Rafael Luis Swarowsky, Valmir Heckler e Hebert Elias Lobo Sosa
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DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.2447-9373.2021.v6.n1.12201
EDUCAÇÃO SONORA EM PROCESSO FORMATIVO
COM PROFESSORES DE CIÊNCIAS: indagação sobre
ruídos e a música
Rafael Luis Swarowsky
1
Universidade Federal do Rio Grande
http://orcid.org/0000-0002-2859-3296
Valmir Heckler
2
Universidade Federal do Rio Grande
http://orcid.org/0000-0002-3838-3903
Hebert Elias Lobo Sosa
3
Universidad de Los Andes
http://orcid.org/0000-0002-1435-207X
RESUMO:
O estudo apresenta aspectos emergentes da análise do desenvolver/praticar o tema da Educação Sonora
com um grupo de professores, em processo formativo em uma disciplina de um Programa de Pós-
-graduação em Educação em Ciências, de uma Universidade Pública do Brasil - Universidade Federal
do Rio Grande (FURG). O estudo de natureza qualitativa, com enfoque na abordagem fenomenológica
hermenêutica, assume a questão central o que se mostra de Educação Sonora com professores de Ci-
ências em uma comunidade Online. A aula sobre a temática Música, em uma perspectiva da Educação
Online, foi estruturada em um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), em que foram registradas, os
materiais, atividades e as gravações em vídeo da aula para análises posteriores. A análise de dados foi
desenvolvida com a Análise Textual Discursiva (ATD). Para a organização dos dados foi utilizado o sof-
tware do ATLAS.TI. Como resultado do estudo apresenta-se a categoria emergente Ruídos e a Música:
Um diálogo através de uma atividade experimental.
Palavras-chave: Pesquisa-ação; Educação sonora; Física do som; Música; Análise textual discursiva.
ABSTRACT:
SOUND EDUCATION IN A TRAINING PROCESS WITH SCIENCE
TEACHERS: inquiry questions about noise and music
The study presents emerging aspects of the analysis of developing/practicing the theme of Sound
Education with a group of teachers, in a formation process in a discipline of a Post-Graduate Program in
Science Education, from a Public University of Brazil - Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
The qualitative study, focusing on the phenomenological hermeneutic approach, takes on the central
issue of what is shown in Sound Education with Science teachers in an online community. The class on
Music, from an Online Education perspective, was structured in a Virtual Learning Environment (VLE),
in which the materials, activities and video recordings of the class were recorded for later analysis. The
data analysis was developed with the Textual Discursive Analysis (TDA). The ATLAS.TI software was
1 Mestrando em Educação em Ciências (FURG). Grupo de Pesquisa CIEFI. E-mail: rswarowsky@furg.br.
2 Doutor em Educação em Ciências. Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências (FURG).
Grupo de Pesquisa CIEFI. E-mail: valmirheckler@gmail.com.
3 Doutor em Educação. Professor Titular Aposentado da Universidad de Los Andes (ULA). Professor
visitante vinculado ao Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências (FURG); Grupo de Pesquisa CIEFI-
Brasil; Grupo de Investigacion GRINCEF - Venezuela. E-mail: helobos.brasil@gmail.com.
Educação sonora em processo formativo com professores de ciências: indagação sobre ruídos e a música
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used to organize the data. As a result of the study, the emerging category Noises and Music is presented:
A dialogue through an experimental activity.
Keywords: Action research. Sound education. Physics of sound. Music. Discursive textual analysis.
RESUMEN:
EDUCACIÓN SONORA EN UN PROCESO DE FORMACIÓN COM
PROFESORES DE CIENCIAS: indagación sobre ruido y música
El estudio presenta aspectos emergentes del análisis de desarrollar / practicar el tema de la Educación
Sonora con un grupo de docentes, en un proceso de formación en una disciplina de un Programa
de Posgrado en Educación Cientíca, en una Universidad Pública de Brasil - Universidade Federal
do Rio Grande (FURG).. El estudio de carácter cualitativo, centrado en el enfoque fenomenológico
hermenéutico, asume el tema central de lo que se muestra en Educación Sólida con profesores de
Ciencias en una comunidad online. La clase sobre el tema Música, desde una perspectiva de Educación en
Línea, se estructuró en un Entorno Virtual de Aprendizaje (AVA), en el que se registraron los materiales,
actividades y grabaciones de video de la clase para su posterior análisis. El análisis de datos se desarrolló
con Análisis Discursivo Textual (ATD). Para organizar los datos se utilizó el software ATLAS.TI. Como
resultado del estudio, se presenta la categoría emergente Ruido y Música: un diálogo a través de una
actividad experimental.
Palabras clave: La investigación-acción; Educación sólida; Física del sonido; Música; Análisis textual
discursivo.
Introdução
O artigo apresenta aspectos emergentes da análise do desenvolver/praticar o tema da
Educação Sonora com um grupo de professores, em processo formativo em uma disciplina de um
Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências (PPGEC), de uma Universidade Pública
do Brasil - Universidade Federal do Rio Grande (FURG). O estudo de natureza qualitativa, com
enfoque na pesquisa-ação e de abordagem fenomenológica hermenêutica, assume como questão
central o que se mostra de Educação Sonora com professores de Ciências em uma comunidade
online. A proposição de atividades e ferramentas para exploração da temática Música, acontece
em um grupo de professores de Ciências que participaram em uma disciplina inserida dentro
do PPGEC. Este grupo de professores de ciências desenvolveram debates e atividades em torno
da temática Música.
