiliza,
notadamente em fatos de redistribuição, manobrando o consenso social; 2) inverter a lógica
usual da eficiência das investigações, minimizando o seu estar a serviço da aposta
modernizante e da eficiência econômica capitalista; 3) mudar os padrões estéticos na
ciência brasileira, abandonando qualquer resquício do gosto privilegiado aos métodos e
padrões exóticos (euro-norte-americano-centrados); 4) imunizar os intelectuais contra o
derrotismo de programações frustradas, no continente; 5) buscar as causas mais profundas
dos problemas sociais, não se contentando com as mais próximas e evidentes.
PALAVRAS-CHAVE: Intelectuais. Viragens Epistêmicas. América Latina. Pesquisa
Decolonial. Justiça Social.
RESUMEN: Este artículo pretende analizar un movimiento intelectual que problematiza el
proceso, la "eficiencia" y las externalidades de los resultados de la investigación en ciencias
sociales en América Latina. Se realizó un relevamiento bibliográfico de textos de
intelectuales latinoamericanos de este movimiento y se constató que sus principales
propuestas y críticas son: 1) deconstruir la trampa del conocimiento hegemónico que
desequilibra lo que hace visible e invisible, especialmente en el caso de la redistribución,
maniobrando el consenso social; 2) invertir la lógica habitual de la eficiencia de la
investigación, minimizando su estar al servicio de la apuesta modernizadora capitalista; 3)
cambiar los estándares estéticos de esta ciencia, abandonando el gusto privilegiado por los
métodos y estándares exóticos (euro-norteamericanos); 4) inmunizar a los intelectuales
contra el derrotismo de la programación frustrada en el continente; 5) insistir en las causas
más profundas de los problemas sociales, no contentándose con las evidentes.
PALABRAS CLAVE: Intelectuales. Giros epistémicos. América Latina. Investigación
decolonial. Justicia Social.
Renata Ovenhausen ALBERNAZ
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DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.v8i00.17764 3
Introduction
This article originated from a request for a lecture during a student mobilization at the
Federal University of Rio Grande do Sul, amidst the movements occupying public buildings in
2016 in Porto Alegre and throughout Brazil. Therefore, the initial inspiration was rooted in
addressing young mobilized students, aiming to invigorate their questioning and emancipatory
forces despite the discouragements of those days surrounding the Public Spending Amendment
vote. Another trigger was the perception of a certain disenchantment that, in times of crisis,
seems to afflict society regarding the purpose of key institutions associated with human life
the State, Unions, Social Movements, and Communities. This disenchantment has reinforced
defensive and "intimate" and "possessive individualism"
2
behaviors, such as advocating for the
privatization of state activities, defending private savings and investment as means of social
protection, embracing a solitary life, or, at most, one restricted to the nuclear family, and
staunchly defending the standard of freedom through individual preference in the market,
resulting in the diminishing of an ethic of commitment and social solidarity.
Although the private and intimate realms are defensible and necessary spaces for the
protection of freedom, maturity, and individual responsibility, as existentialists advocate
immunizing individuals against certain mass compulsions and harmful effects of socialization
3
,
a commitment to their widespread dissemination should be a matter of concern.
One might be experiencing the peak of what Touraine (1998) referred to in the 90s as
"de-modernization." On the one hand, there's a perception of a rupture in the ability of major
modern institutions to maintain collective cohesion, something that evokes "a 'non-social'
2 Possessive individualism is the fundamental element of the current societal model, as elucidated by Macpherson
(1979) in understanding the constitution of modern society through the lens of Thomas Hobbes. He terms this
model the Possessive Market Society, wherein an individual's labor is treated as a commodity. Although the
"energy and skill" of an individual are their personal "property," they are not considered integral to their personality
but rather their "belongings," as individuals are free to offer their competencies to others for a specific price. The
adjective "possessive" is employed by the author to characterize the full development of the market society, a
society in which labor has become a market commodity, and almost all social relationsexcept for a few social
enclaveshave been transformed into market relations. In this case, the term "market economy" no longer captures
its essence, making the designation "market society" more appropriate.
