Carmen Maria Cipriani Pandini
| Plurais Revista Multidisciplinar, v.6, n.3, p. 53-73, set./dez. 2021
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Assim, os posicionamentos desses intelectuais que geraram, no Brasil, uma nova tendência
educacional desde o início da década de 1990, cujo enfoque cou conhecido como teoria crítica
da educação, são inventariados, neste estudo, buscando na perspectiva da educação multirre-
ferencial 4 subsídios para compreender a dialética das singularidades e da pluralidade de cada
sujeito e seus atos,5 em um contexto dinâmico onde o trabalho do design acontece.
Nessa linha, entende-se que o design possui uma função relevante não só por ser uma
atividade complexa e pode captar as intenções da formação, mas porque se permite atuar sobre
os fenômenos educativos buscando soluções de aprendizagem para um sujeito integrado à sua
realidade. O domínio do design, por meio das ações humanas, está em criar possibilidades para
compreender os diferentes estilos de aprendizagem, as distintas experiências dos estudantes,
dos seus desejos e expectativas. O design inclui atividades dinâmicas que são executadas por
diferentes atores do sistema, dentre eles, os professores (SILVA & SPANHOL, 2014).
A emergência da Era Pós-moderna assinalou mudanças importantes nas instituições
educativas que, por sua vez, exigiu das instituições não só a revisão de conceitos, mas também
das funções pedagógicas, do trabalho educativo e da visão dos prossionais que elaboram os
projetos e os cursos a distância. Uma das razões foi apontada por Tarcia e Cabral (2002, p. 151),
que argumentam que “o ser humano do século XXI é aquele que não se contenta mais com o que
é, pelo que é, pelo contrário, julga importante saber porquê e quais as implicações dos fatos, das
situações e dos acontecimentos”.
O movimento paradigmático, associado à expansão das tecnologias digitais e às conexões
em rede, gerou um fenômeno comunicativo multidimensional, multidirecional em que os próprios
4 Fazendo referência à tendência proposta por Ardoino (1998) às práticas educacionais que consideram a
perspectiva contextualizada de educação em que se permite explicitar os fenômenos humanos em sua profundi-
dade, e em sua complexidade. Ardoino assinala que o aparecimento da ideia da abordagem multirreferencial no
âmbito das ciências humanas, e especialmente da educação, está diretamente relacionada com o reconhecimento
da complexidade e da heterogeneidade que caracterizam as práticas sociais. O autor a entende como um conjunto
de referenciais baseado em uma epistemológica que possui como fundamento o reconhecimento do caráter plural
dos fenômenos sociais, a pluralidade das linguagens que assumem a dinamicidade sociedade e a complexidade dos
fenômenos humanos. Essa proposta defendida por Ardoino (1998) explica que, ao invés de “[...] buscar um sistema
explicativo unitário, as ciências humanas necessitam de explicações, ou de olhares, ou de óticas, de perspectivas
plurais para dar conta um pouco melhor, ou um pouco menos mal, da complexidade dos objetos (Ardoino, 1998d,
p. 4 apud Martins, 2004, p. 89).
5 Construindo-se na pluralidade do contexto, o sujeito, como singularidade humana, está tecido no mundo
e caracterizado por uma situação especíca. Nela ele se movimenta, se constrói e produz a história, à luz de um
projeto. Impulso em direção ao ainda não existente e, simultaneamente, inserido em condições objetivas que a
situação lhe impõe, o projeto é a própria práxis vivida no cotidiano. Para nós, o homem caracteriza-se antes de tudo
pela superação de uma situação, pelo que ele chega a fazer daquilo que se fez dele, mesmo que ele não se reco-
nheça jamais em sua objetivação (Sartre, 1964, p. 151). Para esse autor, o projeto dene o sujeito, caracterizando
a dialética do subjetivo e do objetivo. Como subjetividade objetivada (que se transforma em ato), o projeto é este
movimento do sujeito (incluindo seu passado) em direção ao novo, ao inexistente, em um processo de superação
que implica recusa e realização, ou seja, transformação e manutenção de uma situação.