Considera-se que os professores em formação na disciplina, ao longo do semestre, foram
se constituindo uma comunidade de indagação online (HECKLER, 2014). Destaca-se que o a
perspectiva de comunidade de indagação se relaciona a uma postura e envolvimento de cada par-
ticipante, frente ao compartilhamento de ideias e experiências, na predisposição de se interessar
nas temáticas, na busca por compreender e colaborar com os outros (WELLS, 2001). O online
é signicado a partir de Silva e Heckler (2020) como forma horizontal de constituir ambientes
Rafael Luis Swarowsky, Valmir Heckler e Hebert Elias Lobo Sosa
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formativos via/na internet em que todos possam dialogar, expressar compreensões, compartilhar
experiências e ideias na busca por ampliar a construção de argumentos entre distintos membros,
bem como registrar as suas diferentes cocriações e interlocuções
Assume-se neste estudo que a Educação Sonora não é um resultado exclusivo do estudo
de campos como a Ciência, Arte e Sociedade. Signica-se que a Educação Sonora também per-
meia contextos que abrangem diversas áreas do conhecimento, como o campo da física do som,
da engenharia, da produção musical, da ecologia acústica, da sociologia e de outras linguagens
cientícas. Nisso, a Educação Sonora “[...] é, primordialmente, levar a acuidade sonora ao alcance
da sociedade” (SILVA; LEONIDO, 2020, p. 56). Para além, compreende-se que a
[…] educação sonora não prepara de forma imediata para a musicalização,
mas permite a consciência a respeito dos sons que ouvimos e que produzimos
em diferentes ambientes e permite o exercício da atenção e da escuta, funda-
mentais para nossa inserção comunicativa no mundo (PRECINOTT, 2016, p.
21).
Nesse sentido, a Educação Sonora se torna uma prática de ouvir atentamente, de com-
preender características e aspectos sonoros através de uma conscientização auditiva. É uma
perspectiva que abrange a “[...] formação de cidadãos auditivamente conscientes das paisagens
sonoras em que vivem” (MONTEIRO, 2012, p. 33). Assume um enfoque, de envolver os sujeitos
em processos formativos, na busca por “[...] despertar para o universo sonoro, por meio de ações
muito simples, capazes de modicar substancialmente a relação ser humano/ambiente sonoro”
(ROCHA; SANTOS, 2017, p. 4).
A educação sonora vem sendo reconhecida como um meio de explorar os efeitos dos
sons, ruídos e músicas. A sua exploração promove conceitos sobre ecologia acústica, um assunto
que ganhou destaque nas últimas décadas por muitos pesquisadores através da conscientização
sobre a poluição sonora. Pesquisadores da área da educação musical Schafer (1994) e Medeiros
(1997), engenheiros de áudio Schaeffer (1966), da ecologia acústica Fonterrada (2008) e da física
Monteiro (2012) assim como também de outras áreas.
A perspectiva do estudo é da pesquisa-ação, dentro de uma abordagem da fenomenolo-
gia Hermenêutica Bicudo (2011). Trata-se de uma pesquisa qualitativa Godoy (1995), em que a
análise é desenvolvida através da metodologia da Análise Textual Discursiva (ATD) Moraes e
Galiazzi (2016). Nisso abrange a subjetividade, a experiência dos autores da escrita, a descrição
e a interpretação na busca por comunicar compreensões sobre o que se mostra aos pesquisadores
sobre a educação sonora debatida/praticada com professores de Ciências em uma comunidade
online. O objetivo central do estudo está em comunicar aspectos teórico-práticos emergentes da
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Educação Sonora vivenciada com a referida comunidade de professores em uma disciplina de
pós-graduação na Educação em Ciências.
Proposta de uma Aula com a Temática Música com Professores de Ciências
O primeiro autor do texto foi desaado a construir uma aula de experimentação com
a temática Música enquanto cursava a disciplina de “Indagação Online na Experimentação
em Ciências”, em um programa de pós-graduação em Educação em Ciências (PPGEC). A
disciplina contou com um conjunto de 14 professores de Ciências, entre estes o professor da
disciplina, mestrandos e doutorandos. Todos os participantes da disciplina assinaram um Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), autorizando participação neste estudo. Ao longo
da escrita, os sujeitos participantes do processo formativo serão assumidos como Professores
P01, P02, P03 e assim, sucessivamente até P14.
Destaca-se que a ementa da disciplina apresentava a perspectiva de desenvolver compre-
ensões sobre a indagação online na experimentação em Ciências. Constituir uma comunidade de
professores em Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) com o propósito de dialogar, indagar,
propor e praticar/teorizar a experimentação em Ciências mediada via web. Busca signicar em
uma abordagem sociocultural os artefatos (materiais e simbólicos) com o estudo de modelos
dos fenômenos da natureza.
Registra-se na referida ementa o enfoque de se assumir todos os matriculados da disciplina,
como professores em uma comunidade. Nesse sentido pensou-se em uma aula com a temática
Música envolvendo a atividade experimental e lúdica. Essa aula cou intitulada “Música na
Educação em Ciências”. E teve sua estrutura elaborada via Ambiente Virtual de Aprendizagem,
com inserção de material de texto, fóruns, vídeos e links como meios dialógicos online.