3 The detrimental effects of socialization are not overlooked, aligning with the caution raised by Azevedo and
Albernaz (2006). Following Guerreiro Ramos' evaluation, they assert that the average manthe healthy man
championed by Durkheimwas essentially considered an "adjusted man," non-confrontational, constantly seeking
perfect adaptation to the social environment. However, the sociologist from Bahia warns that Durkheim never
attempted to entertain speculation about the unhealthy nature of the social environment, assuming that all
socialization was inherently beneficial. The authors emphasize Guerreiro Ramos' call for social science not to
remain aloof from critiques directed at the "pathology of conformity or social normality" (Guerreiro Ramos, 1971,
p. 25-26, our translation).
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analysis of social reality" (Touraine, 2011, our translation), namely the loss of the vision of
society as an integrated system.
On the other hand, attempts to revive the shattered social unity with old recipes
(sometimes exacerbated nationalisms and culturalisms) seem anachronistic in the face of the
propulsion of communicability and transactions engendered by virtual life and globalization. In
this state of "space-time compression,"
4
neither new liberalism, socialism of the old left, nor
multiculturalist communitarianism seem to achieve consensus or sustainable political agonism
convincingly (Mouffe, 2005). The question, therefore, is whether this dissolution of social ties
is real or illusory and what intellectuals can do to clarify or unveil this reality or illusion. This
article aims to invite intellectual self-reflection towards this goal.
Unveiling Imbalances between Displays and Invisibilities
Firstly, this dis-location of social bonds might be merely a false impression, as there is
perhaps an unprecedented intensification of the socialization of the impacts of social actions,
notably their risks. However, this socialization is obfuscated by imbalanced measures of
visibility and invisibility, even within the realm of science. This makes the genuine operation
of any form of deliberative democratic functioning challenging, whether based on a consensus
model (Habermas, 2009), or dissent (Laclau; Mouffe, 2015), as both presuppose widely
available reasons and, thus, conscious political engagement.
The case of organizations, whether instrumental or substantive (Guerreiro Ramos,
1981), is evident in this regard. Regarding more substantive organizations, such as those in civil
society, solidarity enterprises, non-profit entities, and social movements, studies on these
organizations and social mobilizations from the 1980s to the 2000s were expressive and
apologetic. There was a perception and expectation that these organizations overflowed with
4 The state of dis-location of the individual in the social realm is here evoked as the subject's sensation of being in
a condition of associative fragility. In this context, the individual perceives the association as unstable and
unreliable in ensuring their life and recognition or in the contempt they feel towards social bonds, especially in
their burdens, even when deeply entangled within them.
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"rupture effects"
5
, whether programmed or not and were "counter-systematic"
6
, in nature. They
expanded into "networks of social movements"
7
, opening up political and institutional clearings
in the sum of their actions, demanding a new form of organization and management or social
managementl
8
.
It was argued that these organizations had repercussions far beyond their immediate
objectives' simple and evident effect, generating a broad-spectrum political, social, and
economic transformation (Dagnino, 2004). Today, after an inevitable waning of academic
attention to these subjects, it is revived in the studies of network mobilizations, which operate
differently but are also fertile in effects, such as environmental protection movements, anti-
racism, and anti-police violence movements, diversity movements, among others.
In the realm of more instrumental organizations, such as those of capitalist economic
agents driven by accumulation, numerous socializations also take place, primarily of burdens
and negative externalities of their activities and interests.
Situations are identified where costs are distributed to consumers in the form of prices,
higher interest rates in banking institutions to compensate for losses resulting from defaults,
5 The idea of transruptive effects, as conceptualized by Stuart Hall, is employed here in an analogous manner. Hall
(2003) introduces this concept by observing that the mutation from colonial to post-colonial relations in England
initially did not by itself alter the subaltern connotations embedded within them. However, the migration facilitated
by this mutation has generated various transruptive effects, primarily in the receiving society (England). Among
these, Hall highlights the repositioning, under erasure, of the idea of race and its strategic use as a denunciation of
an exploitative system; the break from essentialist and evolutionist notions of culture in favor of hybridity and
mixed and diasporic cultures; the questioning of the neutrality and universality of the liberal state from its margins.
Thus, transruptive effects are the deconstructive and revisionist impacts that the pluralization of social life
generates in a society, effects that, in Hall's case, originate from outside to inside the receiving society and, in the
case of Brazil, from the margins to the center of that same society.
