.
Defendia-se que essas organizações repercutiam muito além do simples efeito evidente
de seus objetivos mais imediatos, gerando uma transformação política, social e econômica de
amplo espectro (Dagnino, 2004). Hoje, depois de um certo esmorecimento da atenção
acadêmica a esses objetos, ela é reavivada nos estudos das mobilizações em redes, essas com
outros funcionamentos, mas também fecundas em efeitos, como os movimentos de proteção do
meio ambiente, contra o Racismo e a violência policial, pela diversidade, entre outros.
No campo das organizações mais instrumentais, ou a dos agentes econômicos do
capitalismo pela acumulação, também ocorrem inúmeras socializações, principalmente de ônus
e de externalidades negativas de suas atividades e interesses.
São identificadas as situações de distribuição dos custos aos consumidores, na forma de
preço; dos juros mais elevados nas instituições bancárias, visando compensar as perdas
decorrentes da inadimplência; a socialização realizada pelos sistemas complementares de
5 Usa-se essa ideia de efeitos transruptivos, de Stuart Hall, aqui, de forma análoga. Hall (2003) evoca essa ideia,
pois observa que, se a mutação das relações coloniais para pós-coloniais na Inglaterra, inicialmente, não alterou,
por si só, a conotação subalternizante nelas embutidas, a migração oportunizada nessa mutação tem produzido
vários efeitos transruptivos, principalmente na sociedade receptora (Inglaterra). Entre eles, Hall destaca: a
recolocação, sob rasura, da ideia de raça e o seu uso estratégico como denúncia de um sistema de exploração; a
ruptura com a noção essencialista e evolucionista da cultura, em defesa do hibridismo e de culturas mistas e
diaspóricas; o questionamento da neutralidade e universalidade do Estado liberal pelas suas margens. Assim,
efeitos transruptivos seriam os impactos desconstrutivos e revisionistas que a pluralização da vida social gera em
uma sociedade, efeitos, esses, advindos, no caso de Hall, de fora para dentro da sociedade receptora e, no caso do
Brasil, das margens para o centro dessa mesma sociedade.
6 Com essa categoria de ação coletiva contra-sistemática, Melucci (2001) atenta para o campo dos conflitos a nível
de sistema, e para o modo, no caso, de contraposição, em que as mobilizações sociais o afetam, mesmo que de
forma pontual e temporária; ele explica, assim, com essa ideia, a ação coletiva, não na sua forma de um ator
personagem, com uma identidade bem delimitada, mas de uma unidade de fins gerada pela agregação provisória
em um campo de múltiplas forças que atuam na desestabilização do sistema.
7 Scherer-Warren (2005, p. 30) analisa os movimentos sociais em redes de mobilizações sociais, onde considera
os elos e os meios de retribuição que, escapando dos limites das organizações coletivas dadas, expandem-se, de
forma simbólica e solidária, a outros atores coletivos e sujeitos individuais, por meio de: 1) identificações sociais,
éticas, político-ideológicas, culturais; 2) intercâmbios, negociações e definições de campos de conflito e de
adversários comuns; e 3) a realização de projetos, propostas e objetivos que se somem uns aos outros.
8 Trazendo algumas das chaves interpretativas dessa nova concepção de gestão – a de gestão social, Cançado
(2014, p. 81-82) as localiza como sendo: a lógica do Interesse Bem Compreendido; o locus da Esfera Pública; o
fim da Emancipação; e uma “perspectiva dialógica negativa (Adorno, 2009), sem pretensão de síntese”. Por
Interesse Bem Compreendido, conceito vindo de Tocqueville, quando descreveu a sociedade americana do século
XIX, o autor (2014) explica que tal conceito “se funda na premissa de que o bem-estar coletivo é pré-condição
para o bem-estar individual (ao contrário da premissa de Adam Smith) (...). Em outras palavras, ‘a virtude é útil”.
Sobre o locus da esfera pública, este é o do encontro comunicativo e deliberativo de sujeitos individuais e coletivos
em temas de interesse da sociedade e da habilidade em manejar esse espaço. E, a emancipação, como sendo o sair
da tutela e firmar-se em autonomia, enfocando as ações de auto-organização coletiva.