Silvia Eliane de Oliveira Basso, Maria Luisa Furlan Costa e Renata Oliveira Santos
| Plurais Revista Multidisciplinar, v.6, n.3, p. 154-170, set./dez. 2021
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Aqueles que estão cursando o Ensino Médio em sua idade consentânea estão em processo
de franco desenvolvimento bio-psíco-social. Pensam, reetem, opinam, desejam, vislumbram,
projetam e pode-se atestar por vivência e por pesquisa7, que o que se propagandeou no lançamento
da Reforma do Ensino Médio, como sonho do jovem brasileiro, não corresponde a quem verda-
deiramente é este sujeito. Nas mais diferentes regiões do país, este jovem tem suas expectativas
possibilitadas em parte, e na maioria das vezes, limitada, por um sistema social excludente, a
começar pela ocialização da própria Reforma em barrar sua entrada no Ensino Superior.
Sendo o Ensino Médio etapa da Educação Básica, e por “básica” compreendendo base,
estrutura, substância, essência, para mais uma vez armar o caminho historicista em que o estudo
é também lológico (GRAMSCI, 2015) e, portanto, palavras importam e precisam ser ressigni-
cadas, é justicável a atenção para essa etapa da formação, procurando dar-lhe qualidade. Isso
por si, justicaria a Reforma, porém o que a pesquisa revela é um caráter reformista, ou seja,
uma repaginação de modelos já propostos antes, mas apresentados como se fossem inovadores,
tendo como mote o mercado e não o sonho do jovem (BASSO, 2021).
Se é fato, como apontado, que o “médio” não pode ser apenas intermediário, mas con-
siderado em sua essência e importância, não tratá-lo apenas como preparação para o Ensino
Superior, é mais que razoável. Na Reforma, no entanto, ele será impedido de ir para o Ensino
Superior, portanto esse sonho já não lhe pertence. Isso ca evidente na substância da Reforma
que estabelece a nova organização curricular pautada em itinerários formativos, a serem “ofer-
tados” pela escola e “escolhidos” pelos estudantes:
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Co-
mum Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por
meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para
o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber: I - lin-
guagens e suas tecnologias; III - ciências da natureza e suas tecnologias; IV
- ciências humanas e sociais aplicadas; V - formação técnica e prossional.
(BRASIL, 2017a).
Em mais uma análise lológica, comparando-se o texto atual com o que foi substituído,
percebe-se claramente a mudança de enfoque e o pragmatismo da Reforma. Não se quer dizer
com isso que um texto de lei seja suciente para garantir uma educação integral, emancipadora
e, portanto, de qualidade, mas que ele por certo induz a concepções e ações distintas:
7 Basso co-orientou projeto de pesquisa, realizado por estudantes de Curso Técnicos Integrados ao Ensino
Médio do IFPR, campus Umuarama, nos anos de 2017 e 2018 sobre o Movimento de Ocupação das Escolas Pú-
blicas no Estado Paraná, em que jovens foram entrevistados demonstrando suas expectativas e desejos em relação
à educação, à política e à sociedade (Projeto PIBIC Jr., sob registro: 23404.000511/2017-3 - Estudo sobre as
ocupações das escolas públicas estaduais do Município de Umuarama-Pr. em 201 6. COPE / IFPR-Umuarama).