6 With the category of counter-systematic collective action, Melucci (2001) directs attention to conflicts at the
system level and the mode of opposition, in this case, in which social mobilizations affect it, even if punctually
and temporarily. With this idea, he explains collective action not in the form of a character actor with a well-
defined identity but as a unity of ends generated by the temporary aggregation in a field of multiple forces acting
to destabilize the system.
7 Scherer-Warren (2005, p. 30) analyzes social movements in networks of social mobilizations, considering the
links and reciprocal means that, escaping the limits of given collective organizations, expand symbolically and in
solidarity with other collective actors and individual subjects through: 1) social, ethical, political-ideological, and
cultural identifications; 2) exchanges, negotiations, and definitions of fields of conflict and common adversaries;
and 3) the realization of projects, proposals, and objectives that complement each other.
8 Incorporating some interpretative keys of this new conception of managementsocial managemen, Cançado
(2014, p. 81-82, our translation) locates them as follows: the logic of Well-Understood Interest; the locus of the
Public Sphere, the end of Emancipation; and a "negative dialogical perspective (Adorno, 2009, our translation),
without the pretense of synthesis." Concerning Well-Understood Interest, a concept derived from Tocqueville's
description of American society in the 19th century, the author (2014) explains that this concept "is based on the
premise that collective well-being is a precondition for individual well-being (as opposed to Adam Smith's
premise) (...). In other words, 'virtue is useful.'" Regarding the locus of the public sphere, it is the communicative
and deliberative meeting place for individual and collective subjects on matters of societal interest and the ability
to navigate this space. Emancipation is defined as breaking free from tutelage and establishing autonomy, focusing
on actions of collective self-organization.
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and socialization is carried out by complementary health systems where individual payment is
a condition for other users to access treatment. There is the externalization of environmental
and community damages (noise, waste, odors, and accidents resulting from the rupture of dams
containing toxic waste from industries, among others). Additionally, there is the socialization
of the risks of activities, transferring responsibility to service providers in favor of ensuring
profits for the owners of application systems, among other aspects.
These socializations of burdens and externalities are not easy to research and often
remain poorly publicized, as companies are shielded by various confidentiality rights (banking,
financial, industrial, intellectual, and criminal). It is common, in fact, when authorizing research
within these instrumental organizations, for them to demand a confidentiality agreement,
restricting the public disclosure of data and information produced in these studies that could be
of collective interest. This is argued because they are exposed to a competitive environment.
On the other hand, the state organization's exhibition tends to be more intense due to the
legal principle of public transparency (Article 216, item IX, and Law No. 12,527/2011).
However, there are also imbalances between the publicization of expenditures, for example, on
public administration and redistributive social justice programs, compared to access to
information on subsidies and fiscal default of economic organizations, protected by the same
confidentiality rights.
Equalizing the publicization of various socialized aspects of contemporary life is
essential not only for conscious deliberative democratic progress but also for the conduct of
sustainable development. Award-winning theories on development and justice have insisted on
the importance of this. Economists like Amartya Sen (2011) and Joseph Stiglitz (2012) propose
analyses with expanded informational bases to include this data. This is aimed at determining,
in the measure of development, other human values (beyond income and wealth) in order to
eliminate freedom deprivations and severe and unjust inequalities concretely. For a social pact
in this direction to operate, one of its conditions is to balance measures of social visibility,
enabling a proper construction of a sense of justice.
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Options Available to Emancipatory Intellectuals
According to data from the Brazilian Institute of Geography and Statistics, in 2014, the
participation of employees in the employed population was 61.0%, with the percentage of
people without signed work permits being 42.1% among employees and 72.8% among
domestic workers. The unemployment rate was nearly 12% for women and 8% for men, with
the overall labor underutilization rate at 14.8%, and the average income in 2014 was
R$1,800.00. These are concerning statistics regarding formalization and social assistance for
Brazilian workers.
However, even with these figures, labor rights were "relaxed" in the Labor Reform (Law
No. 13,467, July 13, 2017). Results from the survey conducted by Figueiras, Lima, and Souza
(2019) indicate that, despite the mitigation of guarantees and securities, the promised gains in
the number of jobs and wages did not materialize. After the reform, "formal employee entry-
level wages remain basically stagnant," open unemployment was 11.6%, and labor force
underutilization was 25% in the last quarter of 2018. How was this legal approval possible in
this context?