A referida temática envolveu atividades assíncronas no AVA e dois encontros presenciais
que foram gravados e compartilhados no AVA. Importante signicar que a aula teve com dois
encontros (síncronos), com uma semana de intervalo entre ambos.
Apresenta-se as principais atividades desenvolvidas pelo grupo de professores na temática,
em ordem cronológica:
a. Discussão via Fórum;
b. Discussão em encontro presenciais;
c. Prática com Jogo Lúdico com a plataforma site: Soundgym;
d. Atividade Experimental com aplicativo Phyphox;
e. Aula reexiva sobre atividades feitas durante a semana;
f. Escrita em Fórum de avaliação das aulas.
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Importante destacar que durante o período das referidas atividades explorou-se os serviços
de streaming do Youtube e infelizmente teve-se a perda de 30 minutos de registro do primeiro
encontro devido problemas técnicos na transmissão de dados. O referido encontro foi presencial
e online para os colegas geogracamente distantes e ainda tínhamos transmissão direta para
Youtube em forma de testes, como uma forma de manter o registro diretamente on-line.
Durante o primeiro encontro teve a discussão sobre a temática música na educação em
ciências, com a mediação do primeiro autor do texto. A exploração da temática contou com uma
atividade lúdica através de um jogo de percepção auditiva disponível na plataforma Soudgym.
Foram utilizados para essa atividade ferramentas como celulares, computadores, projetor, caixas
de som e fones de ouvido.
Ao nal do primeiro encontro encaminhou-se as explicações sobre a atividade experi-
mental que envolvia em utilizar o aplicativo Phyphox como ferramenta para coleta de dados.
O grupo de professores indicou, ao primeiro autor do texto, para que enquanto ministrante
da proposta construísse um vídeo curto com maiores informações explicativas sobre a atividade
e a ferramenta utilizada. Sugeriu-se, por exemplo, explicar como acessar o aplicativo e quais das
opções apresentadas pelo aplicativo deveriam ser utilizadas para desenvolver a coleta.
O vídeo tutorial foi registrado no AVA da disciplina para auxiliar o grupo de professores
na atividade experimental. Ela tinha como objetivo coletar informações sobre amplitude (inten-
sidade sonora) e grácos de frequências de ambientes sonoros através dos sensores dos celulares
com o aplicativo Phyphox
4
. Os referidos dados coletados pelo grupo de professores em seus
cotidianos aconteceram durante uma semana e foram compartilhados com todos em um fórum
especíco do ambiente virtual. No AVA também foi disponibilizado o texto Física para uma
Saúde Auditiva Bastos e Mattos (2009). Com a disponibilização do mesmo buscou-se desaar
o coletivo à leitura sobre poluição sonora e a saúde auditiva.
O segundo encontro envolveu discussões e reexões sobre os dados coletados nas ativi-
dades desenvolvidas sobre a temática música. Também constituiu etapa de analisar os processos
e resultados da atividade experimental, discutir sobre ruídos, música, poluição sonora e saúde
auditiva. Como fechamento da proposta aconteceu o movimento individual de reexão de cada
participante, com o registro de uma escrita no fórum Relatos das atividades e percepções a
respeito das últimas duas semanas, em que se relatou sobre as atividades desenvolvidas com a
temática Música.
4 Phyphox: https://phyphox.org/
Educação sonora em processo formativo com professores de ciências: indagação sobre ruídos e a música
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Organização e Transcrições das Interlocuções com o ATLAS.TI
A organização dos dados com as transcrições, interlocuções com os registros do AVA e
teóricas, foi realizado no software ATLAS.TI. Os dados dos encontros gravados foram trans-
critos, identicando-se a fala de cada professor do grupo. Da mesma forma, transcreveu-se os
registros presentes nas interfaces do AVA. Nesta organização das falas inicia-se um processo de
interpretação autorreexiva sobre a própria prática. Identicam-se elementos presentes na prática
proposta com a temática Música, ao se pensar em como ela pode se relacionar com outras áreas do
conhecimento. Observa-se nesse processo de reexão aproximação nas atividades desenvolvidas
com outros de campos de estudo, em que os pesquisadores cam atentos ao questionamento: o
que se mostra de Educação Sonora com professores de Ciências em uma comunidade Online?
Para possibilitar responder à questão de pesquisa faz-se necessário uma organização dos dados
constituídos na comunidade de professores, para uma possível análise posterior em interlocuções
empíricas e teóricas. Os dados coletados foram inseridos no software ATLAS.TI e identicados
para a localização das informações.
Os referidos dados estruturam e organizam o processo da Análise Textual Discursiva
(ATD) deste estudo.
Metodologia de Análise Textual Discursiva
No estudo apresenta-se um recorte dos resultados que fazem parte dos metatextos cons-
truídos e auto-organizados através do processo da ATD. Com auxílio do software ATLAS.TI
organizou-se as informações em um único local, em forma de unidades de análise que dialogam
com o questionamento da pesquisa. Inicialmente todas as transcrições foram unitarizadas e depois
transformadas em categorias intermediárias para constituir as categorias nais. Totalizou-se a
construção de 203 Unidades de Signicados (US). As categorias nais emergentes do estudo
mais amplo foram três i) A Educação Sonora Interdisciplinar com Música na Educação em Ci-
ências; ii) Ruídos e Música: um diálogo através de uma atividade experimental; iii) Recursos
tecnológicos e a Música como ferramenta de estudo Histórico-Cultural.