Losses like these may not be explained by the political apathy of the people, who are
the victims, as they have historically been subjected to a regime of "subcitizenship"
9
. It is not
easy for them to be heard in their despair. Instead, these losses are fueled by political insistence
on the old modernizing gamble advocated by the economic elite, an agency for which the state
has been a captive servant. The useful people have been directed or dismissed in favor of this
elite.
Against this trajectory, the challenge for intellectuals would be to insist on investigating
the logic inverse to this modern gamble. This is something akin to what our late Enrique Dussel
called "trans modernity"
10
, starting from the perspective of those denied and neglected by
9 Through the concept of subcitizenship, Souza (2009, p. 174, our translation) seeks to explain the existence of a
certain type of consensus, almost bodily, pre-reflective, and naturalized. Without undermining the effectiveness
and legal structure, this consensus allows some individuals and classes to be above the law while others are below
it. In other words, there are "invisible and objective networks that disqualify prepared individuals and social groups
as sub-producers and sub-citizens, and this takes the form of an unquestionable social evidence, both for the
privileged and for the victims of precariousness." Thus, the "social production of a 'structural rabble' in peripheral
societies" is not an occasional or social pathology in Brazil but an institutionalized phenomenon, politically and
sub politically.
10 Transmodernity is a position that is assumed and a project of liberation. Dussel (2005, p. 55-70) defends it as
the commitment to deny the denial of the myth of Modernity as a myth. To achieve this, the other face, the denied
and violated side of Modernity, must assert itself as innocent, judging the Modernity that violated it as guilty.
According to Dussel, Modernity is a myth where modern civilization self-describes as civilized; as a result, it
obliges itself to develop the primitives; this development follows the process determined by Europe, and it justifies
violence against the barbarian who resists this development. The barbarian is considered guilty of their barbarism,
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modernity to devise new solutions for old social problems. Indeed, wasn't it from this reverse
perspective that Paulo Freire (2003) realized he had much more to learn than to teach from the
oppressed? From this attentive listening, the fertility and originality of his emancipatory
educational solution (pedagogies of the oppressed, autonomy, etc.) emerged?
The reverse gaze may also discern that the people, today and always, devise their
schemes of solutions to their condition in creative, plastic, relaxed, and rebellious ways, a
subterranean, branched, rhizomatic resistance with its codes, sometimes invisible to the
tradition of academic methods and categories. In a very interesting study on decolonial
pedagogies based on the praxis and discourses of Latin American resistance, Catherine Walsh
makes reference, for example, to the lesson of the Kichwa leader in Ecuador, Mrs. Dolores
Cacuango, known as Mama Dulu. In the 1930s, she nurtured the strength and hope of her
oppressed people by saying: “Somos como la paja del cerro que se arranca e volve a crescer y
del paya del cerro cobriremos el mundo” (Walsh, 2017).
Walsh also mentions the cosmology of African hope as resistance in the pedagogy of
enslaved mothers who, with their songs, legends, and dances, sought to shield the black dignity
in their children against the onslaught of the deprivation of their humanity through slavery. She
cites various texts of resistance intentionally forgotten by Western Eurocentric knowledge, such
as the manuscripts of the indigenous people of Huarochiri and Popul Vuh (today, Peru and
Guatemala) in the 16th century and the narrative of their strategies of subversion to the colonial
logic from the perspective of their peoples.
In this sense, the text Nueva Crónica y Buen Gobierno, is authored by the Quechua
Felipe Guamán Poma de Ayla and sent to King Philip III in 1616. It serves as an example of a
narrative that spoke about the indigenous people from the Andean cosmology, denouncing the
conflicting dialogue with Christian cosmology and the bureaucratic mentality of agents of the
Spanish state. Walsh, therefore, is an intellectual who makes this fruitful inversion in her
research and is successfully mapping, thereby making visible and strengthening, the origins and
struggles for emancipation arising from the very heart of the Andean people.
Maria Lugones (2014), an Argentine intellectual in decolonial feminism, also calls for
this inversion when she suggests imagining and thinking about everyday resistances to colonial
and Modernity is elevated as an emancipation from this situation. The costs of modernization are deemed inevitable
in terms of those sacrificed by it. The way to legitimize this myth is to hide/deny itself as a myth and affirm itself
as a universal truth. 'Transmodernity,' thus, is "a global project of liberation in which Alterity, which was co-
essential to Modernity, equally realizes itself" (Dussel, 2005, p. 66, our translation) through mutual creative
fecundity.
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differences involving non-representative individuals' interactions in official public terms.
Addressing resistance to decolonizing gender, the author asserts that the "colonized woman" is
an empty concept, "there is no colonized woman; one can only affirm the colonized woman by
denying her as a historical being and unilateralizing the gaze on her (Lugones, 2014, p. 939,
our translation). And this is a false perspective."
The author suggests focusing on beings and practices that resist Coloniality,
highlighting "the subjective/intersubjective relational proliferation of liberation, both
adaptively and creatively oppositional" (Lugones, 2014, p. 939, our translation). While this
resistance may be minimal in scale, it is constant and transformative. The subjectivity that
resists often expresses itself, according to Lugones (2014, p. 942), in the ability of communities
of the oppressed to constitute meanings among themselves that reject those imposed by colonial
power and express them in codes not understood by that power. This is an infra-political victory,
but due to its plasticity and dissemination capacity, it has a considerable social impact. Lugones
(2014, p. 943, our translation) thus emphasizes "the process of oppressing ← → resisting in the
fractured locus of colonial difference."
Therefore, the work of this intellectual contributes both to deconstructing the impression
of the oppressed's immobilism in the face of the alleged unchecked magnification of dominating
forces today and to mitigating the myth of this magnification, reminding that there is no fully
successful, massive domination exempt from the fractures caused by the locus of infra political
resistance and social mobilizations. Furthermore, her theory helps promote and make visible
the multiplication of these fractures, empowering them by causing a gradual but constant
"osteoporosis" in the vertebral column of unjust structures of power, distribution, and modern
capitalist socialization.
For this fruitful inversion of research, it is also necessary to change the aesthetic and
power standards in Latin American science, denying the structure of the scientific field as it has
been designed until now (Bourdieu, 2015). After all, if clear research, extension, and teaching
are the tasks that society assigns to university academics to reveal its most subterranean and
complex truths, which the untrained eyes of ordinary citizens cannot see, would it be
advantageous to embrace this fruitful inversion when these inverted objects are outside the
spotlight and academic applause dictated by the criteria of North American and European
scientific success?
No, or perhaps, yes. Alberto Guerreiro Ramos (1995) called for, back in the 1950s, a
truly creative Brazilian intellectual endeavor in the sense of epistemic inversion. What kind of
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creative intellectual work would that be? One that, following the Bahian author (1995), would
be committed to aiding in the national personification of Brazil and in the macro-structural
revision against what imprisoned the country in a cycle of backwardness and dependence, one
that promotes the visibility of Brazil's unique social effervescences; a knowledge whose
methods, while remaining scientific and rigorous (empirical, but not positivist!)
11
, allow for
capturing these social effervescences in a "pedestrian" manner, as conventional and abstract
methods might leave them unnoticed.
Finally, it would be the knowledge initiated by an intellectual capable of looking at
Brazil with tenderness and proximity, shedding the stigma of self-degrading prejudices imposed
by hegemonic colonial understanding. Only this type of knowledge would allow Brazil not only
to enter, with originality and notoriety, into the composition of the universal tradition of
knowledge but also to help build a country capable of understanding itself and constructing
itself in an increasingly self-determined and just manner.
After all, if Arendt (2012) was so insightful in explaining totalitarianism because it was
close to her touched her personal experience, and if Bhabha (2018) was so explicit in unveiling
hybridity as a bilingual Indian, facing one of the most inequitable realities in the world in terms
of wealth concentration and the dysfunction of its distribution, and so creative in both its
techniques of oppression and resistance, Brazilian academics are afforded a unique position of
speech and phenomenological unveiling that intellectuals from developed countries would be
unable to reach. However, this opportunity for authentic intellectual authorship is often lost in
favor of the bureaucratic success of academics aligned with foreign "canned sociologies"
12
.