Delimita-se a análise a segunda categoria nal emergente: Ruídos e Música um diálogo
através de uma atividade experimental. Movimento necessário em função da limitação de espaço
e do próprio escopo do periódico. As demais categorias serão ampliadas em futuros metatextos.
Ressalta-se que a produção de metatextos pela ATD Moraes e Galiazzi (2016) é o modo assumido
para se desenvolver a análise das informações construídas e outros sentidos na construção de
signicados com o referido corpus de análise da Temática Música.
Rafael Luis Swarowsky, Valmir Heckler e Hebert Elias Lobo Sosa
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Resultados: Metatexto - ruídos e música em uma atividade experimental
Comunica-se sobre os registros de uma atividade experimental com coleta de dados de
ambientes sonoros, que em sua análise possibilitou aproximar os pesquisadores da Educação
Sonora. Na época da implementação da atividade ainda não era reconhecida como Educação
Sonora. A descrição dos ambientes sonoros de forma coletiva possibilitou identicar elementos
sonoros que foram relacionados com os conhecimentos da física sonora. Através da coleta de
registros experimentais debatemos sobre poluição sonora, ruído, sons e música proporcionando
um repensar da saúde sonora e auditiva. Esse debate se expande para além de funções sensoriais
e engloba os efeitos sobre as memórias e emoções.
Durante o momento síncrono propôs-se o uso do aplicativo Phyphox como recurso para
que os professores pudessem identicar informações e dados sobre os ambientes sonoros do
seu cotidiano. Análise desses dados através do gráco de frequências e intensidade sonora. Para
cada coleta efetuada o participante poderia adicionar informações como local, horário e outros,
compartilhada no fórum do AVA da disciplina. Na escrita sobre a atividade o professor P09, con-
siderou positivo e interessante utilizar “[...] um aplicativo para trabalhar com a frequência sonora,
envolvendo um pouco da percepção de cada um no processo de identicação das opções que
eram apresentadas” (P09, Fórum2, 7:86). Alguns colegas foram além do proposto e registraram
o áudio do seu ambiente sonoro. A partir do material disponibilizado emergiu a possibilidade
de se trabalhar as informações através do “[...] gráco captado pelo aplicativo e do áudio salvo
no google drive, ver o pico no gráco, comparar, ouvir e interpretar” (P13, Videoaula2, 7:162).
A análise da atividade experimental mostra elementos da teoria musical e da física
acústica. Observa-se a partir do gráco de frequências o espectro audível que abrange a faixa
de 20Hz a 20kHz, pois enquanto seres humanos, temos uma audição limitada, em que “[...]
perdas ou ganhos de frequências são relevantes somente para aqueles que se dispõem a treinar o
ouvido” (MENINI, 2011, p. 96). Reforça-se que os referidos elementos, são comunicados como
linguagem do aplicativo na fala do P12.
“[...] os espectros de áudio, embora eu apresentei poucos registros, notei que o
espectro é bem completo, pois apresenta não somente as ondas que compõem
o som de determinado local, como as notas musicais de cada som emitido
através de uma relação de frequência e amplitude. Em alguns momentos os
cents da nota musical podem se apresentar de forma negativa ou positiva”
(P12, Videoaula2, 7:64).
A linguagem do aplicativo descrita pelo P12 apresenta os conceitos como notas musi-
cais, frequência e os cents positivos ou negativos que estão relacionados com anação musical.
Exemplica-se a nota musical Sol (G) ocupando a quarta oitava (G4) na gura 1.
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Figura 1. Cents versus frequências.
Fonte: Elaborado pelos Autores, 2021.
A gura 1 apresenta os dados de referência relacionados à Física das notas musicais. Em
relação a anação, essa é dada a partir da escala temperada
5
em nota lá (A) da quarta oitava ou
440 Hz tendo como a velocidade do som de 345 m/s Goto (2009). Signica-se que uma da nota
musical é o menor elemento sonoro e continuamente presente nos ambientes sonoros, análogo
ao objeto sonoro de Schaeffer (1966). Mostra-se que a temática música tem relação com a lin-
guagem das Ciências, uma delas a Física do som. Essa relação é reconhecida na escrita do P12,
“[...] comecei a observar os tipos de grácos que começaram a emergir a partir
dos comandos, modicações nos parâmetros, no caso grave, médio, agudo,
dentre outros tipos de sons presentes” (P12, fórum1, 7:1).
Na produção musical, campo de experiência do proponente da aula, é comum pensar a
construção de uma música na busca por preencher o espectro de frequências. Essas frequências
são exemplicadas na gura 2.
Figura 2. Frequências de um instrumento musical representada no equalizador do software Ablenton Live.
Fonte: Elaborado pelos Autores, 2021.
5 Frequências em notas musicais escala temperada - https://pages.mtu.edu/~suits/notefreqs.html
Rafael Luis Swarowsky, Valmir Heckler e Hebert Elias Lobo Sosa
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A gura 2 registra uma das práticas com a música do professor ministrante, o que possibilitou
propor aos demais colegas a complexicação de conceitos relacionados com a Física. O colega P13
conta, a partir do vídeo
6
da aula, que a produção musical contém “[...] muitas questões físicas, queria
mostrar algumas dessas informações na volta, em algumas etapas, para ver as frequências de cada
elemento musical” (P13, videoaula1, 7:132).