In addition to this inverse perspective and authentic authorship, another intellectual
challenge of the present time is to immunize oneself, in this world of impatient demands, against
the defeatism of frustrated intellectual agendas those that, despite all intellectual efforts of
clarification and social direction, involve actions and events that escape programming and
11 Guerreiro Ramos (1995) severely critiques positivism as a method instituted by Comte and Durkheim. He asserts
that, unlike sociology before the 19th century, which was attentive to social transformations, problems, and issues
posed by these transformations and thus was a dynamic sociology, the sociology institutionalized by Comte and
Durkheim is a conservative sociology whose intention is to freeze and control social forces in an effort to restrain
them for the stabilization of the order imposed by the bourgeois class, considered the standard of normality.
Positivist sociology, according to Guerreiro Ramos, is ideological, despite claiming neutrality, as it is committed
to establishing the normality of the order imposed by bourgeois society against any resistance to it. Hence, the
author rejects this sociology for societies in states of latency, as was Brazilian society in his time.
12 Guerreiro Ramos (1995) argues that sociology has a salvific and social reconstruction purpose. However, the
training of the sociologist has been geared towards training and conformity; they become mere répetituer, and
their output is packaged almost like "cultural preserves," forming an infantile ailment, more of a gesturing than an
active nature, projecting a pathology of normality external to what it apologizes for.
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prescription by any intellectual. In a democratic society, social construction is the work of the
society itself, not an intellectual elite. However urgent the data revealed by intellectuals may
be.
Collective mobilizations, for example, even if they contribute extensively to the
composition of creative resistances by the people, have their timing and dynamics and cannot
be programmable by intellectuals. As Alberoni (1991) stated, social movements have their
genesis in a specific confluence of events and consciousness that brings some individuals a
"nascent state," not only of clarity about the essence of things and a possible alternative future
but also of a significant propulsive energy potential.
The nascent state is a social discontinuity provoked by an experience of death
and rebirth at an individual level. Individuals look at themselves, the people
around them, society, and the world with an astonished gaze, as if they were
seeing these things for the first time and wondering why on earth they are the
way they are. Why are they the way they are? Why do they live that way, and
why have they accepted living in that way when infinite different forms of life
were possible? All the forms of life experienced by people from various
societies over millennia and more? In the nascent state, the human being
discovers their plasticity, experiences their incredible malleability, and feels,
for a moment, miraculous and free from the mode of being in which they were
molded and imprisoned. They feel free to realize all their potentialities. It is
an absolutely extraordinary experience. Nevertheless, we have all experienced
it. Societies and groups periodically go through the same experience. These
are moments of discontinuous change (Alberoni, 1991, p. 37, our translation).
This nascent state, at least not in a totalitarian way, cannot be created in a laboratory.
Intellectuals can only cooperate in the theoretical fermentation of various life alternatives that
may provoke the backdrop for these upheavals. Something similar to this nascent state
happened, in fact, with the mobilized students who occupied schools and universities in 2016
when they were fighting against the Constitutional Amendment Proposal for Public
Expenditure Limitation, approved as Constitutional Amendment 95 (EC95/16) on 15/12/2016.
Despite these mobilizations, this amendment was revoked by EC 126/22 and regulated by
Complementary Law 200/2023.
The phrases "despite these mobilizations" and "thanks to them" also provoke reflections
here. It is necessary to study the reality in motion, going back and forth between the perspectives
of the subjects in the struggle, to provide society with responsible explanations and predictions.
For example, following the news of the bank workers' movement in 2016, it was noted that it
lasted 31 days. Ten years ago, achieving similar gains would have been only two days.
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Why did they need more mobilization time? Because, realizing their losses in previous
strikes, bankers became immune to the effects of this fighting tool. They created and expanded
Home Banking, credit card, and bankfone systems and broadened solutions through ATMs.
Bank employees became more dispensable, decreasing their numbers and making their
mobilizations less transgressive. As for social networks, initially, they were an alternative and
confronting channel to the official media, but now they face challenges such as indications of
co-optation, the spread of fake news, manipulation, and commodification. Therefore, new
channels and actions need to be invented. Studies should consider that the creativity of
subversive resistance generates the creativity of reactionary resistance, establishing a creative
and dialectical social movement.
Finally, more than just a study with "formal quality," it is necessary to take into account
the "political quality" of research (Demo, 1995)
13
. In this regard, attention must be paid to the
potential negative externalities of research results in social sciences and humanities, even in so-
called critical research. For example, many empirical studies are conducted in institutional
settings of participatory democracy. This is indispensable, considering that these means were
hard-won in Brazil but are subject to disrespect from governments and public opinion aligned
with a "post-democratic" ideology (Casara, 2019, our translation) or "authoritarian liberalism"
(Chamayo, 2020, our translation).