As relações com a Física do som também se mostram no experimento com aplicativo Phyphox,
ao se coletar a intensidade sonora relacionada diretamente com os decibéis. Através do gráco re-
gistrado com o aplicativo analisa-se em relação com as frequências sonoras do ambiente.
A intensidade do som é descrita no fórum pelo Professor P12.
“Observei que a amplitude em alguns lugares é maior devido a intensidade do som.
No meu experimento, procurei registrar a intensidade do som na parada de ônibus,
dentro dos ônibus, em casa e na rua” (P12, Fórum2, 7:61).
O professor também comunicou a sua experiência dentro de sua casa e traz um elemento
novo: o barulho que a chuva faz. Escreve: “[...] observei que em casa a amplitude do som foi menor,
com exceção dos dias de chuva e o som intenso dos pássaros na minha casa” (P12, Fórum2, 7:62).
A chuva se mostra um elemento da natureza que intensica o nível de ruídos de qualquer ambiente,
também evidenciado por P07 ao coletar “[...] as informações nos dias de chuvas” (P07, videoaula2,
7:146). A contribuição dos colegas encaminha a reexão sobre o aumento de ruídos devido à chuva,
com impacto das gotas ao solo e ou telhados que aumentam o nível de ruídos do ambiente.
A busca por compreender a linguagem cientíca que o aplicativo apresenta frente às infor-
mações coletadas pelo grupo. A tabela 1 sistematiza recortes dos diálogos da comunidade a partir
da atividade experimental desenvolvida com o aplicativo.
Tabela 1. Recorte de diálogos da comunidade sobre a linguagem do aplicativo.
Diálogos sobre a Linguagem do Aplicativo Código
O que são decibéis? P07, videoaula2, 7:190
[...] me dou conta que preciso entender o conceito de Física, por
que não consigo nem explicar a linguagem que tem no aplicativo
sem o auxílio da Física.
P07, videoaula2, 7:189
Por enquanto eu só observei os grácos e a amplitude do áudio. P12, videoaula2, 7:149
Um pico de 335 Hz fritando linguiça no almoço. P09, Videoaula2, 7:118
Percebi que os decibéis tinham valores mais altos quando não esta-
va chovendo.
P07, Videoaula2, 7:147
Revisei meus registros ainda guardados no celular e fuxicando
encontrei algo da minha área transformada de Fourier (espectro de
frequência) conjunto ortonormal de funções. Nunca tinha percebi-
do que um espectro é uma transformada (...).
P01, Forum2, 7:83
6 Vídeo inicial na organização da temática Música no AVA - https://youtu.be/Vtg5qvwuUG8
Educação sonora em processo formativo com professores de ciências: indagação sobre ruídos e a música
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A tabela 1 evidencia a linguagem apresentada no aplicativo e comunica as falas com
fundamentos da Física do Som. A referida atividade experimental possibilitou aos professores em
formação exercitar a contextualização auditiva. Pode-se observar através das falas dos colegas
professores que a atividade experimental proporcionou a reexão sobre o fenômeno do Som. Ele
abrange “[...] uma gama enorme de conceitos físicos: vibração, frequência, período, velocidade,
comprimento de onda, energia, pressão, ressonância” (RUI; STEFFANI, 2007, p. 2).
É importante frisar que a atividade experimental foi desenvolvida no intervalo dos
dois encontros síncronos, separados em uma semana. No segundo encontro, após a atividade
experimental, os registros obtidos com o aplicativo foram discutidos em grupo. Devido às
movimentações diárias e locais de convívio dos professores que participaram do experimento,
obteve-se informações de variados ambientes, como: escolas, universidade, academia, transportes
públicos, ruas, praças e residências.
Exemplica-se nos registros do colega P03 a sua forma de descrição do ambiente anali-
sado com as informações do aplicativo.
“Banco, enquanto aguardava para ser atendida. O horário era em torno de uma
hora da tarde e nesse período geralmente o movimento é mais calmo” (P03,
Registro Fórum1, D11:2).
A referida descrição do ambiente menciona um evento anterior, em relação ao horário,
que possibilita imaginar um ambiente calmo. A gura 3 apresenta as informações coletadas e
compartilhadas por P03 a partir do aplicativo.
Figura 3. Registro 1 do Professor P03.
Fonte: Elaborado pelos Autores, 2021.
Rafael Luis Swarowsky, Valmir Heckler e Hebert Elias Lobo Sosa
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A gura 3 apresenta a linguagem cientíca representada no aplicativo, como: pressão
sonora, amplitude, frequência, tempo, espectro de áudio e nota musical. Foi possível debater e
comparar os resultados para os diferentes ambientes envolvidos na coleta de informações pelo
professor P03. A importância de trabalhar com as informações que geram grácos têm potenciais
na aprendizagem, pois “[...] destaca características particulares do fenômeno, contribuindo para
a conceitualização dos alunos sobre o que é um ciclo, período, frequência, amplitude e forma de
onda” (BORGES; RODRIGUES, 2005, p. 76).
O quadro 1 apresenta as demais descrições de ambientes do som pelo professor P03.
Quadro 1. Registros do professor P03 na atividade experimental com aplicativo.
“Academia. Som de aparelhos, frequentadores e a música ao fundo” (P03, Fórum2, 7:67).
“Escola, sala dos professores, hora do recreio” (P03, Fórum2, 7:68).
“Praça central da cidade, som de caturritas aliada ao movimento de automóveis e pedestres, por vol-
ta de 14h da tarde” (P03, Fórum2, 7:65).
“Sala de aula de um cursinho preparatório para PAVE e ENEM. Momento em que os alunos res-
pondiam uma prova. Turma pequena, mas com alguns alunos “falantes” em tom bem alto” (P03,
Fórum2, 7:66).
“Escola, laboratório de Ciências com alunos do terceiro ano dos Anos Iniciais. Tinham em torno de
10 alunos devido ao mau tempo. No momento da aula não chovia, mas eles conversavam entre si e
com a professora e manipulam vidrarias” (P03, Fórum2, 7:69).
A partir dos exemplos descritos compreende-se a referida atividade desenvolvida no
coletivo de professores como fundamental no signicar o comportamento do som para explorar
o campo de estudo das paisagens sonoras urbanas Schafer (1997). O referido autor adota a ideia
de que quanto mais natural o som, na perspectiva de como ele acontece na natureza, melhor ele
é para se ouvir. Nessa perspectiva, bem como nos registros exemplicados no quadro 1, mos-
tram a poluição sonora ligada ao homem em seu desenvolvimento social a partir do avanço dos
centros urbanos e tecnológicos.
A poluição sonora tem se apresentado ao contexto escolar como uma problemática na
aprendizagem. Precinott (2016) ao questionar seus estudantes signicou que o som e ruídos
eram produzidos de forma excessiva por eles mesmos em sala de aula. No referido estudo os
estudantes responderam de forma unânime que estes ruídos atrapalham as aulas. Uma perspectiva
que também se mostra na fala do colega professor P10: “Estava pensando, meu ambiente de
trabalho é extremamente silencioso a não ser quando estou falando” (P10, Videoaula2, 7:180).
Indicativos que encaminham o pensar sobre os sons dos ambientes e a necessidade de se desen-
volver a conscientização pessoal sobre os efeitos que causamos em nossos ambientes sonoros.
Educação sonora em processo formativo com professores de ciências: indagação sobre ruídos e a música
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Estamos diariamente lidando com sonoridades em nossas formas de comunicação tanto
no falar e no ouvir. Nossos ambientes estão cada vez mais poluídos com a diversidade de ruídos
de baixas e altas intensidades. E naturalmente não nos damos conta, mas estes ruídos têm um
grande impacto em nós, vemos através da fala do colega P12 “[...] tem dias que interferem sim,
que esses ruídos diários interferem no meu dia” (P2, videoaula2, 7:152).
Destaca-se no estudo de Precinott (2016) que existe a necessidade de constituir ambientes
sonoros saudáveis para uma boa comunicação e desenvolver o processo da aprendizagem na
aula, preservar a saúde dos ouvidos e as cordas vocais dos professores. O professor P10 também
comunica a importância deste pensar na saúde da sala de aula “[...] e não nos ouvidos, mas
nas cordas vocais” (P10, Videoaula2, 7:184). No contexto escolar a voz é uma ferramenta que
utilizamos diariamente, para promover a fala e nem nos damos conta do seu potencial relacionado
a possíveis problemas de saúde, quando expostos a ambientes sonoros com níveis elevados de
ruídos.
Entretanto também se salienta que há uma consciência sobre como os ruídos afetam a
saúde. Porém existem poucos indicativos de como contornar esse problema, desta forma neces-
sita-se estudar o comportamento natural do som, para signicar o que são ambientes sonoros
saudáveis. Neste processo faz parte identicar como se gera ruídos. Registra se na fala do colega
P10 a partilha de sua reexão com o grupo de professores, sobre os efeitos que ele propriamente
causa no ambiente sonoro.
“[...] sou disparado a pessoa que fala mais alto na sala de aula, na sala de reu-
niões. E durante o dia é muito silencioso. E os colegas já me avisaram, lá de
baixo conseguem ouvir minha voz” (P10, Videoaula2, 7:181).
Desenvolver a conscientização da escuta nos propicia estar mais atento auditivamente
aos eventos sonoros dos ambientes. Ao se dialogar sobre a temática dos encontros, a atenção
a escuta se mostra, quando se fala que o “[...] mais importante nesse processo foi o parar para
ouvir” (P03, videoaula2, 7:120). Em contraponto Schaeffer (1966) arma: “[...] eu não paro
jamais de ouvir. Eu vivo em um mundo que nunca deixa de estar lá para mim, e este mundo é
sonoro, assim como tátil e visual” (SCHAEFFER, 1966, p. 105). Assim, signica-se que o mundo
sonoro sempre está presente, sejam sonoridades boas ou ruins.
A atividade experimental se mostrou como importante recurso para instigar o ouvir dos
professores associada a ideia de poluição sonora. Essa evidência é apontada na fala do colega
P03: “[...] parei para escutar os sons da minha cidade sejam eles bons ou não, no sentido da
poluição sonora” (P03, videoaula2, 7:168). Promoveu-se através da atividade momentos de
reexão sobre os sons, na busca de desenvolver a criticidade auditiva. Na obra A Anação do
Rafael Luis Swarowsky, Valmir Heckler e Hebert Elias Lobo Sosa
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Mundo de Schafer (1997) apresenta-se essa relação como um posicionamento auditivo, em que a
“[...] poluição sonora ocorre quando o homem não ouve cuidadosamente” (SCHAFER, 1997, p. 18).