However, these studies are limited to gathering evidence highlighting low popular
participation. In that case, the appropriation of these institutions by certain groups and parties,
insufficient instrumentalization and qualification, among other widely known problems, one
negative externality of such research, which can be used as ammunition for discrediting it, is
that, instead of expanding and improving political participation, they may generate
discouragement and fuel the ideological belief, facile and shrewd, that, based on the presented
evidence, it is not worth investing in political participation in Brazil. However, if these studies
delve deeper into the analysis beyond these pieces of evidence, exploring the deeper causes of
these findings, they may reach the crucial points of Brazil's participatory failure, elucidating
13
Demo (1995) emphasizes the need to combine both formal and political qualities in research. Formal qualities
encompass aspects such as "logical propriety, technical instrumentation, within the usual academic rites: mastery
of data collection techniques; handling and use of data; ability to manipulate bibliography; versatility in theoretical
discussion; knowledge of theories and authors; adherence to established steps, such as the path of undergraduate,
master's, and doctoral studies" (p. 21, our translation). However, the political quality of research raises the question
of its aims, contents, and role as a historical practice, weighing reflections on research's responsibilities in its social
context. "It is concerned, for example, with the persistence with which social sciences serve as instrumentation for
social control and asks why they know much more about how not to change, how to demobilize social movements,
how to justify the rich and powerful than to act as instrumentation for historical transformations considered
strategic by the unequal" (p. 25, our translation).
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who the real culprits are. This is the productive phase of this type of critical research. Antonio
Cattani (s.d.) adopted a similar approach: in studying poverty, he went increasingly deeper,
reaching the study of the affluent, and perhaps, in this depth, he is "uncovering" many culprits
and "exonerating" many innocents.
Final Considerations
These intellectual commitments encounter a series of obstacles that are shared anxieties
among many intellectuals today. Sacrificed by quantitative productivity that can produce little
quality, haunted by the discredit of denialists and by a bewildering proliferation of information
(which includes both the positive multiplication of voices on social networks and deliberately
disseminated fake news), we find ourselves in a state of perplexity about "what to do." It was
this state that motivated the writing of this article.
The intellectual turns in the strategies mentioned here 1) unveiling the pitfalls of
imbalances between measures of visibility and invisibility of social redistributions among
different actors; 2) reversing the usual logic of the efficiency of investigations, removing them
from serving the capitalist modernizing bet and putting them in the service of combating the
state of sub-citizenship of our people; 3) conditioning the emergence and valuing intellectuals
who militate for authentic and original Latin American authorship; 4) immunizing oneself
against the defeatism of intellectual programs frustrated by the timing of social movements;
and 5) being mindful of the negative externalities of research results, even if they are still
reflections and possibilities, are already underway and indicate a significant intellectual
movement of self-reflection on the purposes of research and its role in these emancipatory
changes.
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CRediT Author Statement
Acknowledgements: I would like to thank the Student Movement - Occupy UFRGS, from
2016, for the invitation to initiate this reflection and for the contributions of the intellectual
Ariston Azevedo on the thought of Guerreiro Ramos.
Funding: art of these studies were conducted with the funding of the research entitled
"Pluralismo Jurídico, Multiculturalismo e Democracia Latino-Americanos: seus reflexos
na legalidade, nas políticas públicas federais e na jurisprudência superior do Estado
Brasileiro atual (2005-2015); Legal Pluralism, Multiculturalism, and Latin American
Democracy: Their Reflections on Legality, Federal Public Policies, and the Higher
Jurisprudence of the Current Brazilian State (2005-2015)," awarded under Notice 001/2013
- Researcher Gaúcho Notice (PG), from the Foundation for the Support of Research of the
State of Rio Grande do Sul (FAPERGS), research carried out between 2013 and 2016, under
Grant Agreement No. 002068-2551/13-3.
Conflicts of interest: There are no conflicts of interest.
Ethical approval: Not applicable.
Data and material availability: All consulted texts are available on the internet and/or in
libraries and bookstores.
Authors contributions: Sole authorship.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.