Deste modo, observa-se o excesso de ruídos e outros sons, que podem gerar efeitos pre-
judiciais ao corpo humano. Por exemplo, altas intensidades sonoras se tornam prejudiciais, em
contraponto se não existisse nenhum som o que aconteceria? Essa pergunta encaminha para os
diálogos sobre a possibilidade do silêncio absoluto. O colega fala sobre a “[...] história do silêncio
absoluto e é interessante né, achei uma nota da revista Galileu
7
sobre o assunto que tu começas a
escutar barulhos do seu estômago, intestino, coração, não conhecia isso” (P10, videoaula1, 7:109).
Nessa perspectiva, o colega P13 complementa que o “[...] silêncio absoluto é prejudicial ao ser
humano” (P13, Videoaula1, 7:143). Encaminha-se a pensar que a ausência total de sons externos
também seria um problema para os seres humanos.
Amplia-se o diálogo sobre os sons e ruídos para aspectos musicais relacionados com as
emoções. Alguns destes pontos são destacados na escrita do colega P02
“Quais os mecanismos ativados no nosso corpo quando escutamos uma música
prazerosa? Por que algumas músicas são mais interessantes quando ouvidas mais
altas? E nesse último ponto até mesmo as questões de saúde poderiam ser explo-
radas” (P02, Fórum1, 7:41:42).
A música instiga emoções, é na forma de comunicação e de linguagem que se associa a
uma ideia de cultura e afeto relacional Lima et al., 2018. Segundo os autores, existe um poder
transformador da Música, pois essa “[...] inuência os sentimentos e as emoções que irão aorar
no ouvinte” (LIMA et al., 2018, p. 209). Elementos da emoção foram relatados em aula, como:
“[...] fazer chorar, rir, lembrar de momentos” (P08, videoaula1, 7:57). Importante destacar que a
música pode provocar um sentimento de felicidade, melancolia, tristeza, lembranças e saudades
de outros tempos, conforme registro do colega.
“[...] talvez nos conectemos na melodia ou conectamos na batida no ritmo da -
sica. Toda música como a colega X coloca, ela te leva a lembranças, lembranças
de alguma pessoa, de cheiros, ou de experiências anteriores, e isso é legal” (P07,
videoaula1, 7:101).
A música ativa sensações e emoções para além dos sensoriais e que podem ser vividas apenas
enquanto estamos conectados àquela música ou som. O colega P03 fala sobre as experiências que
a música revela: “[...] ao escutar uma música sempre me leva a momentos, sentimentos, cheiros,
gostos, sejam prazerosos ou não, faz parte do meu dia a dia, mesmo não tendo nenhum talento para
ser musicista” (P03, Fórum1, 7:43).
7 http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI301276-17770,00-POR+QUANTO+TEMPO+V
OCE+CONSEGUE+SUPORTAR+O+SILENCIO+ABSOLUTO.html
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A subjetividade do que é música abre caminhos para outras discussões em grupo. Observa-
-se diferenças de ideias sobre o que é musical e o que é ruído nas falas dos colegas, transcritas no
quadro 2.
Quadro 2. Subjetividades musicais e sonoras.
“[...] algumas músicas são poluição sonora pra mim” (P14, Video aula 2, 7:187);
“[...] qualquer som aí não dá pra chamar de música, seria um ruído” (P10, vídeo aula 1, 7:112);
“[...] é preciso ter bem denido o que é música, o que é som, o que é melodia e ritmos, enm conceitos
inseridos na denição/compreensão de música e objetivo a ser desenvolvido” (P12, Fórum 1, 7:9).
Porém, denir o que é a música parece desaador. Murray Schafer (1994) se utiliza de mitos
gregos ao tentar denir.
[...] No primeiro desses mitos, a música surge como emoção subjetiva; no segun-
do, surge com a descoberta de propriedades sonoras nos materiais do universo.
Esses são os alicerces sobre os quais todas as teorias musicais subsequentes se
baseiam” (Schafer, 1994, tradução nossa, p.6).
Para o colega P13 a música “[...] necessariamente não precisa ser composta de sons e inter-
valos sem sons, mas deve conter uma harmonia” (P13, videoaula1, 7:140). Nisso, assume-se que
melodia e harmonia promovem um conjunto de emoções na música. O autor Wisnik (1989) a partir
da bioacústica, arma que não existe som se este durar e não som sem pausa, pois o “[...] tímpano
auditivo entraria em espasmo” (Wisnik, 1989, p. 8). O referido autor esclarece que
“O mundo é barulho e é silêncio. A música extrai som do ruído num sacrifício
cruento, para poder articular o barulho e o silêncio do mundo. Pois articular sig-
nica também sacricar, romper o continuum da natureza que é ao mesmo tem-
po silêncio ruidoso [...] Fundar um sentido de ordenação do som, produzir um
contexto de pulsações articuladas, produzir a sociedade signica atentar contra o
universo, recortar o que é uno, tornar discreto o que é contínuo” (WISNIK, 1989,
p. 35).
Uma questão aberta na comunidade de professores é sobre quais linguagens tem a música.
Questão que também se relaciona com a Matemática, Física e Biologia. Nesse contexto, o colega
P07 nos diz que “[...] música é cheia de linguagem, e nesse caso uma linguagem das ciências” (P07,
Videoaula1, 7:102). Encaminha a debater as relações entre música, sons e outros aspectos.
Construir com silêncios e sons, a música pode ser entendida como um movimento de or-
denação desses sons e pausas. Mas para muitos músicos e seus apreciadores essa necessita ter um
sentido e uma ordem. A mesma pode ser compreendida através de um conjunto de regras, é o que
nos conta o colega P10:
Rafael Luis Swarowsky, Valmir Heckler e Hebert Elias Lobo Sosa
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“[...] acho que é um tipo de brincadeira que a gente faz quando a gente dene as
regras de fundo, brincadeira envolvendo som só que com regras bem denidas de
fundo, aí sim poderíamos começar a chamar de música” (Professor 10, videoau-
la1, 7:113).
Essas regras são um conjunto de elementos sonoros organizados que irão constituir a Música.
Para Wisnik (1989) “[...] o som do mundo é ruído, o mundo se apresenta para nós a todo momento
através de frequências irregulares e caóticas com as quais a música trabalha para extrair-lhes uma
ordenação” (WISNIK, 1989, p. 33). Para o referido autor essa ordenação abrange padrões sonoros que
no “[...] jogo entre som e ruído constitui a música” (WISNIK, 1989, p. 33). O grupo de professores
operaram com as ferramentas para além de uma temática musical interligando-a com os aspectos
dos sons. Aponta-se que para “[...] trabalhar música na Educação em Ciências, também é preciso ir
além da música, porque temos o som, essas duas coisas estão intrínsecas” (P13, videoaula1, 7:136).
O debate sobre o som e ruído é ampliado no coletivo de professores. Questionam sobre
quantos sons surgem nas últimas décadas com o desenvolvimento industrial e pós-moderno. Ques-
tionamento que interliga a fala: “Você pensou nesses ruídos e sons que você encontra na rua?”
(P07, Videoaula2, 7:150). Enfatiza-se na fala do colega P07 “Como a gente não para pra pensar
sobre os ruídos e sons que perpassam o nosso dia a dia.” (P07, Videoaula1, 7:172). Assim, emerge
a importância neste estudo da ecologia ambiental e suas diferentes aplicabilidades, em que se faz
necessário a compreensão do que é som, ruído e música.
Ao longo da análise estabeleceu-se interlocuções com os registros sonoros através de uma
atividade experimental desenvolvida com o grupo de professores. Ampliou-se o diálogo sobre as rela-
ções entre Ruídos e Música, em um debate para além das funções sensoriais, através do desenvolver
a criticidade auditiva, atenção no ouvir aproximando com a perspectiva da Educação Sonora. Assim
signica-se que “[...] os signos, entre os quais está inclusa a linguagem, são emergentes em conjunto
à produção cultural” (GOMES et al., 2016, p. 828). Nisso, se mostra como a Música emerge como
temática que englobou questões emocionais e sensoriais, com uso de recursos tecnológicos de um
contexto histórico-cultural do grupo de professores em formação na disciplina de pós-graduação.
Considerações nais
O estudo mostra que a Educação Sonora foi constituída com professores de Ciências em
uma comunidade online a partir da temática Música. A referida temática foi inicial na construção
de diálogos e interações que possibilitaram a reexão sobre a Educação Sonora. Registra-se como
síntese emergente da análise o processo de categorização e a interlocução das categorias inicias da
ATD, conforme a gura 7.
Educação sonora em processo formativo com professores de ciências: indagação sobre ruídos e a música
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Figura 4. Síntese dos aspectos emergentes da análise.
Fonte: Elaborado pelos Autores, 2021.
A gura 4 mostra a categoria Ruídos e Música um diálogo através de uma atividade experi-
mental estruturada a partir da união de duas categorias intermediárias. Compreende-se neste estudo
que a temática música possibilitou a exploração de outros fenômenos sonoros como o som, ruídos,
poluição sonora, através de registros de uma atividade experimental em um diálogo para além de
funções sensoriais. Observa-se que o propósito inicial não era de uma formação musical, mas sim
o de promover a conscientização auditiva na análise de ambientes sonoros. Deste modo conclui-se
que a prática proporcionou debates sobre a subjetividade de como cada sujeito explora o mundo
sonoro. Oportunizou repensar o escutar e ouvir com criticidade no sentido do desenvolvimento de
uma Educação Sonora.
O referido resultado emerge da análise das atividades da comunidade de professores e as
interlocuções teóricas, ao se signicar a prática desenvolvida com a perspectiva do campo da pai-
sagem sonora. A Educação sonora que emerge do estudo abrange diferentes áreas do conhecimento
em um enfoque interdisciplinar que envolve relações com a Matemática, a Biologia, a Física e as
Artes. Assim, constitui-se um campo de estudo que necessita do ouvir com atenção, como uma
ação primordial na busca por compreender os efeitos sonoros em uma perspectiva da ecologia
acústica. Compreende-se que a Educação Sonora contextualizada com a música no Ensino de Ci-
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ências mostra-se como potencializadora nesta aproximação com estudo da percepção auditiva
e a conscientização sonora.
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Recebido: 31 de maio de 2021.
Publicado: 14 de julho de 2021.
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